Paisagens marcantes do Brasil
Publicado por Profeta do Arauto,
semelhante
a um lord Inglês, sentado confortavelmente numa cadeira reclinável, desfiando o
fumo de rolo para encher o cachimbo e após tocar fogo nele, ter um ataque de
inspiração insólita, para o bem ou para o mal e numa baforada anelada e
monstruosa, tragar as quatro letras da palavra CAOS. Haja reflorestamento,
celulose, folha de papel e tantos parágrafos para definir uma palavra miudinha,
pequeninha, mas causadora de epicentros! Abalos sísmicos!
Com mais de 2700 m de altitude, o pico das
Agulhas Negras já foi considerado o ponto mais alto do país.
Exceto a corrupção
praticada pelos políticos com a conivência e aptidão da sociedade para coisas
iguais e o amontoado de barracos que assolam os morros e várzeas alagadas,
descolorindo a paisagem, o Brasil é número um em tudo; em relevo então, o
recomendado é dizer não ao sedentarismo, à acomodação e a subalternidade
impostas pelas máquinas e com os apetrechos nas costas e os olhos no horizonte,
abrir o compasso das pernas para conferir o que o país tem de melhor. Do
Oiapoque ao Chuí, da costa oceânica do Espírito Santo ao extremo do Acre, as
diferenciações topográficas são os postais de apresentação. Se não é possível
verificar in-loco, ao pegá-los nas mãos, as paisagens naturais falam por si.
Embora desconhecidas dos Brasileiros, inexplicáveis maravilhas para ingleses,
americanos, alemães, canadenses, suíços e nenhum outro, botar defeito.
Quem se desfazia das
vaidades pelos maciços do pico das Agulhas Negras, era a princesa Isabel; que
estando de papo para o ar, abrind´olhos para a imensidão das águas azuladas e
límpidas das praias cariocas, não perdia a oportunidade de galopar o seu alazão
marchador pelos patamares e bermas das encostas amorradas dos muitos rincões da
serra. E após escalar a pedra do Sino, que faz parte do atual parque da serra
Dos Órgãos, rumava em direção a serra da Bocaina, fazendo parada nos atuais
municípios de Petrópolis e Teresópolis, pertencentes ao estado do Rio.
Compensando a sua bravura de princesa aventureira, Petrópolis foi considerada a
capital interiorana do império e habitat dos monarcas. Continuando a travessia,
provida de um galope soberano e sem se entregar às palavras desanimadoras dos
amigos e aos desalentos do mundo, a expedição desmontava as tralhas no pico das
Agulhas Negras e imediações.
Maravilhada com tamanha
beleza e deleitosa com o alívio pulmonar de poder respirar os ares do lugar e
refrigerar-se com as temperaturas amenas parecidas às da Europa, a princesa
impôs à Coroa a desapropriação das terras da região, tornando-as de interesse
ambiental. A intimação foi plenamente deferida e com isto, estava criado o
parque Nacional de Itatiaia, (que significa pedra pontuda) a primeira unidade
de conservação do país. Pode soar estranho, mas a princesa de procedência
portuguesa nutria profundo respeito pelas paradisíacas paisagens brasileiras e
por vislumbrar horizontes muito além de seu tempo, a fazia mais brasileira, que
os próprios nativos brasileiros.
No vasto complexo da
Mantiqueira, muitas são as histórias, nada fantásticas que a região guarda. De
seus profundos vales, grotões e elevados cumes, ilustres e honrados cidadãos e
ternos filhos da Terra, desfraldaram a bandeira do país em territórios
distantes. Para relatar os seus feitos, mesmo que superficialmente, seria
preciso escrever um livro de crônicas históricas; entretanto, não custa nada citar
Santos Dummont como o Brasileiro que deu asas às suas imaginações.
O mentor da aviação
conseguiu transportar o bater de asas dos pássaros, em pesadas, ágeis e rápidas
aves de prata e através delas, os continentes tornaram-se pequenos, miúdos e
curtos. Dummont foi tão altivo, vistoso e elevado, como é a serra da
Mantiqueira. Assim feito e uma vez que por lá vários intelectuais fincaram a
bandeira da nossa cultura, o complexo serrano é dispêndio de suor para os
aventureiros e o visto de entrada para inteirar-se sobre as peculiaridades da
história e raízes do país. Ao se falar em história do Brasil, tudo foi
principiado ou findado nos vilarejos da Mantiqueira.
Paisagem como esta, a Natureza brindou a
Mantiqueira com miríades delas.
Humildemente, interessa-me
apontar o porquê entendo que a serra Mantiqueira é a Serra, das serras
brasileiras. Nascendo na divisa de três estados: Minas Gerais, São Paulo e Rio
de Janeiro, ela deixa para trás a serra da Bocaina e tafuia nos cumes e montes
adentro até encontrar a serra do Espinhaço, que está aproximadamente 100 km de
Belo Horizonte.
Pedindo licença aos
deuses das alturas, a caminhada começa ou termina, em Passa Quatro. Reza a
lenda que em algum ponto territorial deste município mineiro, os Bandeirantes em
caçada aos tesouros, deram quatro voltas num mesmo ponto. Circulavam,
circulavam e regressavam no mesmo ponto de origem. Como em tudo há os porquês,
isso se deu porque não consultaram o GPS da época, que é uma espécie de cactos,
cuja flor pontiaguda indica a posição Norte. Ainda hoje esta é a bússola dos
escoteiros que não se perdem nos abismos e pináculos dos cumes.
Na parte alta de Passa
Quatro, está o pico dos Três Estados, referência do início ou fim, da serra da
Mantiqueira. Porém, para se chegar ao seu topo, o caminheiro terá que vencer
muitos quilômetros serra-arriba, como diz o mineiro. A Mantiqueira é uma
sequência de sobes e desces tão constantes, que faz esmorecer até o diabo;
menos os peregrinos que na romaria do Caminho da fé, cruzam parte de sua
extensão. Acima destes estão os pedaleiros que percorrendo a Estrada Real,
percurso estimado em 800 km, atravessam toda a serra. É pedal para pedaleiro
nenhum pedir carona; mesmo porque, nesses longos percursos, se não pedirem, dar
carona é o que jamais ocorrerá: é o par de coxas/pernas para um e Deus para
todos. Notei que o leitor ficou ensimesmado, e ao mesmo tempo tentando, com a
aventura da Estrada Real. Que nada, não se sinta humilhado ou invejoso, você
pode! Consulte a razão, renda favores aos seus algozes (patrão e familiares) de
cada dia, confira o pulsar do coração e por fim, o médico cardiologista. E
pau, poeira, pedregulho, bancos de praça, riachos; energia, grossas raízes,
troncos e sombras de imensas copas de árvores, sorrisos, simplicidades,
cachoeiras, carvão, liberdade, miragens, chuva, estalagens, equilíbrio, ação,
felicidade, desgaste físico, horizontes, cidadelas, dormir com as galinhas,
escassezes, ferrovias, estradas, pó, trinado de pássaros, trilhas, água fresca,
fotografias, fome, sorte, luar, humildade, tapas na cara, despertar com o canto
dos galos, sol escaldante, amizades incondicionais, mão na graxa, pés nos
pedais! Tudo isto, é apenas o início. Vale a pena tentar. Simbora lá?
- Sinto muito, mas fico
por aqui! Não vai dar pedal, não!
- Se não vai, eu sigo
viagem! Assim como não vim de longe para enganar-me, nem o esvair de minhas
forças, me fará ficar pelo meio do caminho. Caminhando ao encontro de meu eu,
sinto-me um Jesus Cristo e como ele, adoro sofrer! Estou de bike, mas prometo
para os deuses e fariseus que farei este mesmo percurso a pé carregando uma
cruz.
A região mais conhecida
e badalada da Mantiqueira é onde estão localizadas as quatro estâncias
hidrominerais de Minas Gerais: Lambari, cidade homenagem a um dos menores
peixes de água doce do país; São Lourenço que é a mais conhecida dentre todas;
Caxambu, cidade aconchegante, tranquila e que dispõe de um teleférico para o
visitante, sem o menor esforço, chegar ao Cristo e de lá, fazer as selfies
contemplativas da vista panorâmica da cidade. E com menos intensidade e
expressividade, Cambuquira completa o circuito das estâncias mineiras. Todavia,
não é por isto que o andante deixará de encontrar uma boa prosa, hospitalidade
e solidariedade para atendê-lo em qualquer paragem; o que os matutos e nativos
fazem sorridentes 24 horas por dia.
Não muito longe dali,
está São Tomé das Letras, carregando o estigma de cidade mística e ponto de
encontro dos exotéricos. São muitas as lendas do lugar e para os aficionados em
Ufologia, recomenda-se passar umas noitadas em claro e se tudo correr como o
pregado pela crença local, ser abduzido por Extraterrestres. Fato que os
residentes da cidade de Varginha, afirmam de pés-juntos e separados, também.
Para comprovar aos descrentes a chegada dos Ovinis, em cada entrada da cidade
há um ET (de Varginha, como dizem) espiando a cidade e os passos de andarilhos
e intrusos; afinal, invadir espaço alheio, basta esses seres interplanetários.
E caso desrespeitem esse único e sólido mandamento, sem deixar pistas, os
misteriosos intergalácticos somem com o desavisado e indisciplinado caminheiro.
Pico do Papagaio que fica no município de Aiuruoca,
que em tupi quer dizer: oca – casa; ajuru – papagaio.
E de parada em parada,
estalagem em estalagem, chega-se às cidades históricas, patrimônio cultural da
humanidade. Por lá estacionaram reis e rainhas; coronéis e súditos, ouro branco
e Ouro Preto, que na era da caça ao tesouro, era chamada de Vila Rica e capital
do país. Em Congonhas do Campo estão os 12 apóstolos, obra do mestre
artesão-barroco Aleijadinho. Um pouco pra frente, está o rincão de Catas Altas.
É lá que está assentada a RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Nacional –
denominado parque Natural do Caraça e se não mudaram os costumes, em noites
claras de lua cheia, pode-se ver os padres alimentando os lobos guarás. Mais
detalhes, leia o artigo, cujo título é: “Artigo inócuo. Nem uma mísera gota de
valor para um país perfeito”.
Sem divisa definida, o complexo da Mantiqueira
finaliza, ou inicia sua lomba no encontro com a serra do Espinhaço. Para
aqueles que primam pelo conhecimento, devido as variações nos nomes das serras
em diferentes pontos geográficos ao longo do percurso, considerei como sendo
Mantiqueira todo o complexo montanhoso parcialmente descrito. De uma forma ou
outra, que me perdoe as demais e àquelas que nela incluí; mas o complexo
montanhoso por mim denominado serra da Mantiqueira é extravagantemente belo e
abençoado pela indescritível Natureza nos mais de 350 km de percurso!
PS.: a serra da Mantiqueira é tão venerada
por quem a conhece, que o nome da banda paulista de jazz e ritmos afins foi
inspirada nela, e o resultado só poderia ser décadas e mais décadas na estrada
fazendo um potente instrumental/jazzístico. Bela sacada dos precursores da
banda, porque viajar pelas ricas e bucólicas paisagens serranas, ouvindo a
banda Mantiqueira é inspiração para a alma e sossego para a mente.
Nota: o rincão de Visconde de Mauá, o qual
foi retratado em um pequeno artigo, faz parte da serra da Mantiqueira. Se não
leu, está disponível para uma boa leitura!
Fotos
pertencentes ao autor do artigo
© obvious: http://obviousmag.org/ministerio_das_letras/2015/11/mantiqueira-a-serra-das-serras-brasileiras.html#ixzz3rBSrYTlh
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