Do sonho
restaram uma cidade e uma nova fronteira agrícola no norte do Brasil
Fordlândia é a denominação dada ao distrito e à
área adjacente de 14 568 km², no município de Aveiro, no estado do Pará, às
margens do Rio Tapajós. Recebeu este nome porque no passado foi uma company town e projeto agroindustrial. Atualmente pleiteia emancipação política.
O projeto "Fordlândia", que emprestou o
nome ao atual distrito de Aveiro, foi vasta área de terras adquiridas pelo
empresário norte-americano Henry Ford, através de sua empresa Companhia Ford Industrial
do Brasil, por concessão do estado do Pará, por
iniciativa do governador Dionísio Bentes e aprovada pela Assembleia Legislativa,
em 30 de setembro de 1927. O
projeto foi oficialmente encerrado em 24 de dezembro de 1945, em acordo entre a
Ford e o governo federal.
Ford tinha a intenção de usar Fordlândia para
abastecer sua empresa de látex necessário
a confecção de pneus para seus automóveis, então dependentes
da borracha produzida na Malásia, na época colônia britânica. Os termos da concessão isentavam a Companhia Ford
do pagamento de qualquer taxa de exportação de borracha, látex, pele, couro,
petróleo, sementes, madeiras e outros bens produzidos na gleba. As negociações
foram conduzidas por Jorge Dumont Villares, representante do governador Dionísio Bentes, em visita Henry Fordnos EUA. No Brasil a Ford foi representada por O.
Z. Ide e W. L. Reeves Blakeley.
A terra era infértil e pedregosa e nenhum dos
gerentes de Ford tinha experiência em agricultura equatorial,
acarretando no plantio incorreto das seringueiras - árvores de onde se extrai o látex - plantadas
muito próximas uma das outras, o oposto das naturalmente muito espaçadas na
selva, foram presa fácil para pragas agrícolas, principalmente micro-organismos
do gênero Microcyclus que dizimaram as plantações.
Os trabalhadores das plantações recebiam uma alimentação típica norte-americana, como hambúrgueres, instalados em habitações também ao estilo
norte-americano, obrigados a usar crachás e comandados num estilo a que não estavam
habituados, o que causava conflitos e baixa produtividade. Em 1930, os
trabalhadores locais se revoltaram contra gerentes truculentos, que tiveram que
se esconder na selva até o exército brasileiro intervir e restabelecer a ordem.
O governo brasileiro suspeitava dos investimentos
estrangeiros, especialmente na Amazônia, e oferecia pouca ajuda. Ford ainda tentou
realocar as plantações em Belterra, mais para o norte, onde as condições para a
seringueira eram melhores, mas a partir de 1945,
novas tecnologias permitiam fabricar pneus a partir de derivados de petróleo, o que tornou o empreendimento um total desastre,
causando prejuízos de mais de vinte milhões de dólares.
Com o falecimento de Henry Ford, seu neto Henry Ford II assumiu o comando da empresa nos Estados
Unidos e decidiu encerrar o projeto de plantação de seringueiras no Brasil.
Através do Decreto 8.440 de 24 de dezembro de 1945, o
Governo Federal brasileiro definiu as condições de compra do acervo da
Companhia Ford Industrial do Brasil: a Ford foi indenizada em aproximadamente
US$ 250.000, e o governo brasileiro assumiu as obrigações trabalhistas dos
trabalhadores remanescentes, além de receber seis escolas (quatro em Belterra e
duas em Fordlândia); dois hospitais; estações de captação, tratamento e
distribuição de água nas duas cidades; usinas de força; mais de 70 quilômetros
de estradas; dois portos fluviais; estação de rádio e telefonia; duas mil casas
para trabalhadores; trinta galpões; centros de análise de doenças e autópsias;
duas unidades de beneficiamento de látex; vilas de casas para a administração;
departamento de pesquisa e análise de solo; plantação de 1 900.000 seringueiras
em Fordlândia e 3 200.000 em Belterra.
Após a desativação do projeto, os antigos
trabalhadores da Ford preferiram ficar estabelecidos na localidade, visto que
era dotada de grande infraestrutura. Este fato atraiu também moradores do
entorno, que viram a oportunidade de fixar residência na localidade, após o
abandono de muitas edificações em boas condições.
A economia de Fordlândia passou a depender, desde
então, da agropecuária, do extrativismo e da pesca. O boom agropecuário
ocorreu com maior intensidade com a abertura, na década de 1970, da rodovia Cuiabá-Santarém, que trouxe para a região uma nova fronteira agrícola. A fronteira atraiu para o entorno de
Fordlândia, na década de 2000, as grandes áreas cultivadas de soja,
transformando profundamente a economia local.
Embora seja caracterizada na imprensa como "cidade fantasma", o distrito possui moradores fixos e
permanentes. Em 2010 o IBGE contabilizou cerca de 1200 residentes somente na
vila, números que somados ao território total do distrito chega a cerca de 2000
moradores em Fordlândia.
Forlândia não foi
completamente esquecida. Músicos e escritores já destacaram a utopia de Ford em
suas obras. A cantora e compositora Kate Campbell, por exemplo,
imortalizou Fordlândia e sua decadência em seu álbum de 2008 "Save the
Day". Ainda nesse ano, o compositor islandês Jóhann Jóhannsson lançou um álbum
intitulado Fordlândia.
Na literatura, o
historiador da Universidade de Nova Iorque Greg Grandin lançou o livro
"Fordlandia – A ascensão e a queda da cidade perdida na selva de Henry
Ford",
considerado um dos cem melhores livros publicados em 2009 pela Amazon. Além
disso, um documentário sobre a cidade também foi desenvolvido pelos brasileiros
Marinho Andrade e Daniel Augusto. O escritor argentino Eduardo Sguiglia
lançou o livro "Fordlândia" (Editora Iluminuras, 1997), escolhido como um dos quatro
melhores trabalhos de ficção pela The Washington Post (2000).
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