Brasil: arquitetura
(personalidade)
A
arquitetura brasileira volta a desfrutar do seu antigo fastígio
O consagrado arquiteto e urbanista brasileiro Paulo Mendes da Rocha, de
87 anos, receberá o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura
de Veneza pelo conjunto de sua obra.
A cerimônia de entrega do prêmio acontecerá no dia 28 de maio, no
Palazzo Giustinian, em Veneza, Itália, segundo comunicado oficial.
Paulo Archias Mendes da Rocha (Vitória, 25 de outubro de 1928) é
um arquiteto e urbanista brasileiro. Pertencente à geração de arquitetos modernistas
liderada por João Batista Vilanova Artigas, Mendes da Rocha assumiu nas últimas décadas
uma posição de destaque na arquitetura brasileira contemporânea, tendo sido
galardoado no ano de 2006 com o Prêmio Pritzker, o mais importante da arquitetura mundial.
Em 2016, vence o prêmio Leão de Ouro, da Bienal de Veneza, Itália, na categoria arquitetura, pelo conjunto
da obra.
É autor de projetos polêmicos e que constantemente
dividem a crítica especializada, como o do Museu Brasileiro da Escultura e do pórtico localizado na Praça do Patriarca, ambos em São Paulo. É nesta cidade também que o arquiteto
passou a maior parte da vida.
Pórtico e cobertura na Praça do
Patriarca em São Paulo
Formou-se arquiteto e urbanista pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, de São Paulo em 1954,
fazendo parte de uma de suas primeiras turmas. Nesse período essa faculdade
ainda estava ligada a um modelo historicista de arquitetura e Mendes da Rocha
passou a participar de um grupo de alunos interessados na arquitetura moderna (como Jorge Wilheim e Carlos Millan).
A arquitetura proposta por Vilanova Artigas o
influencia desde seu primeiro grande projeto, o ginásio do Club Athlético Paulistano. Já nessa primeira obra, Paulo projeta
usando o concreto armado aparente, grandes espaços abertos,
estruturas racionais, entre outros elementos que viriam a caracterizar a
"Escola Paulista" supracitada.
Passa a lecionar na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP) em 1961, em
meio a um intenso debate social promovido por professores e alunos. Discute-se
neste momento o papel social do arquiteto, o que não viria a agradar o governo militar que se instaurou no País em 1964. Em
decorrência disso, seus direitos políticos são cassados em 1969 e
é proibido de dar aulas. Retorna à Universidade apenas em 1980,
juntamente com outros professores cassados (entre os quais, Vilanova Artigas).
Em 1998 Paulo
Mendes torna-se professor titular de Projeto arquitetônico naquela escola,
mesmo ano em que se aposenta compulsoriamente.
Desde então recebe uma
série de prêmios internacionais pela sua obra, realizada em várias partes do
mundo, dentre os quais se destacam o Prêmio Mies van der Rohe para
a América Latina pelo projeto de
reforma da Pinacoteca do Estado de São Paulo (galardeado
em 2001) e o Prêmio Pritzker (em 2006).
Fachada da casa Gerassi
construída por Paulo Mendes da Rocha em São Paulo.
A arquitetura de Paulo
Mendes da Rocha costuma ser apontada como um exemplo paradigmático do
pensamento estético que caracteriza aquilo que é chamado de Escola Paulista da arquitetura
brasileira, uma
linha de projeto que foi encabeçada pela figura de João Batista Vilanova Artigas e bastante difundida na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo, escola na qual Mendes
da Rocha viria a ser professor. A Escola Paulista (obviamente
chamada assim pois tornou-se famosa nas mãos de arquitetos paulistas ou que
trabalharam principalmente em São Paulo), apesar de bastante criticada nas
últimas décadas pelo seu alto custo social e econômico, preocupava-se
essencialmente com a promoção de uma arquitetura "crua, limpa, clara e
socialmente responsável" (de uma certa maneira, influenciada pelos ideais
estéticos do Brutalismo europeu), e apresentava soluções
formais que supostamente permitiriam a imediata apreensão, por parte dos
usuários da arquitetura, dos ideais de economia e síntese espacial expostos em
seus elementos formais, dentro de um raciocínio que se convencionou chamar
de verdade estrutural da arquitetura. Também caracteriza o
movimento a procura de soluções formais que propiciassem a apresentação de
um projeto de cidade ou de um projeto utópico na
realidade interna do edifício.
Na obra de Paulo Mendes da Rocha vários destes
elementos aparecem, reunidos segundo uma clara intenção espacial evidenciada
pelas escolhas de projeto arquitetônico. É uma obra em que a influência dos ditos
"mestres da Arquitetura Moderna" transparece: a preocupação com uma
arquitetura que mesmo sintética e limpa se exprime pelos detalhes construtivos
rigorosamente estudados (Mies van der Rohe), o concreto aparente aliado aos grandes vãos nos
quais a relação indivíduo-espaço é ora íntima e ora monumental (Vilanova
Artigas), a arquitetura formalista procurando denotar a funcionalidade (Le Corbusier/International Style), a busca de espaços supostamente incentivadores
do convívio humano, dentro de um projeto de cidade e
de sociedade (Rino Levi, Artigas, Alvar Aalto, etc).
O gesto arquitetônico promovido
por Paulo Mendes da Rocha, ou seja, as intenções projetais que exprimem uma
dada visão de mundo ou um certo desígnio procuram
cada um a seu modo propor também um "projeto
de humanidade", e tal ato evolui na medida em que sua carreira progride.
Tal projeto, que não se resume a sua obra, é expresso também,
genericamente, em toda a obra da Escola Paulista. Dado que tal gesto é,
supostamente, sempre confiante, as obras de Paulo Mendes acabaram
caracterizando-se por uma atitude rígida, certeira sobre o território: o
arquiteto acredita que o domínio do sítio - seja através da mudança da
topografia, de sua completa redefinição ou mesmo de uma mera ação sobre os
fluxos de circulação do entorno - é um elemento fundamental na expressão do
domínio e da integração do homem sobre e com a Natureza. Segundo suas palavras, a primeira e
primordial arquitetura é a geografia.
Sua obra também é dita por alguns como
caracterizada por um "raciocínio de pórticos e planos". De fato, em vários de seus
projetos, a plena configuração espacial se dá através de um rápido jogo
estrutural, promovido pelo domínio compositivo de elementos construtivos
tradicionais (pilares e vigas,
assim como paredes simples e lajes). Os projetos nos quais mais se torna clara
esta característica são os do Museu Brasileiro de Escultura, da loja Forma e de algumas residências.
Apesar da influência visível dos já citados Mies van der Rohe e Artigas, Paulo
Mendes da Rocha é aclamado por alguns como um legítimo mestre quando
lida com esta linguagem.
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