quinta-feira, 10 de novembro de 2016

CINEMA E PERVERSÃO













Publicado por Sílvia Marques
Paulistana, escritora, idealista em crise, bacharel em Cinema, cinéfila, professora universitária com alma de aluna, doutora em Comunicação e Semiótica, autodidata na vida, filósofa de botequim, com a alma tatuada de experiências trágicas, amante das artes , da boa mesa, dos vinhos, de papos loucos e ideias inusitadas.

 
O cinema deita e rola com os perversos, fazendo filmes altamente provocantes, angustiantes, reveladores e obscuros simultaneamente.

Cena do filme Lua de fel, de Roman Polanski
Para quem conhece um pouco sobre Psicanálise , sabe que Freud e Lacan dividiram as pessoas em três estruturas clínicas: neuróticos, psicóticos e perversos. As opções não são muito atraentes ...mas como disse uma médica...são as opções disponíveis...piadas à parte.
Perversos raramente procuram psicanálise ou qualquer tipo de psicoterapia pois se sentem muito bem com a forma que são e que vivem. Normalmente , as pessoas buscam por análise quando se sentem angustiadas. O perverso , em muitos casos , curte mesmo é angustiar o outro.
Podemos dividir os perversos em basicamente três categorias: sádicos, masoquistas e fetichistas.
O cinema deita e rola com os perversos , fazendo filmes altamente provocantes , angustiantes , reveladores e obscuros simultaneamente.
Em Lua de fel, por exemplo, de Roman Polasnki, podemos encontrar uma assustadora relação de amor e ódio em que num primeiro momento o homem assume o papel do sádico , deixando o masoquista para a mulher. Depois , o jogo se inverte , mas as crueldades permanecem igualmente ferozes. De certa forma , eles reiteram o amor por meio das maldades que praticam. Mais do que isso: envolvem um casal inocente em seus jogos perversos porque se divertem com a angústia alheia.
Em Veludo azul, de David Lynch, podemos presenciar também a uma relação sadomasoquista , em que dor e prazer se misturam e se confundem para a personagem de Isabella Rossellini. O filme tem uma aura sombria e psicodélica que nos remete ao clima de um pesadelo.

Cena do filme Veludo azul, de David Lynch
Em O cheiro do ralo, do cineasta brasileiro Heitor Dhalia, podemos encontrar na figura de Lourenço, o personagem protagonista , traços sádicos e fetichistas também. Lourenço é um déspota que não ama ninguém e que se compraz humilhando as pessoas. Além disso, tem verdadeira obsessão pelas nádegas de uma jovem garçonete a ponto de desejar comprá-las. Lourenço aprecia o sexo pago pois para ele é sempre tudo uma questão de dinheiro. Dinheiro e bunda são seus objetos de fetiche. A bunda apresenta relação com as fezes e por sua vez as fezes se relacionam com a maneira que lidamos com o dinheiro. Possivelmente , Lourenço deve ter sofrido algum problema na sua fase libidinal anal.

Cena do filme O cheiro do ralo, de Heitor Dhalia
Em A bela da tarde , de Luis Buñuel, podemos encontrar outro exemplo de personagem masoquista. Séverine dissocia amor e sexo, se comprazendo na cama com homens desconhecidos , num bordel parisiense. O cinema de Luis Buñuel, como um todo, apresenta um aura muito sadiana, pois os surrealistas apreciavam o senso transgressor do Marquês de Sade.

Cena do filme A bela da tarde, de Luis Buñuel
Talvez, o mais emblemático exemplo de sadismo no cinema , seja o filme Saló ou 120 dias em Sodoma , de Pier Paolo Pasolini, baseado na obra do Marquês de Sade. Embora Pasolini tenha utilizado a obra sadiana para fazer uma alegoria da Itália fascista , ele o fez por meio de quatro homens poderosos da sociedade que se realizam torturando e molestando jovens indefesos.

Cena do filme Saló ou 120 dias em Sodoma, de Pier Paolo Pasolini
Os exemplos de personagens perversos no cinema são muitos , pois apesar de causarem grandes danos na vida real, possuem grande força dramática nas telas do cinema porque são inconsequentes, desprezam as regras , desconsideram o outro, não sentem culpa nem vergonha. Eles são protagonistas de terríveis jogos sexuais, que despertam a curiosidade dos cinéfilos interessados em compreender mais profundamente as obscuridades do inconsciente.

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