Publicado por Sílvia Marques
Paulistana, escritora, idealista em
crise, bacharel em Cinema, cinéfila, professora universitária com alma de
aluna, doutora em Comunicação e Semiótica, autodidata na vida, filósofa de
botequim, com a alma tatuada de experiências trágicas, amante das artes , da
boa mesa, dos vinhos, de papos loucos e ideias inusitadas.
O cinema deita e
rola com os perversos, fazendo filmes altamente provocantes, angustiantes,
reveladores e obscuros simultaneamente.
Cena do filme Lua
de fel, de Roman Polanski
Para quem conhece um pouco sobre
Psicanálise , sabe que Freud e Lacan dividiram as pessoas em três estruturas
clínicas: neuróticos, psicóticos e perversos. As opções não são muito atraentes
...mas como disse uma médica...são as opções disponíveis...piadas à parte.
Perversos raramente procuram
psicanálise ou qualquer tipo de psicoterapia pois se sentem muito bem com a
forma que são e que vivem. Normalmente , as pessoas buscam por análise quando
se sentem angustiadas. O perverso , em muitos casos , curte mesmo é angustiar o
outro.
Podemos dividir os perversos em
basicamente três categorias: sádicos, masoquistas e fetichistas.
O cinema deita e rola com os
perversos , fazendo filmes altamente provocantes , angustiantes , reveladores e
obscuros simultaneamente.
Em Lua de fel, por exemplo, de
Roman Polasnki, podemos encontrar uma assustadora relação de amor e ódio em que
num primeiro momento o homem assume o papel do sádico , deixando o masoquista
para a mulher. Depois , o jogo se inverte , mas as crueldades permanecem
igualmente ferozes. De certa forma , eles reiteram o amor por meio das maldades
que praticam. Mais do que isso: envolvem um casal inocente em seus jogos
perversos porque se divertem com a angústia alheia.
Em Veludo azul, de David Lynch,
podemos presenciar também a uma relação sadomasoquista , em que dor e prazer se
misturam e se confundem para a personagem de Isabella Rossellini. O filme tem
uma aura sombria e psicodélica que nos remete ao clima de um pesadelo.
Cena do filme
Veludo azul, de David Lynch
Em O cheiro do ralo, do cineasta
brasileiro Heitor Dhalia, podemos encontrar na figura de Lourenço, o personagem
protagonista , traços sádicos e fetichistas também. Lourenço é um déspota que
não ama ninguém e que se compraz humilhando as pessoas. Além disso, tem
verdadeira obsessão pelas nádegas de uma jovem garçonete a ponto de desejar
comprá-las. Lourenço aprecia o sexo pago pois para ele é sempre tudo uma
questão de dinheiro. Dinheiro e bunda são seus objetos de fetiche. A bunda
apresenta relação com as fezes e por sua vez as fezes se relacionam com a
maneira que lidamos com o dinheiro. Possivelmente , Lourenço deve ter sofrido
algum problema na sua fase libidinal anal.
Cena do filme O
cheiro do ralo, de Heitor Dhalia
Em A bela da tarde , de Luis
Buñuel, podemos encontrar outro exemplo de personagem masoquista. Séverine
dissocia amor e sexo, se comprazendo na cama com homens desconhecidos , num
bordel parisiense. O cinema de Luis Buñuel, como um todo, apresenta um aura muito
sadiana, pois os surrealistas apreciavam o senso transgressor do Marquês de
Sade.
Cena do filme A
bela da tarde, de Luis Buñuel
Talvez, o mais emblemático
exemplo de sadismo no cinema , seja o filme Saló ou 120 dias em Sodoma , de
Pier Paolo Pasolini, baseado na obra do Marquês de Sade. Embora Pasolini tenha
utilizado a obra sadiana para fazer uma alegoria da Itália fascista , ele o fez
por meio de quatro homens poderosos da sociedade que se realizam torturando e
molestando jovens indefesos.
Cena do filme Saló
ou 120 dias em Sodoma, de Pier Paolo Pasolini
Os exemplos de personagens
perversos no cinema são muitos , pois apesar de causarem grandes danos na vida
real, possuem grande força dramática nas telas do cinema porque são
inconsequentes, desprezam as regras , desconsideram o outro, não sentem culpa
nem vergonha. Eles são protagonistas de terríveis jogos sexuais, que despertam
a curiosidade dos cinéfilos interessados em compreender mais profundamente as
obscuridades do inconsciente.
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