Por
Helô Sampaio
A autora é jornalista
Mas falar em ovo, lá em Ibicaraí, junto à minha casa, tinha um alfaiate, Mestre Vital, que além de cuidar do conserto e confecção das roupas, tinha uma quitanda em frente, que era ‘pilotada’ por Chiquito, seu auxiliar. Chiquito estava sempre com a cabeça em cima dos braços cruzados, dormitando no balcão. Era outra figura de infância que eu não esqueço. E gostava de gozar a gurizada: Chiquito, tem bombom? Ele respondia cinicamente: não, tem caramelo.
Mas um dia, e essa história ficou famosa na cidade, um garoto perguntou:
-- Chiquito, tem ovo? - Não, tem ovos. - Então me dê um ovos.
Outra coisa que não esqueço: todos os dias, fizesse sol, chuva, geada ou chovesse canivete, Mestre Vital, às seis horas da manhã, ia tomar seu banho no rio Salgado – que passa bem no fundo da casa em que morávamos -, e se ensaboava dos pés à cabeça. Ficava todo branco de espuma. Uma figura!
Mas a época boa era essa, da Páscoa, quando a gente caía nos ovos gostosos, o que deve ter me ajudado a ganhar estas graminhas de charme a mais. O ruim da época era não poder comer carne quinta e sexta-feira santa. Era só peixe. Diziam que era pecado comer carne. Pecado grave.
Um dia, saímos – eu, Lula e Ana, meus irmãos -, com Hugo, amigo de Floresta Azul. Depois de muito aprontar, chegamos na casa de Hugo, mortos de fome. E tinha lá uma carne do sol e um filé deliciosos. Fazer o quê, ‘véio’? Fundamos os três na comida, menos Lula, meu irmão, que ficou na farofa com arroz, e nas ameaças de contar à minha mãe que nós comemos a carne. (Eu não falei, mas fiquei morrendo de medo do que o ‘pecado’ poderia fazer conosco, crianças infratoras).
Agora me diga, amorzinho, tem coisa melhor do que receber uns ovinhos lindinhos, coloridos,
deliciosos, enfiá-los na boca inteirinhos, um por um (para ninguém pedir um pedaço) e depois ficar na pachorra, de olho no ovinho do irmão? Ana, minha irmã, era um perigo: se dessem bobeira, ela afanava um doce, sem dor de consciência. E dividia comigo. Tanto que Lula passou a esconder os docinhos e leite condensado que ele comprava no forro da casa. Adiantava? Ana dava um jeito de subir no forro, pegava os doces, jogava para mim e íamos comer escondido. Lula virava uma fera. E ia procurar outros lugares, mais esdrúxulos, para esconder da gente. E a gente achava. He-he!
Carmen, daqui da SETUR, tem uma mão para doce que é uma perdição. Eu até estou evitando chegar perto, para não aumentar o meu volume de gostosura (meu médico me mata, se eu engordar).
Além dos variados e deliciosos docinhos da sua produção, que ela chama de Tantinho (fone 71 99960-3399), nestes dias ela faz os ovinhos de Páscoa. Eu já disse que adoro cair no ovo. E ela também faz um coelhinho, no tecido, com o ovinho dentro, uma graça; ou faz um ‘ovão’ recheado para matar a gente de desejo, enfim, é um convite ao pecado da gula.
Ponha o avental, minha lindinha, e vamos fazer com que o nosso amadinho caia no ovo com gosto e conosco. Vamos comer os ovinhos do coelhinho.
Ovo de Colher da Tantinho
Ingredientes para fazer um ovo de colher de 100g
-- 150g de chocolate ao leite
-- 50g de chocolate hidrogenado
Modo de preparar a base:
-- Picar os chocolates e depois derreter em banho-maria. (Ela usa um pouco do chocolate hidrogenado por causa do calor de Salvador que derrete rápido o produto. Em lugar frio, não é necessário).
-- Pegar uma forma (no formato de ovo de 100g) e colocar uma colher chocolate. Ir espalhando uma camada dentro da forma, com o fundo da colher, de jeito a somente cobrir todo o espaço (nesse momento, não se preocupe com a espessura). Levar à geladeira por 5min.
-- Depois desse tempo, repetir novamente o processo até acabar o chocolate derretido que tiver.
-- Desenformar num prato e deixar o chocolate suar.
Para o recheio:
-- Escolher qual recheio mais gosta: brigadeiro, casadinho, beijinho, cajuzinho, moranguinho...
-- Faça o seu recheio e depois de pronto coloque de 2 a 3 colheres de creme de leite pra que o doce fique mais cremoso.
-- A cobertura também vai da sua escolha: chocolate granulado, confetes coloridos, coco ralado, amendoim picado...
Caia no ovo com o seu amorzinho, dividindo boquinha com boquinha. E deixe para se preocupar com o aumento de peso depois.
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