sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

ABRAÇO DE AFOGADO

Brasil: política


Colaboração de Joaci Góes
é Imortal da Academia de Letras da Bahia.

Enquanto o Brasil despenca nos seus indicadores econômicos e sociais e na credibilidade internacional e interna, o mundo acompanha estupefato e perigosamente divertido, a feroz disputa entre personalidades que fazem dos interesses maiores do País balizas da arena onde exibem a hipertrofia do seu ego inflado, cinismo, insensibilidade e desapreço pelo bem-estar da coletividade.




Para os contendores, pouco importa que o crescimento econômico encolha, aumente o desemprego, a violência das ruas, a desesperança de todas as gerações. Pouco importa, também, que as agências internacionais que avaliam o crédito e risco das diferentes entidades públicas e privadas, se alternem em rebaixar a nota Brasil, fato que onera, sobremodo, as contas públicas, e afugenta os capitais de todas as origens. Acima de tudo, para estes combatentes em causa própria, está o resultado da porfia que indicará o vencedor, não importando o preço a suportar pela sociedade que, compulsoriamente, é chamada a pagar o custo da cavalar esbórnia. Ao final, teremos uma Vitória de Pirro, mil vezes ampliada, distribuída a mancheias.

Na percepção geral, a permanência do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é absolutamente insustentável, independentemente de sua pétrea disposição de resistir. A linguagem corporal que passou a exibir, depois que se provou, às escâncaras, a existência de contas bancárias no exterior, em seu nome, está a inquirir a toda a Nação: “Por que eu, que sou competente, corajoso e capaz de peitar um governo que infelicita a Nação, quando sabemos que são poucos os homens públicos neste País que não têm telhado de vidro?”     No particular, Eduardo Cunha tem razão. O roubo grassou na Administração Pública brasileira, de tal modo e em todos os níveis, que no ânimo das pessoas inverteu-se o princípio da presunção de inocência, segundo o qual todos são honestos até prova em contrário, para prevalecer o entendimento de que, em matéria de servidor público, todos são desonestos até que provem o contrário, generalização extremamente injusta com aqueles que fazem do seu ofício público um autêntico sacerdócio.

Desgraçadamente, para Eduardo Cunha, que passa a figurar entre as personalidades de mais meteórica ascensão e queda da política brasileira, velho anexim popular ensina que “ladrão é aquele que é apanhado com o furto na mão”, não importando que se haja cumprido a alternativa profecia-preceito, proposta por Stanislaw Ponte Preta: -”Acabemos com a corrupção, ou locupletemo-nos todos”! Nesta mesma conexão, o Padre Antônio Vieira mal sabia que descrevia o Brasil de nossos dias quando pensava que diagnosticava as mazelas do seu tempo, ao dizer: “Na Bahia de hoje, conjuga-se o verbo roubar, em todos os tempos e modos!”

Quanto à Presidente Dilma, obliterada, certamente, pela vertigem dos acontecimentos, parece não entender que sua teimosa resistência em se agarrar a um poder evanescente não guarda o menor paralelo com sua heróica resistência aos arreganhos da ditadura militar que a levou à prisão.
Os fatos, resistentes como são a qualquer tipo de fantasia, assoalham os imensuráveis prejuízos sofridos pela sociedade brasileira, resultantes de cada dia de sua permanência à frente de uma Administração cujo comando lhe escapa das mãos, como a água que escorre entre os dedos de quem padece o suplício de Tântalo. Renunciar, no caso de Dilma, não é gesto de covardia, mas o mais corajoso dos atos, consistente na suprema coragem de parecer covarde, na contramão dos interesses menores do seu Partido, mas em benefício do povo brasileiro, que precisa do mínimo de estabilidade e confiança, para recomeçar a marcha na direção de sua perdida tranquilidade.

Eis que, de repente, e não mais que de repente, diante da iminência da queda, os porfiadores, como se rivalidades não existissem, passam a confabular, de modo explícito, sobre como agir para que se salvem do colapso inevitável. A dificuldade é que não há confiança entre eles, um não crendo na palavra do outro, daí a discussão sobre quem primeiro depõe as armas.

Enquanto isso, os meios de comunicação tocam uma nota só: redução da atividade econômica, desemprego, violência e desesperança.

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