quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O PÓS-ELEIÇÕES: CÉU ESCURO, NUVENS PESADAS

Brasil: política


  

                        Em 25 de outubro de 2016
                        RONALD SANTOS BARATA

  
As eleições municipais deste ano, embora ainda não concluídas, já mostram o cenário construído: o fim da polarização PSDB x PT, o crescimento do primeiro e a derrota do segundo, com agravantes do impeachment de Dilma e das graves acusações contra seu principal líder.




E nós, das esquerdas que não se renderam nem se prostituíram, é que vamos ter que, mais uma vez, lutar contra esse partido, PSDB, que, certamente, novamente vai procurar vender as riquezas do Brasil e acabar com direitos trabalhistas e previdenciários. Os que se venderam, desmoralizados e ricos, vão, mais uma vez, fingir que combatem e atrapalhar as indispensáveis lutas que serão travadas, como fizeram nas privatizações de FHC, principalmente a da CSN, do Banerj e da Vale.

Há muito que pensar e muito mais para se fazer. As esquerdas foram diminuídas, com a abdicação dessa posição política pelo PT, PCdoB, PDT e PSB. Não mais podem ser considerados de esquerda. E desgastaram enormemente esse setor. Afirmo isso com a convicção de quem não esqueceu que, em novembro de 2002, Lula, já eleito, foi a Washington reunir com o presidente Bush, filho. Saiu da reunião e foi direto para um hotel, na mesma cidade, quando anunciou o nome do futuro presidente do Banco Central, o banqueirão internacional Henrique Meirelles, ex-presidente internacional do BankBoston, então segundo maior credor do Brasil. Indicado, ou imposto, pelo abominável Clube Bilderberg. O banqueiro aposentado pontificou como czar da economia durante oito anos. O subscritor da “Carta aos Brasileiros”, recibo da transação de sua venda, aceitou candidamente e, ao final do governo, propagandeou, como medalha, que “nunca os bancos ganharam tanto”.

Voltando ao Brasil, ainda em novembro/2002, Lula foi direto para a fazenda, em Araxá, da família Moreira Salles, testa-de-ferro da multinacional Molicorp na empresa CBMM-Cia. Brasileira de Metalurgia e Mineração que explora o preciosíssimo metal nióbio naquela cidade. Esse mineral está sendo exportado livremente, a preço de banana, e contrabandeado. 200 gramas desse metal substituem uma tonelada de minério de ferro. As reservas no Pará, Goiás, Minas Gerais e Rondônia valem mais que o pré-sal.

Antônio Palocci, assumindo o Ministério da Fazenda, em vez de imediatamente investigar as negociatas com o PROER e exigir o ressarcimento das “doações”, esqueceu isso e tornou-se um manso vassalo do presidente do Banco Central e executou a política econômica neoliberal. Ficou milionário.

E, em treze anos de governos petistas, nada se fez contra as grandes transações e negociatas dos governos FHC. Não foi auditada a dívida pública que, ao contrário, foi multiplicada. As privatizações também não foram auditadas. Nem, pelo menos, a escandalosa da Vale do Rio Doce. Ao contrário, privatizaram lençóis petrolíferos, estradas, portos, aeroportos etc. Poderiam ter desmascarado e aniquilado o PSDB, mas preferiram adotar a mesma política econômica e os mesmos métodos.

Em 2004, Lula assinou o Acordo Militar Brasil-Estados Unidos, ressuscitando o que Geisel havia denunciado. Em 2009, o Ministro da Defesa, Nelson Jobim, devidamente credenciado, assina outro Acordo Militar com os EUA.   É mole?

A CUT, central sindical do PT, filiou-se à CIOLS-Central Internacional das Organizações Sindicais Livres, braço sindical da CIA e que atuou na derrubada dos governos Jango e Salvador Allende, no Chile. Recentemente, fundiu-se com a Central Sindical Democrata Cristã, surgindo a Central Sindical Internacional – CSI, com sede em Bruxelas e presidida pelo ex-presidente da CUT Antônio Felício.

Encerra-se um ciclo e a Direita cresceu, não apenas no Brasil, e avança, inclusive na América Latina. Os partidos políticos estão desmoralizados. As Centrais Sindicais, acomodadas e seus dirigentes apenas desfrutando das benesses que ganharam no segundo governo Lula: participação de 10% do Imposto Sindical (Contribuição Sindical), prêmio que obtiveram por sua inoperância e conivência. Basta ver a inação no episódio do impeachment da presidente Dilma que, pela gravidade, era caso de greve geral, que os desmoralizados dirigentes sindicais não têm condição de convocar.

Isso é o PT! Como dizia o grande Brizola, é “a esquerda que a direita gosta”.

Seu permanente aliado, o PCdoB, comandando a ANP, realizou vários leilões de lençóis petrolíferos, inclusive do pré-sal, e transformou a ex-combativa UNE-União Nacional dos Estudantes, em balcão de negócios de venda de carteiras de estudantes e captador de polpudas doações que os governos do PT lhe concedia.

O PDT, outrora combativo e glorioso, após a morte de Brizola decompôs-se em uma alma penada biruta e sedenta de cifrões, amealhador de empregos em governos estaduais e municipais de qualquer partido e negocioso de tempo de televisão.

É nesse quadro que o povo brasileiro assiste ao crescimento do PSDB, podendo, mais uma vez, ser governado por esse partido que, certamente, negociará o que restou do patrimônio do Brasil, e esmagará a classe trabalhadora, retirando direitos e mitigando a Previdência Social. Poderá ser antes ou após 2018. Partido que ressuscitou graças aos erros, conivência e covardia dos governos PT-PMDB-PCdoB.

Os “super-lights” certamente recorrerão ao discurso da unidade. Ora, unidade tem que ser entre iguais ou parecidos e com mesmo objetivo. Nunca com traidores, que, durante a caminhada, se bandeiam por vantagens efêmeras.

O que restou das esquerdas situa-se, principalmente, no Rio de Janeiro, independente do resultado da eleição para a prefeitura. À coligação PSOL-PCB incumbe a grande responsabilidade de juntar os ouros grupos de esquerda e os verdadeiramente democratas, elaborar um consensual projeto de nação, lutar para impedir a entrega do petróleo e do nióbio, barrar a reforma da Previdência e a trabalhista. Sair do genérico “Fora Temer” exclusivamente, e agregar essas outras bandeiras de luta. O Movimento de Resistência Leonel Brizola, como sempre, estará nas lutas.

É fundamental, também, barrar a instalação de um estado religioso, cuja cabeça de ponte é o bispo da Universal candidato no Rio de Janeiro.



Amigos,
Valorizando o contraditório, aí vai o que penso do tema abordado pelo Barata, e publicado na Tribuna da Bahia, na última quinta:



O FIM DA ESQUERDA


                              Joaci Góes
É imortal pela Academia de Letras da Bahia e
pela ALAS – Academia de Letras e Arte de Salvador



A esquerda marxista, abalada com a implosão do Império Soviético em 1991, resistiu o quanto pôde à sua proscrição, na esperança vã de sobreviver com a nova roupagem de centro-esquerda, com variações de intensidade nas diferentes partes do mundo. Agora, na lápide que a cobre, lê-se o seguinte epitáfio imaginário: Requiescat in pace.

​Na Europa, de quase metade dos votos na década de 1980, os partidos de centro-esquerda caíram, nas últimas eleições, para cerca de 20%, na média geral, com o registro de magros 4% na Grécia. Os estudiosos concluem que essa queda decorre da incapacidade desses partidos de oferecerem respostas concretas e satisfatórias aos desafios nascidos do irreprimível e inovador processo de globalização. Os discursos de conteúdo populista revelaram-se insuficientes para resolver a crise que tem resultado em recessão e desemprego. O vazio aberto pelo fracasso da esquerda populista e fossilizada vem sendo preenchido pela direita, em crescente processo de radicalização.

​Na América do Sul, não tem sido diferente. A esquerda fracassou em toda parte, sobretudo em Cuba, na Argentina, Brasil, Equador e, de modo desastroso, na Venezuela, transformada em mendigo internacional, não obstante a detenção de uma das maiores reservas de petróleo do mundo. A Venezuela de hoje é o destino para onde o bolivarianismo das velhas esquerdas brasileiras levava o Brasil. Salvou-nos o impeachment de Dilma.

A morte da velha esquerda decorreu de sua incapacidade de lidar com as transformações do mundo, esquecida do caráter mutante, por excelência, das realidades sociais. Uma postura incompatível com a flexibilidade requerida pelo devir inerente à própria vida e presente no marxismo dialético. Em razão dessa rigidez paralisante, a classe trabalhadora, em constante evolução, e os jovens, abertos ao novo, se sentiram cada vez menos representados pelo esquemático, discursivo e estereotipado esquerdismo. E abandonaram o barco. No Brasil, o desastre da velha esquerda foi ainda maior, por se haver mancomunado com o que há de pior na carcomida direita nacional para realizar um assalto aos cofres públicos de dimensões sem precedentes na história do Mundo. O nome de maior expressão do pouco que resta da esquerda intelectual tupiniquim, em tom histérico e vociferante, propôs, sem rebuços, o fuzilamento da classe média nacional! Possuídos pela síndrome de Estocolmo, velhas figuras venerandas da esquerda nacional continuam caladas diante do roubo e do criminoso aparelhamento do estado durante os governos petistas.

A esquerda generosa e transformadora, no entanto, aquela que nada tem a ver com a esquerda caviar ou Romanée Conti que no Brasil abunda, não morreu, nem
morrerá, enquanto houver homens e mulheres dotados de espírito de solidariedade.

Coube ao baiano e santamarense Alberto Guerreiro Ramos, em fins da década de 1950, no clássico A redução sociológica, secundado pelo italiano Norberto Bobbio e o brasileiro Luis Carlos Bresser Pereira, elaborar o novo conceito de esquerda como o movimento político de irresignação diante de um status quo opressor de largos contingentes populacionais. 

Esta esquerda progressista convive com as desigualdades, respeitado um piso mínimo de bem estar compatível com o exercício pleno da cidadania pelas camadas sociais da base da pirâmide social, desde que a elas seja assegurado o acesso a uma educação de excelência, da mesma qualidade ofertada aos endinheirados. Casa e comida decentes, saúde e educação de alta qualidade compõem esse patamar mínimo. 
Na sociedade do conhecimento em que estamos imersos, impõe-se a manutenção da igualdade na largada da corrida existencial, mediante acesso ao saber a todos, sem exceção. Daí em diante, predominam os critérios meritocráticos, legítimos para a prática da igualdade dialética preconizada por Aristóteles e aperfeiçoada por Rui, na Oração aos Moços: “A regra da igualdade não consiste, senão, em aquinhoar, desigualmente, aos desiguais, na medida em que se desigualam; pois que tratar a iguais com desigualdade, ou a desiguais com igualdade seria desigualdade flagrante e não igualdade real”.

O elemento emocional destrutivo da esquerda velha reside na sua dominação pelo sentimento da inveja, decorrente da sensação de que não são capazes de sobreviver em ambiente competitivo, fenômeno tão bem estudado e denunciado por intelectuais de vanguarda do estofo de William Bartley, Ralf Dahrendorf, Miguel de Unamuno, Ludwig Von Mises, Fréderick Hayek, e, mais recentemente, Gonzalo Fernández de La Mora, em seu clássico La envidia igualitária, e Helmut Shoeck, no monumental Envy, a theory of social behavior, como tivemos ocasião de expor em nosso livro de 2001, A inveja nossa de cada dia.

Não tenho dúvida de que a nova esquerda, progressista, arejada e sensível às inovações, avançará para impedir o retrocesso político que impende ameaçador sobre nossas cabeças. A última obra do Senador Cristovam Buarque, Uma nova esquerda e o Brasil que queremos, reúne todos os elementos desse ideário redentor.

Penso que os que desejam o bem do Brasil deveriam ler e refletir sobre as 150 páginas deste grande livro.

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