Turismo
Publicado por Profeta do
Arauto
“Ler, escrever, fotografar e viajar. Premissas de Um Homem
que contrapôs os mandos do Tempo; pois lhe falta profissão!”
Enquanto
que os monumentos de pedras representam o suor e as mãos dos povos Maia, o lago
Atitlan é o registro vivo do que uma tragédia natural pode fazer para
(con)decorar um país; e ambas as obras, orgulham os guatemaltecos.
Ao
contemplar o céu que repousara mais um dia de encantos sobre o lago Atitlan, as
vistas alcançam muito além do permitido pelos sonhos.
O lago é formado por belezas que jamais findam; e se alguém suscitar que
elas chegaram ao fim, o sonho não passou de ilusão de ótica.
Do verbo fez-se a palavra; do pecado fez-se o
homem e da tragédia natural fez-se o memorável lago Atitlan. Dentre a gama de
lagos de águas dulcícolas que a Natureza tratou de contemplar o mundo, este
deve estar entre os cinco mais belos e motivo para ser sempre revisitado; pois
em cada revisita, uma surpresa inesperada dá forma e exuberância à paisagem.
A Guatemala é um país arrasado por vulcões e
até os dias de hoje, lavas emergem das profundezas e escorrem ladeira abaixo
nos maciços de terra. Nos arredores da capital Guatemala City, enquanto o
vulcão Pacaya está adormecido esperando pelo ralhado dos senhores da Natureza e
assim despertar do sono profundo, o vulcão Fuego está vivíssimo e pode ser
visto de longe. Nas noites sem nevoeiro, com sua língua fumegante e
silenciosamente traidora, o dragão aparece nas alturas para soprar o ninado que
embala os guatemaltecos. Não se sabe até quando, mas por enquanto tudo conspira
calmaria no aquecido gigante em chamas.
Apreciar
detidamente o lago no romper da aurora, é como reverenciar a paz de mais um dia
que descortina por detrás dos vulcões.
Um desastre ambiental qualquer origina um sem
número de tragédias, no entanto, os terremotos, as erupções vulcânicas, os
tsunamis e as quedas de meteoros são fenômenos naturais, os quais as mãos do
homem não participam de seus lançamentos e revoltas. Contudo, com as alterações
estruturais e a posterior sucessão ecológica, os quais farão do ambiente
destruído um novo oásis verde, como magia, espécies da fauna e flora aparecem
do ar, do vácuo, de cima, de baixo, do nada para habitar o local. Assim se deu
o renascimento biológico da Guatemala e o aparecimento do lago.
Tal reconstrução confere ao homem a
possibilidade de usufruir do paraíso que se formara através do caos; mesmo
porque a vida persiste sempre em meio à destruição. É a prova de que a vida é
superior às desavenças ocasionadas pelo caos. É o que torna inteligível a ordem
social, portanto, é o que torna a vida digna de ser vivida.
Segundo os estudos geológicos, há uma
caldeira vulcânica, sobre a qual o país está assentado e de seu interior
surgiram três vulcões: o Atitlan ao norte, o San Pedro e o Tolimán em seu interior.
Destes, o San Pedro é o mais velho e praticamente inativo; o Atitlan é o mais
novo e “eclodiu”, emergiu das profundezas por volta de 10 mil anos. Para a
racionalidade humana pode ser muito tempo, mas para a transformação natural das
coisas, esse período é nada. Sua última erupção ocorreu por volta dos anos de
1850; o que fez subir à superfície da cratera fraturada as águas únicas e
confundíveis com o azulado do céu que banha o soberano lago Atitlan.
A Guatemala é um país, além de pequeno,
terrivelmente pobre, porém de povos dignos. Visando angariar desenvolvimento e
recursos econômicos, por volta dos anos de 1950, o governo iniciou uma campanha
de incentivo ao turismo internacional e como atrativo, transformou a área verde
circundante ao lago em unidade de conservação; o que a princípio não resultou
em grandes conquistas e repercussões, pois embora paradisíaco, o local não
oferecia, como ainda não oferece uma infraestrutura que atraia o público
abastado. Porém, no lado “B” dessa questão, estão os jovens europeus, cuja
geração representa os seus antepassados e deleitam-se com viagens rústicas e
aventurosas; motivo de "lotarem" as margens do Atitlan.
O descobrimento do lago deveu-se às criaturas
de hábitos nada convencionais que aportavam em suas cercanias de tempo em
tempo. Eram os hippies, que com o firme pensamento e propósito do não
consumismo e fingindo normalidade para a loucura do mundo não se entregar,
vinham de outras bandas. Aliás, esses “caras” de costumes
naturalistas/comunitários estiveram presentes na maioria dos habitats
alternativos.
E a quem diga que os hippies foram
magnificamente bem recebidos, porque, as terras altas e baixas do Atitlan são
habitadas pelos nativos que descendem dos Quichés, tribo que cultua a paz e a
preservação das coisas naturais; que em tempos remotos, tanto essa cultura como
outras, pertenciam à civilização Maia. Fora a língua falada, os nativos
ribeirinhos preservam as vestes, que além de trazer o multicolorido das flores,
são longas até os pés. Esse é o registro indelével, sem rabiscos e mácula da
mulher guatemalteca.
Os guatemaltecos são povos dóceis e fazem jus à expressão “muy amables”,
bastante pronunciada nos países latinos de língua espanhola. Antes de tudo,
lindos pelos laços ternos da simplicidade e doçura; e como poucos, sorriem para
a pobreza, o que é incomum na natureza humana.
Nos quatro cantos do lago, paisagem com da foto descortinam para aqueles
que possuem olhos para a sensibilidade da Natureza e miopia profunda para a
insignificância humana. Vista
frontal do vulcão San Pedro.
Ao chegar
ao vilarejo de San Juan, fatalmente o visitante será apresentado ao rostro
Maia, que com sua gentileza de sábio e pensador celestial, o convidará para
repousar sereno sob sua companhia.
Conhecer todo o lago demanda tempo,
disposição física, vagareza de pensamento e como citado várias vezes no texto:
olhos para o belo; afinal o recomendável é ir caminhando devagar e conforme o
descortinado, parar para a tomada das fotos. A cada três ou cinco quilômetros,
um povoado surge insinuando que a hospitalidade e o sorriso espontâneo
respondem ao pedido de socorro advindo do cansaço. Estima-se (estimativa do
autor deste) que o percurso total tenha mais que cem quilômetros.
Dentre as cidadelas que circundam o lago,
destaque para Panajachel, ou Pana como eles preferem dizer. Além desta, as mais
“populosas” são San Pedro, Santiago de Atitlan e San Marcos. Santiago Atitlan é
conhecida pelo culto a Moximón: idolatria oriunda da fusão de deidades maias,
santos católicos e lendas de conquistadores. Este e outros rituais fazem parte
da religiosidade dos guatemaltecos. O que é valido, pois, feliz é a criatura
que descobre que o Criador e a criação se encontram nesse paraíso sagrado,
chamado lago Atitlan.
Fotos pertencentes ao autor do artigo
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