Publicado por Flávia Farhat
Existem mais máscaras do que rótulos,
o mocinho também pode enlouquecer, a mocinha também pode ser perversa e a
paixão pode se transformar em obsessão se seguir vias erradas.
A definição oficial de “diretor de cinema” é
a de profissional responsável por transformar um roteiro literário em imagens
cinematográficas. Na maioria dos sites sobre o assunto, essa frase de efeito
vem seguida de uma lista extensa de sub funções, como escolha da equipe técnica
e a coexistência com o diretor de produção. Embora Hitchcock corresponda a
todas essas definições, existe uma que se aplica melhor, porque sintetiza toda
sua carreira em poucas palavras: (era) contador de histórias. De Os
Pássaros a Festim Diabólico, de Janela Indiscreta a Intriga
Internacional, Hitchcock foi um dos grandes contadores de história atemporais que passaram por Hollywood.
Seus filmes foram feitos em meados da década de 40, alguns um pouco antes,
alguns um pouco depois, e ainda hoje são assistido com cuidado e admiração por
cineastas contemporâneos que os reconhecem como verdadeiras bíblias do gênero
do suspense.
Talvez uma de suas melhores histórias tenha
sido contada em 1958, durante um filme que ficou conhecido no Brasil como Um
Corpo Que Cai. A trama: Scottie Fergurson, um policial aposentado que sofre
de medo de altura, é contratado como detetive particular para seguir a esposa
de um velho amigo, uma mulher belíssima que parece estar possuída por um
espírito feminino. Scottie aceita o trabalho e rapidamente descobre que o medo
de altura não será a única perturbação em sua vida.
Um Corpo Que Cai é um filme que se divide em dois atos
tão surpreendentes que chega a ser difícil incluí-lo em um único gênero. A
primeira parte é uma trama policial forte, que flerta com o sobrenatural e
mantém a atenção do público na resolução de um grande mistério. A segunda parte
– uma das mais inteligentes reviravoltas do cinema – é um suspense psicológico
de tirar o fôlego, e pode ser tida como a verdadeira obra de arte da história.
O inesperado se manifesta de muitas formas
em O Corpo Que Cai, um filme que se apoia em personagens complexos
para nos lembrar de que no mundo real existem mais máscaras do que rótulos, que
o mocinho também pode enlouquecer, que a mocinha também pode ser perversa e que
a paixão pode se transformar em obsessão se seguir vias erradas.
Finalmente, Um Corpo Que Cai é
um filme que inclui todos os temas para os quais Hollywood sempre viveu:
mentira, romance, medo, reviravolta, crime, obsessão, paixão e loucura. Temas
que dois anos mais tarde seriam comprimidos pelo mesmo diretor em um único grande
sinônimo: Psicose.
O resto, como dizem, é história.
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