Publicado por Egydio Terziotti
“Eu queria que as pessoas se identificassem com o que eu escrevo, que elas sentissem alguma coisa quando lessem. Eu queria fazer a diferença. Mentira. Eu quero...”
"...A hierarquia do império
Em república se tornou;
Muita coisa evoluiu, é verdade!
Para o bem e para o mal;
O tempo sempre presente,
Escrevendo sempre, sempre,
Início, meio e final.
E de passado a futuro
Comparando vejo muito
Disso tudo misturado:
Se antes era o pau-brasil,
Hoje outros paus são levados!..."
Inês Nery.
Em 1822, mais especificamente no dia sete de setembro, o Brasil viu-se “livre” de Portugal, pelo menos no papel. Talvez os brasileiros tenham demorado um pouco para perceber isso, é claro, a informação demorava a chegar, mas em algum momento ficaram sabendo. A partir desse dia, nosso país deixava de ser colônia e passava a ter autonomia própria. Ou, no caso, talvez só tenha deixado de ser colônia mesmo. Ou não.
Infelizmente, pensa-se que essa “libertação” fez que o Brasil abandonasse totalmente seu ar colonial e se desenvolvesse tal como os países desenvolvidos da época. Enganam-se aqueles que pensam isso. Nosso Brasil nunca deixou de ser colônia e, até hoje, temos ares coloniais imersos dentro da nossa sociedade. Eles estão apenas modernizados.
Vamos começar com um dos fatores que mais se destacam: a cana-de-açúcar. Em sua época gloriosa, a cana foi um dos mais importantes meios de lucro que o Brasil – ou, no caso, os países que se beneficiavam disso- tinha. Vendia-se açúcar a preços altíssimos para a Europa e nossa economia estava altamente dependente dessa iguaria. Hoje em dia não é diferente. Pense bem: quem foi o pioneiro a estudar o uso do álcool da cana como combustível, em substituição à gasolina? O Brasil. O Proálcool, desenvolvido na década de 70, trouxe o reconhecimento para o país no âmbito da sustentabilidade.
O produto final pode ter mudado, mas a matéria-prima continua a mesma. Basta atravessar estradas de São Paulo, por exemplo, e poderão ser vistas plantações e plantações de cana.
Outra situação evidente por aqui é como a Igreja continua a ter um poder enorme. Como colônia, as igrejas tinham influência sobre inúmeros ramos da política e economia brasileiras, hoje em dia não é diferente. A Bancada Evangélica é uma das maiores bancadas da Câmara dos Deputados e tem influência sobre inúmeras decisões tomadas no âmbito político e econômico. Além disso, muitas pessoas ainda se deixam manipular por charlatões que se dizem “enviados de Deus”, o que faz que a Igreja acumule grandes somas de dinheiro. Na verdade, não é a Igreja que acumula, são aqueles que estão por detrás dela.
A Constituição é laica, mas a política não.
Outro ponto significativo são as elites controlando o jogo político no país. Nas eleições, não elegemos políticos, mas empresas e empresários. Tudo é questão do jogo de interesses. As empresas que ganham têm seus anos de glória e prosperidade.
Continuando nas elites, mas ampliando um pouco a análise, é evidente a segregação dentro do Brasil. Na sociedade colonial, os escravos viviam à margem da sociedade. Hoje em dia, os negros, apesar de não mais escravos, continuam à margem da sociedade. Indo para a parte mundial, o Brasil continua a ser um país exportador de matérias-primas e commodities tal como era na época colonial. Em questão de desenvolvimento tecnológico e produção de conteúdo, estamos abaixo dos tais “países desenvolvidos” – nossos colonizadores e, ainda, continuamos à mercê das decisões das nações mais ricas do globo. Qualquer decisão tomada lá fora, pode afetar aquilo que acontece aqui dentro.
Agora, é certo que existem outros motivos que fazem do Brasil um país essencialmente colonial, como os jogos políticos que existem aqui, a maneira como as empregadas domésticas são tratadas pelos patrões, a forma como a desinformação das pessoas afeta o desenvolvimento do país. Ah, sim! As pessoas são desinformadas. Ou melhor, é o que querem que elas sejam. A mídia dá notícias que acha conveniente, não há um incentivo para a divulgação de informações importantes para o povo e nem o acesso à informação. É claro que, hoje em dia, é mais tudo muito mais acessível, mas não é o que querem que aconteça.
Então, é certo que, apesar de livre, o Brasil continua apresentando aspectos coloniais. O que faz desse país, talvez, uma colônia indireta? Não sei. O que sei é que não há como desejar que o Brasil tenha um desenvolvimento de Estados Unidos, Europa ou qualquer país desenvolvido do século XXI, se a mentalidade e atitudes de muitos ficaram paradas em 1500.
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