sexta-feira, 9 de setembro de 2016

O REINO UNIDO E A INDESTRUTIBILIDADE DA MATÉRIA

 
Literatura




Por Joaci Góes
É empresário, advogado, imortal pela Academia de Letras da Bahia
 Antoine Lavoisier, considerado o pai da Química Moderna, guilhotinado em 1794 pela Revolução Francesa, aos 50 anos, cunhou frase famosa: “Em a natureza nada se cria, nada desaparece, tudo se transforma”, definindo a indestrutibilidade da matéria.



As reiteradas diferenças entre as ciências naturais e as ciências do espírito recomendam cautela na transposição de princípios de uma para outra área dessa rica gama bipolar de conhecimento. Enquanto as ciências naturais trabalham com “certezas”, as do espírito operam com probabilidades, ficando as certezas, no campo movediço das ações humanas, para os ideólogos fundamentalistas que saem mundo afora catando fatos para lastrear as arraigadas convicções que os afastam, cada vez mais, do anunciado e perseguido porto da verdade.
Pensamos que no plano da economia mundial, a saída do Reino Unido da União Europeia não passará de um freio de desarrumação da estabilidade hoje dominante. É claro que do ponto de vista de interesses individuais e setoriais, muitos perderão, na mesma proporção em que outros ganharão ao longo do período em que as águas da economia evoluam da turbulência atual para a serenidade do novo status quo. No geral, as perdas de uns serão os ganhos de outros, na conhecida equação de soma zero, muito ao jeito da constância da permanência física da matéria, anunciada por Lavoisier.
Liberto do bolivarianismo infantil que tem atrofiado o seu comércio internacional, o Brasil tem mais a ganhar do que a perder no panelaço econômico resultante dessa trêfega iniciativa bretã que ainda vai dar panos para muitas mangas, não sendo impossível que tudo volte a ser como dantes no quartel de Abrantes. O problema fundamental que afeta a competitividade do produto brasileiro continua a ser a baixa agregação de valor a ele, em razão da educação de má qualidade que praticamos. Na sociedade do conhecimento em que estamos inapelavelmente imersos, é cada vez maior a compatibilidade entre desenvolvimento e educação.
 É um erro monumental do Reino Unido permitir que uma questão dessa complexidade seja decidida por uma maioria ínfima que, possivelmente, se inverterá na hipótese, mais do que provável, de um segundo escrutínio. Sem falar na ameaça da Escócia, a joia da Coroa, de deixar o Reino Unido, se a vontade de sua expressiva maioria de 62% de permanecer na Comunidade Europeia não for respeitada. Dentro da própria Inglaterra, nação líder dos bretões, os interioranos se impuseram aos cultos londrinos, e os mais velhos, guiados pelo saudosismo, frustraram os mais jovens que desejam continuar na estrutura poderosamente sinérgica da maior federação de nações que a história registra, pondo fim ao ancestral isolamento de suas nações insulares.
Gorbachev advertiu na Perestroika que é tarefa intransferível da elite governante escolher os caminhos que devem ser seguidos para alcançar os legítimos desejos de paz e bem-estar das massas. As massas exprimem suas aspirações. Aos governantes cabe definir o modo de realizá-las.  
A prioridade que a sociedade brasileira deve continuar perseguindo, neste momento, é a consolidação do impeachment, como meio de acabar com a interinidade que limita as ações do Presidente Temer e espancar o fantasma de um hipotético retorno da Presidente Dilma, fato impensável que colocaria o País em estado catatônico. Independentemente do grau de sua culpa, Dilma passou a ser, entre todos os brasileiros, a pessoa menos apta a governar o Brasil, por absoluta falta de diálogo com os mais diferentes setores da sociedade. Nesta altura dos acontecimentos, é ato impatriótico votar pelo seu vexatório retorno.
Uma vez assegurada à estabilidade do novo governo, toda a pressão deverá ser posta sobre o Presidente Temer, no sentido de que promova, sem tardança, as reformas sem as quais o Brasil não se habilitará a ingressar no rol dos países sérios. Com o prostituído sistema partidário vigente, o Congresso Brasileiro continuará sendo, com as exceções que confirmam a regra, o valhacouto da bandidagem que assalta o Erário e deprime o ânimo nacional. 
Meio à vasta corrupção que tolda as esperanças do povo brasileiro, a emergência de uma opinião pública nacional, vigilante e afirmativa, como até então desconhecíamos, opera como poderoso antídoto contra as sobradas razões para a rendição ao desespero que emascula, paralisa e desfibra a alma nacional.
Cuidemos de nós. O Reino Unido saberá cuidar de si mesmo, como tem feito, tão bem, ao longo de séculos e de turbulências monumentais.


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