quarta-feira, 2 de novembro de 2016

RAYMOND LOEWY, A GARRAFA DE COCA-COLA E ALGUNS STUDEBAKERS

Design






Publicado por Alexandre Beluco
É engenheiro, pesquisador, professor universitário.
Especialista em energias renováveis.
Apaixonado por motores de dois tempos.


Raymond Loewy foi um designer francês que atuou nos Estados Unidos do pós guerra e que moldou o american life style. A garrafa de Coca-Cola foi uma de suas mais famosas criações, além de vários utensílios domésticos, jukeboxes, automóveis, locomotivas e até uma estação espacial. Entre alguns Studebakers, ele também criou um automóvel, o Stude Starliner de 1953 e 1954, que é considerado um dos mais belos e atraentes já concebidos.




Raymond Loewy foi um designer francês que viveu nos Estados Unidos a maior parte de sua grandiosa carreira. Ele nasceu em Paris ainda no final do século XIX e faleceu em 1986 aos 92 anos. É possível dizer que ele viveu o sonho americano em seu esplendor, principalmente entre o final dos anos 40 e o início dos anos 70. Também é possível dizer que seu trabalho moldou esse modo americano de viver.
Ele estampou a capa da Times em 31 de outubro de 1949 e era tratado como “o homem que moldou a América”, como “o pai dos automóveis aerodinâmicos” e como “o pai do design industrial”. Loewy foi o responsável pela concepção dos mais variados utensílios e produtos, desde geladeiras, utensílios de cozinha e cafeterias até automóveis, locomotivas e marcas de empresas, entre vários outros.
Ele também concebeu um laboratório espacial utilizado pelos Estados Unidos ao longo dos anos 70, conhecido como SkyLab. Ele também concebeu o interior de um Boeing dos anos 30, além de também ter concebido o interior dos Concorde operados pela Air France. E caixas automáticas de música (as jukeboxes), e máquinas impressoras de cartões, e alguns modelos de geladeiras da clássica Frigidaire.
Uma de suas grandes criações foi a garrafa de Coca-Cola. Aquela com contornos sinuosos e elegantemente acinturada. Aquela com uma faixa aproximadamente central, reservada ao logo da fabricante, separando as partes superior e inferior, divididas em gomos levemente salientes. Aliás, o logo que surgiu com essa garrafa sinuosa e acinturada, em vermelho e branco, também foi criação dele.


A bem da verdade, a garrafa já tinha forma acinturada quando ele se debruçou sobre a ideia de melhorar o invólucro da Coca-Cola, mas as suas contribuições foram tão avassaladoras que ninguém se recorda que havia uma garrafa anterior à sua garrafa. A intenção era de fato diferenciar o conteúdo também pelo seu invólucro e esse propósito parece ter sido obtido com larga vantagem.
Essa garrafa se diferenciava das garrafas de cerveja, por exemplo, sempre em sua grande maioria bastante comuns. As garrafas de cerveja não passavam de cilindros circulares com um fechamento inferior e com um bico em sua parte superior. As garrafas de cerveja não precisavam ser diferentes, porque afinal carregavam cerveja. A garrafa de Coca, essa sinuosa e acinturada, de fato individualiza seu conteúdo.
Outras de suas criações foram alguns modelos de Studebaker. Ele desenhou o clássico Starlight, com uma janela traseira circular e que permitia visão completa em 180o, lembrando janelas aeronáuticas. Ele também criou o Avanti, um carro de linhas limpas e aerodinâmicas que transcendeu a própria marca e ainda é reproduzido em fiberglass por entusiastas. Ele também criou a marca com o famoso S.
O design de automóveis é algo que transcende o entendimento simples porque envolve simultaneamente elementos estáticos e dinâmicos. Ao mesmo tempo em que um automóvel pode, mesmo parado, passar uma ilusão de movimento, ele também permite sensações únicas aos seus passageiros quando em movimento, mesmo sem grandes estrepolias ou sem ultrapassar limites de velocidade.
Um desses Studebaker criados por Loewy e seu escritório de projetos, em especial, o Studebaker Starliner de 1953 e 1954, é considerado um dos automóveis mais belos e atraentes de todos os tempos. É um automóvel grande e espaçoso, como a grande maioria dos automóveis americanos dos anos 50, mas mesmo assim transmite uma sensação de leveza e de agilidade.

Um amplo capô do motor e uma ampla tampa do porta-malas transgridem a moda da época e se apresentam lisas, sem dobras e com poucos frisos. A carroceria é baixa e mais próxima do solo (se comparada com seus contemporâneos) e demonstra uma preocupação com a aerodinâmica que sempre esteve presente em projetos de Loewy, tanto de automóveis quanto de outros veículos.


Ainda não era a época dos carros super motorizados e dinamicamente esse e outros modelos da época se apresentavam bastante limitados. Ele era oferecido em carrocerias sedan de duas e quatro portas e em uma versão estate wagon. Havia duas opções de motor, uma com seis cilindros em linha, com 169,9 polegadas cúbicas e rendendo cerca de 85 CV, outra um V8 de 226 polegadas cúbicas rendendo em torno de 100 CV. Os cupês (as verdadeiras masterpieces) recebiam um motor V8 com 232,6 polegadas cúbicas que rendia 120 CV.
A tração era traseira, o que não chega a ser ruim ou incorreto e até contribui para uma melhor distribuição de peso, mas o eixo traseiro era "duro", o que é ultrapassado (principalmente para o nossos parâmetros atuais) e limita bastante o desempenho dinâmico de qualquer automóvel. Mas se mesmo o clássico Mustang era assim, então não se vê tanto problema nessa limitação, não é mesmo?
Havia vincos laterais, que se iniciavam sutilmente nos paralamas dianteiros e se estendiam até as maçanetas e muitas vezes recebiam pintura em tom ou em cor diferente do resto do veículo, antecipando tendências das décadas seguintes. Aliás, quanto às cores, era muito comum que o teto do carro recebesse coloração diferente, normalmente branco em países mais quentes e preto em países mais frios.
Seu design era inovador entre seus contemporâneos, lembrando a concepção de alguns esportivos europeus. A limpeza e a fluidez de seus traços (acompanhando o vento ao invés de determinar-lhe o rumo), as duas portas, a pequena janela atrás da porta e os dois lugares confortáveis (denominado como 2+2 lugares) com o banco de trás servindo apenas para caronas indesejadas.
As estratégias de marketing e as vendas não acompanharam as inovações em sua concepção. Enquanto a fábrica pensava que venderia muito mais sedans de quatro portas e peruas, os clientes pediam os belos cupês de duas portas. Enquanto os quatro portas e peruas se empilhavam nos estoques, os clientes não recebiam seus sonhados cupês. A Studebaker iria a falência na década seguinte.
No Brasil, alguns modelos da Studebaker eram montados sob licença em esquema CKD entre o final dos anos 40 e meados dos anos 50 pela Vemag. Essa empresa encerrou a parceria com a Studebaker e participou da arrancada da indústria automobilística brasileira montando sob licença os automóveis alemães da DKW até o final dos anos 60. A parceria com a Studebaker fora encerrada quando os Starlight eram lançados no mercado norte-americano.

O logo associado ao fabricante e colocado usualmente sobre o capô do motor, nos anos 50, quase sempre lembrava motivos aeronáuticos.
Raymond Loewy publicou um livro em 1951 que traz muitas reflexões sobre seu trabalho e que serve como uma referência sobre a importância do design industrial na vida moderna. Esse livro tem o título bastante sugestivo de “Never Leave Well Enough Alone” e ele traz um ovo em sua capa. Ao longo do livro, ele comenta que considera a forma do ovo como uma forma funcional perfeita.

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