Cultura
Filho do mais famoso traficante de drogas revela “a verdadeira história”
do poderoso pai
VÍCTOR NÚÑEZ JAIME Madri 16 ABR 2015
El País O JORNAL GLOBAL
Juan Pablo Escobar, filho do traficante de drogas
mais famoso do mundo. / LUIS
SEVILLANO
Juan Pablo Escobar (Medellín, 1977) suspira, abre bem os olhos e afirma:
“A única coisa que guardo do meu pai é um relógio e a roupa com que morreu. Só
me restou isso dele.” Então faz uma pausa, e acrescenta com um leve sorriso:
“Bom, e também a papada e o DNA.” O filho de Pablo Escobar, o “traficante
de drogas mais famoso de todos os tempos” está sentado em uma das mesas do
restaurante do Hotel Palace, em Madri, e tem sob o braço, segundo ele, “a
verdadeira história” de quem foi o poderoso chefe do cartel de Medellín. Tem o
nome de Pablo Escobar, Meu Pai e
é um livro de quase 500 páginas em que, afirma, “ao contrário de outros que
escreveram sobre ele, em suas páginas não se deturpam as coisas com o objetivo
de manter e proteger a impunidade e a corrupção que permitiram a meu pai fazer
tudo o que fez.”
Esse arquiteto e desenhista industrial era um menino de 7 anos quando
começou a ter consciência do que seu pai fazia para que sua família tivesse de
tudo (e em excesso). “Em agosto de 1984, com a morte do ministro da Justiça
Rodrigo Lara Bonilla, foi fácil começar a notar que havia algo por trás do pai
que eu conhecia. Pelas acusações de que ele começou a ser alvo”, lembra. Em
suas festas de aniversário, havia potes cheios de doces e muitos maços de dinheiro.
Dentro do sítio onde morava (a célebre Fazenda Nápoles) tinha um zoológico
particular com vários dos animais mais exóticos do planeta, carros e motos de
último modelo e nunca faltavam seguranças a seu redor. “Tudo isso era para mim
tão normal como a água para os peixes. Meu pai enfatizava isso e, assim como me
dizia para não experimentar drogas, também me levava a bairros da periferia
para que eu visse a pobreza extrema da Colômbia. Na verdade, ele ocupou o lugar
que o Estado deveria ocupar para ajudar essas pessoas. Isso não é desculpa.
Apenas mostra seu lado bondoso frente ao maldoso.”
Pablo Emilio Escobar Gaviria (1949-1993), chamado de “O Patrão”, morreu
em 2 de dezembro de 1993 em meio a uma emboscada na qual pretendiam prendê-lo.
“Não o mataram, ele se suicidou antes de ser pego”, afirma seu filho no livro.
“Além disso, meu tio Roberto foi quem o entregou.” Essas não são as únicas
afirmações polêmicas de Juan Pablo Escobar. Diz também, entre outras coisas,
que o cantor Frank Sinatra era um dos contatos de seu pai para a
distribuição de cocaína nos Estados Unidos e, ao contrário dos rumores
repetidos durante anos, afirma que o agora ex-presidente Álvaro
Uribe jamais facilitou a circulação de aviões para o transporte de drogas
quando era diretor da Aviação Civil.
"Não são teorias. São certezas absolutas. Nem a editora nem eu
iríamos nos permitir falar leviandades sobre isso. No meu livro está o que eu
vivi e o que investiguei e comparei”, afirma, enquanto se acomoda na cadeira
para apresentar uma explicação abundante. “Meu pai me disse muitas vezes:
prefiro me matar a ser pego. E seu corpo terminou com sangue escorrendo pela têmpora.
Ou seja: se suicidou. Não tenho nenhuma relação com minha família paterna há 20
anos, nem me interessa. Meu pai sabia em vida que eles eram uns traidores. Além
disso, meu tio Roberto era informante da DEA. E sobre Uribe... Olha: eu não sou
defensor dele, que fique claro. Investiguei a fundo e localizei pessoas que
traficaram com meu pai do aeroporto de Medellín. Quando Uribe chegou começaram
os controles, e isso complicou o negócio todo. Mas, no fim, para o meu pai foi
mais fácil corromper os policiais que fiscalizavam e... adeus problema!”.
Com a morte
do pai, sua renúncia a ser o sucessor e o pagamento de dívidas aos grupos
criminosos inimigos, Juan Pablo Escobar saiu da Colômbia acompanhado da mãe e
da irmã. Adotou outra identidade (que ainda mantém), Juan Sebastián Marroquín
Santos, pediu perdão publicamente às vítimas de seu pai e fundou uma marca de
roupas, Escobar Henao, que vende pela Internet. Trata-se, principalmente,
de camisetas com a imagem do chefe do tráfico de drogas e mensagens de
paz. “Para que os jovens não repitam sua história. Não fazemos apologia. Temos
vendas proibidas na Colômbia e tudo bem. Porque não quero que me acusem de
lucrar com a dor das pessoas”, diz o homem que, quando era adolescente, tirou
uma foto com a espada do libertador Simón Bolívar, que esteve nas mãos de seu
pai durante cinco anos.
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