Literatura/Filosofia
Publicado por Victor Oliveira
Formando
em Direito na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte. Assíduo leitor
sobre o que a filosofia pode corroborar com a formação do ser.
Se contrapondo as
propostas de muitos filósofos e teólogos que tentaram trazer um sentido para a
vida, os existencialistas não só admitem a falta de sentido dela, como assumem
a noção de absurdo. Apesar de trazer uma carga negativa, a filosofia
existencialista surge como um amparo para àqueles desprovidos de fé,
possibilitando uma melhor forma de viver a vida a partir de uma perspectiva
filosófica.
Albert Camus foi um
filósofo, escritor, ensaísta nascido na Argélia, mas que viveu boa parte de sua
vida na França onde faleceu na cidade de Villeblevin. Foi um dos ícones do
existencialismo, sendo por um período amigo do filósofo Sartre, vindo a romper
por questões políticas. Um dos pontos centrais de sua filosofia - a noção de
absurdo do filósofo argelino - foi um produto de substratos literários do
século XIX e XX, como Soren Kierkegaard, Franz Kafka e Fiódor Dostoievski.
Complementando a filosofia de Sartre, Camus
via o absurdo como a ideia que expõe a falta de sentido da vida, além do
significado que damos a ela. Para ele o mundo era desprovido de sentido e de
justiça, algo considerado como ruim poderia muito bem ocorrer diversas vezes
com uma pessoa que só pratica o bem, não havendo assim qualquer impedimento.
Portanto, por conta desse mundo absurdo, em que qualquer ponto do tempo,
qualquer coisa pode acontecer a qualquer um, ou seja, um acontecimento trágico
pode recair sobre alguém que esteja em confronto direto com o Absurdo.
Destroços
do carro no qual Camus esteve seu contato direto com o absurdo
Para demonstrar essa noção de absurdo, Camus
escreveu o ensaio “O mito de Sísifo”, uma poderosa metáfora sobre a vida. Sísifo
foi um homem que desafiou os deuses. Quando capturado recebeu a punição de
empurrar uma pesada pedra até o topo da montanha, mas sempre que ele chegava ao
topo uma força irresistível rolava ela para baixo, tendo que assim reiniciar
sua tarefa pela eternidade. Mesmo com a falta de sentido continua a realizar
essa tarefa. Camus apresenta o mito para trabalhar uma metáfora sobre a vida
moderna, como trabalhadores em empregos fúteis em fábricas e escritórios.
"O operário de hoje trabalha todos os dias em sua vida, faz as mesmas
tarefas. Esse destino não é menos absurdo, mas é trágico quando apenas em raros
momentos ele se torna consciente".
Apesar de trazer essa noção de absurdo, Camus
ao contrário de que muitos pensam (uma visão de muito mal gosto) não faz uma
apologia ao suicídio, pelo contrário. Para ele, a vida tem que ser vivida
apesar do absurdo, pelo que ela é sem recorrer à esperança. Portanto, para
melhor viver a vida, deve o sujeito aceitar a noção de absurdo do seu destino.
Fazendo um contraponto ao mito de Sísifo, nosso herói pode vencer os deuses sem
se desvencilhar de seu castigo (destino) que é justamente aceitando o absurdo
de sua vivência, de seu castigo, desempenhando assim sua atividade sem mais
tormentos, contrariando assim as intenções dos deuses.
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