segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O BLOG DO FACÓ INICIA HOJE UMA SÉRIE SOBRE OS MAIS TEMIDOS DITADORES DO SÉCULO XX

Mundo: história

MUAMMAR AL-GADDAFI– LÍBIA


A sanha assassina de um louco

Muammar Abu Minyar al-Gaddafi  (em árabe: معمر القذافي,  Muʿammar al-Qaḏḏāfī; Sirte, 7 de junho de 1942 - Sirte, 20 de outubro de 2011) foi um militar, político, ideólogo e ditador líbio, sendo o de facto chefe de estado do seu país entre 1969 e 2011.




Gaddafi chegou ao poder em 1969, sem derramar sangue, por meio de um golpe de estado e assumiu a função formal de Chefe da Nação até 1977, quando renunciou o comando do chamado Conselho do Comando Revolucionário da Líbia e alegou apenas ser uma figura simbólica do governo. Seus críticos dizem que ele agia como um autocrata ou um demagogo, apesar do antigo governo líbio dizer que ele não detinha qualquer poder  e o próprio Gaddafi tentava passar a imagem de um estadista-filósofo. Após Gaddafi renunciar o cargo, ele ficou conhecido como o "Irmão Líder e Chefe da Grande Revolução de Jamahiriya Popular Socialista da Líbia" ou "líder Fraternal e chefe da revolução"; em 2008, durante um encontro de líderes africanos, alguns destes o chamaram de "Rei dos Reis".


Depois de chegar ao poder em 1969, ele aboliu a Constituição Líbia de 1951 e estabeleceu políticas alinhadas com sua ideologia chamada de "Terceira Teoria Internacional" que foram publicadas em seu trabalho intitulado Livro Verde. Depois de estabelecer a jamahiriya ("estado de massas") em 1977, ele assumiu uma figura simbólica e representativa no governo, apesar de que, de facto, o poder político total estava concentrado em sua pessoa, recaindo sobre ele a responsabilidade de fazer as políticas de Estado. Durante seu governo, a Líbia experimentou alguns períodos de forte crescimento econômico, por muito abalado pelas sanções impostas por países ocidentais contra seu governo. Devido as enormes rendas provenientes do petróleo, Gaddafi pode sustentar vários programas sociais que acabaram por dar a Líbia o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do continente africano, além de aumentar a participação das mulheres na vida pública e de dar mais direitos aos negros. Durante seu governo, a Líbia teve a menor dívida pública do mundo. Apesar dos períodos de crescimento econômico e dos avanços nas áreas sociais, os criticos do seu regime alegavam que Gaddafi concentrava boa parte das riquezas do seu país em sua própria mão, tendo uma fortuna pessoal estimada em 200 bilhões de dólares, enquanto boa parte da população do país vivia na pobreza. Muitos dos negócios e empresas líbias estavam supostamente sob controle direto de Gaddafi e de membros de sua família. Na década de 1980, ele participou de vários conflitos armados e
assumidamente adquiriu armas químicas. Em resposta, a comunidade internacional lançou várias sanções contra a Líbia.

Seis dias após a captura de Saddam Hussein por tropas americanas em 2003, Gaddafi anunciou que seu Estado estava abrindo mão de todos os programas de construção de armas de destruição em massa e convidou inspetores internacionais para que verificassem que ele estava comprometido com isso.  Em resposta, o governo Bush removeu a Líbia da lista de países que apoiavam o terrorismo. Logo em seguida, a ONU retirou as sanções impostas contra o país.


Em fevereiro de 2011, frente a protestos pedindo sua derrocada do poder, Gaddafi respondeu aos manifestantes com violência, porém as manifestações contrárias ao seu governo se intensificaram. Então eclodiu no país uma violenta guerra civil, colocando em confronto forças leais e contrárias ao regime. Durante este conflito, Gaddafi foi acusado de cometer vários crimes contra a humanidade e um mandado de prisão foi expedido contra ele pela Corte Penal Internacional. Em agosto de 2011, tropas do Conselho Nacional de Transição (CNT) atacaram e conquistaram a capital Trípoli colocando assim Gaddafi e seu governo em fuga. Em 20 de outubro, após 8 meses de guerra, o ex-líder foi morto em Sirte por simpatizantes do CNT.

Seus 42 anos de governo o fizeram o líder não monárquico há mais tempo no poder desde 1900, sendo também o líder árabe que mais tempo ficou no poder.

Gaddafi nasceu em 7 de junho de 1942, numa família de berberes beduínos, adepta do islamismo sunita, filho de Abu Meniar Gaddafi e Aisha Gaddafi em uma tenda no deserto líbio, próximo à cidade Líbia de Surt ou Sirte (norte). Teve contato com beduínos comerciantes que viajavam pela região de Surt, com quem adquiriu e formou suas precoces posições políticas. De acordo com várias biografias, sua família pertence a uma pequena tribo de árabes, os Qadhadhfa.

Muitos familiares de Gaddafi haviam lutado contra os colonizadores italianos no movimento liderado por Omar al-Mokhtar, sendo relatado que seu avô foi morto em combate e que seu pai e seu tio passaram um período de suas vidas como prisioneiros dos italianos.


Quando tinha 10 anos, seu pai, um pastor de camelos, que avaliava que o filho tinha uma inteligência incomum, investiu suas magras economias para internar o filho em uma escola primária em Sirte. 

Quando tinha entre 12 e 13 ouvia pelo rádio os discursos do líder egípcio Gamal Abdel Nasser, que chamava os povos árabes à unidade política (pan-arabismo) e defendia a causa palestina, o que o ajudou a adquirir uma precoce consciência política.

Gaddafi foi enviado para fazer os estudos secundários na cidade de Sabha, onde, em 1956, formou, junto com três colegas, a primeira célula de seu futuro movimento revolucionário, que tinha como objetivos apoiar o programa pan-árabe de Nasser e, a longo prazo, derrubar o rei Idris I. Naquele mesmo ano participou de protestos anti-israelenses durante a Crise de Suez.

Os integrantes daquela primeira célula decidiram seguir carreira militar para futuramente articular um golpe militar, além disso cada um deles iria formar uma segunda célula com mais três integrantes, que, por sua vez, também formariam novas células, e assim progressivamente. Além disso, para garantir a segurança do movimento, cada conspirador somente conhecia os integrantes e as atividades das duas células das quais participava. No início de outubro de 1961 organizou uma manifestação de jovens em apoio à Guerra de Independência Argelina, que teve também conteúdo anti-monarquista, isso resultou em sua prisão e expulsão da cidade.

O jovem líder concluiu o ensino secundário em uma escola de Misrata, onde criou uma nova rede de células revolucionárias, naquela cidade também foi elaborado um código secreto para proteger a comunicação entre os líderes das diferentes células da repressão policial. Para evitar a repressão, a organização se apresentava como um grupo de debates sobre Nasser e de atividades anti-sionistas, ocultando o objetivo de derrubada da monarquia.

Após o término de seus estudos secundários, Gaddafi iniciou a carreira militar. Integrou a Academia Militar de Benghazi, segunda principal cidade do país, e também integrou a Real Academia Militar de Sandhurst, na Inglaterra.

Idris I da Líbia, deposto por Gaddafi.

No ano de 1969 o governo de Idris I passava por uma crise de impopularidade, pois grandes quantidades de petróleo líbio estavam sendo compradas pelos Estados Unidos e Europa, sem trazer grandes melhorias ao povo Líbio. Admirador do líder egípcio e nacionalista árabe Gamal Abdel Nasser, Muammar al-Gaddafi, aos 27 anos de idade, foi naquele membro das tropas revolucionárias que tomaram o governo do país, no dia 1º de setembro de 1969, tendo como líder Mahmud Sulayman al-Maghribi. Coronéis do exército líbio invadiram Trípoli e obrigaram Idris a renunciar
Logo após o golpe de estado, Al Magrabbi sai de cena e Gaddafi, como líder da revolução Líbia, com a patente de coronel, toma o poder, substituindo o príncipe regente Hasan as-Senussi e o rei ausente (licenciado para fins médicos na Grécia e no Egito), Ídris I, tio de Hasan as-Senussi.

Uma vez instalado no governo do país, Gaddafi declara ilegais as bebidas alcoólicas e os jogos de azar. Exige e obtém a retirada americana e inglesa de bases militares, expulsa as comunidades judaicas e aumenta decididamente a participação das mulheres na sociedade. Além disso, retira da Líbia todos os americanos vindos através da aliança entre Idris I e os EUA, fecha danceterias, bordéis e bares instalados pelos americanos, impondo a toda Líbia o respeito aos preceitos morais do islamismo. Proibiu a exportação de petróleo para os EUA e confisca propriedades internacionais

Gaddafi (esquerda) e Gamal Abdel Nasser, o presidente do Egito (direita). Em seu primeiro ano na presidência, Gaddafi estabeleceu forte aliança com o governo de Nasser.

Seguidor do pan-arabismo do presidente egípcio Nasser, copiou a Constituição egípcia e emulou seu lema nacional: "Liberdade, socialismo e unidade".

Pouco tempo depois, em 1970, morre Gamal Abdel Nasser. Inconformado, Gaddafi começou a patrocinar e apoiar todos grupos, países e facções antiamericanas ou anti-israelenses de que tinha conhecimento, entre eles os Panteras Negras, o Fatah e alguns países do Oriente Médio, tentando dar continuidade ao trabalho de Nasser, que tanto admirara. Gaddafi teve, inclusive, ligação direta com o massacre de Munique, realizado no dia 5 de setembro de 1972, durante os Jogos Olímpicos, patrocinando e dando cobertura ao grupo que ficou conhecido como Setembro Negro. Onze atletas israelenses foram assassinados nesse episódio.

Sua política girou em torno da unidade do mundo árabe. Por isso buscou alianças que o levaram a sonhar com os Estados Unidos do Saara, e fusões efêmeras com o Egito, Tunísia, Argélia e Marrocos. Em 1971, criou a União Socialista Árabe, único partido no país.

Em 15 de abril de 1973, após um fracassado golpe de Estado, anunciou uma revolução cultural com a inclusão dos chamados comitês populares de base (que atuam como pequenos ministérios).
Dois anos depois, ele superou uma tentativa de golpe de estado causado pelo mal-estar social e no ano seguinte publicou o Livro Verde, uma espécie de Constituição onde defendia a "terceira teoria universal" na qual expôs sua filosofia política, apresentando uma alternativa nacional ao socialismo e ao capitalismo, combinada com aspectos do islamismo.

Em 1977 criou o conceito de Jamahiriya ou "Estado das massas", em que o poder é exercido através de milhares de "comitês populares", com os quais daria voz ao povo por meio da criação do Congresso Geral do Povo (fórum legislativo que serve de intermediário entre as massas e a liderança do executivo).

Contrário à paz com Israel, em 1977, se opôs à iniciativa proposta pelo presidente egípcio Anwar Al Sadat.

As relações entre Estados Unidos e a Líbia que já estavam tensas, se intensificaram em 1981, quando dois caças americanos derrubaram duas aeronaves líbias no Golfo de Sidra, região declarada por Gaddafi como pertencente a Líbia. Os americanos declaram que foram atacados O presidente líbio alegou que o avião de sua força aérea pediu a retirada das aeronaves americanas, que sem resposta disparou primeiro. A agência de notícias soviética TASS, na época, considerou uma ameaça dos Estados Unidos aos países da região. Posteriormente, entre 1986 e 1989, houve outros incidentes de caráter militar na região.


Em 1982, como medida punitiva ao suposto patrocínio líbio a grupos terroristas, o governo norte-americano proibiu a importação de petróleo da Líbia.

Em 1984, renovou o Congresso Geral do Povo e criou duas novas secretarias, a de Universidades e de Segurança Exterior. A criação do organismo e a repressão aos dissidentes aumentaram a atividade de grupos opositores, principalmente a Frente Nacional para a Salvação da Líbia que, segundo Gaddafi, era patrocinada por governos estrangeiros.

Em 1986, após um atentado a bomba numa discoteca de Berlim, quando morreram dois cidadãos norte-americanos, os EUA lançaram ataques aéreos contra em Trípoli e Benghazi e impuseram sanções econômicas contra o país. No final da década de 1980 o governo líbio foi acusado de envolvimento nos atentados contra aviões da Pan Am e da UTA, o que motivou a imposição de sanções também pela ONU, em março de 1992.

Após sua mulher e sua filha morrerem durante o bombardeio americano a Trípoli, Gaddafi distanciou-se superficialmente de suas alianças com grupos terroristas.

Com relação à política externa, em 1988, reconciliou-se com a Tunísia e a Argélia e em 1989 aderiu à União Árabe Norte Africana. No que diz respeito à política interna, ele voltou a mandar prender fundamentalistas islâmicos.

Em 1992 e 1993 a Organização das Nações Unidas impôs sérias sanções à Líbia acusando seu líder de financiar o terrorismo pelo mundo. Essas sanções foram suspensas em 1999.

Com o embargo econômico, juntamente com a queda de preço do petróleo nos mercados internacionais, a situação econômica do país deteriorou-se rapidamente, aumentando o descontentamento popular. Em 1993, um grupo de altos oficiais do Exército liderou uma tentativa de golpe de estado, prontamente debelada pelo regime. Mais de 1500 pessoas foram presas e a cúpula militar foi completamente reestruturada.

Em 1998 o chefe de Estado líbio sofreu um atentado. Foi baleado, tendo sido operado às pressas. A nova tentativa de golpe também fracassou e o regime foi mantido.

Na década de 2000 al-Gaddafi pagou integralmente indenizações às famílias dos mortos pelo atentado de Lockerbie. Na mesma década, o Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, diz ter desmantelado o arsenal nuclear líbio.

Muammar al-Gaddafi e o ex-presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva, durante uma conferência na Nigéria, em 2006.

Em 2003, Gaddafi anunciou que desistira das armas de destruição em massa e que pretendia juntar-se à guerra ao terror, eixo da política externa americana durante o governo Bush. Logo depois George W. Bush suspendeu as sanções contra a Líbia. Em seguida, os produtores de petróleo dos EUA e da Grã-Bretanha expandiram suas atividades no país. Empresas como BP, Exxon, Halliburton, Chevron, Conoco e Marathon Oil juntaram-se as gigantes da indústria bélica, como Raytheon e Northrop Grumman, e a multinacionais como Dow Chemical e Fluor bem como à poderosa firma de advocacia White & Case para formar a US-Libia Business Association, em 2005.

Em 5 de agosto de 2003, passou a defender que o Conflito Israelo-Palestino fosse solucionado por meio de um Estado Único que acomodasse as duas nacionalidades, tal Estado poderia se chamar Isratina.

Em maio de 2006 a Líbia saiu da lista negra (de embargos econômicos) dos Estados Unidos.
Muammar al-Gaddafi foi um dos líderes mundiais que esteve há mais tempo no poder (desde 1969). Desde 2 de março de 1977 instaurou a "Grande Jamahiriya Árabe Líbia Popular e Socialista", nome que recebe oficialmente o estado líbio. Jamairia (em árabe: ﺟﻤﺎﻫﻴﺮﻳﺔ) é um neologismo, geralmente traduzido como estado ou república das massas.

Durante seu governo, a Líbia avançou nos setores sociais por causa do lucro do petróleo líbio. O analfabetismo foi praticamente erradicado e a falta de moradia também. No início seu governo, também tentou eliminar o tribalismo existente na sociedade Líbia, principalmente quando ele tinha uma alta popularidade. Quando começou a perder popularidade, ele passou a contar com as tribos líbias e passou a utilizar a rivalidade entre elas a seu favor.

Segundo os críticos, Gaddafi mantinha poder absoluto e autoritário na Líbia. Críticas foram duramente reprimidas e a mídia, durante seu governo, era rigorosamente controlada pelo Estado. Segundo o Human Rights Watch, o regime de Gaddafi prendeu centenas de pessoas por violarem a lei, levando algumas a morte e houve relatos de tortura e desaparecidos.

Pouco após a aprovação da resolução 1973 da ONU, Gaddafi concedeu uma entrevista polémica ao jornalista da Rádio e Televisão de Portugal Paulo Dentinho. Nesta entrevista, ele afirmou que "caso o mundo enlouquecesse, enlouqueceria junto, e que caso a Líbia fosse atacada, faria a vida dos líderes das potências ocidentais um inferno".

Manifestante contrários a Gaddafi em Dublin, 2011.

No apogeu das revoltas populares no norte da África e no Oriente Médio, Gaddafi ficou tenebroso com a possibilidade de que essa onda de manifestações atingisse seu país. Ele então tomou medidas para tentar melhorar a popularidade com o seu povo, reduzindo o preço dos alimentos, expurgando a liderança do exército de oficiais de lealdade duvidosa e libertando prisioneiros islamitas. Essas medidas se mostraram ineficazes. Em 17 de fevereiro de 2011, grandes protestos foram registrados por todo o país. Diferente da Tunísia e do Egito, a Líbia era religiosamente homogênea e não tinha movimentos islâmicos muito proeminentes, mas as principais causas da insatisfação eram a corrupção do governo e o clientelismo, enquanto o desemprego para a população em geral era de 30%. No auge das manifestações populares, em um sinal de ruptura com o governo, a delegação da Líbia na ONU acusou Gaddafi de genocídio e fez um apelo por sua renúncia. Diversas autoridades, inclusive o ministro da Justiça, Mustafá Abdel Jalil, e diplomatas em diferentes países, renunciaram, em protesto contra o uso excessivo de força na repressão das manifestações. Diplomatas que representavam o governo de Gaddafi na China, na Índia e na Liga Árabe deixaram seus cargos em protesto ao governo. O governo respondeu as manifestações com violência, com centenas de pessoas morrendo na repressão. Após a renúncia das autoridades, Saif al-Islam Muammar Al-Gaddafi anunciou a criação de uma comissão para investigar episódios violentos durante os protestos. A comissão seria dirigida por um juiz e incluiria membros de organizações de direitos humanos líbias e estrangeiras, mas esta nunca foi implementada. Uma coalizão de líderes muçulmanos líbios emitiu uma declaração dizendo que "é obrigação de todo muçulmano se rebelar contra o governo líbio".

Ao fim de fevereiro de 2011, o governo de Gaddafi já havia perdido o controle de boa parte do país, incluindo municípios como Misrata e Bengazi, além de cidades portuárias como Ra's Lanuf e Brega. A região leste da Líbia, que era mais pobre, rapidamente foi tomada por opositores. Gaddafi acusou os rebeldes de serem membros da al-Qaeda e afirmou que os caçaria "rua por rua, casa por casa". Sofrendo com deserções entre suas tropas, Muammar teve que recrutar mercenários de países vizinhos. Com equipamentos militares mais avançados e com soldados mais preparados, o governo lançou grandes ofensivas contra o leste da Líbia, que terminou com milhares de mortes. A cidade de Bengazi, considerada o coração da revolta, foi cercada e bombardeada. Gaddafi afirmou então em um discurso que "não mostraria piedade" aos rebeldes.


Devido a indícios de crimes contra a humanidade cometidos pelas tropas do governo contra os rebeldes e civis líbios, nas áreas de insurreição e combate, em 16 de maio de 2011, Luis Moreno-Ocampo, Procurador-Chefe do Tribunal Penal Internacional, sediado em Haia, solicitou mandato internacional de captura e prisão contra o líder líbio, por crimes contra a Humanidade.

Com a derrota iminente da oposição, parecia que Gaddafi iria triunfar. Contudo, em 17 de março de 2011, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a Resolução 1973 que autorizava seus Estados-membros a "tomar todas as medidas necessárias para proteger os civis e áreas civis densamente povoadas sob ameaça de ataque na Líbia". Dois dias depois, forças aéreas e navais da OTAN, lideradas pela França, Estados Unidos e Reino Unido bombardearam alvos militares por toda a Líbia, focando especialmente as cidades de Trípoli e Bengazi. Nesta última, os bombardeios aéreos garantiram o fim do cerco e firmou a primeira grande vitória às forças militares da oposição, que passariam o resto da guerra na ofensiva. Com a intervenção militar da OTAN em andamento, os rebeldes (agora representados por uma organização unificada, o Conselho Nacional de Transição ou CNT) iniciaram a marcha até o oeste do país, tomando boa parte da região central da Líbia. Violentos combates seguiam enquanto a oposição tomava uma cidade após a outra. Acuado, Gaddafi e as forças leais a ele continuavam em retirada até a região oeste.


Em agosto de 2011, as tropas do Conselho Nacional de Transição lançaram-se sobre Trípoli e após uma intensa batalha, conquistaram a cidade. Apoiados pela OTAN, os rebeldes líbios atacaram várias outras cidades litorâneas até chegar a capital. Logo após a queda da cidade, Gaddafi, seus parentes e membros do seu governo fugiram. Para a comunidade internacional, ele já não falava mais pelo povo líbio, tendo essa autoridade recaindo sobre o CNT.

Em 20 de outubro de 2011, após a queda de Sirte, o último grande reduto das forças de Gaddafi, o Conselho Nacional de Transição informou oficialmente à Al Jazeera que Gaddafi havia sido capturado. De acordo com algumas fontes, Gaddafi teria sido ferido nas pernas ou levado dois tiros no peito. Segundo as primeiras informações, ele teria morrido em consequência desses ferimentos. Imagens de um vídeo amador mostram o corpo ensanguentado de Gaddafi, ainda vivo, sendo carregado como um troféu em Sirte. 

O primeiro-ministro do Conselho Nacional de Transição (CNT) líbio, Mahmoud Jibril, confirmou a morte do ex-líder Muammar Kadhafi, durante os confrontos pela tomada da cidade de Sirte. "Esperávamos havia muito tempo por este momento. Muammar Kadhafi foi morto", afirmou à Associated Press. Segundo Jibril, a autópsia determinou que o líder deposto foi morto por um ferimento de bala na cabeça, após sua captura. Jibril afirmou, durante entrevista coletiva, que Gaddafi estava em boa saúde e armado, quando foi encontrado. Enquanto era levado até uma caminhonete, levou um tiro no braço ou na mão direita. Posteriormente, levou um tiro na cabeça sob circunstâncias não claras.

O corpo de Gaddafi foi levado para uma câmara fria e ficou exposto para visitação pública, juntamente com o corpo de seu filho Mo'tassim e do chefe militar do regime Abu-Bakr Yunis Jabr, durante 4 dias. Posteriormente foram enterrados em um local secreto, numa simples e respeitosa cerimônia, de acordo com o governo líbio. De acordo com o jornal francês Le Figaro, o corpo de Muammar Gaddafi foi enterrado no meio do deserto em um local não especificado para evitar que o túmulo se torne um local de peregrinação de seus partidários. Em seu testamento político divulgado pouco depois da sua morte, Gaddafi exortou o seu povo a continuar lutando e resistindo de todas as formas contra o novo governo e deixou instruções sobre como ele gostaria de ser enterrado, a maneira muçulmana.


A notícia de seu falecimento gerou comoção entre os líderes africanos subsaarianos, que foram favorecidos por políticas sociais em seus países que tinham uma boa imagem do líder morte devido ao apoio dado pelo Regime Deposto ao Congresso Nacional Africano (CNA) em sua luta contra o Apartheid. Um senador nigeriano disse a imprensa local de seu país que "Gaddafi foi um dos grandes líderes africanos" e fez menção ao papel político dele na região. Em Uganda, 30 mil pessoas compareceram numa celebração religiosa para demonstrar luto pela morte do ex-líder líbio.

Os oponentes do seu regime, contudo, comemoraram sua morte. Mahmoud Jibril, na época um dos principais líderes da oposição Líbia, afirmou que agora o país poderia iniciar sua transição para uma democracia plena. Mustafa Abdul Jalil, considerado líder político da revolta, declarou a "libertação" do país, três dias após a morte de Gaddafi. Líderes de nações ocidentais também receberam bem a notícia afirmando que agora a Líbia poderia seguir em frente. Barack Obama, presidente dos Estados Unidos (país que mais participou do conflito), afirmou que a morte de Muammar al-Gaddafi "marca o fim de um longo e doloroso capítulo para o povo líbio".

Em entrevista concedida em 15 de dezembro de 2011, o então primeiro-ministro russo, e candidato à presidência daquela país, Vladimir Putin, acusou forças especiais dos Estados Unidos de estarem envolvidas no assassinato de Gaddafi. Por sua vez, os militares norte-americanos ridicularizaram a acusação.

Em 16 de dezembro de 2011, o procurador do Tribunal Penal Internacional, Luís Moreno OCampo, afirmou que a morte do antigo líder líbio poderá ser considerada um crime de guerra, a declaração ocorreu um dia após a divulgação de uma carta na qual Aisha Gaddafi solicitou a abertura de um inquérito para investigar a morte de seu pai e de seu irmão.

Estima-se que pelo menos 30 mil pessoas tenham morrido no conflito. 


Em sua época de estudante, Gaddafi adotou as ideologias do nacionalismo árabe e do socialismo árabe, pois era fortemente influenciado por Gamal Abdel Nasser. Durante o início da década de 1970, Gaddafi formulou sua própria abordagem do nacionalismo e do socialismo árabe, conhecida como Terceira Teoria Internacional, que foi descrita como uma combinação de socialismo utópico, nacionalismo árabe e terceiro-mundismo, que eram teorias que estavam em voga na época.
Sua nova teoria foi consolidada por meio do Livro Verde, no qual ele pretendeu "explicar a estrutura da sociedade ideal" e defendeu a unificação do mundo árabe em um único estado-nação.
Ele descreveu sua abordagem para a economia como socialismo islâmico,[100] embora outros biógrafos sustentem que o socialismo de Kadafi tinha uma "tom curiosamente marxista" . Gaddafi via seu "Regime das massas socialista" como um modelo que o mundo árabe, o mundo islâmico e os países não-alinhados deveriam seguir.

Sua visão de mundo foi moldada pela sua experiência de vida, ou seja, a sua fé islâmica, sua educação beduína, e seu desgosto com as ações de colonizadores europeus na Líbia . Ele acreditava que estava cumprindo uma "missão divina" e que era um instrumento de Alá, razão pela qual supunha que qualquer ação para atingir seus objetivos seria legítima, não importando os custos.

“Chamamos (essa teoria) de "Terceira Teoria Internacional" para indicar que há um novo caminho para todos aqueles que rejeitam tanto o capitalismo como o comunismo materialista e ateu, é o caminho: para todas as pessoas do mundo que abominam o confronto perigoso entre o Pacto de Varsóvia e a Otan, para todos aqueles que acreditam que todas as nações do mundo são irmãs, sob a égide do Estado de Deus. “

Sendo um muçulmano sunita defendeu a implementação da Sharia na Líbia, e desejava a unidade em todo o mundo islâmico.

Em 2010, durante uma visita à Itália, contratou uma agência de modelos para trazer 500 jovens mulheres italianas para uma palestra na qual ele as convidou para se converterem ao islamismo.


Ele financiou a construção e reforma de duas mesquitas na África, incluindo Mesquita Nacional de Uganda.

Por outro lado, divergia de clérigos líbios conservadores quanto à sua interpretação do Islã, que o criticavam por encorajar as mulheres a entrar setores da sociedade tradicionalmente reservados somente aos homens, como, por exemplo, as forças armadas.

Outro aspecto fundamental ideologia de Khadafi era o antissionismo, sendo, portanto, contrário à existência do Estado de Israel, e que qualquer compromisso árabe com aquele Estado seria uma traição ao povo árabe, mas a partir do final da década de 1990 passou a moderar seu antissionismo e passou a defender a Solução de Um Estado para o conflito israelo-palestino.


Acusava os Estados Unidos da América de ser um país imperialista, em grande medida em decorrência do apoio dos EUA ao Estado de Israel.

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