terça-feira, 1 de novembro de 2016

FORDLÂNDIA, UM SONHO QUE FRACASSOU DADA A INEXPERIÊNCIA DOS SEUS EXECUTORES PARA DESVENDAR OS SEGREDOS DA FLORESTA AMAZÔNICA


Brasil: cidade e fronteira agrícola





Do sonho restaram uma cidade e uma nova fronteira agrícola no norte do Brasil


 
Fordlândia é a denominação dada ao distrito e à área adjacente de 14 568 km², no município de Aveiro, no estado do Pará, às margens do Rio Tapajós. Recebeu este nome porque no passado foi uma company town e projeto agroindustrial. Atualmente pleiteia emancipação política.
O projeto "Fordlândia", que emprestou o nome ao atual distrito de Aveiro, foi vasta área de terras adquiridas pelo empresário norte-americano Henry Ford, através de sua empresa Companhia Ford Industrial do Brasil, por concessão do estado do Pará, por iniciativa do governador Dionísio Bentes e aprovada pela Assembleia Legislativa, em 30 de setembro de 1927. O projeto foi oficialmente encerrado em 24 de dezembro de 1945, em acordo entre a Ford e o governo federal.


Ford tinha a intenção de usar Fordlândia para abastecer sua empresa de látex necessário a confecção de pneus para seus automóveis, então dependentes da borracha produzida na Malásia, na época colônia britânica. Os termos da concessão isentavam a Companhia Ford do pagamento de qualquer taxa de exportação de borracha, látex, pele, couro, petróleo, sementes, madeiras e outros bens produzidos na gleba. As negociações foram conduzidas por Jorge Dumont Villares, representante do governador Dionísio Bentes, em visita Henry Fordnos EUA. No Brasil a Ford foi representada por O. Z. Ide e W. L. Reeves Blakeley.


A terra era infértil e pedregosa e nenhum dos gerentes de Ford tinha experiência em agricultura equatorial, acarretando no plantio incorreto das seringueiras - árvores de onde se extrai o látex - plantadas muito próximas uma das outras, o oposto das naturalmente muito espaçadas na selva, foram presa fácil para pragas agrícolas, principalmente micro-organismos do gênero Microcyclus que dizimaram as plantações.
Os trabalhadores das plantações recebiam uma alimentação típica norte-americana, como hambúrgueres, instalados em habitações também ao estilo norte-americano, obrigados a usar crachás e comandados num estilo a que não estavam habituados, o que causava conflitos e baixa produtividade. Em 1930, os trabalhadores locais se revoltaram contra gerentes truculentos, que tiveram que se esconder na selva até o exército brasileiro intervir e restabelecer a ordem.



O governo brasileiro suspeitava dos investimentos estrangeiros, especialmente na Amazônia, e oferecia pouca ajuda. Ford ainda tentou realocar as plantações em Belterra, mais para o norte, onde as condições para a seringueira eram melhores, mas a partir de 1945, novas tecnologias permitiam fabricar pneus a partir de derivados de petróleo, o que tornou o empreendimento um total desastre, causando prejuízos de mais de vinte milhões de dólares.



Com o falecimento de Henry Ford, seu neto Henry Ford II assumiu o comando da empresa nos Estados Unidos e decidiu encerrar o projeto de plantação de seringueiras no Brasil. Através do Decreto 8.440 de 24 de dezembro de 1945, o Governo Federal brasileiro definiu as condições de compra do acervo da Companhia Ford Industrial do Brasil: a Ford foi indenizada em aproximadamente US$ 250.000, e o governo brasileiro assumiu as obrigações trabalhistas dos trabalhadores remanescentes, além de receber seis escolas (quatro em Belterra e duas em Fordlândia); dois hospitais; estações de captação, tratamento e distribuição de água nas duas cidades; usinas de força; mais de 70 quilômetros de estradas; dois portos fluviais; estação de rádio e telefonia; duas mil casas para trabalhadores; trinta galpões; centros de análise de doenças e autópsias; duas unidades de beneficiamento de látex; vilas de casas para a administração; departamento de pesquisa e análise de solo; plantação de 1 900.000 seringueiras em Fordlândia e 3 200.000 em Belterra.


Após a desativação do projeto, os antigos trabalhadores da Ford preferiram ficar estabelecidos na localidade, visto que era dotada de grande infraestrutura. Este fato atraiu também moradores do entorno, que viram a oportunidade de fixar residência na localidade, após o abandono de muitas edificações em boas condições.


A economia de Fordlândia passou a depender, desde então, da agropecuária, do extrativismo e da pesca. O boom agropecuário ocorreu com maior intensidade com a abertura, na década de 1970, da rodovia Cuiabá-Santarém, que trouxe para a região uma nova fronteira agrícola. A fronteira atraiu para o entorno de Fordlândia, na década de 2000, as grandes áreas cultivadas de soja, transformando profundamente a economia local.


Embora seja caracterizada na imprensa como "cidade fantasma", o distrito possui moradores fixos e permanentes. Em 2010 o IBGE contabilizou cerca de 1200 residentes somente na vila, números que somados ao território total do distrito chega a cerca de 2000 moradores em Fordlândia.


Forlândia não foi completamente esquecida. Músicos e escritores já destacaram a utopia de Ford em suas obras. A cantora e compositora Kate Campbell, por exemplo, imortalizou Fordlândia e sua decadência em seu álbum de 2008 "Save the Day". Ainda nesse ano, o compositor islandês Jóhann Jóhannsson lançou um álbum intitulado Fordlândia.
Na literatura, o historiador da Universidade de Nova Iorque Greg Grandin lançou o livro "Fordlandia – A ascensão e a queda da cidade perdida na selva de Henry Ford", considerado um dos cem melhores livros publicados em 2009 pela Amazon. Além disso, um documentário sobre a cidade também foi desenvolvido pelos brasileiros Marinho Andrade e Daniel Augusto. O escritor argentino Eduardo Sguiglia lançou o livro "Fordlândia" (Editora Iluminuras, 1997), escolhido como um dos quatro melhores trabalhos de ficção pela The Washington Post (2000).





Nenhum comentário:

Postar um comentário