terça-feira, 1 de novembro de 2016

ERA UMA VEZ HITCHCOCK

 
Arte cinematográfica





Publicado por Flávia Farhat


Existem mais máscaras do que rótulos, o mocinho também pode enlouquecer, a mocinha também pode ser perversa e a paixão pode se transformar em obsessão se seguir vias erradas.






A definição oficial de “diretor de cinema” é a de profissional responsável por transformar um roteiro literário em imagens cinematográficas. Na maioria dos sites sobre o assunto, essa frase de efeito vem seguida de uma lista extensa de sub funções, como escolha da equipe técnica e a coexistência com o diretor de produção. Embora Hitchcock corresponda a todas essas definições, existe uma que se aplica melhor, porque sintetiza toda sua carreira em poucas palavras: (era) contador de histórias. De Os Pássaros a Festim Diabólico, de Janela Indiscreta a Intriga Internacional, Hitchcock foi um dos grandes contadores de história atemporais que passaram por Hollywood. Seus filmes foram feitos em meados da década de 40, alguns um pouco antes, alguns um pouco depois, e ainda hoje são assistido com cuidado e admiração por cineastas contemporâneos que os reconhecem como verdadeiras bíblias do gênero do suspense.
Talvez uma de suas melhores histórias tenha sido contada em 1958, durante um filme que ficou conhecido no Brasil como Um Corpo Que Cai. A trama: Scottie Fergurson, um policial aposentado que sofre de medo de altura, é contratado como detetive particular para seguir a esposa de um velho amigo, uma mulher belíssima que parece estar possuída por um espírito feminino. Scottie aceita o trabalho e rapidamente descobre que o medo de altura não será a única perturbação em sua vida.
Um Corpo Que Cai é um filme que se divide em dois atos tão surpreendentes que chega a ser difícil incluí-lo em um único gênero. A primeira parte é uma trama policial forte, que flerta com o sobrenatural e mantém a atenção do público na resolução de um grande mistério. A segunda parte – uma das mais inteligentes reviravoltas do cinema – é um suspense psicológico de tirar o fôlego, e pode ser tida como a verdadeira obra de arte da história.
O inesperado se manifesta de muitas formas em O Corpo Que Cai, um filme que se apoia em personagens complexos para nos lembrar de que no mundo real existem mais máscaras do que rótulos, que o mocinho também pode enlouquecer, que a mocinha também pode ser perversa e que a paixão pode se transformar em obsessão se seguir vias erradas.
Finalmente, Um Corpo Que Cai é um filme que inclui todos os temas para os quais Hollywood sempre viveu: mentira, romance, medo, reviravolta, crime, obsessão, paixão e loucura. Temas que dois anos mais tarde seriam comprimidos pelo mesmo diretor em um único grande sinônimo: Psicose.
O resto, como dizem, é história.

Nenhum comentário:

Postar um comentário