terça-feira, 4 de dezembro de 2012

ÉTICA E MERCADO

                                                                      Raymundo Dantas*

                                                                                   
Todos temos, desde crianças, uma “tábua de valores”, ou seja, uma definição do bem e do mal; do certo e do errado; do que merece prêmio e do que pede punição, e assim por diante. Esses valores nos vêm pela educação, na família, na escola e no ambiente social que freqüentamos.

Essa “tábua de valores” nos acompanha por toda a vida, ainda quando nós próprios a infringimos. Quando isso acontece, sentimos a cobrança da consciência. Ela nos acusa cada vez que agimos contra os nossos valores, de um modo que nós próprios rejeitamos.

Existe sempre, portanto, um "dever ser" na vida de todos nós, que não é exigência das leis do país, nem obrigação de um contrato que assinamos, mas que vem de "dentro" do nosso próprio ser. Por outro lado, como vivemos em sociedade, os valores individuais vão se mesclando, de modo que se forma uma espécie de Ética “coletiva”. Isto faz com que todos esperem, de todos, certos comportamentos, chamados éticos.

O comportamento ético é necessário para que haja vida social aceitável. Aliás, é a partir dessa Ética coletiva que se moldam as leis e se organiza a sociedade. E o cidadão que transgride as normas éticas é passível de punição, proporcionalmente ao nível transgredido, que vai desde a censura social até a prisão. Freud irá inclusive dizer que “sem repressão não há civilização”. De modo que o comportamento ético é o penhor de um povo civilizado.

                Num desses textos, que andam por aí, na Internet, encontrei certa vez o seguinte trecho, cujo autor desconheço e trago para nossa reflexão:

                “Ao estudar a conduta das pessoas nos países ricos, se descobre que a maior parte da população cumpre as seguintes regras, cuja ordem pode ser discutida:
1         A Moral como princípio básico
2         A ordem e a limpeza
3         A integridade
4         A pontualidade
5         A responsabilidade
6         O desejo de superação
7         O respeito às Leis e aos Regulamentos
8         O respeito ao direito dos demais
9         O amor ao trabalho
10     O esforço pela poupança e pelo investimento

Necessitamos de mais leis? Não seria suficiente cumprir e fazer cumprir estas 10 regras simples ?Nos países pobres uma mínima (quase nenhuma) parte da população segue essas regras em sua vida diária.

Não somos pobres porque faltem ao nosso país riquezas naturais, ou porque a natureza tenha sido cruel conosco, mas simplesmente por nossa atitude .Falta-nos caráter para cumprir essas premissas básicas de funcionamento das sociedades".

Independentemente de concordarmos ou não com as 10 regras citadas, e até considerando que já não somos mais listados entre os países pobres do mundo, parece-me que ainda assim não escapamos das conclusões tiradas pelo autor do texto: falta-nos atitude ética, falta-nos ainda caráter. Haja vista a constante e permanente ocorrência dos escândalos na política e no mercado em geral.

É de se esperar que, em ambos os ambientes, venham a prevalecer os comportamentos éticos, para que possamos viver com respeito e nos apresentar internacionalmente como um país sério.

No caso do mercado (que aqui nos interessa abordar) as condições principais de êxito, interno e externo, são a confiança e a credibilidade. Para obtê-las há alguns padrões éticos que são especialmente esperados dos diversos atores envolvidos : fornecedores, comerciantes, clientes, empregados, acionistas e governo.

O primeiro e basilar desses padrões é a honestidade, que é a qualidade de ser verdadeiro. Ela implica no fornecimento de informações verídicas, no falar a verdade. Ser verdadeiro significa não tergiversar, não ludibriar, não tirar vantagens ilícitas. É cumprir a palavra, ser responsável, assumir e cumprir compromissos.

E esse padrão começa desde atitudes pequenas, como por exemplo, ser pontual quando se marca horário. Segue, em níveis mais altos, com a integridade dos produtos que se vende e dos serviços que se presta, com a entrega da qualidade prometida, com o preço justo, com o respeito aos direitos dos demais agentes do mercado. Há que se pagar salários justos e recolher os impostos efetivamente devidos. Mais recentemente se inclui também o respeito à natureza e a famosa sustentabilidade.

Isto soa bem aos seus ouvidos? Ou lhe parece uma utopia babaca, uma visão carola de quem não conhece o mercado? Tenho certeza de que muitos pensarão assim. Ou quase todos que leram até aqui. Estarão errados? O texto da Internet que lemos faz crer que muitos países ricos e fortes praticam esses padrões éticos. E sabemos que isto é verdade. Por que não seria verdadeiro para nós também?

O que seria, por exemplo, para nós,“preço justo”, ou “salário justo” ?Saberíamos defini-los? Serão os que nós tabelamos e pagamos, ou os que o cliente quer pagar e o Sindicato quer receber? O que significa para um empresário brasileiro a expressão “impostos efetivamente devidos”? Seriam aqueles que nos são cobrados, ou os que julgamos justos ?Tudo se tornou relativo em nossa sociedade, nada pode ser levado a termos absolutos. Somos o povo do mais ou menos. Certamente porque, de tal modo nos corrompemos como sociedade que, já se tornou impossível pensar na possibilidade de se ser “totalmente” honesto. Mas não existe meia honestidade. Ou a temos, ou não a temos.

Vendo o sucesso dos corruptos e a impunidade dos faltosos, que resta,à consciência que se forma nas crianças e nos jovens, senão aceitar como valores éticos a “esperteza”, a mentira, o furto e o crime? E assim vão se deteriorando as gerações, sem que haja esperança de reversão desse processo perverso.

Dessa maneira, instalou-se um círculo vicioso entre os diversos atores do mercado, em que, alguns por sagacidade irresponsável, outros alegando autodefesa para sobreviver ao “sistema”, mantêm alimentado e tornam cada vez mais robusto o processo. Se o Governo é visto como taxador exorbitante, a sonegação é a autodefesa do empresário. Mas esta se torna argumento para um arrocho fiscal, e recomeça o ciclo. Governo e empresariado reconhecem que se todos pagassem o justo, todos pagariam menos; mas apesar disso, nada muda.

O consumidor, que é parte também desse processo, se descobriu vítima. E mais que nunca clama contra a falta de ética, nos negócios e no governo. Mas, consciente ou inconscientemente, também transgride, também sonega, também “se defende” em todas as oportunidades.

Como interromper o ciclo? Por onde poderemos revertê-lo?

Só há duas maneiras. A primeira é a educação. Educação que começa na família, com a transmissão dos verdadeiros valores (honestidade, respeito, justiça, prudência, discrição, humildade, coragem, persistência...)  e sua prática. Educação que se completa com uma escola pública de qualidade, que não apenas instrua, mas desenvolva cidadãos, repercutindo os mesmos valores éticos, inclusive o já esquecido patriotismo. Educação que atinja a mídia e a transforme em instrumento de cidadania, estímulo à formação do caráter.

A segunda maneira, que deve correr paralela à educação é a repressão. Esta palavra que tem sido tão malvista, mas que, abençoada por Freud, precisa ser estimulada no seu exato sentido. Repressão que também começa em casa, porque as crianças precisam receber limites, e punições que as ajudem a respeitá-los. Só assim é possível a convivência social, que se funda no respeito e na consideração pelos semelhantes.

Repressão que continua na escola, com professores respeitados e respeitadores, capazes de exigir disciplina, de corrigir atitudes, com senso de justiça. Repressão que repercuta a partir de um aparelho governamental sério e de um Judiciário respeitável, de onde a punição emane igual para todo infrator, qualquer que seja sua posição social, econômica ou política, mas que se faça sempre corretiva, com métodos que não se assemelhem aos dos bandidos.

Não há que pensar na possibilidade de um mercado ético, se toda a sociedade não estiver comprometida com esses padrões, a partir dos seus mais altos dirigentes. Estamos todos juntos e interligados, interdependentes. O que, porém, não impede que cada um de nós busque a integridade pessoal e no seu negócio. É possível isso?  Sim, você e eu conhecemos pessoas íntegras. E se diferenciam pelo exercício dos dois últimos valores éticos que citei : coragem pessoal e persistência.

Todos temos, desde crianças, uma “tábua de valores”, ou seja, uma definição do bem e do mal; do certo e do errado; do que merece prêmio e do que pede punição, e assim por diante. Esses valores nos vêm pela educação, na família, na escola e no ambiente social que freqüentamos.

Essa “tábua de valores” nos acompanha por toda a vida, ainda quando nós próprios a infringimos. Quando isso acontece, sentimos a cobrança da consciência. Ela nos acusa cada vez que agimos contra os nossos valores,de um modo que nós próprios rejeitamos.

Existe sempre, portanto, um "dever ser" na vida de todos nós, que não é exigência das leis do país, nem obrigação de um contrato que assinamos, mas que vem de "dentro" do nosso próprio ser. Por outro lado, como vivemos em sociedade, os valores individuais vão se mesclando, de modo que se forma uma espécie de Ética “coletiva”. Isto faz com que todos esperem, de todos, certos comportamentos, chamados éticos.

O comportamento ético é necessário para que haja vida social aceitável. Aliás, é a partir dessa Ética coletiva que se moldam as leis e se organiza a sociedade. E o cidadão que transgride as normas éticas é passível de punição, proporcionalmente ao nível transgredido, que vai desde a censura social até a prisão. Freud irá inclusive dizer que “sem repressão não há civilização”. De modo que o comportamento ético é o penhor de um povo civilizado.

                Num desses textos, que andam por aí, na Internet, encontrei certa vez o seguinte trecho, cujo autor desconheço e trago para nossa reflexão :

                “Ao estudar a conduta das pessoas nos países ricos, se descobre que a maior parte da população cumpre as seguintes regras, cuja ordem pode ser discutida :
11     A Moral como princípio básico
12     A ordem e a limpeza
13     A integridade
14     A pontualidade
15     A responsabilidade
16     O desejo de superação
17     O respeito às Leis e aos Regulamentos
18     O respeito ao direito dos demais
19     O amor ao trabalho
20     O esforço pela poupança e pelo investimento

Necessitamos de mais leis? Não seria suficiente cumprir e fazer cumprir estas 10 regras simples? Nos países pobres uma mínima (quase nenhuma) parte da população segue essas regras em sua vida diária.

Não somos pobres porque faltem ao nosso país riquezas naturais, ou porque a natureza tenha sido cruel conosco, mas simplesmente por nossa atitude.Falta-nos caráter para cumprir essas premissas básicas de funcionamento das sociedades".

Independentemente de concordarmos ou não com as 10 regras citadas, e até considerando que já não somos mais listados entre os países pobres do mundo, parece-me que ainda assim não escapamos das conclusões tiradas pelo autor do texto : falta-nos atitude ética, falta-nos ainda caráter. Haja vista a constante e permanente ocorrência dos escândalos na política e no mercado em geral.

É de se esperar que, em ambos os ambientes, venham a prevalecer os comportamentos éticos, para que possamos viver com respeito e nos apresentar internacionalmente como um país sério.

No caso do mercado (que aqui nos interessa abordar) as condições principais de êxito, interno e externo, são a confiança e a credibilidade. Para obtê-las há alguns padrões éticos que são especialmente esperados dos diversos atores envolvidos: fornecedores, comerciantes, clientes, empregados, acionistas e governo.

O primeiro e basilar desses padrões é a honestidade, que é a qualidade de ser verdadeiro. Ela implica no fornecimento de informações verídicas, no falar a verdade. Ser verdadeiro significa não tergiversar, não ludibriar, não tirar vantagens ilícitas. É cumprir a palavra, ser responsável, assumir e cumprir compromissos.

E esse padrão começa desde atitudes pequenas, como por exemplo, ser pontual quando se marca horário. Segue, em níveis mais altos, com a integridade dos produtos que se vende e dos serviços que se presta, com a entrega da qualidade prometida, com o preço justo, com o respeito aos direitos dos demais agentes do mercado. Há que se pagar salários justos e recolher os impostos efetivamente devidos. Mais recentemente se inclui também o respeito à natureza e a famosa sustentabilidade.

Isto soa bem aos seus ouvidos? Ou lhe parece uma utopia babaca, uma visão carola de quem não conhece o mercado? Tenho certeza de que muitos pensarão assim. Ou quase todos que leram até aqui. Estarão errados?O texto da Internet que lemos faz crer que muitos países ricos e fortes praticam esses padrões éticos. E sabemos que isto é verdade. Por que não seria verdadeiro para nós também?

O que seria, por exemplo, para nós, “preço justo”, ou “salário justo” ?Saberíamos defini-los? Serão os que nós tabelamos e pagamos, ou os que o cliente quer pagar e o Sindicato quer receber? O que significa para um empresário brasileiro a expressão “impostos efetivamente devidos”? Seriam aqueles que nos são cobrados, ou os que julgamos justos? Tudo se tornou relativo em nossa sociedade, nada pode ser levado a termos absolutos. Somos o povo do mais ou menos. Certamente porque, de tal modo nos corrompemos como sociedade que, já se tornou impossível pensar na possibilidade de se ser “totalmente” honesto. Mas não existe meia honestidade. Ou a temos, ou não a temos.

Vendo o sucesso dos corruptos e a impunidade dos faltosos, que resta, à consciência que se forma nas crianças e nos jovens, senão aceitar como valores éticos a “esperteza”, a mentira, o furto e o crime ? E assim vão se deteriorando as gerações, sem que haja esperança de reversão desse processo perverso.

Dessa maneira, instalou-se um círculo vicioso entre os diversos atores do mercado, em que, alguns por sagacidade irresponsável, outros alegando autodefesa para sobreviver ao “sistema”, mantêm alimentado e tornam cada vez mais robusto o processo. Se o Governo é visto como taxador exorbitante, a sonegação é a autodefesa do empresário. Mas esta se torna argumento para um arrocho fiscal, e recomeça o ciclo. Governo e empresariado reconhecem que se todos pagassem o justo, todos pagariam menos; mas apesar disso, nada muda.

O consumidor, que é parte também desse processo, se descobriu vítima. E mais que nunca clama contra a falta de ética, nos negócios e no governo. Mas, consciente ou inconscientemente, também transgride, também sonega, também “se defende” em todas as oportunidades.

Como interromper o ciclo? Por onde poderemos revertê-lo?
Só há duas maneiras. A primeira é a educação. Educação que começa na família, com a transmissão dos verdadeiros valores (honestidade, respeito, justiça, prudência, discrição, humildade, coragem, persistência...)  e sua prática. Educação que se completa com uma escola pública de qualidade, que não apenas instrua, mas desenvolva cidadãos, repercutindo os mesmos valores éticos, inclusive o já esquecido patriotismo. Educação que atinja a mídia e a transforme em instrumento de cidadania, estímulo à formação do caráter.

A segunda maneira, que deve correr paralela à educação é a repressão. Esta palavra que tem sido tão malvista, mas que, abençoada por Freud, precisa ser estimulada no seu exato sentido. Repressão que também começa em casa, porque as crianças precisam receber limites, e punições que as ajudem a respeitá-los. Só assim é possível a convivência social, que se funda no respeito e na consideração pelos semelhantes.

Repressão que continua na escola, com professores respeitados e respeitadores, capazes de exigir disciplina, de corrigir atitudes, com senso de justiça. Repressão que repercuta a partir de um aparelho governamental sério e de um Judiciário respeitável, de onde a punição emane igual para todo infrator, qualquer que seja sua posição social, econômica ou política, mas que se faça sempre corretiva, com métodos que não se assemelhem aos dos bandidos.

Não há que pensar na possibilidade de um mercado ético, se toda a sociedade não estiver comprometida com esses padrões, a partir dos seus mais altos dirigentes. Estamos todos juntos e interligados, interdependentes. O que, porém, não impede que cada um de nós busque a integridade pessoal e no seu negócio. É possível isso?  Sim, você e eu conhecemos pessoas íntegras. E se diferenciam pelo exercício dos dois últimos valores éticos que citei: coragem pessoal e persistência.

NR/*Raymundo Dantas é Filósofo, Mestre em Administração de Empresas.




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