Istambul (em turco: İstanbul), a antiga Bizâncio e Constantinopla (nome ainda usado em várias línguas, como no grego Κωνσταντινούπολις, Konstantinúpolis), é a maior cidade da Turquia, a quarta maior do mundo, rivalizando com Londres como a mais populosa da Europa, com 13 120 596 habitantes na sua área metropolitana(2010).[2] A grande maioria da população é muçulmana, mas também há um grande número de laicos e uma ínfima minoria de cristãos e judeus.
É a capital da área metropolitana (büyükşehir) e da província de Istambul, a qual faz parte da região de Mármara. No passado foi a capital administrativa da Província de Istambul, na chamada Rumélia ou Trácia Oriental. Foi denominada Bizâncio até 330 d.C., e Constantinopla até 1453, nome bastante difundido no Ocidente até 1930. Durante o período otomano, os turcos chamavam-na de Istambul, nome oficialmente adotado em 28 de março de 1930.
Foi a capital do Império Romano do Oriente e do Império Otomano até 1923, cujo governante máximo, o sultão, foi durante séculos reconhecido como califa, o chefe supremo de todos os muçulmanos, o que fazia da cidade uma das mais importantes de todo o Islão. Atualmente, embora a capital do país seja Ancara, Istambul continua a ser o principal polo industrial, comercial, cultural e universitário (aí estão sediadas mais de uma dezena de universidades) do país. É a sede do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, sede da Igreja Ortodoxa.
A cidade ocupa ambas as margens do estreito do Bósforo e do norte do mar de Mármara, os quais separam a Ásia da Europa no sentido norte-sul, uma situação que faz de Istambul a única cidade que ocupa dois continentes. A parte central da parte europeia é por sua vez dividida pelo estuário do Corno de Ouro. É usual dizer-se que a cidade tem dois ou três centros, conforme se considere ou não que na parte asiática também existe um centro. No lado europeu há duas zonas com mais destaque em termos de movimento de pessoas e património cultural: o mais antigo, onde se situava o núcleo da antiga Bizâncio e Constantinopla, correspondente ao atual distrito de Fatih, fica a sul do Corno de Ouro, enquanto que Beyoğlu, a antiga Pera e onde se situava o bairro europeu medieval de Gálata, fica a norte. O centro da parte asiática tem contornos menos precisos, e ocupa parte dos distritos de Üsküdar e Kadıköy.
Algumas zonas históricas da parte europeia de Istambul foram declaradas Património Mundial pela UNESCO em 1985. Em 2010, a cidade foi a Capital Europeia da Cultura. Devido à sua dimensão e importância, Istambul é considerada uma megacidade e uma cidade global.
Silhuetas da Mesquita de Sultanahmet e da Basílica de Santa Sofia num dia de nevoeiro
O atual nome da cidade, İstanbul em turco (AFI: [is'tambu] ou, coloquialmente, [ɨsˈtambul]) é usado nas suas diversas variações pelo menos desde o século X, tendo-se tornado o nome comum em turco desde a sua integração no Império Otomano depois da Queda de Constantinopla, em 1453.
Etimologicamente o nome é derivado da expressão grega medieval "εἰς τὴν Πόλιν" [istimˈbolin] ou, no dialeto egeu, "εἰς τὰν Πόλιν" [istamˈbolin] (em grego moderno: στην Πόλι [stimˈboli]), que significa "na cidade", "à cidade" ou "centro da cidade".
No século XIX ainda eram usados diversos nomes para a cidade. Os europeus em geral usavam principalmente Stambul e Constantinopla para se referirem a toda a cidade, embora por vezes se distinguissem ambos os nomes — Constantinopla podia designar apenas a parte mais antiga, a sul do Corno de Ouro (atual Fatih), usando-se "Pera" para designar a zona norte, chamada Beyoğlu pelos turcos, o nome que é usado atualmente. Desde os tempos bizantinos que Pera foi a área onde as comunidades de origem europeia ocidental se concentraram, uma situação que perdurou até ao fim do Império Otomano. Entre os turcos era mais frequente que Istambul designasse apenas a parte mais antiga.
Bizâncio (em grego clássico: Βυζάντιον; pronúncia em grego demótico moderno: /vi.za.ⁿdjo/) foi o primeiro nome da cidade quando foi fundada em 667 a.C. porcolonos dóricos da cidade-estado de Mégara, que a batizaram em homenagem ao seu rei Bizas. Quando o imperador romano Constantino, o Grande fez da cidade a nova capital oriental do seu império, em 11 de maio de 330, rebatizou-a Nova Roma.[15] No entanto, o nome que acabou por se impor como mais generalizado foi Constantinopla (em grego: Κωνσταντινούπολη ou Κωνσταντινούπολις; Konstantinoupolis; "Cidade de Constantino"), o qual foi usado pela primeira vez de forma oficial durante o reinado do imperador Teodósio II (408-450). O nome oficial permaneceu Constantinopla durante todo período bizantino e foi o nome comumente usado no Ocidente até o início do século XX.
A cidade foi também apelidada de "Cidade das Sete Colinas", pois o Cabo do Serralho, a península onde se situa a parte mais antiga da cidade tem sete colinas, como Roma. Atualmente no cimo de cada uma das colinas há uma grande mesquita imperial otomana. As colinas estão representadas no emblema da cidade como sete triângulos, sobre os quais se elevam quatro minaretes. A cidade tem muitas outras alcunhas, como por exemplo, Vasilevousa Polis ("Rainha das Cidades", em grego), que tem origem na importância e riqueza da cidade durante a Idade Média, e Dersaâdet (originalmente Der-i Saadet, "Porta para a Felicidade") que foi usada pela primeira vez no fim do século XIX e ainda é utilizada hoje em dia.
Com a Lei do Serviço Postal Turco, de 28 de março de 1930, as autoridades turcas pediram oficialmente às nações estrangeiras que adotassem Istambul como o único nome nos seus idiomas.
Restos de colunas bizantinas da antiga acrópole de Bizâncio, onde se encontra atualmente o Palácio de Topkapı
Camafeu representando a coroação de Constantinocomo general vitorioso por Constantinopla
Mapa da Constantinopla bizantina, a qual grosso modo ocupava o que é atualmente o distrito de Fatih
Constantinopla ajudou a assegurar que a sua existência resistiria ao teste do tempo — durante muitos séculos as suas lendárias muralhas protegeram a Europa de invasores vindos de leste e do avanço do Islão. O estatuto de capital imperial e a posição estratégica, na encruzilhada entre a Europa e a Ásia e entre o Mediterrâneo e o mar Negro, contribuíram para tornar a cidade um importante centro de comércio, cultura e diplomacia. Enquanto o Império Romano do Ocidente mergulhava numa crise económica, política e demográfica, Constantinopla continuou a prosperar e durante a maior parte da Idade Média e nos últimos séculos do Império Bizantino foi a maior e mais próspera cidade do continente europeu, sendo em alguns períodos a maior metrópole do mundo.
Um dos períodos de maior esplendor de Constantinopla foi o reinado de Justiniano I, que mandou ampliar Santa Sofia no século VI. Tendo conhecido algum declínio nos séculos VII e VIII, o império retomaria o seu esplendor nos séculos IX e X.
O grande declínio do império foi marcado com a derrota na Batalha de Manziquerta (1071) frente aos turcos do Império Seljúcida, na sequência da qual grande parte da Anatólia deixou de estar sob o domínio bizantino para passar a constituir o Sultanato de Rum.[34] O declínio da capital chegou um século depois com a Quarta Cruzada, durante a qual foi saqueada, pilhada e ocupada, ironicamente por forças cristãs. Constantinopla passou então a ser a capital do Império Latino, um estado criado pelos cruzados católico que duraria 55 anos.[35] Em 1261, Miguel VIII Paleólogo reconquistou a cidade e restaurou o Império Bizantino. Constantinopla encontrava-se então em grande decadência, com muitos dos edifícios, serviços básicos e defesas em ruínas, tendo a sua população diminuído de cerca de meio milhão no século IX para 40 000.
Gravura de 1455 representando o Cerco de Constantinopla pelos otomanos
O Palácio de Topkapı, construído no local da acrópole da Bizâncio grega, foi a residência dos sultões otomanos e centro do poder imperial durante quatro séculos
Vista da Mesquita Azul (de Sultanahmet) desde a Torre de Gálata
Vista panorâmica de Istambul a partir da confluência do Bósforo e do Mar de Mármara; em primeiro plano: cabo do Serralho, onde se destacam, da direita para a esquerda, a Mesquita do Sultão Ahmed, Santa Sofia e o Palácio de Topkapı
Além de ser a maior cidade e a antiga capital do país, Istambul foi sempre o centro da vida económica da Turquia, para o que contribui em grande medida a sua localização numa encruzilhada de rotas comerciais internacionais terrestres e marítimas. A metrópole é igualmente o maior centro industrial e financeiro da Turquia, onde estão cerca de 20% dos empregos na indústria e 38% da área industrial do país (dados de 2000). Em 2000 Istambul era responsável por 55% do comércio, 45% do comércio grossista, 21% do PIB e 27,5% do PNB da Turquia. No mesmo ano, 40% das receitas de impostos cobrados a nível nacional provinham de Istambul.[134] Em 2006, a cidade era responsável por 27,5% do consumo nacional e nela estavam sediados 35% dos depósitos bancários; 20% das dependências bancárias turcas encontram-se em Istambul.
Mercado das especiarias
Em 2006 o PIB de Istambul foi de 133 mil milhões de dólares US, mais do triplo do que Ancara e mais elevado do que o de grandes cidades mundiais como Berlim, Pequim ou Singapura. A cidade foi considerada a 34ª mais rica do mundo pela consultora Pricewater house Coopers. Em 2005 as empresas baseadas em Istambul exportaram bens no valor de 41,397 mil milhões * $US e importaram 69 883 mil milhões $US, o que correspondeu, respetivamente, a 56,6% e 60,2% do total da Turquia nesse ano.[137] A distribuição do rendimento entre a população é muito pouco uniforme. Em 1994, 20% dos mais ricos usavam 64% dos recursos, enquanto que os 20% mais pobres usavam apenas 4%.[135] De acordo com a revista Forbes, Istambul tinha 35 bilionários em março de 2008, o que a colocava como quarta cidade do mundo com mais bilionários.[138] Em 2007 havia 43 centros comerciais em Istambul e estavam em construção mais 35, além de mais 30 em fase de projeto.
Entre os setores industriais mais relevantes podem destacar-se os de processamento de alimentos, bebidas alcoólicas, têxtil, química petroquímica, borracha, metalurgia, curtumes, indústria farmacêutica, eletrónica, vidro, maquinaria, indústria automobilística e de veículos de transporte, papel e produtos de papel. As principais produções agrícolas da província são algodão, fruta, azeite, seda e tabaco.
O turismo é uma atividade económica de grande importância na cidade. Há centenas de hotéis (em 2006 estavam registados 338 estabelecimentos hoteleiros) e milhares de empresas ligadas ao turismo.[140] [141]Em 2000 a cidade foi visitada por cerca de 1 750 000 turistas[142] e em 2006 cerca de cinco milhões de estrangeiros entraram na Turquia pelos dois principais aeroportos de Istambul (Atatürk e Sabiha Gökçen). Em 2007 estavam em construção ou em projeto 30 hotéis de cinco estrelas e apesar da abundante oferta hoteleira já então existente, estimava-se que os novos hotéis não fossem suficientes para satisfazer a procura nos anos seguintes.[139]
Sede da Bolsa de Valores de Istambul
Obelisco de Teodósio
Uma parte considerável da chamada península histórica de Istambul, situada no distrito de Fatih e mais ou menos centrada em Sultanahmet, está classificada como Património Mundial pela UNESCO desde 1985. A cidade foi também Capital Europeia da Cultura em 2010.
Dada a enorme riqueza monumental, cultural e paisagística de Istambul, é muito complicado encontrar critérios minimamente imparciais e objetivos para enumerar os monumentos e locais turísticos que se podem considerar "mais importantes". A lista que se segue é assumidamente e inevitavelmente incompleta e foi baseada principalmente nos guias Lonely Planet de Istambul (edição de 2002) e Rough Guide da Turquia (edição de 2003).
Um ponto obrigatório de qualquer visita turística em Istambul é a área de Sultanahmet, onde se situava o centro da Bizâncio romana e da Constantinopla bizantina e otomana. A praça tem o nome do sultão Ahmed I (1590-1617), que ali construiu a grande mesquita que também tem o seu nome (mais conhecida como Mesquita Azul), ocupa o lugar do hipódromo romano. Na mesma área situava-se uma das alas do grandioso Grande Palácio dos imperadores bizantinos, do qual apenas restam algumas ruínas postas a descoberto por escavações e alguns mosaicos de grandes dimensões em exposição no Museu dos Mosaicos do Grande Palácio, situado numa das ruas em volta da praça. A praça é dominada pela Mesquita Azul no lado sudoeste e pela Basílica de Santa Sofia a nordeste. Ao lado da mesquita situa-se o que era o hipódromo, onde se encontra o Museu de Arte Turca e Islâmica e se erguem dois obeliscos, um deles, o chamado Obelisco de Teodósio, trazido do Templo de Karnak, no Egito. Entre a mesquita e Santa Sofia encontram-se diversos monumentos importantes, como por exemplo, o türbe (mausoléu) de Ahmed I, onde também se encontram sepultados outros membros da família imperial otomana, e os Banhos de Roxelana (século XVI). Numa das extremidades encontra-se a mais impressionantes das muitas cisternas bizantinas da cidade, a Cisterna da Basílica, cujo nome em turco denuncia a sua grandeza: Yerebatan Sarayı (Palácio Subterrâneo).
A Basílica de Santa Sofia, construída no século VI, foi a maior igreja do mundo até 1453, quando foi transformada em mesquita. Se tivesse continuado a ser igreja, continuaria a ser a maior do mundo até 1590, quando foi terminada a cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma, a qual é pouco maior que Santa Sofia. A basílica não impressiona apenas pela sua dimensão, mas por toda a sua arquitetura, iluminação, mosaicos bizantinos, as adições otomanas enquanto foi mesquita e ao facto de ter resistido aos inúmeros terramotos que assolaram Istambul e que destruíram várias construções muito posteriores.
Interior da Basílica de Santa Sofia
No emaranhado de ruas próximas de Sultanahmet, são de referir duas obras-primas da arquitetura de Istambul: a Mesquita de Sokollu Mehmet Paşa, construída em 1572 pelo grande arquiteto otomano Sinan, autor de algumas da mesquitas mais famosas da cidade, e a Igreja de São Sérgio e São Baco. Esta é mais conhecida como Pequena Santa Sofia (em turco: Küçuk Ayasofya) e foi construída alguns anos antes da Basílica de Santa Sofia e foi um modelo para ela. No início do século XVI foi transformada em mesquita, função que ainda mantém.[153] [154]
No distrito de Fatih encontram-se uma série de grandes mesquitas imperiais além da Mesquita Azul. Seguindo pela antiga Estrada Imperial, atual Divan Yolu, passa-se ao lado do türbe de Mahmud II e encontra-se a Coluna de Constantino, na mesma praça da Mesquita de Nuruosmaniye e de uma das entradas do Grande Bazar (Kapalıçarşı), um dos maiores e mais antigos mercados cobertos do mundo. Continuando na mesma rua, encontra-se o türbe de Sinan e a grande praça de Beyazıt, onde se encontra a mesquita homónima (1506) e a Universidade de Istambul. Um pouco mais acima, atrás da universidade, situa-se a maior mesquita da cidade (desde que Santa Sofia foi convertida em museu), a Mesquita Süleymaniye (1557), outra obra de Sinan para Solimão, o Magnífico.
Um pouco mais longe, encontra-se o troço mais imponente das lendárias Muralhas de Constantinopla, o trecho mandado construir por Teodósio II entre a costa do mar de Mármara e o Corno de Ouro, que fechava a cidade romana e bizantina pelo lado ocidental; os outros lados estavam rodeados por mar e eram protegidos pela chamada muralha marítima, da qual ainda resistem muitos troços ao lado da Avenida Kennedy, ao longo da margem do mar de Mármara. A maior fortificação das muralhas atualmente ainda existente é a Fortaleza de Yedikule (Castelo das Sete Torres), situada na antiga Porta Aurea junto ao mar de Mármara.
fresco da Anastasis (ressurreição), na Igreja de São Salvador em Chora(Mesquita Kariye)
Além dos monumentos bizantinos já citados, destacam-se a Igreja de São Salvador em Chora (Mesquita Kariye) e a Igreja Pammakaristos (Mesquitade Fethiye), notáveis pelos seus frescos e mosaicos, os mais espetaculares a seguir aos de Santa Sofia. Igualmente digno de nota é o antigo Mosteiro de Cristo Pantocrator (Mesquita de Zeyrek).
Entre as mesquitas otomanas famosas contam-se todas as construídas por Sinan, nomeadamente a de Mihrimah Sultan em Üsküdar, no lado asiático, a sua homónima em Edirnekapı e a de Rüstem Paşa, em Eminönü, junto a outra das atrações turísticas da cidade, o Bazar das Especiarias (ou Egípcio) e de outra grande mesquita, a Yeni (1665). De referir ainda a Fatih (1463; reconstruída em 1771), a de Laleli (1783) e a de Ortaköy (1856). Esta última situa-se num dos locais mais populares para passeios à beira-mar junto à Ponte do Bósforo.
Aqueduto
Os diversos palácios imperiais à beira do Bósforo no século XIX são outro dos atrativos arquitetônicos da cidade. O maior é o de Dolmabahçe, mas a grandeza e beleza de, por exemplo, os de Çırağan (este transformado num hotel de luxo), Yıldız, Küçüksu e Beylerbeyi, não é muito inferior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário