Brasil: política
Em 25 de outubro de 2016
RONALD SANTOS BARATA
As eleições municipais deste ano, embora ainda não concluídas, já mostram
o cenário construído: o fim da polarização PSDB x PT, o crescimento do primeiro
e a derrota do segundo, com agravantes do impeachment de Dilma e das graves
acusações contra seu principal líder.
E nós, das esquerdas que não se renderam nem se prostituíram, é que vamos
ter que, mais uma vez, lutar contra esse partido, PSDB, que, certamente,
novamente vai procurar vender as riquezas do Brasil e acabar com direitos
trabalhistas e previdenciários. Os que se venderam, desmoralizados e ricos,
vão, mais uma vez, fingir que combatem e atrapalhar as indispensáveis lutas que
serão travadas, como fizeram nas privatizações de FHC, principalmente a da CSN,
do Banerj e da Vale.
Há muito que pensar e muito mais para se fazer. As esquerdas foram
diminuídas, com a abdicação dessa posição política pelo PT, PCdoB, PDT e PSB.
Não mais podem ser considerados de esquerda. E desgastaram enormemente esse
setor. Afirmo isso com a convicção de quem não esqueceu que, em novembro de
2002, Lula, já eleito, foi a Washington reunir com o presidente Bush, filho.
Saiu da reunião e foi direto para um hotel, na mesma cidade, quando anunciou o
nome do futuro presidente do Banco Central, o banqueirão internacional Henrique
Meirelles, ex-presidente internacional do
BankBoston, então segundo maior credor do Brasil. Indicado, ou imposto, pelo
abominável Clube Bilderberg. O banqueiro aposentado pontificou como czar da
economia durante oito anos. O subscritor da “Carta aos Brasileiros”, recibo da
transação de sua venda, aceitou candidamente e, ao final do governo,
propagandeou, como medalha, que “nunca os bancos ganharam tanto”.
Voltando ao Brasil, ainda em novembro/2002, Lula foi direto para a
fazenda, em Araxá, da família Moreira Salles, testa-de-ferro da multinacional
Molicorp na empresa CBMM-Cia. Brasileira de Metalurgia e Mineração que explora
o preciosíssimo metal nióbio naquela cidade. Esse mineral está sendo exportado
livremente, a preço de banana, e contrabandeado. 200 gramas desse metal
substituem uma tonelada de minério de ferro. As reservas no Pará, Goiás, Minas
Gerais e Rondônia valem mais que o pré-sal.
Antônio Palocci, assumindo o Ministério da Fazenda, em vez de
imediatamente investigar as negociatas com o PROER e exigir o ressarcimento das
“doações”, esqueceu isso e tornou-se um manso vassalo do presidente do Banco
Central e executou a política econômica neoliberal. Ficou milionário.
E, em treze anos de governos petistas, nada se fez contra as grandes
transações e negociatas dos governos FHC. Não foi auditada a dívida pública
que, ao contrário, foi multiplicada. As privatizações também não foram
auditadas. Nem, pelo menos, a escandalosa da Vale do Rio Doce. Ao contrário,
privatizaram lençóis petrolíferos, estradas, portos, aeroportos etc. Poderiam
ter desmascarado e aniquilado o PSDB, mas preferiram adotar a mesma política
econômica e os mesmos métodos.
Em 2004, Lula assinou o Acordo Militar Brasil-Estados Unidos,
ressuscitando o que Geisel havia denunciado. Em 2009, o Ministro da Defesa,
Nelson Jobim, devidamente credenciado, assina outro Acordo Militar com os EUA.
É mole?
A CUT, central sindical do PT, filiou-se à CIOLS-Central Internacional
das Organizações Sindicais Livres, braço sindical da CIA e que atuou na derrubada
dos governos Jango e Salvador Allende, no Chile. Recentemente, fundiu-se com a
Central Sindical Democrata Cristã, surgindo a Central Sindical Internacional –
CSI, com sede em Bruxelas e presidida pelo ex-presidente da CUT Antônio
Felício.
Encerra-se um ciclo e a Direita cresceu, não apenas no Brasil, e avança,
inclusive na América Latina. Os partidos políticos estão desmoralizados. As
Centrais Sindicais, acomodadas e seus dirigentes apenas desfrutando das
benesses que ganharam no segundo governo Lula: participação de 10% do Imposto
Sindical (Contribuição Sindical), prêmio que obtiveram por sua inoperância e
conivência. Basta ver a inação no episódio do impeachment da presidente Dilma
que, pela gravidade, era caso de greve geral, que os desmoralizados dirigentes
sindicais não têm condição de convocar.
Isso é o PT! Como dizia o grande Brizola, é “a esquerda que a direita
gosta”.
Seu permanente aliado, o PCdoB, comandando a ANP, realizou vários leilões
de lençóis petrolíferos, inclusive do pré-sal, e transformou a ex-combativa
UNE-União Nacional dos Estudantes, em balcão de negócios de venda de carteiras
de estudantes e captador de polpudas doações que os governos do PT lhe
concedia.
O PDT, outrora combativo e glorioso, após a morte de Brizola decompôs-se
em uma alma penada biruta e sedenta de cifrões, amealhador de empregos em
governos estaduais e municipais de qualquer partido e negocioso de tempo de
televisão.
É nesse quadro que o povo brasileiro assiste ao crescimento do PSDB,
podendo, mais uma vez, ser governado por esse partido que, certamente,
negociará o que restou do patrimônio do Brasil, e esmagará a classe
trabalhadora, retirando direitos e mitigando a Previdência Social. Poderá ser
antes ou após 2018. Partido que ressuscitou graças aos erros, conivência e
covardia dos governos PT-PMDB-PCdoB.
Os “super-lights” certamente recorrerão ao discurso da unidade. Ora,
unidade tem que ser entre iguais ou parecidos e com mesmo objetivo. Nunca com
traidores, que, durante a caminhada, se bandeiam por vantagens efêmeras.
O que restou das esquerdas situa-se, principalmente, no Rio de Janeiro,
independente do resultado da eleição para a prefeitura. À coligação PSOL-PCB
incumbe a grande responsabilidade de juntar os ouros grupos de esquerda e os
verdadeiramente democratas, elaborar um consensual projeto de nação, lutar para
impedir a entrega do petróleo e do nióbio, barrar a reforma da Previdência e a
trabalhista. Sair do genérico “Fora Temer” exclusivamente, e agregar essas
outras bandeiras de luta. O Movimento de Resistência Leonel Brizola, como
sempre, estará nas lutas.
É fundamental, também, barrar a instalação de um estado religioso, cuja
cabeça de ponte é o bispo da Universal candidato no Rio de Janeiro.
Amigos,
Valorizando
o contraditório, aí vai o que penso do tema abordado pelo Barata, e publicado
na Tribuna da Bahia, na última quinta:
O FIM
DA ESQUERDA
Joaci Góes
É imortal pela Academia de
Letras da Bahia e
pela ALAS – Academia de
Letras e Arte de Salvador
A
esquerda marxista, abalada com a implosão do Império
Soviético em 1991, resistiu o quanto pôde à sua proscrição, na esperança
vã de sobreviver com a nova roupagem de centro-esquerda, com
variações de intensidade nas diferentes partes do mundo. Agora, na lápide
que a cobre, lê-se o seguinte epitáfio imaginário: Requiescat in
pace.
Na Europa, de quase metade dos votos na década de 1980, os
partidos de centro-esquerda caíram, nas últimas eleições, para
cerca de 20%, na média geral, com o registro de magros 4% na
Grécia. Os estudiosos concluem que essa queda decorre da incapacidade
desses partidos de oferecerem respostas concretas e satisfatórias aos desafios
nascidos do irreprimível e inovador processo de globalização. Os discursos
de conteúdo populista revelaram-se insuficientes para resolver a crise
que tem resultado em recessão e desemprego. O vazio aberto pelo
fracasso da esquerda populista e fossilizada vem sendo preenchido
pela direita, em crescente processo de radicalização.
Na América do Sul, não tem sido diferente. A esquerda
fracassou em toda parte, sobretudo em Cuba, na Argentina, Brasil,
Equador e, de modo desastroso, na Venezuela, transformada em mendigo
internacional, não obstante a detenção de uma das maiores reservas de petróleo
do mundo. A Venezuela de hoje é o destino para onde o bolivarianismo das velhas
esquerdas brasileiras levava o Brasil. Salvou-nos o impeachment de Dilma.
A morte da velha esquerda decorreu de sua incapacidade de lidar com
as transformações do mundo, esquecida do caráter mutante, por excelência,
das realidades sociais. Uma postura incompatível com a flexibilidade requerida
pelo devir inerente à própria vida e presente no marxismo dialético. Em
razão dessa rigidez paralisante, a classe trabalhadora, em constante
evolução, e os jovens, abertos ao novo, se sentiram cada vez menos
representados pelo esquemático, discursivo e estereotipado esquerdismo. E
abandonaram o barco. No Brasil, o desastre da velha esquerda foi ainda
maior, por se haver mancomunado com o que há de pior na carcomida direita
nacional para realizar um assalto aos cofres públicos de dimensões sem
precedentes na história do Mundo. O nome de maior expressão do pouco
que resta da esquerda intelectual tupiniquim, em tom histérico e vociferante,
propôs, sem rebuços, o fuzilamento da classe média nacional! Possuídos
pela síndrome de Estocolmo, velhas figuras venerandas da esquerda
nacional continuam caladas diante do roubo e do criminoso
aparelhamento do estado durante os governos petistas.
A esquerda generosa e transformadora, no entanto, aquela que nada tem a
ver com a esquerda caviar ou Romanée Conti que no Brasil abunda, não morreu,
nem
morrerá, enquanto houver homens e mulheres dotados de espírito de
solidariedade.
Coube ao baiano e santamarense Alberto Guerreiro Ramos, em fins
da década de 1950, no clássico A redução sociológica, secundado
pelo italiano Norberto Bobbio e o brasileiro Luis Carlos Bresser Pereira,
elaborar o novo conceito de esquerda como o movimento político de irresignação
diante de um status quo opressor de largos contingentes populacionais.
Esta esquerda progressista convive com as desigualdades, respeitado um
piso mínimo de bem estar compatível com o exercício pleno da cidadania pelas
camadas sociais da base da pirâmide social, desde que a elas seja assegurado o
acesso a uma educação de excelência, da mesma qualidade ofertada
aos endinheirados. Casa e comida decentes, saúde e educação de alta
qualidade compõem esse patamar mínimo.
Na sociedade do conhecimento em que estamos imersos, impõe-se a
manutenção da igualdade na largada da corrida existencial, mediante acesso ao
saber a todos, sem exceção. Daí em diante, predominam os
critérios meritocráticos, legítimos para a prática da igualdade dialética
preconizada por Aristóteles e aperfeiçoada por Rui, na Oração aos Moços: “A
regra da igualdade não consiste, senão, em aquinhoar, desigualmente, aos
desiguais, na medida em que se desigualam; pois que tratar a iguais com
desigualdade, ou a desiguais com igualdade seria desigualdade flagrante
e não igualdade real”.
O elemento emocional destrutivo da esquerda velha reside na sua
dominação pelo sentimento da inveja, decorrente da sensação de que não são
capazes de sobreviver em ambiente competitivo, fenômeno tão bem estudado e
denunciado por intelectuais de vanguarda do estofo de William
Bartley, Ralf Dahrendorf, Miguel de Unamuno, Ludwig Von Mises, Fréderick Hayek,
e, mais recentemente, Gonzalo Fernández de La Mora, em seu clássico La
envidia igualitária, e Helmut Shoeck, no monumental Envy, a theory
of social behavior, como tivemos ocasião de expor em nosso livro de
2001, A inveja nossa de cada dia.
Não tenho dúvida de que a nova esquerda, progressista,
arejada e sensível às inovações, avançará para impedir o
retrocesso político que impende ameaçador sobre nossas
cabeças. A última obra do Senador Cristovam Buarque, Uma nova
esquerda e o Brasil que queremos, reúne todos os elementos desse ideário
redentor.
Penso que os que desejam o bem do Brasil deveriam ler e
refletir sobre as 150 páginas deste grande livro.
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