Você já atingiu o auge da sua vida?
David
RobsonDa BBC Future
Dizem que a vida começa aos 40. E que os 60 são os novos 50.
Mas qual é a verdade? Qual é a melhor
idade para se ter?
Na tentativa de descobrir as
resposta, a BBC Future vasculhou a literatura médica para analisar a fundo como
vários aspectos do nosso corpo se modificam ao longo da vida – da memória à
sexualidade.
Forma
física
Para atividades que exigem explosões
de energia rápidas e repentinas – como correr os 100m rasos ou praticar
arremesso de peso –, o melhor é estar na casa dos 20 anos, já que o declínio
dessa capacidade vem logo depois disso. Jogadores de futebol podem chegar a
esse ponto até antes.
Já atletas mais velhos têm um
desempenho melhor em modalidades de “ultra-resistência”, como corridas muito
longas. Mesmo depois dos 30 ou 40 anos, a queda é suave e gradual.
Sunny McKee, por exemplo, comemorou
seu 61º aniversário competindo em seu primeiro Ironman, famosa prova de triatlo
que combina uma maratona tradicional (42 km) com 4 quilômetros de natação e 180
quilômetros de ciclismo.
A realidade mostra que muitos
praticantes desse tipo de esporte se tornam tão “viciados” que permanecem
ativos até seus 70 e tantos anos.
Memória
Exercícios como a dança podem trazer
benefícios duradouros à saúde física e mental
Após os 20 anos, nossa capacidade de
incluir novas informações na memória entra em decadência. Aliás, é possível que
a memória tenha começado a perder seu brilho até mesmo antes de terminarmos o
ensino médio.
Já nossa memória de trabalho (ou
memória de curto prazo) – como, por exemplo, se lembrar de instruções para
chegar a algum lugar – se mantém estável por mais tempo, mas cai gradualmente
depois dos 40.
Outra má notícia: é nessa idade
também que deixamos para trás o auge da nossa criatividade. Prova disso é que a
maioria dos ganhadores do prêmio Nobel fizeram suas descobertas por volta dos
40 anos.
Além disso, a substância branca do
cérebro, responsável pelas conexões de longa distância que formam as “supervias
expressas” de informação, tende a começar a diminuir com a idade. Isso poderia
fazer o cérebro funcionar mais lentamente, de maneira geral.
Conhecimentos
Apesar da perda de memória, aprendizado
e raciocínio social melhoram com o tempo
Mas há um lado positivo. Apesar de os
fatos demorarem um pouco mais para serem assimilados, outras habilidades
continuam se desenvolvendo – a compreensão escrita e a aritmética, por exemplo,
melhoram até a chamada meia-idade.
O raciocínio social – a capacidade de
navegarmos através das complexidades de nossas amizades – atinge seu apogeu
ainda mais tarde.
Isso quer dizer que nossas
habilidades mentais melhoram e decaem em ondas – uma passa, mas outra vem logo
em seguida. “Não existe nenhuma idade em que estejamos no auge de tudo – nem na
maior parte das coisas”, afirma Josh Harshorne, da Universidade Harvard, nos
Estados Unidos, que conduziu boa parte da pesquisa.
Sexualidade
Estudo mostra que 30% das pessoas
saudáveis de 65 a 74 anos fazem sexo semanalmente
Se filmes e novelas servissem de
parâmetro da realidade, pessoas de 20 a 30 e poucos anos viveriam uma orgia
contínua. Mas a verdade é que nem o desejo sexual nem a atividade sexual
despencam rapidamente até pelo menos os meados dos 50.
E até nessa idade, o declínio está
longe de ser vertiginoso. Segundo um estudo que examinou “a expectativa da vida
sexual ativa”, homens com 55 anos hoje podem esperar 15 ou mais anos de sexo
relativamente frequente, enquanto as mulheres dessa idade ainda têm pouco mais
de uma década de relações sexuais frequentes pela frente.
O ato sexual pode não ser vigoroso
como já foi, mas de acordo com o estudo, 30% das pessoas saudáveis com idades
entre 65 e 74 anos ainda fazem sexo pelo menos uma vez por semana.
Além disso, a queda no desejo sexual
traz outras compensações. Quando a libido começa a cair, o prazer de viver
aumenta. Isso pode ser um paradoxo, já que a saúde física gera tantas
reclamações conforme envelhecemos.
Mas isso pode ser parcialmente
explicado pelo fato de uma pessoa finalmente ter aprendido a equilibrar suas
emoções após o tumulto das décadas anteriores.
Elixir
da juventude?
Sendo assim, o que podemos aprender
com esses dados? A grosso modo, que o pico sexual ocorre aos 20 e poucos, o
auge da forma física aos 30 e poucos, a mente aos 40 e 50 e a felicidade aos
60. Mas isso são apenas médias, e cada pessoa tem uma trajetória diferente.
Por isso, o mais importante é
reconhecer que a idade traz doses parecidas de altos e baixos. Ou seja, não
existe um auge definitivo na vida.
A boa notícia, no entanto, é que
alguns dos aspectos negativos do envelhecimento podem ser evitados ao máximo. O
exercício, principalmente, não só melhora a forma física e afasta doenças como
a diabete e o câncer, como também reforça a memória.
As pessoas saudáveis também costumam
aproveitar até cinco anos a mais de atividade sexual na terceira idade do que
quem sofre de alguma doença.
Psicólogos também estão percebendo
que a atitude mental também tem um papel importante. Por isso vemos pessoas que
dizem se sentirem mais jovens do que realmente são – e uma perspectiva juvenil
as torna mais ativas e mais longevas.
Nada pode reverter o envelhecimento.
Mas ao mapearmos o terreno e reconhecermos os altos e baixos da vida, podemos
ao menos ter uma viagem mais prazerosa. É o mais perto que podemos chegar de um
elixir da juventude.
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