segunda-feira, 19 de setembro de 2016

QUAL É A COR MAIS QUENTE?

Arte cinematográfica














Publicado por Fernanda Villas Boas
Nascida em Recife, Pernambuco, Brasil. Aos cinco anos veio morar no Rio de Janeiro com sua família, partindo para Washington D.C com a família por quatro anos durante sua adolescência. Lá terminou o ensino médio e cursou um ano na Georgetown University. Fernanda tem uma rica vida acadêmica. Professora de Inglês, Português e Literaturas, pela UFRJ, Mestre em Literatura King´s College, University of London. É Mestre em Comunicação pela UFRJ e Psicóloga pela Faculdade de Psicologia na Universidade Santa Úrsula, com especialidade. Em Carl Gustav Jung em 1998. É escritora e psicóloga junguiana e com esta escolha tornou-se uma amante profunda da arte literária e da alma, psique humana. Fernanda Villas Bôas tem vários livros publicados, tais como: No Limiar da Liberdade; Luz Própria; Análise Poética do Discurso de Orfeu; Agora eu era o Herói – Estudo dos Arquétipos junguianos no discurso simbólico de Chico Buarque e A Fração Inatingível; é um fantasma de sua própria pessoa, buscando sempre suprir o desejo de ser presente diante do sofrimento humano e às almas que a procuram. A literatura e a psicologia analítica caminham juntas. Preenchendo os espaços abertos da ficção, Fernanda faz o caminho da mente universal e daí reconstrói o caminho de volta, servindo e desenvolvendo à sociedade o reflexo de suas próprias projeções.





Adèle (Adèle Exarchopoulos) é uma garota de 15 anos que descobre, na cor azul dos cabelos de Emma (Léa Seydoux), sua primeira paixão por outra mulher. Sem poder revelar a ninguém seus desejos, ela se entrega por completo a este amor secreto, enquanto trava uma guerra com sua família e com a moral vigente.




O filme de Abdellatif Kechicihe ( 2013) Azul é a cor mais Quente nos leva ao brotar da sexualidade através do sentimento puro e inocente de Àdele, na fase da vida onde a inquietação hormonal é maior que qualquer lógica e a protagonista caminha a favor dos ventos com rajadas fortes e um céu azul como a cor do cabelo de Emma por quem se apaixona e se entrega de corpo e alma.
A narrativa é sobre esta transição da adolescência e seus ímpetos, sua irracionalidade proposta pelo vulcão que nos arrebata e deixa seu fogo presente. A passagem da adolescência para o dia a dia adulto é um momento difícil de viver e ainda mais difícil de explicar. Trata-se, sim, de uma produção ímpar sobre descoberta da juventude. O amor e o sexo estão ali, é claro, mas como pano de fundo para algo bem mais complexo. Adèle (Adèle Exarchopoulos) é uma garota de 15 anos que divide sua rotina entre completar o ensino médio e dar aulas de francês para crianças. Determinado dia, ela conhece Emma (Léa Seydoux),

Ádele é esta adolescente reativa a qualquer intenção sexual, sem ainda ter feito sua opção sobre o objeto sexual. A princípio não gosta do amor hetero e num relance do olhar mais forte que a razão sente-se totalmente envolvida com Emma, uma moça mais rica, artista plástica e independente. Não se busca soluções para um impulso, e Àdele vai se entregar a Emma de olhos fechados. Essa é a dimensão de sua primeira paixão.


Emma tem o cabelo azul. Azul é a cor quente muito bem escolhida pelo diretor, por ser efêmera e excêntrica. Tanto atrai como desaparece, porque é fugaz, sem chegar à essência. Atrai, porque traz consigo a liberdade de mudar a cor e o gênero. Elas se amam, riem, dentro de uma entrega total, um amor genuíno que não a plenitude por ser efêmero.
A diferença entre as duas moças, é o afeto verdadeiro de Àdele que admira a companheira mais velha, quem sabe, mais experiente, mas que não está inteira na relação. Aos poucos, nota-se um abismo entre as duas, quando na festa para amigos de Emma, Esta, expõe com clareza seus interesses artísticos e seu narcisismo, afastando a namorada, que lava a louça, e pela primeira vez sente que não pertence àquela turma. Àdele é professora de crianças, gosta de ensinar, é do subúrbio, pega ônibus e por isto, tem um olhar diferente sobre o mundo requintado de Emma. Um olhar crítico de quem tem consciência de que não vai se completar até porque ela mesma, questiona sua escolha porque gosta de homens também.


Seu olhar vago e doce procura um amor maior. Assim, elas têm sua primeira crise de ciúme porque Àdele fica com um colega e transa com ele. A avidez e a insegurança se misturam tanto que as duas se separam de forma raivosa e dramática, como se a vida fosse terminar ali, naquele ponto nevrálgico quando não se tem a chave para si mesmo. Ádele sofre o inferno de sua paixão, fica sem chão, se desestabiliza até esquecer da outra e da cor azul restar apenas tardes fogosas, risonhas que irão embaçar-se com o tempo. Percebe-se na desilusão amorosa que um pouco de Àdele ficou com Emma, quando sozinha ela caminha na rua, vestida de azul, com trajes de mulher em busca de si mesma e de sua felicidade.




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