Arte pictórica
Van Gogh
ao retratar o "Quadro em Arles" retratou também sobre a solidão e a
espera. Sobre as cadeiras vazias que aguardam a chegada de alguém que nunca
virá.
Vincent Van Gogh era um homem triste,
solitário, angustiado e essas características transbordavam nos pincéis. Suas
cores que em vida não alcançaram os pedestais, o levou uma vida que não era
condizente com seu talento. Tinha apoio financeiro do seu irmão Théo e vendeu
apenas um quadro. Levava uma vida simples e personalidade forte, seus amores
não duravam muito tempo, e tinha uma relação bastante conturbada com o amigo e
pintor Paul Gauguin.
Acolher suas obras era como acolher um pouco
seus conflitos. Como se as retinas pudessem consolar tanta angustia e fazer
companhia para esse artista solitário. Mas entre tantas obras geniais, o
“Quarto em Arles” é que não me canso de olhar.
Essa obra tem três versões e foram pintadas
nos últimos anos de sua vida. Retrata o quarto que morou na pensão de Arles, na
França.
Podemos observar cores que transmitem uma
tranquilidade que todo quarto necessita, mas simbolismos que causam certo
desconforto. Um quarto vazio, com duas cadeiras e dois jarros de água.
Descansam sobre a cama dois travesseiros e uma colcha vermelha que aquece só de
olhar. No lado da cama, os quadros são inclinados como se zelasse o sono de
quem fosse deitar.
O chão passa uma sensação de instabilidade,
visto que também é inclinado. Passando a ideia que os objetos presentes, assim
como seus amores e amigos, não ficariam por muito tempo. As janelas
entreabertas permitem à entrada da brisa, afinal, a solidão também precisa
respirar. As portas que mal aparecem, impedem uma possível fuga.
Tudo guarda em si uma espera de alguém que
provavelmente nunca virá. Pode ser a espera do amor que não lhe fez companhia,
que não lhe afagou os cabelos, que não acalmou a loucura e não sussurrou
promessas no ouvido invés de lhe arrancar a orelha.
Pode ser a espera do irmão que era sua única
fonte de afeto e ajuda financeira. Quem trocou cartas, confidencias e anseios.
Pode ser a espera do amigo que mais brigava,
mas também amava. Afinal, quem parte deixando um pouco de amor, quem fica
sempre aguarda a sua volta.
Nunca saberemos qual figura que descasaria
naquela cama e ocuparia a segunda cadeira, aquela posicionada mais perto da
cama, para zelar o sono em noites estreladas. Talvez cada uma das versões seja
para representar uma espera diferente. Esse mistério ficará.
O quarto representa o cômodo mais intimo da
casa. No final de um dia cansativo, o destino mais urgente é o quarto, onde
tiramos os sapatos e descansamos da vida. No quadro de Van Gogh é o lugar das
esperas, descanso da solidão e da loucura coberta com o mistério de quem será
que ele aguarda.
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