Por Joaci Góes
É empresário, advogado,
imortal pela Academia de Letras da Bahia
Antoine Lavoisier, considerado o
pai da Química Moderna, guilhotinado em 1794 pela Revolução Francesa, aos 50
anos, cunhou frase famosa: “Em a natureza nada se cria, nada desaparece, tudo
se transforma”, definindo a indestrutibilidade da matéria.
As reiteradas diferenças entre as
ciências naturais e as ciências do espírito recomendam cautela na transposição
de princípios de uma para outra área dessa rica gama bipolar de conhecimento.
Enquanto as ciências naturais trabalham com “certezas”, as do espírito operam
com probabilidades, ficando as certezas, no campo movediço das ações humanas,
para os ideólogos fundamentalistas que saem mundo afora catando fatos para
lastrear as arraigadas convicções que os afastam, cada vez mais, do anunciado e
perseguido porto da verdade.
Pensamos que no plano da economia
mundial, a saída do Reino Unido da União Europeia não passará de um freio de
desarrumação da estabilidade hoje dominante. É claro que do ponto de vista de
interesses individuais e setoriais, muitos perderão, na mesma proporção em que
outros ganharão ao longo do período em que as águas da economia evoluam da
turbulência atual para a serenidade do novo status quo. No geral, as perdas de
uns serão os ganhos de outros, na conhecida equação de soma zero, muito ao
jeito da constância da permanência física da matéria, anunciada por Lavoisier.
Liberto do bolivarianismo infantil
que tem atrofiado o seu comércio internacional, o Brasil tem mais a ganhar do
que a perder no panelaço econômico resultante dessa trêfega iniciativa bretã
que ainda vai dar panos para muitas mangas, não sendo impossível que tudo volte
a ser como dantes no quartel de Abrantes. O problema fundamental que afeta a
competitividade do produto brasileiro continua a ser a baixa agregação de valor
a ele, em razão da educação de má qualidade que praticamos. Na sociedade do
conhecimento em que estamos inapelavelmente imersos, é cada vez maior a
compatibilidade entre desenvolvimento e educação.
É um erro monumental do
Reino Unido permitir que uma questão dessa complexidade seja decidida por uma
maioria ínfima que, possivelmente, se inverterá na hipótese, mais do que provável,
de um segundo escrutínio. Sem falar na ameaça da Escócia, a joia da Coroa, de
deixar o Reino Unido, se a vontade de sua expressiva maioria de 62% de
permanecer na Comunidade Europeia não for respeitada. Dentro da própria
Inglaterra, nação líder dos bretões, os interioranos se impuseram aos cultos
londrinos, e os mais velhos, guiados pelo saudosismo, frustraram os mais jovens
que desejam continuar na estrutura poderosamente sinérgica da maior federação
de nações que a história registra, pondo fim ao ancestral isolamento de suas
nações insulares.
Gorbachev advertiu na Perestroika
que é tarefa intransferível da elite governante escolher os caminhos que devem
ser seguidos para alcançar os legítimos desejos de paz e bem-estar das massas.
As massas exprimem suas aspirações. Aos governantes cabe definir o modo de
realizá-las.
A prioridade que a sociedade
brasileira deve continuar perseguindo, neste momento, é a consolidação do
impeachment, como meio de acabar com a interinidade que limita as ações do Presidente
Temer e espancar o fantasma de um hipotético retorno da Presidente Dilma, fato
impensável que colocaria o País em estado catatônico. Independentemente do grau
de sua culpa, Dilma passou a ser, entre
todos os brasileiros, a pessoa menos apta a governar o Brasil, por absoluta
falta de diálogo com os mais diferentes setores da sociedade. Nesta altura dos
acontecimentos, é ato impatriótico votar pelo seu vexatório retorno.
Uma vez assegurada à estabilidade
do novo governo, toda a pressão deverá ser posta sobre o Presidente Temer, no
sentido de que promova, sem tardança, as reformas sem as quais o Brasil não se
habilitará a ingressar no rol dos países sérios. Com o prostituído sistema
partidário vigente, o Congresso Brasileiro continuará sendo, com as exceções
que confirmam a regra, o valhacouto da bandidagem que assalta o Erário e
deprime o ânimo nacional.
Meio à vasta corrupção que tolda
as esperanças do povo brasileiro, a emergência de uma opinião pública nacional,
vigilante e afirmativa, como até então desconhecíamos, opera como poderoso
antídoto contra as sobradas razões para a rendição ao desespero que emascula,
paralisa e desfibra a alma nacional.
Cuidemos de nós. O Reino Unido
saberá cuidar de si mesmo, como tem feito, tão bem, ao longo de séculos e de
turbulências monumentais.
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