Arte cinematográfica
Publicado por Fernanda
Villas Boas
Nascida em Recife, Pernambuco,
Brasil. Aos cinco anos veio morar no Rio de Janeiro com sua família, partindo
para Washington D.C com a família por quatro anos durante sua adolescência. Lá
terminou o ensino médio e cursou um ano na Georgetown University. Fernanda tem
uma rica vida acadêmica. Professora de Inglês, Português e Literaturas, pela
UFRJ, Mestre em Literatura King´s College, University of London. É Mestre em
Comunicação pela UFRJ e Psicóloga pela Faculdade de Psicologia na Universidade
Santa Úrsula, com especialidade. Em Carl Gustav Jung em 1998. É escritora e
psicóloga junguiana e com esta escolha tornou-se uma amante profunda da arte
literária e da alma, psique humana. Fernanda Villas Bôas tem vários livros
publicados, tais como: No Limiar da Liberdade; Luz Própria; Análise Poética do
Discurso de Orfeu; Agora eu era o Herói – Estudo dos Arquétipos junguianos no
discurso simbólico de Chico Buarque e A Fração Inatingível; é um fantasma de
sua própria pessoa, buscando sempre suprir o desejo de ser presente diante do
sofrimento humano e às almas que a procuram. A literatura e a psicologia
analítica caminham juntas. Preenchendo os espaços abertos da ficção, Fernanda
faz o caminho da mente universal e daí reconstrói o caminho de volta, servindo
e desenvolvendo à sociedade o reflexo de suas próprias projeções.
Adèle (Adèle
Exarchopoulos) é uma garota de 15 anos que descobre, na cor azul dos cabelos de
Emma (Léa Seydoux), sua primeira paixão por outra mulher. Sem poder revelar a
ninguém seus desejos, ela se entrega por completo a este amor secreto, enquanto
trava uma guerra com sua família e com a moral vigente.
O filme de Abdellatif Kechicihe ( 2013) Azul
é a cor mais Quente nos leva ao brotar da sexualidade através do sentimento
puro e inocente de Àdele, na fase da vida onde a inquietação hormonal é maior
que qualquer lógica e a protagonista caminha a favor dos ventos com rajadas
fortes e um céu azul como a cor do cabelo de Emma por quem se apaixona e se
entrega de corpo e alma.
A narrativa é sobre esta transição da
adolescência e seus ímpetos, sua irracionalidade proposta pelo vulcão que nos
arrebata e deixa seu fogo presente. A passagem da adolescência para o dia a dia
adulto é um momento difícil de viver e ainda mais difícil de explicar. Trata-se,
sim, de uma produção ímpar sobre descoberta da juventude. O amor e o sexo estão
ali, é claro, mas como pano de fundo para algo bem mais complexo. Adèle (Adèle
Exarchopoulos) é uma garota de 15 anos que divide sua rotina entre completar o
ensino médio e dar aulas de francês para crianças. Determinado dia, ela conhece
Emma (Léa Seydoux),
Ádele é esta adolescente reativa a qualquer
intenção sexual, sem ainda ter feito sua opção sobre o objeto sexual. A
princípio não gosta do amor hetero e num relance do olhar mais forte que a
razão sente-se totalmente envolvida com Emma, uma moça mais rica, artista
plástica e independente. Não se busca soluções para um impulso, e Àdele vai se
entregar a Emma de olhos fechados. Essa é a dimensão de sua primeira paixão.
Emma tem o cabelo azul. Azul é a cor quente
muito bem escolhida pelo diretor, por ser efêmera e excêntrica. Tanto atrai
como desaparece, porque é fugaz, sem chegar à essência. Atrai, porque traz
consigo a liberdade de mudar a cor e o gênero. Elas se amam, riem, dentro de
uma entrega total, um amor genuíno que não a plenitude por ser efêmero.
A diferença entre as duas moças, é o afeto
verdadeiro de Àdele que admira a companheira mais velha, quem sabe, mais
experiente, mas que não está inteira na relação. Aos poucos, nota-se um abismo
entre as duas, quando na festa para amigos de Emma, Esta, expõe com clareza
seus interesses artísticos e seu narcisismo, afastando a namorada, que lava a
louça, e pela primeira vez sente que não pertence àquela turma. Àdele é
professora de crianças, gosta de ensinar, é do subúrbio, pega ônibus e por
isto, tem um olhar diferente sobre o mundo requintado de Emma. Um olhar crítico
de quem tem consciência de que não vai se completar até porque ela mesma,
questiona sua escolha porque gosta de homens também.
Seu olhar vago e doce procura um amor maior.
Assim, elas têm sua primeira crise de ciúme porque Àdele fica com um colega e
transa com ele. A avidez e a insegurança se misturam tanto que as duas se
separam de forma raivosa e dramática, como se a vida fosse terminar ali,
naquele ponto nevrálgico quando não se tem a chave para si mesmo. Ádele sofre o
inferno de sua paixão, fica sem chão, se desestabiliza até esquecer da outra e
da cor azul restar apenas tardes fogosas, risonhas que irão embaçar-se com o
tempo. Percebe-se na desilusão amorosa que um pouco de Àdele ficou com Emma,
quando sozinha ela caminha na rua, vestida de azul, com trajes de mulher em
busca de si mesma e de sua felicidade.
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