Política educacional
(Brasil)
Josias de Souza
É um dos mais experimentados jornalista
político do Brasil
O ministro Mendonça
Filho (Educação) declara-se convencido de que o movimento de ocupação de
escolas por estudantes tem contornos partidários. “É evidente que setores
ligados ao PT, ao PCdoB e ao PSOL estão instrumentalizando essa mobilização
junto com os sindicatos”, disse Mendonça ao blog.
“Imaginaram que colocariam em cheque o Enem, algo que vai muito além de
qualquer governo. Politizar o Enem foi desrespeitoso com milhões de jovens.
Desrespeitaram o sonho da juventude de ter acesso à universidade. Isso é um
absurdo.”
As
provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ocorrerão neste sábado (5) e no
domingo (6). Entretanto, graças à ocupação das escolas, 191 mil dos 8,6 milhões
de alunos inscritos terão de fazer as provas no mês que vem, nos dias 3 e 4 de dezembro.
“Nós fixamos um prazo. Dissemos que esperaríamos pela desocupação até as 23
horas e 59 minutos do dia 31 de outubro. Imaginaram que o governo fosse adiar
esse prazo. Mas estávamos decididos. Ponto final. Acabou o prazo.”
Nesta
quarta-feira, o procurador da República Oscar Costa Filho protocolou na 8ª Vara
Federal do Ceará uma ação em que pede a suspensão das provas marcadas para este
final de semana. Sustenta que a realização do Enem em datas diferentes viola o
princípio da isonomia, já que os alunos terão de fazer redações sobre temas
distintos. O ministro afirma que o argumento do procurador é “improcedente.”
Por quê? “As provas do Enem têm uma equivalência.”
Mendonça
Filho acrescentou: “Ninguém está reinventando a roda. Nós já fazemos duas provas
por ano —uma geral e outra para o sistema carcerário. A diferença é que neste
ano faremos três provas. O que também não é inédito. No ano passado, em função
de enchentes ocorridas em determinadas localidades, foi necessário realizar
três provas.” O ministro afirmou que não vai polemizar com o procurador
cearense: “Quem vai cuidar disso é a AGU (Advocacia-Geral da União). Estamos
confiantes de que não haverá problemas.”
Para o
ministro, a estratégia adotada pelo governo para lidar com a encrenca das
ocupações de escolas revelou-se “correta”. Foi definida há mais de duas
semanas, numa conversa de Mendonça Filho com Michel Temer. “Eu disse ao
presidente que não podíamos adotar nenhuma saída que significasse o uso da
força. Não me oponho a que o Estado utilize a força quando necessário, mas
jamais colocando em risco a integridade física de jovens estudantes.”
“Preferimos
adotamos a estratégia da prova em dias diferentes”, prosseguiu Mendonça Filho.
“Chegamos a ter mais de mil escolas ocupadas. Reduzimos para 300 —sem nenhum
esforço repressivo, só na base do convencimento e na pressão da própria opinião
pública. Imagine o que ocorreria se o Ministério da Educação resolvesse bancar
uma operação repressiva em 20 Estados, nos 300 espaços públicos que ainda estão
ocupados. Seria um desastre, uma grande confusão, com o risco enorme de termos
um banho de sangue.”
O
repórter quis saber a opinião do ministro sobre o modo como as autoridades
estão lidando com a desocupação nos Estados. “Eu não serei um censor crítico de
autoridades judiciais e do Ministério Público. Cada um atua de acordo com a lei
e a Constituição. É o que espero como cidadão.”
Em
proposta intermediada pelo presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ), os
partidos que se opõem à reforma do ensino médio sugeriram a Mendonça Filho que
o governo desistisse da medida provisória que enviou ao Congresso e tratasse da
matéria por meio de projeto de lei. O ministro não topou.
“Estou
certo de que a reforma do ensino médio reúne os pressupostos constitucionais
para figurar numa medida provisória: urgência e relevância. Qualquer matéria
relacionada à área educacional é relevante. E a urgência da reforma está
estampada no desempenho precário dos alunos.''
Mendonça
afirmou que a medida provisória não inibe o debate. A comissão especial que
analisa a reforma, composta de senadores e deputados, marcou audiências
públicas para ouvir 53 pessoas. “São pessoas do mais variado espectro
ideológico —educadores, acadêmicos. Será um debate bem amplo.
O
próprio ministro, que é deputado federal licenciado, eleito pelo DEM de
Pernambuco, se ofereceu ao correligionário Rodrigo Maia para comparecer ao
plenário da Câmara. “Eu me disponho a passar o dia discutindo o assunto com os
deputados numa comissão geral”, disse.
O
titular da pasta da Educação disse respeitar a opinião de todos. “PT, PCdoB e
PSOL têm toda a liberdade para atuar politicamente, desde que elevem o debate.
O que não parece razoável é usar entidades sindicais como escudo para
instrumentalizar estudantes e transformar o debate num ringue de quinta
categoria. A grande maioria anseia pelo respeito à autonomia dos jovens,
currículo menos exaustivo e mais espaço para que o estudante defina sua trilha
de formação a partir da sua vocação e da sua vontade pessoal. Esse é o debate.”
De
resto, o ministro disse respeitar também “o direito democrático dos estudantes
de protestar, desde que o exercício do protesto não fira o direito que a
maioria dos estudantes tem de estudar. Isso sem mencionar o direito
constitucional mais elementar de ir e vir.” Mendonça Filho concluiu: “De minha
parte, continuarei me valendo da arma de que disponho: o convencimento. Vejo
que as críticas à PEC 241 [que institui o teto dos gastos públicos federais] e
à reforma do ensino médio são inconsistentes. Todos estão convidados a
participar do debate.”
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