sábado, 23 de janeiro de 2016

PHOENIX: A RECRIAÇÃO DE UMA IDENTIDADE

Arte cinematográfica



Publicado por Fernanda Villas Boas

Fernanda Luiza Kruse Villas Boas nasceu em Recife, Pernambuco, no Brasil. Aos cinco anos veio morar no Rio de Janeiro com sua família, partindo para Washington D.C com a família por quatro anos durante sua adolescência. Lá terminou o ensino médio e cursou um ano na Georgetown University. Fernanda tem uma rica vida acadêmica. Professora de Inglês, Português e Literaturas, pela UFRJ, Mestre em Literatura King´s College, University of London. É Mestre em Comunicação pela UFRJ e Psicóloga pela Faculdade de Psicologia na Universidade Santa Úrsula, com especialidade. Em Carl Gustav Jung em 1998. É escritora e psicóloga junguiana e com esta escolha tornou-se uma amante profunda da arte literária e da alma, psique humana. Fernanda Villas Boas tem vários livros publicados, tais como: No Limiar da Liberdade; Luz Própria; Análise Poética do Discurso de Orfeu; Agora eu era o Herói – Estudo dos Arquétipos junguianos no discurso simbólico de Chico Buarque e A Fração Inatingivel; é um fantasma de sua própria pessoa, buscando sempre suprir o desejo de ser presente diante do sofrimento humano e às almas que a procuram. A literatura e a psicologia analítica, caminham juntas. Preenchendo os espaços abertos da ficção, Fernanda faz o caminho da mente universal e daí reconstrói o caminho de volta, servindo e desenvolvendo à sociedade o reflexo de suas próprias projeções.



Sobrevivente de um campo de concentração nazista, Nelly Lenz (Nina Hoss) ficou desfigurada enquanto esteve presa. Irreconhecível após uma cirurgia de reconstrução, ela vaga pela destruída Berlim à procura de Johnny (Ronald Zehrfeld), seu marido.






Phoenix (2014) dirigido por Christian Petzold com Nina Hoss, Ronald Zehrfeld, Nina Kunzendorf, é um drama psicológico de uma sobrevivente de um campo de concentração nazista, Nelly Lenz (Nina Hoss) ficou desfigurada enquanto esteve presa e Irreconhecível após uma cirurgia de reconstrução. Ela busca Johnny (Ronald Zehrfeld), seu marido. Neste filme, Petzold adaptou o romance policial “Le Retour des Cendres” (ou “o retorno das cinzas”), do francês Hubert Monteilhet -- que já havia sido filmado em 1965, pelo britânico J. Lee Thompson. Uma versão noir, em ressonância às particularidades de seu cinema, transfere a história para Berlim e altera o desfecho trágico, num sinal de comedimento. Nelly, a protagonista faz uma cirurgia para o rosto deformado na guerra. Só que não terá os mesmos traços que foram a marca de sua identidade. Nelly fica irreconhecível. Além de uma leitura linear, percebe-se nitidamente que sua identidade anterior foi mutilada pelos nazistas. Ela quer se reconstruir como pessoa e primeiramente recusa o convite da amiga Lene para irem morar em Israel. Nelly nos conta em um trecho do filme que só sobreviveu à guerra e às torturas pelo amor que tinha por Johnny, seu marido.


Seu semblante, assim como sua expressão jamais serão iguais depois da perda de identidade. O amor que sentia pelo marido vai morrendo a partir do momento em que ela desvenda os atos de Johnny e o desamor do próprio em relação à “Nelly”. Esta perda é análoga à identidade de todo o povo alemão pós- segunda guerra. Um povo que passou uma crise de identidade tão forte que dividiu a Alemanha. Todo este sofrimento judeu-alemão está simbolizado em Nelly.


Ela encontra o marido trabalhando na boate Phoenix, que permanece em atividade após o término da Segunda Guerra Mundial, mas ele não a reconhece. De olho na herança da esposa, Johnny a chama para participar de um golpe e passa a "transformá-la" em Nelly. Ela faz tudo dentro do plano estratégico de Johnny de ganhar muito dinheiro se ela simular ser Nelly, sobrevivente da guerra. Ela compactua com ele, submetendo-se a todas as ordens, fingindo ser ela mesma. A roupa, maquiagem, o vestido, os sapatos vão sendo incorporados à sua persona.

Phoenix significa na mitologia grega uma ave que renasce das cinzas para a eternidade. Depois de muitas batalhas e cicatrizes. Nelly é a Phoenix e como tal, se reergue à medida que consegue enterrar seu amor por Johnny e razoavelmente fria, vingar-se das maldades dele. Estrategicamente segue fingindo fazer o que ele quer para obter o seu dinheiro. Em nenhum momento ela mostra sua identidade, fazendo com que haja um suspense imenso durante toda a trama. Ela se reencontra, no plano intelectual e para seu dissabor, vê a crueldade do ex marido em todos seus atos e desejos. Aos poucos, ela descobre também que o próprio marido teve uma importante participação em sua prisão. Como a Phoenix, Nelly renasce das cinzas, quando completo o plano, os amigos a recebem na estação de trem, como Johnny desejou e, já reunidos na casa de um amigo brindam à sua volta.

Ela contudo, fria e decidida, canta a canção "Speak Low" com ele ao piano. Ele fica extasiado e inclusive vê o número dos prisioneiros de campo de concentração no braço de Nelly. Ela, sem dizer uma palavra, sai lenta e corajosa em busca da vida que a acolhe. A fênix também tem o poder de se transformar em uma ave de fogo muito parecida com uma águia. Pela sua morte diferente, a fênix tornou-se um símbolo de força, da imortalidade e do renascimento.



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