Ciência
Robô 'Curiosity' detecta pela primeira vez uma crosta continental no
planeta vermelho
Marte pode ter sido um mundo viável
para micro-organismos
NUÑO DOMÍNGUEZ 13 JUL 2015
O robô 'Curiosity' captado pela sonda MRO em 8 de abril. / NASA
Há um robô
do tamanho de um utilitário que anda por Marte disparando raios laser. Sua
luz concentra a potência de um milhão de lâmpadas em um ponto milimétrico e
permite analisar as rochas a distância. Essa tecnologia abre uma janela única
para o que ocorreu no planeta há bilhões de anos e, graças a ela, o Curiosity acaba
de encontrar indícios do que poderia ser o primeiro continente achado em Marte.
Os resultados do experimento ChemCam, publicado
nesta segunda-feira na Nature Geoscience, indicam que há rochas
marcianas com uma composição muito similar à da crosta continental da Terra.
Esse tipo de rocha forma todos os continentes terrestres e tem uma composição
diferente da crosta que há sob os oceanos. Essa atividade geológica foi
fundamental para que a Terra pudesse desenvolver vida e os novos dados apontam
que o planeta vermelho tinha uma atividade semelhante, muito maior do que se
pensava até agora.
Uma das
amostras de rocha da possível crosta continental detectada em Marte. / NASA
O périplo
do Curiosity pela cratera Gale começou em 6 de agosto de 2012.
Em seu caminho o robô se deparou com pedras de uma estranha cor clara,
diferentes dos basaltos escuros abundantes no planeta. A origem dessas rochas
esbranquiçadas, escrevem os autores do estudo, parece ser uma “crosta de vários
quilômetros de espessura” que ficou em parte exposta no setor norte da cratera.
Depois de
queimar 22 dessas pedras com o laser e analisar seus componentes, os
responsáveis pelo ChemCam garantem que são ricas em feldespatos, o que indica
que têm uma origem magmática. De fato, ressaltam, sua composição é similar à da
crosta continental mais antiga encontrada na Terra. Sua existência significa
que o planeta vermelho tinha em seu interior uma atividade geológica muito
maior do que se pensava. De modo análogo ao que aconteceu no nosso planeta,
esse magma teria moldado a crosta até fazer aflorar a matéria-prima necessária
para formar continentes.
Jesús
Martínez-Frías, pesquisador do Instituto de Geociências (IGEO, CSIC-UCM) e membro
da equipe de ciência do Curiosity, destaca a importância desse
achado. “Não é a primeira vez que se sugere a existência de uma crosta
continental, mas é a primeira em que se detecta e analisa uma in situ”, afirma.
Até agora se assumia que em Marte havia duas grandes placas, uma mais fina no
hemisfério norte, e que foi o fundo de um enorme oceano, e outra mais grossa no
sul, onde se encontra o veículo, explica.
A nova descoberta é
“muito importante”, embora ainda seja cedo para confirmar a existência de “um
grande continente”, ressalta Martínez-Frías. Os dados mostram que o planeta não
só é muito mais diversificado em minerais do que se pensava, mas que também
eles foram transformados pelo magma para dar lugar a uma grande variedade de
rochas. Isso, por sua vez, tem importantes implicações para a possibilidade de
vida. Marte pode ser um gêmeo da Terra, muito mais bem dotado na origem para
gerar a vida. De fato, há a possibilidade de que toda a vida da Terra provenha
do planeta vermelho. De todo o modo, a existência de atividade geológica
reforça as possibilidades de biologia em Marte. “É essa vitalidade geológica
que cria, modifica e destrói ambientes nos quais a vida pode surgir e evoluir”,
observa Martínez-Frías. “Estamos somente começando a compreender o contexto
passado dessa diversidade geológica em Marte”, adverte.
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