João Justiniano da Fonseca*
SONETOS
O Livro
Livro – portal da cultura,
sabedoria em semente,
amizade que perdura
por toda vida da gente
Encadernado ou em brochura,
à estante sendo presente,
o livro nos assegura
lazer e saúde à mente.
Tome do livro e se sente
no gabinete ou na sala,
na varanda simplesmente.
E verá que o livro fala,
ri e chora, vive, sente,
e alma da gente embala.
Testamento
Eu quero a rosa vermelha
para enfeitar meu caixão.
Seu colorido semelha
o sangue do coração.
Meu corpo inteiro se cubra
de muitas rosas vermelhas,
pois simboliza a cor rubra
o engenho e a arte em centelhas.
Dispensadas as coroas,
orações, discursos, loas,
a rosa rubra me basta.
Quero meu corpo cremado,
mas antes disso, enfeitado
de sua beleza casta.
Testamento II
Lancem-me as cinzas ao vento
na fazenda de meus pais.
Que estas, caatinga adentro,
levem meus sonhos de paz.
Nos milênios dos milênios
tempo e tempo, tempo mais,
comunguem com os bons gênios,
e o vulto dos ancestrais.
Não parem nunca e jamais
jungidos ao elemento,
meus sonhos de amor e paz.
Vivam nas cinzas, no vento,
ao lado dos ancestrais,
feitos ternura e acalento!
Trovas*
Tema –Bahia
Rui, Bahia, Castro Alves,
ladeiras de vale a serra,
ressalves ou não ressalves,
sempre dirás – Boa Terra!
Uma trova da Bahia?
- A mulata, o candomblé;
Dendê, xinxim... Bastaria
vatapá e acarajé.
Tema – Salvador
Arroz doce mungunzá,
praias, coqueiros, amor,
acarajé, vatapá,
ninho de paz – Salvador.
Tema – Saudade
Saudade, sopro de amor,
sentimento universal,
pingos de riso na dor
da vida sentimental.
A saudade dói, que dói!
Dói que dói no coração.
E doendo sempre constrói
a esperança e uma ilusão.
Desejo de ver – saudade!
Vontade de ter – amor!
Sem o desejo e a vontade,
o coração é incolor.
Meu amor chegou cantando
e cantando foi-se embora.
Veio a saudade chorando,
faz tanto e inda chora.
NR/ *Sobre João Justiniano, poeta maior, diz um intelectual do Rio Grande do Sul, Nelson Fachinelli: “Um homem e um nome com méritos para estar na Academia Brasileira de Letras.
Por sua enorme e importante bagagem literária, merece João... , baiano e brasileiro (que morre de amores pela Bahia e vive de paixão com o Rio Grande do Sul), inscrever seu nome e obra na Academia Brasileira de Letras. E na mesma ingressar com honra e mérito.”
* Trova – Foi a primeira manifestação literária de Portugal. No Brasil ela aconteceu de forma exuberante. Há trovistas em todos os seus cantos e recantos. Contudo, bons trovistas são raros. A trova é tão difícil de fazer quanto uma coroa de sonetos. Exige-se na trova, que o poeta desenvolva um tema em quatro versos heptassilábicos, nem mais e nem menos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário