Literatura: crônica
“Pedro
Henrique, filósofo, estudioso de política e palestrante; não coloca-se em
nenhum enquadramento ideológico, todavia se considera conservador num sentido
mais amplo que a mera opinião política e filosófica, para ele o conservadorismo
é um modo de vida não uma escolha político-ideológica. Já escreveu para vários
sites e blogs, atualmente é colunista na Obvious e na revista online Sociedade
Pública.”
Um conto verdadeiro, uma
crônica da burrice.
Imagem || Internet |
Em todas as eras tivemos amantes da
ignorância, não é de hoje que descobrimos tribos que se dizem “cultura” por
amarem a falta de cultura. A cultura da não cultura. Quando digo cultura — a
verdadeira cultura — entende-se aquela herança milenar em que povos e mais
povos, de variadas matizes, labutaram evoluções técnicas e intelectuais para
que hoje pudéssemos falar, por exemplo, de ética, estudar grandes sistemas de
pensamentos, debater sobre a possibilidade do transcendente, andar em
confortáveis automóveis, digitar em nossos PCs, e até mesmo beber aquela
cerveja no final de semana. Isto tudo não veio do nada, não surgiu de nenhum
portal hollywoodiano, foram necessário homens e mulheres dedicando suas vidas
inteiras em cima de livros, em testes laboratoriais e em observações
microscópicas ou telescópicas. Eu sei, isto é obvio. Mas vivemos em uma era
onde os jovens acreditam piamente que a maconha é uma espécie de milagre
natural. A demência como sinônimo de saúde e o óbvio como sinal de
intolerância.
Porque digo isto? Porque ontem voltando para
minha casa, em um distinto ônibus lotado aqui da minha cidade, escutei de uma
adolescente muito bem tatuada, diga-se de passagem; muito bem furada com,
talvez, uma dezena de argolas, diga-se de passagem. Escutei desta menina que
estava encaixotada comigo naquele lugar mais compacto que o cérebro da Dilma:
“eu não leio mesmo, ler é chato, ler é coisa para quem tem tempo”. Confesso, e
vocês podem imaginar, eu não estava lá muito feliz dentro daquele ônibus;
gordos já suam por natureza, até mesmo no frio, imaginem sob 35 graus, às 16
horas, dentro de um ônibus lotado de estranhos, dentre eles, outros gordos e
gordas como eu. Respirei fundo, tentei desviar o pensamento para não me focar
na burrice autoproclamada daquele ser exótico.
Veja, aqui vale fazer um adendo, você pode me
questionar: você acha então que o conhecimento somente se adquire por leituras?
Se foi isto que deixei transparecer, é porque eu fui bem-sucedido ao me
expressar. É exatamente o que eu afirmei. Não é chato ler um livro, chato é ser
burro!
Me controlando, engolindo minhas palavras, eu
me segurei e logo ela desceu para aumentar sua cultura, quem sabe, com mais uma
tatuagem. Afinal, ainda havia espaço nos cotovelos e, obviamente, o seu tempo
não era gasto com livros e sim “gibizando” a si própria; muito mais proveitoso
que uma boa literatura de Machado de Assis, óbvio. Estamos ensinando as nossas
crianças que ler é algo retrógrado, que se pode fazer alta cultura vendo vídeos
no YouTube ou repetindo discursos decorados de militância que decoraram de
outros, que decoraram de outros, e nesta cadeia quase infinita se depara com um
Ens. primeiro, a Marilena Chauí, por exemplo. Nossa nação aprendeu que
esperteza é sinal de sapiência, que ser malandro é virtude e ser virtuoso é
coisa de mané.
O livro é a porta que abre caminhos para
qualquer grandeza que se pode ser galgada, e aqui não se trata apenas de
grandeza no sentido monetário. Ser rico não é sinal de inteligência. O
conhecimento é um bem que ninguém pode lhe tirar, a grandeza humana é algo que
ninguém pode lhe tirar, a graça de conhecer bem algo é uma riqueza que não pode
ser somada; aquilo que ninguém pode lhe tirar é algo muito mais digno do que
qualquer fortuna. Enquanto não estivermos com estas ideias bem definidas em
nossas cabeças continuaremos tendo vários tolos opinando tolamente sobre tudo!
Afinal, malandro é malando e mané é mané.
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