A arte da cervejaria
Um evento que anima os consumidores de cervejas
Marcelo CrescentiDe Frankfurt para a BBC Brasil
Os alemães festejam neste ano os 500 anos da chamada
"lei da pureza da cerveja". Há meio milênio, ela determina o que uma
boa cerveja alemã deve conter e, ainda hoje, é seguida à risca pela maioria dos
produtores do país.
Essa lei promulgada em 1516 na Baviera é considerada a
regulamentação mais antiga do setor alimentício ainda em vigor no mundo e se
baseia em um decreto do duque Guilherme 4º da Baviera, que visava proteger os
consumidores da época de produtos feitos com ingredientes tóxicos.
Por isso, em 23 de abril, dia em que foi promulgado esse
documento, chamado localmente de "Reinheitsgebot", será festejado em
todo o país o "Dia da Cerveja".
Este é um dos orgulhos da indústria cervejeira alemã, que
alega produzir a bebida mais pura do mundo. A data vai ser comemorada com
festas por todo o país, principalmente no sul, onde a lei foi originalmente
promulgada e onde se bebe mais cerveja do que no norte da Alemanha.
Cervejaria Hofbrauhaus – Munique, Alemanha
Além das festas, estão planejados shows, mostras itinerantes
sobre a história da cerveja na Alemanha e até um grande festival de três dias
em Munique, em julho, quando mais de cem cervejarias servirão seus produtos e
mostrarão o processo de produção.
Regulamentação
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Há mais de 1,3 mil cervejarias na Alemanha, que produzem 95 milhões de hectolitros por ano. |
Há 500 anos, o consumo de cerveja já era muito difundido na
Alemanha. No entanto, a produção não era regulamentada. Muitos produtos ilegais
continham ingredientes tóxicos como beladona, papoula ou rosmarinho silvestre.
O decreto de Guilherme 4º valia originalmente só na região da Baviera, mas
acabou sendo adotado em todas as regiões do país. A lei impunha penas severas
para quem a desrespeitasse.
Até hoje, a cerveja feita na Alemanha se limita, por lei, a
quatro ingredientes básicos – além de água, malte de cevada e lúpulo a levedura
de cerveja também foi incluída na lista com o passar dos anos.
No entanto, nem toda cerveja consumida na Alemanha respeita
o Reinhaitsgebot. Em 1987, os alemães tiveram que se curvar à pressão da União
Europeia e liberar a importação de cervejas que não seguem a lei da pureza,
para não prejudicar o livre comércio entre os países-membros.
Desde então, a produção de cervejas com outros ingredientes
é permitida na Alemanha. É necessário, no entanto, obter uma autorização
especial para fazê-lo.
"Só uma parte minúscula da produção alemã não segue a
lei, algo como 0,001%", diz Lothar Ebbertz, presidente da associação de
cervejarias da Baviera.
Consumo
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Bebida - mesmo que seja feita de trigo, sem seguir norma centenária - é servida até mesmo na convenção do partido da chanceler Angela Merkel |
Mas há quem não dê tanto valor assim à lei da pureza, como
Sandra Ganzenmueller, sommelier especializada em cervejas e porta-voz da
associação do setor na Alemanha, com sede em Munique.
Ela diz à BBC Brasil que tecnicamente a limitação aos
conteúdos originais em si não melhora nem piora o sabor da cerveja. "O
importante é que seja uma bebida harmoniosa, mesmo que tenha ingredientes
adicionais", afirma a especialista.
Algumas marcas oferecem cerveja com gosto de banana, cereja
ou gengibre, e a popularidade dessas bebidas está crescendo na Alemanha, assim
como no Brasil e em outras partes do mundo.
"Quanto mais variedade de cervejas existir no mercado,
melhor para o consumidor", diz Ganzenmueller, que vê com simpatia a
proliferação de micro cervejarias no país, que não seguem à risca as antigas
receitas.
Há mais de 1,3 mil cervejarias na Alemanha, que produzem
cerca de 95 milhões de hectolitros por ano - 85% da produção é consumida no
próprio país.
O consumo de cerveja caiu nos últimos dez anos de 116 para
106 litros por pessoa por ano. No entanto, os alemães continuam entre os
maiores bebedores de cerveja do mundo em termos de consumo per capita - ranking
que costuma ser liderado pela República Tcheca.
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