quarta-feira, 23 de março de 2016

A ELOQUENTE VOZ DAS RUAS



Brasil: política


 Por Joaci Góes.
É empresário, político, jornalista,
ensaísta, membro da Academia de Letras da Bahia
 Da inédita manifestação popular, do último dia 13, pode-se inferir, com elevada margem de segurança, que a Presidente Dilma e o ex-Presidente Lula estão com os dias, politicamente, contados, sem perspectiva de recuperação, no curso de suas existências. O julgamento da História é outro departamento que fica a cargo do movimento caprichoso dos acontecimentos.

Do futuro do PT não se pode dizer o mesmo: o Partido deverá encolher, sensivelmente, podendo, no entanto, recuperar-se a partir das ações da facção integrada por políticos de boa qualidade. Sobretudo, se a banda podre que se “lambuzou” na corrupção, como a denominou o ex-governador da Bahia e ex-Ministro da Casa Civil, desde ontem Chefe de Gabinete da Presidente Dilma, Jaques Wagner, for defenestrada. Afinal de contas, o senador Delcídio do Amaral foi, até o momento da prisão, em flagrante delito de obstrução da Justiça, o modelo de operosidade e retidão petista. Terá o Ministro Mercadante o mesmo destino de Delcídio, flagrado que foi tentando obstruir a justiça?
Em qualquer hipótese, essa possível recuperação do poder partidário é tarefa que requer algumas décadas de paciente e persistente labuta e espera dos que permanecerão para apagar a luz, tendo em vista a mais que previsível apostasia de ponderável número dos seus membros. Nada inferior a vinte anos, tempo excessivamente longo para a apressada agenda dos resultados eleitorais. Atolados na areia movediça da corrupção e da inoperância funcional, tudo o que fizerem, neste momento, está fadado ao mais rotundo fracasso. Isso explica o aturdimento palaciano que culminou com o estapafúrdio convite para Lula assumir a Chefia da Casa Civil, caracterizando um autêntico abraço de afogados. 
Inteiramente imobilizada como se encontra, e vendo chegar, a passos largos, o fim precoce do seu governo, a Presidente preferiu ceder aos apelos do desespero, passando o governo a Lula, do que recorrer a uma renúncia patriótica, para permitir o Brasil sair do atoleiro em que foi posto pela macabra aliança entre a corrupção e a incompetência.
A vida humana, em seu inesgotável ineditismo, fez dos monumentais erros do PT, de Lula e da Presidente uma armadilha de tipologia sem precedentes na História do Brasil. Com a grave crise econômica que assoberba a Nação, expressa no desemprego, na inflação e na queda da renda de pessoas físicas e jurídicas, não há espaço para manobras de recuperação do descambado prestígio oficial, como ensinou o americano James Carville, em 1992, durante a campanha que elegeu Bill Clinton, ao diagnosticar, com precisão cirúrgica, o fator básico determinante do voto e do apreço popular: “É a economia, estúpido!” Quando à crise se acresce o maior surto de corrupção de que se tem notícia, dentro e fora do Brasil, aí, então, passa-se a frequentar a casa do sem jeito.
A decisão da juíza paulista Maria Priscilla Veiga Oliveira de remeter para o âmbito da Operação Lava Jato, sob o crivo do juiz federal Sérgio Moro, o pedido de prisão preventiva de Lula, formulado pelo Ministério Público, é, apenas, mais uma peça surpreendente no cipoal de singularidades em que se vem transformando a via-crúcis do PT e dos seus principais líderes. Nesse inquérito, nascido da suspeição de que Lula recebeu doações que comprometeram a lisura presidencial através da reforma do triplex do Edifício Solaris, em Guarujá, o ex-presidente é acusado de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, crimes que podem render de 3 a 10 anos de prisão e de 1 a 3 anos, respectivamente.
A esposa do ex-metalúrgico e um dos seus filhos são igualmente acusados de lavagem de dinheiro.

Como era de esperar, a ida de Lula para o Ministério está sendo interpretada, por Deus e o Mundo, como uma fuga do juízo implacável de Sérgio Moro e a busca de redentora absolvição no julgamento grato de Ministros das cortes superiores de Justiça, nomeados ao longo dos treze anos de governo petista, percepção que, por si só, é suficiente para elevar a já alta temperatura da irresignabilidade popular que vem hostilizando alguns dos membros dessas cortes, suspeitos de não estarem à altura da dignidade da toga. Registre-se que é grande, com tendência a crescer, o movimento que considera obstrução da justiça a ascensão do ex-Presidente ao Ministério.
É profundamente doloroso para Lula e sua família o sofrimento que padecem.
Do mesmo modo para o povo brasileiro que apoiou com entusiasmo a marcha histórica de um líder sindical, da pobreza absoluta para as culminâncias do prestígio internacional, vê-lo toscamente chafurdando no opróbrio a que o conduziram as vertigens do deslumbramento de ver realizadas suas vastas ambições de poder pelo poder. 

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