Brasil: política
Por Joaci Góes.
É empresário, político,
jornalista,
ensaísta, membro da
Academia de Letras da Bahia
Da inédita manifestação popular,
do último dia 13, pode-se inferir, com elevada margem de segurança, que a Presidente
Dilma e o ex-Presidente Lula estão com os dias, politicamente, contados, sem
perspectiva de recuperação, no curso de suas existências. O julgamento da
História é outro departamento que fica a cargo do movimento caprichoso dos
acontecimentos.
Do futuro do PT não se pode dizer
o mesmo: o Partido deverá encolher, sensivelmente, podendo, no entanto,
recuperar-se a partir das ações da facção integrada por políticos de boa
qualidade. Sobretudo, se a banda podre que se “lambuzou” na corrupção, como a denominou
o ex-governador da Bahia e ex-Ministro da Casa Civil, desde ontem Chefe de
Gabinete da Presidente Dilma, Jaques Wagner, for defenestrada. Afinal de
contas, o senador Delcídio do Amaral foi, até o momento da prisão, em flagrante
delito de obstrução da Justiça, o modelo de operosidade e retidão petista. Terá
o Ministro Mercadante o mesmo destino de Delcídio, flagrado que foi tentando
obstruir a justiça?
Em qualquer hipótese, essa
possível recuperação do poder partidário é tarefa que requer algumas décadas de
paciente e persistente labuta e espera dos que permanecerão para apagar a luz,
tendo em vista a mais que previsível apostasia de ponderável número dos seus
membros. Nada inferior a vinte anos, tempo excessivamente longo para a
apressada agenda dos resultados eleitorais. Atolados na areia movediça da
corrupção e da inoperância funcional, tudo o que fizerem, neste momento, está
fadado ao mais rotundo fracasso. Isso explica o aturdimento palaciano que
culminou com o estapafúrdio convite para Lula assumir a Chefia da Casa Civil,
caracterizando um autêntico abraço de afogados.
Inteiramente imobilizada como se
encontra, e vendo chegar, a passos largos, o fim precoce do seu governo, a
Presidente preferiu ceder aos apelos do desespero, passando o governo a Lula,
do que recorrer a uma renúncia patriótica, para permitir o Brasil sair do
atoleiro em que foi posto pela macabra aliança entre a corrupção e a
incompetência.
A vida humana, em seu inesgotável
ineditismo, fez dos monumentais erros do PT, de Lula e da Presidente uma
armadilha de tipologia sem precedentes na História do Brasil. Com a grave crise
econômica que assoberba a Nação, expressa no desemprego, na inflação e na queda
da renda de pessoas físicas e jurídicas, não há espaço para manobras de recuperação
do descambado prestígio oficial, como ensinou o americano James Carville, em
1992, durante a campanha que elegeu Bill Clinton, ao diagnosticar, com precisão
cirúrgica, o fator básico determinante do voto e do apreço popular: “É a
economia, estúpido!” Quando à crise se acresce o maior surto de corrupção de
que se tem notícia, dentro e fora do Brasil, aí, então, passa-se a frequentar a
casa do sem jeito.
A decisão da juíza paulista Maria
Priscilla Veiga Oliveira de remeter para o âmbito da Operação Lava Jato, sob o
crivo do juiz federal Sérgio Moro, o pedido de prisão preventiva de Lula,
formulado pelo Ministério Público, é, apenas, mais uma peça surpreendente no
cipoal de singularidades em que se vem transformando a via-crúcis do PT e dos
seus principais líderes. Nesse inquérito, nascido da suspeição de que Lula
recebeu doações que comprometeram a lisura presidencial através da reforma do
triplex do Edifício Solaris, em Guarujá, o ex-presidente é acusado de lavagem
de dinheiro e falsidade ideológica, crimes que podem render de 3 a 10 anos de
prisão e de 1 a 3 anos, respectivamente.
A esposa do ex-metalúrgico e um
dos seus filhos são igualmente acusados de lavagem de dinheiro.
Como era de
esperar, a ida de Lula para o Ministério está sendo interpretada, por Deus e o
Mundo, como uma fuga do juízo implacável de Sérgio Moro e a busca de redentora
absolvição no julgamento grato de Ministros das cortes superiores de Justiça,
nomeados ao longo dos treze anos de governo petista, percepção que, por si só,
é suficiente para elevar a já alta temperatura da irresignabilidade popular que
vem hostilizando alguns dos membros dessas cortes, suspeitos de não estarem à
altura da dignidade da toga. Registre-se que é grande, com tendência a crescer,
o movimento que considera obstrução da justiça a ascensão do ex-Presidente ao
Ministério.
É profundamente doloroso para Lula e sua família o sofrimento que padecem.
É profundamente doloroso para Lula e sua família o sofrimento que padecem.
Do mesmo modo para o povo
brasileiro que apoiou com entusiasmo a marcha histórica de um líder sindical,
da pobreza absoluta para as culminâncias do prestígio internacional, vê-lo
toscamente chafurdando no opróbrio a que o conduziram as vertigens do
deslumbramento de ver realizadas suas vastas ambições de poder pelo
poder.
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