Literatura: história
Por Adriana Caló
“Reflexiva
sobre a vida e as ações cotidianas. Curiosa e intuitiva, rabisca poesias,
brinca com pincéis e tintas. Amadora por natureza com uma marcante
característica: Liberdade Artística!”
"O escravo não foi aquele
objeto passivo que apenas observava a História." (Clóvis Moura)
Muito se fala sobre o período de escravidão
no Brasil colonial, mas poucos estudos dão importância ao papel do escravo como
participante ativo do processo de lutas contra a escravidão, lutas de classes
(senhores e escravos). Dando a impressão que o tratamento que recebiam, do
colonizador, fosse mansamente aceito mediante a sua condição. Em alguns estudos
podemos observar o escravo como um objeto passivo de “seu destino”. Porém, é
preciso salientar que foi o contrário, os escravos manifestavam várias formas
de resistência ao regime escravista. Segundo o sociólogo Clóvis Moura “o
escravo não foi aquele objeto passivo que apenas observava a história.”(MOURA,
1981:8).
Precisamos demonstrar a importância social e
politica da luta dos escravos não como algo isolado, mas como uma força que
atuava de forma transformadora e atuante dentro do sistema. Estes que tiveram
papel marcante na História devido suas lutas existenciais, que buscava meios de
transformar, quebrar barreiras, não simplesmente se esconder, mas sim buscar
sua representação na sociedade.
Ao pensarmos na formação territorial do
Brasil, logo vem em mente características fundamentais, tais como: colonização
portuguesa, jesuítas, capitanias hereditárias e guerras territoriais. Tudo
girando em torno da dominação das terras brasileiras, mas onde está a força, a
mão-de-obra utilizada, que contribuiu para o crescimento econômico e que, de
certa forma, dava motivação às lutas de conquistas territoriais?
Neste contexto quero destacar o papel do
escravo na formação territorial do Brasil, mais especificamente através dos
quilombos. “Quilombo era “toda habitação de negros fugidos que passem
de cinco, em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados e nem se
achem pilões neles”, segundo resposta do Rei de Portugal a consulta do Conselho
Ultramarino datada de 2 de dezembro de 1740.” (MOURA, 1981:16)
Os desdobramentos das relações de trabalho,
que resultam nas fugas dos escravos fragmentaram o território do Brasil,
causaram fratura na soberania lusitana. Deixando claro que o escravo era um ser
inquieto e que lutou para adquirir seu lugar na sociedade.
No interior estrutural da Colônia, os
quilombos serviam como base da resistência, pois os escravos ao fugirem para
lugares de difícil acesso, buscavam modos de se defendem das repressões dos
senhores, ou seja, era um refúgio. Existiam centenas de quilombos espalhados
por toda a Colônia.
Entre as diversas formas de resistência ao
regime escravista ocorreu neste período a integração dos quilombos com outros
grupos de escravos revoltosos (negros urbanos e a periferia quilombola), no que
se deu a grande revolução dos negros maleses na Bahia - Insurreição Negra de
1835, conhecida como Revolta dos Malês.
A questão dos quilombos deve ser vista e
considerada para total formação territorial do Brasil, pois estes exerceram uma
fundamental importância na estrutura social, geográfica e política do país. E
não foram simples revoltas, onde os “rebeldes” simplesmente fugiram, ou
serviram de marionetes nas mãos do branco colonizador, mas sim uma forma de se
negar aos maus tratos, punições, trabalhos forçados, a vida miserável
escravista e partirem para a luta contra a classe dominante (senhores
coloniais).
A escravidão, ordem social fundamentada na
utilização do trabalho escravo como força produtiva, implicou em uma estrutura
hierarquizada de duas camadas sociais: os produtores submetidos e os
proprietários dessas pessoas e do produto de seu trabalho.
No dia 13 de Maio de 1888 foi assinada a Lei
Áurea, que abolia definitivamente a escravidão no Brasil.
Se por um lado a Lei Áurea legitimava a
libertação do negro – louve-se o fato – por outro o abandonava à própria sorte.
Na escravidão havia o mito do “bom senhor”,
com a abolição este se transformou em “homem cordial” (elite brasileira). Essas
ideologias completam o imaginário da democracia racial, como enfatiza o crítico
literário Alfredo Bosi:“O Treze de Maio não é uma data apenas entre outras,
número neutro, notação cronológica. É o momento crucial de um processo que
avança em duas direções. Para fora: o homem negro é expulso de um Brasil
moderno, cosmético, europeizado. Para dentro: o mesmo homem negro é tangido
para os porões do capitalismo nacional, sórdido, brutesco.” (BOSI,
1996: 272)
É preciso esclarecer que a abolição não foi
um simples ato de bondade da elite política imperial. No processo abolicionista
não se deve omitir a própria luta negra, luta esta que, aliás como descrito
neste artigo, já se fazia presente desde a época colonial. A formação dos
quilombos é um exemplo claro dessa luta. Ressalte-se ainda a participação ativa
dos negros em movimentos revolucionários como a Conjuração dos Alfaiates, ou
Conjuração Baiana de 1798, liderada por negros e mulatos e considerada a
primeira revolução social do Brasil.
Referências Bibliográficas:
BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização. São
Paulo: Companhia das Letras, 1996.
MOURA, Clóvis. Os quilombos e a rebelião
negra. São Paulo: Brasiliense, 1981.
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