Design
Publicado por Alexandre Beluco
É engenheiro,
pesquisador, professor universitário.
Especialista em energias renováveis.
Apaixonado por motores de dois tempos.
Especialista em energias renováveis.
Apaixonado por motores de dois tempos.
Raymond Loewy foi um
designer francês que atuou nos Estados Unidos do pós guerra e que moldou o american
life style. A garrafa de Coca-Cola foi uma de suas mais famosas criações,
além de vários utensílios domésticos, jukeboxes, automóveis, locomotivas e até
uma estação espacial. Entre alguns Studebakers, ele também criou um automóvel,
o Stude Starliner de 1953 e 1954, que é considerado um dos mais belos e
atraentes já concebidos.
Raymond Loewy foi um
designer francês que viveu nos Estados Unidos a maior parte de sua grandiosa
carreira. Ele nasceu em Paris ainda no final do século XIX e faleceu em 1986
aos 92 anos. É possível dizer que ele viveu o sonho americano em seu esplendor,
principalmente entre o final dos anos 40 e o início dos anos 70. Também é
possível dizer que seu trabalho moldou esse modo americano de viver.
Ele estampou a capa da Times em 31 de outubro de 1949 e era tratado como “o homem que moldou
a América”, como “o pai dos automóveis aerodinâmicos” e como “o pai do design
industrial”. Loewy foi o responsável pela concepção dos mais variados
utensílios e produtos, desde geladeiras, utensílios de cozinha e cafeterias até
automóveis, locomotivas e marcas de empresas, entre vários outros.
Ele também concebeu um laboratório espacial
utilizado pelos Estados Unidos ao longo dos anos 70, conhecido como SkyLab. Ele
também concebeu o interior de um Boeing dos anos 30, além de também ter
concebido o interior dos Concorde operados pela Air France. E caixas
automáticas de música (as jukeboxes), e máquinas impressoras de cartões, e
alguns modelos de geladeiras da clássica Frigidaire.
Uma de suas grandes criações foi a garrafa de
Coca-Cola. Aquela com contornos sinuosos e elegantemente acinturada. Aquela com
uma faixa aproximadamente central, reservada ao logo da fabricante, separando
as partes superior e inferior, divididas em gomos levemente salientes. Aliás, o
logo que surgiu com essa garrafa sinuosa e acinturada, em vermelho e branco,
também foi criação dele.
A bem da verdade, a garrafa já tinha forma
acinturada quando ele se debruçou sobre a ideia de melhorar o invólucro da
Coca-Cola, mas as suas contribuições foram tão avassaladoras que ninguém se
recorda que havia uma garrafa anterior à sua garrafa. A intenção era de fato
diferenciar o conteúdo também pelo seu invólucro e esse propósito parece ter
sido obtido com larga vantagem.
Essa garrafa se diferenciava das garrafas de
cerveja, por exemplo, sempre em sua grande maioria bastante comuns. As garrafas
de cerveja não passavam de cilindros circulares com um fechamento inferior e
com um bico em sua parte superior. As garrafas de cerveja não precisavam ser
diferentes, porque afinal carregavam cerveja. A garrafa de Coca, essa sinuosa e
acinturada, de fato individualiza seu conteúdo.
Outras de suas criações foram alguns modelos
de Studebaker. Ele desenhou o clássico Starlight, com uma janela traseira
circular e que permitia visão completa em 180o, lembrando janelas aeronáuticas.
Ele também criou o Avanti, um carro de linhas limpas e aerodinâmicas que
transcendeu a própria marca e ainda é reproduzido em fiberglass por
entusiastas. Ele também criou a marca com o famoso S.
O design de automóveis é algo que transcende
o entendimento simples porque envolve simultaneamente elementos estáticos e
dinâmicos. Ao mesmo tempo em que um automóvel pode, mesmo parado, passar uma
ilusão de movimento, ele também permite sensações únicas aos seus passageiros
quando em movimento, mesmo sem grandes estrepolias ou sem ultrapassar limites
de velocidade.
Um desses Studebaker criados por Loewy e seu
escritório de projetos, em especial, o Studebaker Starliner de 1953 e 1954, é
considerado um dos automóveis mais belos e atraentes de todos os tempos. É um
automóvel grande e espaçoso, como a grande maioria dos automóveis americanos
dos anos 50, mas mesmo assim transmite uma sensação de leveza e de agilidade.
Um amplo capô do motor e uma ampla tampa do
porta-malas transgridem a moda da época e se apresentam lisas, sem dobras e com
poucos frisos. A carroceria é baixa e mais próxima do solo (se comparada com
seus contemporâneos) e demonstra uma preocupação com a aerodinâmica que sempre
esteve presente em projetos de Loewy, tanto de automóveis quanto de outros
veículos.
Ainda não era a época dos carros super
motorizados e dinamicamente esse e outros modelos da época se apresentavam
bastante limitados. Ele era oferecido em carrocerias sedan de duas e quatro
portas e em uma versão estate wagon. Havia duas opções de motor,
uma com seis cilindros em linha, com 169,9 polegadas cúbicas e rendendo cerca
de 85 CV, outra um V8 de 226 polegadas cúbicas rendendo em torno de 100 CV. Os
cupês (as verdadeiras masterpieces) recebiam um motor V8 com 232,6
polegadas cúbicas que rendia 120 CV.
A tração era traseira, o que não chega a ser
ruim ou incorreto e até contribui para uma melhor distribuição de peso, mas o
eixo traseiro era "duro", o que é ultrapassado (principalmente para o
nossos parâmetros atuais) e limita bastante o desempenho dinâmico de qualquer
automóvel. Mas se mesmo o clássico Mustang era assim, então não se vê tanto
problema nessa limitação, não é mesmo?
Havia vincos laterais, que se iniciavam
sutilmente nos paralamas dianteiros e se estendiam até as maçanetas e muitas
vezes recebiam pintura em tom ou em cor diferente do resto do veículo,
antecipando tendências das décadas seguintes. Aliás, quanto às cores, era muito
comum que o teto do carro recebesse coloração diferente, normalmente branco em
países mais quentes e preto em países mais frios.
Seu design era inovador entre seus
contemporâneos, lembrando a concepção de alguns esportivos europeus. A limpeza
e a fluidez de seus traços (acompanhando o vento ao invés de determinar-lhe o rumo),
as duas portas, a pequena janela atrás da porta e os dois lugares confortáveis
(denominado como 2+2 lugares) com o banco de trás servindo apenas para caronas
indesejadas.
As estratégias de marketing e as vendas não
acompanharam as inovações em sua concepção. Enquanto a fábrica pensava que
venderia muito mais sedans de quatro portas e peruas, os clientes pediam os
belos cupês de duas portas. Enquanto os quatro portas e peruas se empilhavam
nos estoques, os clientes não recebiam seus sonhados cupês. A Studebaker iria a
falência na década seguinte.
No Brasil, alguns modelos da Studebaker eram
montados sob licença em esquema CKD entre o final dos anos 40 e meados dos anos
50 pela Vemag. Essa empresa encerrou a parceria com a Studebaker e participou da
arrancada da indústria automobilística brasileira montando sob licença os
automóveis alemães da DKW até o final dos anos 60. A parceria com a Studebaker
fora encerrada quando os Starlight eram lançados no mercado norte-americano.
O logo associado ao fabricante
e colocado usualmente sobre o capô do motor, nos anos 50, quase sempre lembrava
motivos aeronáuticos.
Raymond Loewy publicou um livro em 1951 que
traz muitas reflexões sobre seu trabalho e que serve como uma referência sobre
a importância do design industrial na vida moderna. Esse livro tem o título
bastante sugestivo de “Never Leave Well Enough Alone” e ele traz um ovo em sua capa. Ao longo do
livro, ele comenta que considera a forma do ovo como uma forma funcional
perfeita.
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