Arte cinematográfica:
filmes
Publicado por Sílvia
Marques
Sou
paulistana , escritora , bacharel em Cinema, professora universitária e doutora
em Comunicação e Semiótica. Entre meus livros estão "Como identificar e se
livrar de um babaca: Guia de sobrevivência feminina, "Hispanismo e
erotismo: O cinema de Luis Buñuel", "O cinema da paixão: Cultura
espanhola nas telas" e "Sociologia da Educação", indicado ao
Jabuti 2013. Defendo a ideia de que filmes inteligentes e críticos podem
estimular a longo prazo novas atitudes, pensamentos e sentimentos. Autora do
blog Garota desbocada. Lancei recentemente em versão e-book pela Cia do ebook o
romance O corpo nu.
Ser homem vai muito além de ter
um pênis. Ser mulher vai muito além de ter uma vagina. Pode soar óbvia a minha
afirmação, mas muitas pessoas ainda acreditam que é o genital que define a
nossa sexualidade. Que alguém com pênis precisa necessariamente se interessar
sexualmente e afetivamente por mulheres e que alguém com um genital feminino
precisa necessariamente desejar homens.
A garota dinamarquesa
Como venho repetindo de forma exaustiva em
meus artigos, o cinema é uma poderosíssima ferramenta para conhecer o mundo com
suas múltiplas possibilidades. O cinema é um meio eficaz e contundente para
fazer pensar. Falar sobre cinema é falar sobre milhares de temas. O cinema
dialoga com a Antropologia, com a Sociologia , com a Psicologia , Psicanálise,
com as outras artes , se nutrindo e se reinventando com a estética da Pintura ,
do Teatro, da Literatura , da Música. O cinema dialoga com a História, com a
Política. Enfim, com qualquer tipo de saber. E da mesma forma que é
influenciado por outras artes , influencia outras linguagens.
No atual post , vou comentar sobre a
importância de alguns filmes que mostram a multiplicidade da sexualidade, que
mostram que sexo é algo bem diferente de sexualidade. Sim, podemos nascer com o
genital masculino ou feminino. Em raros casos , com os dois. Mas a presença de
um pênis não garante a sexualidade masculina da mesma forma que a presença de
uma vagina não garante a sexualidade feminina. Ser homem vai muito além de ter
um pênis. Ser mulher vai muito além de ter uma vagina. Pode soar óbvia a minha
afirmação, mas muitas pessoas ainda acreditam que é o genital que define a
nossa sexualidade. Que alguém com pênis precisa necessariamente se interessar sexualmente
e afetivamente por mulheres e que alguém com um genital feminino precisa
necessariamente desejar homens.
A seguir , comentarei alguns filmes que
mostram diversos tipos de orientação sexual. Como o tema é por demais amplo e
complexo, não darei conta de citar todos os tipos existentes.
1. A garota dinamarquesa,
de Tom Hooper
Neste sensível filme baseado em fatos reais ,
encontramos uma caso de transexualidade. O pintor Ernie é uma mulher presa no
corpo de um homem. Ernie é a primeira pessoa a fazer a operação para mudança de
sexo. Lili quer se vestir como mulher e se relacionar afetivamente com homens.
Lili queria ser mãe.
2. Uma nova amiga, de François Ozon
Neste poético e intrigante filme francês, o
personagem protagonista também gosta de se vestir como mulher pois também se
sente como mulher. Como Ernie, tem uma alma feminina. Mas diferentemente de
Ernie, David gosta de se relacionar sexualmente e afetivamente com mulheres. Em
suma: David é uma mulher homossexual presa no corpo de um homem. Por meio de
David , Claire, melhor amiga da esposa falecida de David , vai descobrir sua
homossexualidade. Embora David e Claire pareçam um casal heterossexual, eles
formam um casal de lésbicas.
3. XXY , de Lucía Puenzo
Este intrigante filme argentino mostra como
protagonista uma hermafrodita que pende mais para o sexo feminino no que diz
respeito ao corpo, mas que se sente homem emocionalmente. Ela/ele se envolve
com um garoto homossexual. No encontro sexual entre ambos, a hermafrodita
assume o papel masculino sodomizando o garoto homossexual, embora tome
medicamentos para desenvolver mais os caracteres femininos.
4. Azul é a cor mais quente, de Abdellatif
Kechiche
Neste polêmico, romântico e sensual filme
sobre o encontro amoroso entre duas garotas homossexuais, podemos encontrar uma
particularidade interessante: Emma é realmente homossexual. Adéle é
homossexual, mas consegue se relacionar com homens. Em suma: apesar de
homossexual, não repele o sexo masculino.
5. Effie Gray: uma paixão reprimida , de
Richard Laxton
Baseado em fatos reais, a jovem Effie passa
por um verdadeiro calvário a se casar com um homem que se nega a manter
relações sexuais com ela. A trama acontece na Inglaterra do século 19. Até hoje
, os historiadores tentam descobrir o que tanto repeliu o marido de Effie ao
vê-la nua em sua noite de núpcias. Ela conseguiu anular o casamento alegando
impotência sexual, mas na realidade não fica claro o problema que seu marido
apresentava : se era um homossexual enrustido ou se era um assexuado. Um filme
realmente intrigante e magnético sobre os horrores da rejeição.
6. Tudo sobre minha mãe, de Pedro Almodóvar
Neste comovente e humanístico filme,
encontramos dois personagens que são travestis. Em suma: se vestem como mulher
, preferem manter relações sexuais com homens , mas possuem o genital
masculino. O ex-marido da protagonista vivida pela argentina Cecília Roth possui
pênis e seios. O mesmo acontece com a bondosa Agrado, melhor amiga da
protagonista Manuela. Neste filme , Penelope Cruz vive uma jovem freira que
engravida do ex-marido travesti de Manuela, o que intriga a protagonista,
levantando a hipótese de que talvez a freira tenha tendências bissexuais.
Em resumo: o cinema nos ajuda a entender que
a vida é muito mais complexa e intricada do que imaginamos. Que tratar um tema
como sexualidade é coisa muito séria e que deveríamos primeiramente tentar
conhecer mais sobre as orientações sexuais antes de formar opiniões fechadas a
respeito. Infelizmente , o cinema é utilizado pela maioria das pessoas como um
mero entretenimento, uma fuga da realidade monótona por meio de filmes e
personagens fantasiosos e enredos pasteurizados.
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