ÍNDIA
Destruidora
de obstáculos, deusa da fortuna
Uma das
deusas mais populares da Índia. Seu culto alcança o Japão e diversos outros
países. Seu adepto mais conhecido no mundo é o jogador de futebol americano TOM
BRADY, marido de GISELE BUNDCHEN.
Ganesha, Ganesha, Ganesa, Ganesh ou Ganapati (em sânscrito: गणेश, ou श्रीगणेश, quando
usado para distinguir status de "senhor") é um dos
mais conhecidos e venerados deuses do hinduísmo. Ele é o
primeiro filho de Shiva e Parvati, e o
esposo de Buddhi, também chamada Riddhi e Siddhi. Ele é
chamado também de Vinayaka em Kannada, Malayalam e Marathi, Vinayagar e Pillayar em tâmil, e Vinayakudu em Telugu. Gasimboliza Buddhi (intelecto)
e Na simboliza Vijnana (sabedoria). Ganesha é
considerado o mestre do intelecto e da sabedoria. Ele é representado como uma
divindade amarela ou vermelha, com uma grande barriga, quatro braços e a cabeça
de elefante com
uma única presa, montado
em um rato. É,
habitualmente, representado sentado, com uma perna levantada e curvada por cima
da outra. Em geral, antepõe-se, ao seu nome, o título Hindu de
respeito Shri ou Sri.
Ganesha é o símbolo das soluções lógicas e deve ser
interpretado como tal. Seu corpo é humano enquanto que a cabeça é de um
elefante; ao mesmo tempo, seu transporte (vahana) é um rato. Desta
forma, Ganesha representa uma solução lógica para os problemas: é o
"Destruidor de Obstáculos". Sua consorte é Buddhi (um sinônimo de
"mente") e ele é adorado junto de Lakshmi (a
deusa da abundância) pelos mercadores e homens de negócio. O culto de Ganesha é
amplamente difundido, mesmo fora da Índia. Seus
devotos são chamados Ganapatyas.
Assim como acontece com todas as outras formas nas
quais o hinduísmo representa os deuses, a figura de Ganesha é, também, um arquétipo cheio
de múltiplos sentidos e simbolismo, que
expressa um estado de perfeição assim como os meios de obtê-la.
Ganesha é o som primordial, om, do qual
todos os hinos teriam nascido. Quando Shakti (Energia) e Shiva (Matéria) se
encontram, ambos, o Som (Ganesha) e a Luz (Skanda), nascem. Ele representa o
perfeito equilíbrio entre força e bondade, poder e beleza. Também simboliza as
capacidades discriminativas que provêm a habilidade de perceber a distinção
entre verdade e ilusão, o real e o irreal.
Uma descrição de todas as características e
atributos de Ganesha podem ser encontradas no Ganapati Upanishad (um Upanishad dedicado
a Ganesha) do rishi Atharva, no qual Ganesha é identificado com Brahman
e Atman. [1] Este Hino Védico também
contém um dos mais famosos mantras associados
com esta divindade: Om Gam Ganapataye Namah (literalmente:
"eu Te saúdo, Senhor das tropas").
Nos Vedas, pode-se
encontrar uma das mais importantes e comuns orações a Ganesha, na parte que
constitui o início do Ganapati Prarthana:
Om ganaman
tva ganapatigm havamahe kavim kavinamupamashravastanam
jyestharajam
brahmanam brahmanaspata a nah shrunvannutibhih sida sadanamjjjjn h
De acordo com as estritas regras da iconografia
Hindu, as figuras de Ganesha com somente duas mãos são tabu. Por isso,
as figuras de Ganesha são vistas habitualmente com quatro mãos, que significam
sua divindade. Algumas figuras podem ter seis, outras oito, algumas dez,
algumas doze e outras catorze mãos, cada uma carregando um símbolo que difere
dos símbolos nas outras mãos, havendo aproximadamente cinquenta e sete símbolos
no total, segundo alguns estudiosos.
A imagem de Ganesha é composta de quatro animais:
homem, elefante, serpente e o rato. Eles contribuem para formar a imagem. Todos
eles, individual e coletivamente, têm profunda significância simbólica.
Em termos gerais, Ganesha é uma divindade muito
amada e frequentemente invocada, já que é o "Deus da Boa Fortuna" que
proporciona prosperidade e fortuna é também o "Destruidor de
Obstáculos" de ordem material ou espiritual. É por este motivo que sua
graça costuma ser invocada pelos seus devotos antes de eles iniciarem qualquer
tarefa (por exemplo: viajar, prestar uma prova, realizar um assunto de
negócios, uma entrevista de trabalho, realizar uma cerimônia etc.) com mantras como: Aum
Shri Ganeshaya Namah ("salve o nome de Ganesha"), ou
similares. É também por esse motivo que, tradicionalmente, todas as sessões
de bhajan (cântico devocional hindu)
iniciam com uma invocação de Ganesha, o Senhor dos "bons inícios".
Por toda a Índia de cultura hindu, o Senhor Ganesha é a primeira deidade
colocada em qualquer nova casa ou templo.
Além disso, Ganesha é associado com o
primeiro chacra, que
representa o instinto de conservação e sobrevivência e o de procriação. O nome
desse chacra é muladhara.
Cada elemento do corpo de Ganesha tem seu próprio
valor e seu próprio significado:
A cabeça de elefante indica fidelidade, inteligência e poder
discriminatório;
O fato de ele ter uma única presa (a outra estando quebrada e sendo
usada como caneta)1 indica
a habilidade de Ganesha de superar todas as formas de dualismo; é
descrito também que ele retirou sua outra presa para escrever os Vedas, quando
estes foram compilados por Vyasadeva, tido como
encarnação literária de Deus, responsável pela escrita da literatura sagrada na
atual era em que vivemos, retirando o conhecimento da oralidade.
As orelhas abertas denotam sabedoria, habilidade de escutar pessoas que
procuram ajuda e para refletir verdades espirituais. Elas simbolizam a importância
de escutar para poder assimilar ideias. Orelhas são usadas para ganhar
conhecimento. As grandes orelhas indicam que quando Deus é conhecido, todo
conhecimento também é;
A tromba curvada indica as potencialidades intelectuais que se
manifestam na faculdade de discriminação entre o real e o irreal;
Na testa, o Trishula (arma
de Shiva, similar a
um tridente) é
desenhado, simbolizando o tempo (passado,
presente e futuro) e a superioridade de Ganesha sobre ele; também representam
os chamados "três modos da natureza material", bondade, paixão e
ignorância, que são superados por Ganesha e seu pai, Shiva.
A barriga de Ganesha contém infinitos universos. Ela simboliza a
benevolência da natureza e equanimidade, a habilidade de Ganesha de sugar os sofrimentos
do Universo e proteger o mundo;
A posição de suas pernas (uma descansando no chão e a outra em pé)
indica a importância da vivência e participação no mundo material assim como no
mundo espiritual, a habilidade de "viver no mundo sem ser do mundo".
Os quatro braços de Ganesha representam os quatro atributos do corpo sutil, que são:
mente (Manas),
intelecto (Buddhi), ego (Ahamkara), e
consciência condicionada (Chitta). O Senhor Ganesha representa a
pura consciência - o Atman - que
permite que estes quatro atributos funcionem em nós;
A mão segurando uma machadinha é um símbolo da restrição de todos os
desejos, que trazem dor e sofrimento. Com esta machadinha Ganesha pode repelir
e destruir os obstáculos. A machadinha é também para levar o homem para o
caminho da verdade e da retidão;
A segunda mão segura um chicote, símbolo da força que leva o devoto para
a eterna beatitude de Deus. O chicote nos fala que os apegos mundanos e desejos
devem ser deixados de lado;
A terceira mão, que está em direção ao devoto, está em uma pose de
bênçãos, refúgio e proteção (abhaya);
A quarta mão segura uma flor de lótus (padma), e ela
simboliza o mais alto objetivo da evolução humana, a realização do seu
verdadeiro eu.
O Senhor cuja forma é Om
Ganesha é também definido como Omkara ou Aumkara,
que significa "tendo a forma de Oum (ou Aum) (veja a
seção Os nomes de Ganesha). De fato,
a forma do seu corpo é uma cópia do traçado da letra Devanagari que
indica este grande Bija Mantra. Por causa
disso, Ganesha é considerado a encarnação corporal do Cosmos inteiro:
ele está na base de todo o mundo fenomenal (Vishvadhara, Jagadoddhara). Além
disso, na língua tâmil, a sílaba
sagrada é indicada precisamente por uma letra que relembra o formato da cabeça
de Ganesha.
A presa quebrada de Ganesha, como descrita acima,
simboliza inicialmente sua habilidade de superar ou "quebrar" as
ilusões da dualidade. Porém, existem muitos outros sentidos que têm sido
associados a este símbolo.
"Um
elefante normalmente tem duas presas. A mente também frequentemente propõe duas
alternativas: o bom e o mau, o excelente e o expediente, fato e fantasia. A
cabeça de elefante do Senhor Ganesha porém tem apenas uma presa por isso ele é
chamado "Ekadantha, " que significa "Ele que tem apenas uma
presa", para lembrar a todos que é necessário possuir determinação
mental".
Existem várias anedotas que explicam as origens
deste atributo particular (veja seção Como Ganesha quebrou uma de
suas presas?)
Ganesha
montado em seu rato. Note as flores oferecidas pelos devotos. Uma escultura
do Templo de
Vaidyeshwaraem Talakkadu, em Karnataka, na Índia
De acordo com uma interpretação, o divino veículo
de Ganesha, o rato ou mushika representa sabedoria, talento e inteligência. Ele simboliza
investigação diminuta de um assunto difícil. Um rato vive uma vida clandestina
nos esgotos. Então ele
é também um símbolo da ignorância que é
dominante nas trevas e que
teme a luz do conhecimento. Como
veículo do Senhor Ganesha, o rato nos ensina a estar sempre alerta e iluminar
nosso eu interior com a luz do conhecimento.
Ambos Ganesha e Mushika amam modaka, um doce que é
tradicionalmente oferecido para os dois durante cerimônias de adoração. O Mushika
é normalmente representado como sendo muito pequeno em relação a Ganesha, em
contraste para as representações dos veículos das outras divindades. Porém, já
foi tradicional na arte Maharashtriana representar
Mushika como um rato muito grande, e Ganesha estando montado nele como se fosse
um cavalo.
Outra interpretação diz que o rato (Mushika ou Akhu) representa o ego, a mente com
todos os seus desejos, e o orgulho da
individualidade. Ganesha, guiando sobre o rato, se torna o mestre (e não o
escravo) dessas tendências, indicando o poder que o intelecto e as faculdades
discriminatórias têm sobre a mente. O rato (extremamente voraz por natureza) é
habitualmente representado próximo a uma bandeja de doces com seus olhos
virados em direção de Ganesha, enquanto ele segura um punhado de comida entre
suas patas, como se esperando uma ordem de Ganesha. Isto representa a mente que
foi completamente subordinada à faculdade superior do intelecto, a mente sob
estrita supervisão, que olha fixamente para Ganesha e não se aproxima da comida
sem sua permissão.
É interessante notar como, de acordo com a
tradição, Ganesha foi gerado por sua mãe Parvati sem a
intervenção de Shiva, seu marido. Shiva, de fato, sendo eterno (Sadashiva),
não sentia nenhuma necessidade de ter filhos. Consequentemente, o
relacionamento entre Ganesha e sua mãe é único e especial.
Essa devoção é o motivo pelo qual as tradições do
sul da Índia o representam como celibatário (veja o conto Devoção por sua mãe). É dito
que Ganesha, acreditando ser sua mãe a mais bela e perfeita mulher no universo,
exclamou: "Traga-me uma mulher tão bonita quanto minha mãe e eu me casarei
com ela".
No Norte da Índia, por outro lado, Ganesha é,
frequentemente, representado como casado com as duas filhas de Brahma: Buddhi (intelecto)
e Siddhi (poder espiritual). Popularmente no norte da Índia
Ganesha é representado acompanhado por Sarasvati (deusa
da cultura e da arte) e Lakshmi (deusa
da sorte e prosperidade), simbolizando que essas características sempre
acompanham aquele que descobre sua própria divindade interior. Simbolicamente
isso representa o fato de que a abundância, prosperidade e sucesso acompanham
aqueles que possuem as qualidades da sabedoria, prudência, paciência, etc. que
Ganesha simboliza.
A mitologia altamente
articulada do hinduísmo apresenta
muitas histórias na qual é explicada a maneira em que Ganesha obteve sua cabeça de elefante;
frequentemente a origem desse atributo particular é encontrado nas mesmas
histórias que narram seu nascimento. E muitas dessas mesmas histórias revelam
as origens da enorme popularidade do culto a Ganesha.
A mais conhecida história é provavelmente aquela
encontrada no Shiva Purana. Uma vez,
quando sua mãe Parvati queria
tomar banho, não havia guardas na área para protegê-la de alguém que poderia
entrar na sala. Então ela criou um ídolo na forma de um garoto, esse ídolo foi
feito da pasta que Parvati havia preparado para lavar seu corpo. A deusa
infundiu vida no boneco, então Ganesha nasceu. Parvati ordenou a Ganesha que
não permitisse que ninguém entrasse na casa e Ganesha obedientemente seguiu as
ordens de sua mãe. Dali a pouco Shiva retornou
da floresta e tentou entrar na casa, Ganesha parou o Deus. Shiva se enfureceu
com esse garotinho estranho que tentava desafiá-lo. Ele disse a Ganesha que ele
era o esposo de Parvati e disse que Ganesha poderia deixá-lo entrar. Mas
Ganesha não obedecia a ninguém que não fosse sua querida mãe. Shiva perdeu a
paciência e teve uma feroz batalha com Ganesha. No fim, ele decepou a cabeça de
Ganesha com seu Trishula (tridente).
Quando Parvati saiu e viu o corpo sem vida de seu
filho, ela ficou triste e com muita raiva. Ela ordenou que Shiva devolvesse a
vida de Ganesha imediatamente. Mas, infortunadamente, o Trishula de Shiva foi
tão poderoso que jogou a cabeça de Ganesha muito longe. Todas as tentativas de
encontrar a cabeça foram em vão. Como último recurso, Shiva foi pedir ajuda
para Brahma que
sugeriu que ele substituísse a cabeça de Ganesha com o primeiro ser vivo que
aparecesse em seu caminho com sua cabeça na direção norte. Shiva, então, mandou
seu exército celestial (Gana) para encontrar e tomar a cabeça de qualquer
criatura que encontrarem dormindo com a cabeça na direção norte. Eles
encontraram um elefante moribundo que dormia desta maneira e após sua morte,
tomaram sua cabeça, e colocaram a cabeça do elefante no corpo de Ganesha
trazendo-o de volta à vida. Dali em diante, ele é chamado de Ganapathi, ou o
chefe do exército celestial, que deve ser adorado antes de iniciar qualquer
atividade.
Outra história a respeito da origem de Ganesha e
sua cabeça de elefante narra que, uma vez, existiu um Asura (demônio) com
todas as características de um elefante, chamado Gajasura, que
estava praticando austeridades (ou tapas). Shiva,
satisfeito por esta austeridade, decidiu dar-lhe, como recompensa, qualquer
coisa que ele pedisse. O demônio desejou emanar fogo continuamente
do seu próprio corpo. Desse modo, ninguém poderia se aproximar dele. Shiva
concedeu o que foi pedido. Gajasura continuou sua penitência e Shiva, que
aparecia a ele de tempos em tempos, perguntou, mais uma vez, o que desejava. O
demônio respondeu: "desejo que você habite meu estômago."
Shiva atendeu até mesmo a este pedido e, então,
passou a residir no estômago do demônio. De fato, Shiva também é conhecido como
Bhola Shankara porque é uma deidade facilmente agradada; quando está satisfeito
com um devoto, concede-lhe o que for pedido e, isso, de tempos em tempos, gera
situações particularmente intrincadas. Por esse motivo Parvati, sua esposa,
procurou por ele em todos os lugares sem obter resultado algum. Como último
recurso, foi a Vishnu pedir
a ele que encontrasse seu marido. Vishnu, que conhece a tudo, respondeu:
"Não se preocupe; seu marido é Bhola Shankara e prontamente garante aos
seus devotos tudo o que eles pedem, sem se preocupar com as consequências; acho
que ele se meteu em algum problema. Vou procurar saber o que aconteceu."
Então Vishnu, o onisciente diretor do jogo cósmico,
elaborou uma pequena encenação: transformou Nandi (o
touro de Shiva) em um touro dançarino e o conduziu à frente de Gajasura,
assumindo, ao mesmo tempo, a aparência de um flautista. A encantadora
performance do touro fez o demônio entrar em êxtase e perguntar ao flautista o
que ele desejava. O músico respondeu: "Você pode mesmo me dar qualquer coisa
que eu pedir?" Gajasura respondeu: "Por quem me tomas? Eu posso lhe
dar qualquer coisa que você pedir imediatamente!" O flautista então
respondeu: "Se é assim, libere Shiva do seu estômago." Gajasura
entendeu, então, que este não poderia ser outro senão o próprio Vishnu, o único
que poderia saber desse segredo. Nesse momento, o demônio se jogou aos pés de
Vishnu e, tendo liberado Shiva, pediu a este um último presente: "Tenho
sido abençoado por você muitas vezes; meu último pedido é que todo mundo se lembre
de mim adorando minha cabeça quando eu estiver morto." Shiva, então,
trouxe seu próprio filho até ali e substituiu sua cabeça pela de Gajasura.
Desde então, na Índia, é tradição que qualquer ação, para poder prosperar, deva
ser iniciada com a adoração de Ganesha. Este é o resultado do presente que
Shiva deu à Gajasura.
Uma história menos conhecida do Brahma Vaivarta Purana narra
uma versão diferente do nascimento de Ganesha. Pela insistência de Shiva, Parvati jejuou
por um ano (punyaka vrata) para propiciar Vishnu para
que lhe desse um filho. O Senhor Krishna, após o
fim do sacrifício, anunciou que ele mesmo encarnaria como seu filho em
cada kalpa (era).
Então, Krishna nasceu para Parvati como uma charmosa criança. Esse evento foi
celebrado com grande entusiasmo e todos os deuses foram convidados para olhar o
bebê. Porém Shani, o filho
de Surya, hesitou
em olhar ao bebê pois é dito que o olhar de Shani é prejudicial. Porém Parvati
insistiu que ele olhasse para o bebê, então Shani o fez, e imediatamente a
cabeça da criança caiu e voou para Goloka. Vendo Shiva e Parvati feridos de aflição, Vishnu
montou em Garuda, sua águia
divina, e apressou-se para a ribeira do rio Pushpa-Bhadra, donde
ele trouxe a cabeça de um jovem elefante. A cabeça do elefante se juntou com o
corpo do filho de Parvati, revivendo-o. A criança foi chamada Ganesha e todos
os Deuses abençoaram Ganesha e desejaram a ele poder e prosperidade.
Outro conto do nascimento de Ganesha relata um
incidente no qual Shiva matou
Aditya, o filho de um sábio. Porém Shiva restaurou a vida ao corpo da criança
morta, mas isso não conseguiu pacificar o sábio enfurecido Kashyapa, que era um dos sete grandes Rishis. Kashyap amaldiçoou Shiva e declarou que o filho
de Shiva perderia sua cabeça. Quando isto aconteceu, a cabeça do elefante
de Indra foi
colocada em seu lugar.
Outra versão diz que em uma ocasião, a água de
banho usada de Parvati foi
jogada no Ganges e esta água foi bebida por Malini, a Deusa com cabeça de elefante, que logo após deu
à luz um bebê de quatro braços e cinco cabeças de elefante. Ganga, a Deusa do
rio o reivindicou como seu filho, mas Shiva declarou que ele era filho de
Parvati, reduziu suas cinco cabeças a uma e o empossou como o Controlador
de obstáculos (Vigneshwara).
Na primeira parte do poema épico Mahabharata, está
escrito que o sábio Vyasa pediu
para Ganesha que transcrevesse o poema enquanto ele ditava. Ganesha concordou,
mas somente na condição de que o sábio Vyasa recitasse o poema sem interrupções
ou pausas. O sábio, por sua vez, colocou a condição que Ganesha não teria
somente que escrever, mas também entender tudo o que ele escutasse antes de
escrever. Dessa forma, Vyasa se recuperaria um pouco de seu falatório cansativo
ao simplesmente recitando um verso bem difícil que Ganesha não conseguisse
entender rapidamente. Começou o ditado, mas no corre-corre de escrever, a
caneta de Ganesha se quebrou. Então ele quebrou uma de suas presas e a usou
como caneta, só assim a transcrição pôde prosseguir sem interrupções,
permitindo a ele manter sua palavra.
Um dia Parashurama, um avatar
de Vishnu, foi fazer uma visita a Shiva, mas no
caminho ele foi bloqueado por Ganesha. Parashurama lançou seu machado em
direção a Ganesha, e Ganesha (sabendo que esse machado foi dado a ele por
Shiva) se deixou golpear e perdeu sua presa como resultado.
Dizem que certa vez, Ganesha após ter recebido de
muitos de seus devotos uma enorme quantidade de doces (Modak), para
poder digerir melhor essa incrível quantidade de comida, decidiu ir passear.
Ele montou em seu rato, que utiliza como veículo, e foi adiante. Foi uma noite
magnífica e a lua estava resplandecente. De repente, uma cobra apareceu do nada
e assustou o rato, que pulou e tirou Ganesha de sua montaria. O grande estômago
de Ganesha foi empurrado contra o chão com tanta força que sua barriga abriu e
todos os doces que ele comeu foram espalhados a seu redor. No entanto, ele era
muito inteligente para se enraivecer por causa deste pequeno acidente e, sem
perder tempo em lamentações inúteis, ele tentou remediar a situação da melhor
maneira possível. Ele pegou a cobra que causou o acidente e a usou como
cinturão para manter seu estômago fechado e reparar o dano. Satisfeito com essa
solução, ele remontou em seu rato e continuou sua excursão. Chandradev (O
Deus da Lua) observou toda aquela cena e caiu na gargalhada.
Ganesha, sendo de temperamento curto, amaldiçoou
Chandradev por sua arrogância e quebrando uma de suas presas, a atirou contra a
lua, partindo em duas sua luminosa face. Então ele a amaldiçoou, decretando que
qualquer um que olhasse para a lua teria má sorte. Escutando isso, Chandradev
percebeu sua loucura e pediu perdão para Ganesha. Ganesha cedeu e como uma
maldição não pode ser revocada, ele apenas a abrandou. A maldição então ficou
sendo de que a lua iria minguar em intensidade a cada quinze dias e qualquer um
que olhar para a lua durante o Ganesh Chaturthi teria
má-sorte. Isto explica porque, em certos momentos, a luz da Lua diminui, e
então começa gradualmente a reaparecer; mas sua face só aparece por completo
somente por um curto período de tempo.
Uma vez ocorreu uma grande competição entre os
Devas para decidir quem entre eles seria o chefe do Gana (tropas de semideuses
à serviço de Shiva). Foi pedido aos competidores que eles dessem a volta ao
mundo o mais rápido possível e retornassem para os pés de Shiva. Os deuses
foram, cada um em seu próprio veículo, e mesmo Ganesha participou com
entusiasmo desta corrida; mas ele era extremamente pesado e seu veículo era um
rato! Consequentemente, seu passo era muito devagar e isso foi uma grande
desvantagem. Dali a pouco apareceu a sua frente o sábio Narada (filho
de Brahma), que perguntou a ele onde estava indo. Ganesha estava muito
aborrecido e entrou em fúria porque é considerado um sinal de má-sorte
encontrar um Brahmin solitário no começo de uma viagem. Mesmo que Narada seja o
maior dos Brahmins, filho do próprio Brahma, isso ainda era um mau presságio.
Além disso, não é considerado um bom sinal ser perguntado onde está indo quando já se está no caminho;
então, Ganesha se sentiu duplamente infeliz. No entanto, o grande Brahmin
conseguiu acalmar sua fúria. O filho de Shiva explicou a ele os motivos de sua
tristeza e seu terrível desejo de vencer. Narada o consolou, o exortando a não
entrar em desespero, e deu a ele um conselho:
"Assim
como uma grande árvore nasce de uma única semente, o nome de Rama é a semente
da qual emergiu aquela grande árvore chamada Universo. Então, escreva no chão o
nome "Rama", ande ao seu redor uma vez, e corra para Shiva para pedir
seu prêmio."
Ganesha retornou a seu pai, que perguntou a ele
como conseguiu terminar a corrida tão rapidamente. Ganesha contou a ele de seu
encontro com Narada e do conselho do Brahmin. Shiva, satisfeito com essa
resposta, declarou seu filho como vencedor e, daquele momento em diante, ele
foi aclamado com o nome de Ganapati (Condutor do exército
celestial) e Vinayaka (Senhor de todos os seres).
Ganesha é conhecido também como o destruidor da
vaidade, egoísmo e orgulho.
Um conto, retirado dos Puranas, narra
que Kubera, o tesoureiro do Svarga (paraíso) e deus da riqueza, foi ao monte
Kailasa para receber o darshan (visão) de Shiva. Como ele era extremamente
vaidoso, ele convidou Shiva para um banquete na sua fabulosa cidade, Alakapuri,
assim ele poderia demonstrar a ele toda sua riqueza. Shiva sorriu e disse para
ele: "eu não poderei ir, mas você pode convidar meu filho Ganesha. Mas eu
o advirto que ele é um comilão voraz." Inalterado, Kubera sentiu-se
confiante que ele poderia satisfazer mesmo tal insaciável apetite de Ganesha,
com suas opulências. Ele levou o pequeno filho de Shiva com ele para sua grande
cidade. Lá, ele lhe ofereceu um banho cerimonial e o vestiu em roupas
suntuosas. Após esses ritos iniciais, o grande banquete começou. Enquanto os
serventes de Kubera estavam trabalhando duramente para trazer as porções de
comida, o pequeno Ganesha apenas continuava a comer e comer... Seu apetite não
diminuiu mesmo quando devorou até a comida destinada aos outros convidados.
Não havia tempo para substituir um prato por outro
porque Ganesha já havia devorado tudo, e com gestos de impaciência, continuava
esperando por mais comida. Tendo devorado tudo o que havia sido preparado,
Ganesha começou a comer as decorações, os talheres, a mobília, o lustre...
Apavorado, Kubera se prostrou diante do pequeno onívoro e suplicou para que
deixasse para ele pelo menos, o resto do palácio. "Eu estou com fome. Se
você não me der mais nada pra comer, eu comerei até você!", ele disse a
Kubera. Desesperado, Kubera correu para o monte Kailasa para pedir a Shiva que
remediasse a situação. O Senhor então deu a ele um punhado de arroz tostado,
dizendo que somente aquilo poderia satisfazer Ganesha. Ganesha já tinha sugado
quase toda a cidade quando Kubera retornou e deu a ele o arroz. Com isto,
finalmente Ganesha se satisfez e se acalmou.
Uma vez ocorreu uma competição entre Ganesha e seu
irmão Kartikeya para
saber quem conseguiria dar a volta aos três mundos mais rápido, e então ganhar
o fruto do conhecimento. Karthikeya foi em uma jornada pelos três mundos,
enquanto que Ganesha apenas andou ao redor de seus pais. Quando perguntado
porque fez isso, ele respondeu que para ele, seus pais representam todos os
três mundos, e então foi dado a ele o fruto do conhecimento.
Uma vez, enquanto brincava, Ganesha machucou uma
gata. Quando ele voltou pra casa ele encontrou uma ferida no corpo de sua mãe.
Ele perguntou como ela se machucou. Parvati, sua mãe,
respondeu que isso foi causado pelo próprio Ganesha! Surpreso Ganesha quis
saber quando ele a machucou. Parvati respondeu que Ela como o divino poder
está imanente em
todos os seres. Quando ele machucou a gata, machucava a sua mãe também. Ganesha
percebeu que todas as mulheres são realmente as manifestações de sua Mãe. Decidiu não casar e permaneceu um brahmachari,
um celibatário, seguindo as regras estritas do Brahmacharya. Porém, em
algumas imagens e escrituras Ganesha é frequentemente relatado como casado com
as duas filhas de Brahma: Buddhi (intelecto) e Siddhi (poder espiritual).
Na Índia, existe um importante festival em honra ao
Senhor Ganesha. Mesmo sendo mais popular no estado de Maharashtra, ele é
festejado por toda a Índia. Ele é celebrado por dez dias começando pelo Ganesh Chaturthi. Isto foi
introduzido por Balgangadhar Tilak como
uma maneira de promover o sentimento nacionalista quando a Índia era governada
pelos Ingleses. Esse festival é celebrado e sua culminação é no dia de Ananta Chaturdashi quando
a murti do
Senhor Ganesha é imergida na água. Em Mumbai (antes
conhecida como Bombaim), a murti é imergida no Mar Arábico e em Pune no
rio Mula-Mutha. Em várias cidades do Norte e Leste da Índia, como Calcutá, eles são
imergidos no sagrado rio Ganges.
Celebrações de Ganexa pela comunidade indiana em Paris em 2004
Celebrações de Ganexa pela comunidade indiana em Paris em 2004
As representações de Shri Ganesh são baseadas em
milhares de anos de simbolismo religioso que resultaram na figura de um deus
com cabeça de elefante. Na Índia, as estátuas são expressões de significado
simbólico e que por isso nunca foram reivindicadas como réplicas exatas da
entidade original. Ganesha não é visto como um entidade física, mas como um
alto ser espiritual, e murtis, ou representações em estátua, atuam como
notificação dele como um ideal. Por isso, referir-se às murtis como ídolos trai
os entendimentos Ocidentais Judaico-Cristãos de veneração insubstancial de um
objeto ao considerar que, na Índia, as deidades Hindus são vistas como
acessíveis através de pontos simbólicos de concentração conhecidos como murtis.
Por esse motivo, a imersão das murtis de Ganesh em rios sagrados próximos é
compreensível, pois as murtis são entendidas como sendo apenas apreensões
temporais de um ser superior ao invés de serem "ídolos", que são,
tradicionalmente, vistos como objetos adorados por causa de sua divindade
própria.
Recentemente, houve um ressurgimento da adoração a
Ganesha e um aumento do interesse no "Mundo Ocidental" devido à
inundação de supostos milagres em Setembro de 1995. No dia de
21 de setembro de 1995, de acordo com a revista Hinduism Today (www.hinduismtoday.com), as estátuas de Ganesha (e de alguns outros
deuses da família de Shiva) na Índia começaram a beber leite espontaneamente
quando uma colher cheia era posta perto da boca das estátuas em honra ao deus
elefante. Os fenômenos propagaram-se de Nova Délhi a Nova York, Canadá, Ilhas
Maurício, Quênia, Austrália, Bangladesh, Malásia, Reino Unido, Dinamarca, Sri
Lanka, Nepal, Hong Kong, Trinidad e Tobago, Grenada e Itália entre outros
lugares. Isso foi visto como um milagre por muitos, mas muitos céticos
afirmaram que isso foi outro exemplo de histeria coletiva. Alguns
experimentos científicos conduzidos naquela época sugeriram a ação capilar como
uma explicação para este fenômeno. Permanecia um mistério o porquê do fenômeno
não haver se repetido até que o mesmo ocorresse novamente em 21 de agosto de
2006. Agora a questão é por que o fenômeno se repetiu.
O livro Ganesha, Remover of Obstacles,
de Manuela Dunn Mascetti, é outra de muitas fontes que testemunham o Milagre hindu do leite.
Ganesha possui duas Siddhis (simbolicamente representadas como esposas ou
consortes): Siddhi (sucesso) e Riddhi (prosperidade). É amplamente acreditado
que "onde quer que esteja Ganesh, lá existe Sucesso e Prosperidade" e
"onde quer que haja Sucesso e Prosperidade, lá está Ganesh". É por
isso que Ganesha é considerado como aquele que traz boa sorte, e a razão pela
qual ele é invocado primeiro antes de qualquer ritual ou cerimônia. Seja ela
o Diwali Puja, ou uma
nova casa, novo transporte, antes de uma prova estudantil, antes de entrevistas
para emprego, é para Ganesha que se ora, porque acredita-se que ele irá vir
para ajudar e garantir sucesso em qualquer empreitada.
Ganesha é venerado como Vinayak (culto) e
Vighneshvar (removedor de obstáculos). Acredita-se que ele abençoa aqueles que
meditam sobre ele. Ganesha, na astrologia, ajuda as pessoas a saber o que pode
ser alcançado e o que não pode.
O Ganesha Purâna, um
importante texto dos Gânapatyas, nos dá uma lista dos doze principais nomes do
deus-elefante. Esses nomes devem ser pronunciados antes de qualquer ritual.
Eles são o seguinte:
1. Sumukha :
"O Senhor cheio de graça"
2. Ekadanta :
"O Senhor que só possui uma presa"
3. Kapila :
"O Senhor de cor fulva"
4. Gajakarna :
"O Senhor com orelhas de elefante"
5. Lambodara :
"O Senhor com uma barriga proeminente"
6. Vikata :
"O Deformado"
7. Vighnanâsaka:
"O Senhor destruidor dos obstáculos"
8. Ganâdhipa :
"O Senhor protetor do Gana"
9. Dhûmraketu :
"O Senhor de cor esfumaçada" com dois braços cavalgando um cavalo
azul, o Governante da Kali Yuga
10.Ganâdhyaksha:
"O Ministro dos Gana"
11.Bhâlachandra:
"O Senhor que usa a lua crescente em sua cabeça"
12.Gajânana :
"O Senhor com uma face de elefante".
Além desses, existem mais nomes que constituem os
21 nomes de Ganesha, utilizados durante o Puja. Oferenda de flores e arroz acompanham os 21 nomes
de Ganesha(eka vishanti nama).
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