Bundestag enfatiza o dever moral de recordar o ocorrido na Segunda
Guerra Mundial
LUIS DONCEL Berlim 8 MAY 2015
EL PAÍS – O JORNAL GLOBAL
A chanceler Angela Merkel com outros participantes na comemoração dos 70
anos do fim da Segunda Guerra Mundial, no Bundestag. / ODD ANDERSEN (AFP)
A Alemanha comemora
na sexta-feira o 70° aniversário de sua libertação da tirania nazista.
Setenta anos depois da Wehrmacht assinar a capitulação incondicional diante do
Exército Vermelho —um dia antes já havia feito o mesmo na cidade francesa de
Reims diante dos britânicos e norte-americanos—, o Parlamento alemão relembrou
o dia no qual veio abaixo o regime criado por Adolf Hitler. “Não há na história
da Alemanha uma data tão censurada como o dia que hoje recordamos, o 8 de maio
de 1945”, disse o historiador Heinrich August Winkler, o encarregado do
discurso principal do dia no Bundestag, a Câmara Baixa do Parlamento.
A Alemanha
percorreu um longo caminho até aceitar que o que aconteceu há 70 anos foi uma
“libertação”, mais do que uma derrota. Um passo importante foi dado no 40°
aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial pelo presidente da então Alemanha
Ocidental, Richard von Weizsäcker. Em um famoso discurso, o ex-presidente,
falecido em fevereiro, disse que o 8 de maio foi “o dia em que todos nós fomos
libertados da tirania nazista”
No Bundestag
as palavras de von Weizsäcker foram relembradas na sexta-feira, que no mesmo
discurso também disse: “O 8 de maio não é para nós alemães um dia para
comemorar”. O presidente do Bundestag, Norbert Lambert, referiu-se também à
frase do ex-presidente, mas a reformulou para argumentar que os 70 anos da
libertação comemorados na sexta “são para todo o continente, mas não foi o dia
da autolibertação alemã”.
Diante de
toda a elite política do país —incluindo o presidente Joachim Gauck e a
chanceler Angela Merkel—, Winkler falou sobre as atrocidades cometidas pelo
regime nazista. “Não podemos colocar um ponto final diante desses
acontecimentos”, disse entre os aplausos dos deputados e dos sobreviventes
convidados à cerimônia.
O
historiador estabeleceu qual deve ser a responsabilidade das novas gerações de
alemães diante de sua história. “Ninguém espera que os nascidos depois da
guerra se sintam culpados pelas ações cometidas pelos alemães em nome da Alemanha
muito antes de seu nascimento”, afirmou. Mas o autor de O Longo Caminho
Para o Oeste considera que as novas gerações devem manter o desejo de
conhecer o que aconteceu como ato de responsabilidade frente ao seu país. E
essa regra vale tanto para aqueles com pais e avós alemães como para os
recém-chegados ao país.
A
comemoração dos 70 anos do fim da guerra serviu não só para que os alemães
relembrem o capítulo mais triste de sua história. Também colocou em
evidência as diferenças entre o Ocidente e o Kremlin. A comemoração militar
realizada no sábado na Praça Vermelha de Moscou —A Rússia comemora o fim da
guerra em 9 de maio, porque a capitulação foi assinada de madrugada e já era um
novo dia em Moscou— não será presenciada pela chanceler alemã e pelos líderes
das potências aliadas que venceram a guerra junto com a União Soviética.
Merkel não quis
comparecer à marcha militar em Moscou para que não fosse interpretado como um
gesto de apoio ao presidente Vladimir Putin e uma falta de tato frente ao
Governo da Ucrânia. Mas, em um fino gesto diplomático, a líder alemã estará em
Moscou dia 9 de maio para junto com Putin colocar flores no túmulo do soldado
soviético desconhecido. Quer dessa forma demonstrar seu respeito diante do
sofrimento dos soviéticos durante a guerra e a responsabilidade alemã na
tragédia bélica.
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