Colaboração
de Fernando Alcoforado*
Nos
últimos tempos, a Petrobras tem sido objeto de escândalos sucessivos através da imprensa
envolvendo a compra de duas refinarias (Pasadena e Okinawa) e a implantação
da refinaria Abreu e Lima em Pernambuco. Em todos os casos ficou evidenciada
a incompetência do governo federal e dos dirigentes da Petrobras que fizeram
compras lesivas aos interesses da empresa e do próprio País e a existência de corrupção
comprovada pela Operação Lava Jato da Polícia Federal.
A
má gestão da Petrobras pelos atuais detentores do poder é comprovada também ao
se constatar que, apesar dos recordes de produção de petróleo e do crescimento
das vendas de seus derivados de 2003 a 2013, os ganhos ou os lucros da empresa
estancaram neste período. Além de apresentar um desempenho econômico-financeiro
medíocre, a Petrobras foi vítima, entre outras coisas, da ação articulada de
uma quadrilha de empreiteiros, burocratas, lobistas e dezenas de políticos que
assaltaram os cofres da empresa.
Enquanto
o total de investidores na Bolsa de Valores brasileira aumentou 15% de 2008 a
2013, o número de acionistas da Petrobras diminuiu 16% nesse mesmo período. A contenção
dos preços de combustíveis imposta pelo governo federal para combater a escalada
da inflação obrigou a Petrobras a vender óleo diesel e gasolina no mercado interno
por menos do que paga na importação. Implementada com o questionável propósito
de combater a inflação por meio do congelamento artificial de tarifas, a contenção
dos preços de gasolina e diesel resultaram em perdas de R$ 7 bilhões em 2013
para a Petrobras.
Os
resultados alcançados pela Petrobras recentemente decorrem da gestão temerária
da empresa imposta pelo governo Dilma Rousseff. A empresa não conseguiu cumprir
as metas de produção, diversas vezes revisadas para baixo nos últimos anos. A Petrobras hoje vale cerca de 40% do que valia em 2011. A dívida da Petrobras cresceu exponencialmente
atingindo R$ 221,6 bilhões - alta de 50% só em 2013 -, e suas ações sofreram
queda vertiginosa da ordem de 60% de seu valor patrimonial. Tudo isto configura
má gestão, além de ficar também demonstrado o descompromisso do governo federal
e dos responsáveis pela condução da Petrobras com os interesses da empresa e seus
acionistas e, também, com os interesses nacionais.
Os
acontecimentos protagonizados pelo governo Dilma Rousseff comprometeram a saúde
financeira da Petrobrás não apenas por impedir a capitalização da empresa com a
restrição por vários anos do aumento nos preços dos combustíveis, em especial
da gasolina,
para manter a inflação sob seu controle, mas também pela descapitalização da Petrobrás
resultante da malfadada compra da refinaria de Pasadena nos Estados Unidos e
Okinawa no Japão e a construção da refinaria Abreu e Lima em Pernambuco. Tanto
a contenção dos preços dos derivados de petróleo para manter a inflação sob
controle quanto a compra e construção das refinarias contribuíram para a
continuada queda do valor das ações da Petrobrás na Bolsa de Valores.
O
balanço da Petrobras apresentado nos últimos dias mostra que a ruína da empresa resultou
não apenas da roubalheira, mas principalmente da incompetência gerencial da empresa.
Os dados do balanço de 2014 demonstram que a incompetência gerencial abriu
mais rombos nas contas da Petrobras do que a corrupção direta. Este foi o resultado
das políticas irresponsáveis dos governos Lula e Dilma Rousseff adotadas no setor
petrolífero. A incompetência gerencial e a corrupção desenfreada na Petrobras
se traduziram no prejuízo de R$ 31 bilhões em 2014. Corrupção e má gestão levam
a Petrobras
ao prejuízo pela primeira vez desde 1991.
O
rombo na estatal em 2014 foi de R$ 21,6 bilhões, o pagamento de propinas foi estimado
em R$ 6,2 bilhões e decisões erradas de investimento e de gerenciamento desvalorizaram
ativos em R$ 44,6 bilhões segundo dados do balanço da Petrobras referente
a 2014. Em 2013, registrou R$ 23,6 bilhões de lucro. Os resultados de 2014 foram
comprometidos por pagamento de propinas, desvalorização de ativos e grandes projetos
que não saíram do papel. Os dois principais focos de corrupção também foram os
responsáveis pelas maiores baixas: o Comperj (R$ 21,8 bilhões) e a refinaria de
Abreu e Lima (R$ 9,1 bilhões). Outros R$ 2,8 bilhões foram perdidos em projetos
de refinarias
no Maranhão e no Ceará.
Segundo
Vinicius Torres Freire, articulista da Folha de S. Paulo, “o investimento da Petrobras
caiu 17% de 2013 para 2014. O ritmo vertiginoso de expansão da empresa durante
os governos Lula e Dilma Rousseff era mesmo insustentável, tocado à base de endividamento
irresponsável, em marcha forçada, à moda dos anos 1970. O endividamento
relativo da empresa subiu quase cinco vezes de 2010 para 2014, de 1 para
4,77” (Ver o artigo sob o título Mais incompetência que corrupção publicado
no website
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/216946-mais-incompetencia-quecorrupcaoshtml>).
O
balanço informa que o investimento da Petrobras vai ficar em 2015 30% abaixo do planejado.
Em 2016, cai outra vez, para 14%. Esta situação se deve ao excesso de dívida,
falta de crédito da empresa no mercado e, como se diz explicitamente no relatório
do balanço, a queda do preço do petróleo, a alta do dólar e o nível de endividamento
da empresa. A Petrobras vai ficar menor por obra e graça dos governos irresponsáveis
de Lula e Dilma Rousseff. A direção da Petrobras admitiu a necessidade
de
preservar o caixa e reduzir o investimento, fato este que poderá levá-la a
buscar sócios
para áreas do pré-sal vendendo-lhes parte dos blocos de exploração.
O
enfraquecimento da Petrobras provocado por governos irresponsáveis já está resultando
na venda de ativos da empresa, entre eles o pré-sal, além de comprometer o desenvolvimento
do Brasil haja vista ela ter uma participação de 13% na formação do PIB do
País. Devido ao peso da Petrobras e das empreiteiras na formação de capital
fixo no Brasil, esta situação pode levar a uma paralisia maior na economia
brasileira. A crise da Petrobras já esta gerando um problema sistêmico que vai
prejudicar as empresas supridoras da Petrobras (indústrias, engenharia
consultiva e empreiteiras) que já estão estranguladas.
Como
consequência do enfraquecimento da Petrobras, empresa fundamental para o fortalecimento
científico, tecnológico e industrial do Brasil, muitas empresas instaladas no
País responsáveis por mais de 500 mil empregos qualificados já estão sendo dizimadas.
Este é o resultado do povo brasileiro colocar no comando da nação governantes
incompetentes que nomeiam dirigentes de empresas corruptos.
* Fernando
Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona,
professor universitário
e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial,
planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil
e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o
Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento
do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944,
2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea
(EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development-
The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft &
Co. KG, Saarbrücken,
Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e
Editora, Salvador,
2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena-
Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores
Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba,
2012), entre outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário