História
Instituição de
nobres na época do feudalismo
Cavalaria medieval é a instituição feudal dos cavaleiros nobres e
aos ideais que lhe eram associados ou que lhe foram associados pela literatura,
nomeadamente a coragem, a lealdade e a generosidade, bem como a noção de amor
cortês.
Além dos cavaleiros (miles), homens que
os senhores feudais eram obrigados a apresentar (lanças), a
cavalaria era constituída pelos escudeiros, cavaleiros das ordens
religiosas e dos concelhos (também conhecidos por «cavaleiros-vilãos»)
e "cavaleiros da espora dourada" (estes eram ricos, mas sem nobreza).
Cada lança constituía uma fila formada
pelo seu chefe, designado por homem de armas, pelo seu escudeiro,
pelo pajem, dois arqueiros a cavalo ou besteiros e
por um espadachim. Cinco ou seis filas formavam uma bandeira,
subordinada a um chefe. E um certo número de bandeiras constituía
uma companhia de homens de armas.
Os monges guerreiros
das ordens militares do Templo, dos Hospitalários, de Calatrava (mais
tarde Ordem de Avis) e de Santiago de Espada desempenharam um papel
muito importante nas lutas das Cruzadas.
O grão-mestre de cada ordem exercia o
comando supremo destas milícias permanentes em que serviam de oficiais, os
cavaleiros professos e de soldados, os servos e os lavradores das terras destas
ordens monástico-militares.
Também lhes competia o tratamento de doentes e de
feridos e, mesmo em tempo de paz, praticavam regularmente exercícios
de adestramento militar. Competia-lhes defender as regiões fronteiriças,
onde se instalavam castelos que constituíam a guarda avançada
dos cristãos frente às terras dos muçulmanos.
Diferente
dos outros militares, os monges guerreiros não recebiam remuneração, tendo de
viver dos rendimentos próprios das suas ordens.
Nesta composição da cavalaria das hostes,
ocupavam, no último lugar, os peões, isto é, os que possuíam
propriedades de menor valia. Obrigados ao serviço militar, os
cavaleiros-vilãos não recebiam remuneração por essa atividade, mas as suas
terras ficavam isentas do imposto de jugada. Tais cavaleiros eram
equiparados aos nobres. Também eram dispensados
de executar trabalhos braçais. Dirigiam, sim, o trabalho dos peões.
Cavaleiro
do século XIII
No tempo
de Carlos Magno, guerreiros montados se tornaram a unidade militar de
elite dos francos e essa inovação se espalhou pela Europa. Lutar de
um cavalo era mais glorioso pois o homem montado cavalgava em direção
à batalha, movia-se rapidamente e atropelava os inimigos de classe baixa a
pé.
Quando a cavalaria enfrentava outra
cavalaria, o ataque em velocidade e o contato resultante era violento.
Lutar montado era prestigioso por causa do alto custo dos cavalos, armas e armaduras.
Somente indivíduos abastados, ou os serventes dos ricos, podiam lutar a cavalo.
Reis do fim da Idade Média tinham
pouco dinheiro para pagar por grandes contingentes de cavalaria, a
qual era cara. Guerreiros eram feitos vassalos e recebiam feudos.
Esperava-se que eles utilizassem os lucros com a terra para
comprar cavalos e equipamentos. Em muitos casos, vassalos mantinham grupos
de soldados profissionais.
Num tempo no qual a autoridade central era fraca e
as comunicações pobres, o vassalo, auxiliado por seus serventes, era
responsável pela lei e pela ordem no feudo. Em retorno pelo feudo, o vassalo
concordava em prover serviço militar para seu lorde. Dessa maneira,
grandes lordes e reis eram capazes de levantar exércitos quando
desejassem. A elite desses exércitos eram os vassalos a cavalo.
No decorrer da Idade Média, os membros da
elite dos guerreiros montados de Europa Ocidental tornaram-se
conhecidos como cavaleiros. Desenvolveu-se um código de comportamento, as
regras de cavalaria, o qual detalhava como eles deveriam se conduzir. Eles eram
obcecados pela honra, tanto na paz quanto na guerra, embora
principalmente quando se relacionavam com seus iguais, não com os plebeus e
camponeses, os quais constituíam a maior parte da população.
Os cavaleiros se tornaram a classe dominante,
controlando a terra da qual provinha toda a riqueza. Os aristocratas eram nobres originalmente
por causa de seu status e prestígio como guerreiros supremos num
mundo violento. Posteriormente, seu status e prestígio
passaram a se basear na hereditariedade e a importância em ser um guerreiro
declinava.
Quando
primeiro usado, o termo "cavalheirismo" significava habilidade em
lidar com cavalos. O guerreiro de elite da Idade Média se distinguia dos
camponeses, clérigos e deles mesmos por sua habilidade como cavaleiro
e guerreiro. Cavalos fortes e velozes, armas bonitas e
eficientes, e armaduras bem-feitas eram o símbolo de status.
Por volta do século XII, o cavalheirismo se tornou
um estilo de vida. As principais regras do código de cavalaria eram as
seguintes:
Proteger as mulheres e os fracos;
Defender a justiça contra a injustiça e o mal;
Amar sua terra natal;
Defender a Igreja, mesmo com risco de morte.
Na prática, cavaleiros e aristocratas ignoravam o
código de cavalaria quando lhes fosse apropriado. Hostilidades entre os nobres
e lutas por terras tinham precedência sobre o código. O costume tribal germânico que
determinava que as propriedades do chefe fossem divididas entre os filhos ao
invés de passar para o mais velho, geralmente provocava guerras entre os irmãos
pelos espólios. Um exemplo disso foi o conflito entre os netos de Carlos
Magno. A Idade Média foi também um período de guerras civis, nas
quais os grandes perdedores geralmente eram os camponeses.
No final da Idade Média, reis criaram ordens de
cavalaria, que eram organizações exclusivas de distintos cavaleiros os quais
juravam obediência ao rei e aos outros membros da ordem. Se tornar um membro de
ordem de cavalaria era extremamente prestigioso, tornando um homem um dos mais
importantes do reino.
Em 1347, durante a Guerra dos Cem
Anos, Eduardo III, da Inglaterra, fundou a Ordem da Jarreteira,
ainda existente hoje. Essa ordem consistia nos 25 melhores cavaleiros da
Inglaterra e foi fundada para garantir a sua lealdade ao rei e a
dedicação à vitória na guerra.
A Ordem do Velocino de Ouro foi
estabelecida por Filipe, o bom, da Borgonha em 1430 e
se tornou a mais rica e poderosa ordem na Europa. Luís XI, da França,
estabeleceu a Ordem de São Miguel para controlar seus nobres mais
importantes.
As Ordens de Calatrava, Santiago e Alcantara foram
fundadas para expulsar os mouros da Espanha. Elas foram
unificadas por Fernando de Aragão, cujo casamento com Isabel de Castela
lançou as bases para um único reino espanhol. Ele se tornou mestre das
três ordens, apesar delas se manterem separadas. A cavalaria medieval
desempenhou importante papel nas batalhas da Idade Média.
Ordenação
de um Cavaleiro, por Edmund
Blair Leighton, (1901) - Jovem sendo elevado à dignidade de cavaleiro
Na idade de dois ou três anos [carece de
fontes], garotos da nobreza eram mandados para viverem com
grandes lordes como pajens. Os pajens aprendiam habilidades
sociais básicas das mulheres da casa do lorde e começava o treinamento básico
no uso de armas e a cavalgar. Na idade de sete anos, o jovem se tornava escudeiro,
um cavaleiro em treinamento.
Escudeiros eram delegados a um cavaleiro que
prosseguia com a educação do jovem. O escudeiro era o companheiro e servente do
cavaleiro. Os deveres do escudeiro incluíam o polimento das armaduras e armas
(propensas à ferrugem), ajudar seu cavaleiro a se vestir e despir, tomar
conta de seus pertences e até dormir no vão ocupado pela porta como
um guarda.
Nos torneios e batalhas, o escudeiro ajudava seu
cavaleiro quando preciso. Ele levava armas substitutas e cavalos,
tratava das feridas, afastava os cavaleiros feridos do perigo, ou garantia
um enterro decente, se necessário. Em muitos casos o escudeiro ia à batalha com
seu cavaleiro e lutava ao seu lado.
Um cavaleiro evitava lutar com um escudeiro do
outro lado, se possível, procurando um cavaleiro de posição similar ou mais
alta que a sua. Escudeiros, por sua vez, procuravam atacar cavaleiros inimigos,
a fim de ganhar glória matando ou capturando um cavaleiro inimigo de maior
categoria.
Além do
treinamento marcial, os escudeiros se exercitavam em jogos, aprendiam pelo
menos a ler, se não a escrever, e estudavam música, dança e canto.
Um
cavaleiro sendo designado. Biblioteca Universitária de Heidelberg,
c. 1315.
Com 15
anos, o escudeiro era elegível para se tornar um cavaleiro.
Candidatos adequados eram proclamados cavaleiros por um lorde ou outro
cavaleiro de grande reputação. A cerimônia de se tornar um cavaleiro
inicialmente era simples: geralmente, "recebia-se o título" no ombro com
uma espada e depois afivelava-se um talim.
A cerimônia tornou-se mais elaborada e a Igreja ampliou
o rito. Os candidatos tomavam banho, cortavam o cabelo curto e
ficavam acordados a noite inteira numa vigília de reza. De manhã,
o candidato recebia, de um cavaleiro, a espada e a espora.
A cavalaria habitualmente só era atingível para
aqueles que possuíam terras ou renda suficiente para cobrir as
responsabilidades da classe. Lordes e bispos importantes podiam
manter um considerável contingente de cavaleiros, entretanto, e muitos
conseguiam emprego nessas circunstâncias. Escudeiros que lutassem
particularmente bem poderiam ganhar o reconhecimento de um grande lorde durante
a batalha e ser proclamados cavaleiros no campo de batalha.
Por volta do século XII, a aristocracia tendia
a restringir o acesso de seus filhos à cavalaria. Antes do século XII,
para os cavaleiros ordinários, a celebração se resumia à entrega pública de
seus instrumentos de trabalho. Para os grandes senhores, filhos de reis ou
condes, a sagração marcava, além do início na profissão militar, a entrada como
futuros governantes. Para esses cavaleiros, a cerimônia era mais custosa,
solene e marcada pela liturgia.
Tapeçaria de Avalon
A bênção da
espada era essencial. Colocada sobre um altar, ela era devolvida ao
cavaleiro por um eclesiástico. Uma vigília de armas, preces, e um banho
purificador muitas vezes precediam o ritual. Todavia, as sagrações não tinham
sempre esse caráter litúrgico - o elemento central constante era a passagem
pública da espada ao futuro cavaleiro.
O ato da
entrega da arma era acompanhado de um toque suave sobre a face ou nuca, técnica
que se modificaria ao longo do tempo, para se transformar, no século XIV,
em espaldeirada, golpe dado com o lado chato da lâmina da espada, sobre o ombro
do cavaleiro. A
cerimônia terminava com a entrega das esporas, em geral douradas, ajustadas
aos pés do novo cavaleiro por dois de seus pares. Finalmente, ao cavaleiro era
levado seu cavalo de combate (corcel), sobre o qual ele saltava inteiramente
armado, para fazer a demonstração de seu valor em exercícios guerreiros.
Se na origem a cerimônia assinalava a entrada na
profissão militar, transformou-se em colação de grau, em condecoração obtida ao
longo da carreira, como agradecimento por serviços prestados.
Torneio
entre árabes e cruzados durante a Terceira Cruzada. Gravura
de Gustave Doré(1832-1883).
Simulações de batalhas entre cavaleiros, chamadas
de torneios, começaram no século X e foram imediatamente
condenadas pelo segundo Concílio de Latrão, sob o Papa Inocêncio II,
e pelos reis da Europa, os quais se opunham aos ferimentos e mortes de
cavaleiros no que eles consideravam uma atividade frívola. Os torneios
floresceram, entretanto, e se tornaram parte da vida do cavaleiro.
Os torneios começaram como simples competição entre
cavaleiros mas se tornaram mais elaborados com o passar dos séculos. Eles
se tornaram importantes eventos sociais os quais atraiam patronos e
competidores de grandes distâncias. Arenas especiais foram construídas
com arquibancadas para espectadores e pavilhões para os
combatentes.
Cavaleiros continuavam a competir individualmente e
também em equipas. Eles duelavam entre si usando uma e variedade de
armas e simulavam batalhas corpo-a-corpo com muitos cavaleiros em um lado.
Disputas envolvendo dois cavaleiros lutando com lanças se tornaram o
principal evento. Os cavaleiros competiam, como atletas modernos, por prêmios,
prestígio e olhares das damas que enchiam as arquibancadas.
Cristiano I
da Dinamarca assiste um torneio de cavalaria junto a Bartolomeo
Colleoni, por Girolamo Romani, (1467), afresco no Castelo de Malpaga
No século XIII, tantos homens estavam sendo
mortos em torneios que os líderes, incluindo o papa, ficaram alarmados.
Sessenta cavaleiros morreram em 1240 num torneio em Cologne, por
exemplo. O papa queria todos os cavaleiros possíveis para lutarem nas Cruzadas na Terra
Santa, em vez de serem mortos em torneios. Armas tornaram-se cegas e regras
tentaram reduzir a incidência de ferimentos, mas feridas sérias e fatais
continuaram ocorrendo. Henrique II da França foi
mortalmente ferido numa competição num torneio celebrando o casamento da filha.
Desafios terminavam geralmente em torneios
amistosos, mas ressentimentos entre dois inimigos poderiam ser resolvidos em
uma luta até a morte. Os perdedores dos
torneios eram capturados e pagavam um resgate para
os vitoriosos em cavalos, armamentos e armaduras para
obterem a liberdade.
Arautos mantinham registros dos recordes dos
torneios. Um cavaleiro de baixa classificação poderia acumular riquezas por
meio de prêmios e atrair uma esposa abastada.
Durante as Cruzadas, foram criadas ordens
militares de cavaleiros para auxiliar os objetivos cristãos do movimento.
Eles se tornaram os mais ameaçadores dos cruzados e os inimigos mais odiados
dos árabes. Essas ordens persistiram depois que as cruzadas na Palestina fracassaram.
Selo
dos Templários
A primeira dessas ordens eram os Cavaleiros do
Templo, ou Templários, criados em 1118 para proteger o Santo
Sepulcro, em Jerusalém. Os templários vestiam um sobretudo branco com
uma cruz vermelha e faziam os mesmos votos que os monges
beneditinos - pobreza, castidade e obediência. Os templários
estavam entre os mais bravos defensores da Terra Santa, sendo os últimos
cruzados a abandoná-la. No passar dos anos, eles se tornaram ricos por causa
de doações e empréstimos de dinheiro com interesses,
atraindo a inveja e desconfiança dos reis. Em 1307, o
rei Filipe IV da França acusou-os de muitos crimes,
incluindo heresia, os prendeu e confiscou suas terras.
Outros líderes europeus seguiram seu exemplo e os Templários foram destruídos.
Os Cavaleiros de São João de Jerusalém,
ou Hospitalários, foram criados originalmente para cuidar dos doentes e pobres peregrinos visitando
o Santo Sepulcro. Em pouco tempo, eles foram convertidos numa ordem
militar. Eles trajavam um sobretudo vermelho com uma cruz branca e também
faziam os votos de São Bento. Os hospitalários tinham regras e não
permitiram que sua ordem se tornasse rica ou indolente.
Quando foram expulsos da Terra Santa, seguindo
a rendição de seu grande castelo, o Krak des Chevaliers, eles
retiraram-se para a ilha de Rodes, a qual eles defenderam por
muitos anos. Expulsos de Rodes pelos turcos, eles passaram a residir
em Malta.
A terceira grande ordem militar eram os Cavaleiros
Teutônicos, fundada em 1190 para proteger os peregrinos germânicos que
se dirigiam à Terra Santa. Antes do fim das Cruzadas eles
passaram a converter os pagãos na Prússia e nos
Estados bálticos.
Para distinguir os cavaleiros no campo de batalha,
um sistema de emblemas chamado heráldica foi desenvolvido. Para
cada nobre foi desenvolvido um emblema especial para ser mostrado em
seu escudo, sobretudo e bandeiras. O termo escudo de
armas passou a designar o próprio emblema. Uma organização independente
conhecida como Colégio dos Arautos desenhava brasões individuais e
asseguravam que cada um era único. Os brasões eram registrados pelos arautos em livros especiais
sob sua guarda.
Brasões eram passados de geração para geração e
eram modificados pelo casamento. Certos desenhos eram reservados à realeza de
diferentes países. Pelo fim da Idade Média,cidades, guildas, e
até proeminentes cidadãos não nobres receberam brasões.
No campo de batalha, combatentes usavam os brasões
para distinguir amigos e inimigos e para escolher um adversário digno para uma
luta corpo-a-corpo. Arautos faziam listas de cavaleiros prestes a lutar
baseados em suas insígnias. Os arautos eram considerados neutros e
atuavam como intermediários entre os dois exércitos. Dessa forma, eles podiam
passar mensagens entre os defensores de um castelo ou cidade e seus
sitiadores. Depois de uma batalha, os arautos identificavam os mortos pelos
seus brasões.
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