(...) Era Sílvio um dos dez filhos do Dr. Afonso de Castro Silva Valente, advogado e professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Bahia, falecido em 25.04.54, e de dona Amélia dos Santos Pereira Valente. Membros de famílias radicadas no município de Santo Amaro, mas de origem portuguesa, italiana e austríaca, representada por Artêmio de Castro Valente que casou-se com Júlia, filha do genovês Lourenço Devoto, cujo filho deu nome ao famoso colégio do Rio Vermelho, Manoel Devoto.
Pelo lado paterno Sílvio tinha parentesco com os membros dos clãs Luz, Pinto de Carvalho, Olivieri, Gama e Abreu.
Do materno, devido aos avós Fernando dos Santos Pereira, casado com Olívia Tanajura Macedo Costa, tinha consanguinidade com os membros das famílias Tananajura, Macedo Costa e Santos Pereira.
Sílvio, nasceu em Salvador num velho sobrado na Rua Gambôa de Cima a 27 de fevereiro de 1918, veio a falecer de nefrite aguda, a 4 de maio de 1951. Mas até seu nascimento foi cercado de controvérsia. Gêmeo de Magno, dele diferia fisicamente em tudo. Enquanto Magno era de pele clara, Sílvio ostentava na sua a cor trigueira, a do moreno baiano, parafraseando o poeta Cruz e Souza: era um pastor de tez morena, queimado ao sol adusto. Mas, as diferenças entre os dois não pararam ai. No decorrer da vida elas se acentuaram. Magno voltou-se ao cartesianismo. Sílvio, ao humanismo, embora por ironia do destino, em determinada época da vida, para socorrer suas raquíticas finanças, ensinasse matemática.
Quando, no início da década de 80, entrevistei Mágno, ele estava em condições adversas. Muito doente. Tomado pelo enfisema pulmonar. Mesmo assim disposto a falar do irmão mabaço, como se dizia antigamente do gêmeo, confessou-me, num depoimento emocionado: Sílvio nada tinha de brincalhão. Estava sempre voltado aos livros. A escrever, poetar, ensinar. A prosear com os amigos da boemia, do Tabaris. A beber da boa caninha de Santo Amaro e do John Bull. Ademais era dono de modéstia invulgar. Suas poesias, traduções de poetas estrangeiros, as quais denominava de moedas falsas, não o seduziam publicá-las, exceção abertas à prosa. Embora exaltado, brigador, de temperamento forte, era civilizado no trato com as pessoas, conquanto não poupasse críticas a elas, quando merecessem. Por isso inimigos fez, aos magotes. Também era um reformador de costumes. Nada complacente com a falta de ética e a moral. Seu empregador, Dr. Ernesto Simões Filho, certa feita, pediu moderação e alívio, ao jornalista para seus criticados na coluna sob a sua responsabilidade: Tabuleiro da Baiana. Não atendido, censurou-o. Irreverente, insubmisso, incapaz de ver-se nesse estado de subjugação Sílvio deu-lhe às costas. Abandonou o amigo e o jornal.
Seus outros irmãos eram: Margarida, Marçal Afonso, Luiz José, aqui presente, Maria das Graças, Arnoldo José, Maria José (Zelita), José e Antônio José.
Gênio, Sílvio aprendeu a ler precocemente. Praticamente sozinho. Manuseando jornais e o livro Teatro da Oposição, de Timon (Manços Chastinet).
Seu curso primário foi concluído em etapas. Primeiro, no Colégio São Bento, depois, em casa, sob a mestria de professores particulares.
Em 1930 ingressou no Ginásio Nossa Senhora da Vitória, colégio dos Irmãos Maristas, onde concluiu o curso ginasial com notas altíssimas, para pasmo, estupefação dos seus mestres. Foi nesse estabelecimento que começou a sua saga literária. Na revista “Farol”, patrocinada pelo colégio, deu lume aos seus primeiros trabalhos literários.
Por vocação à causa da Justiça, prestou vestibular para ingressar na Faculdade de Direito. Essa tendência está expressa neste famoso soneto de sua autoria:
JUSTIÇA
Justiça, Deusa a quem rendi meu culto
a vida inteira e hei de render ainda,
consola a minha dor, deidade linda,
afoga na garganta este singulto!...
Quando a primeira vez teu claro vulto
encheu-me os olhos - claridade infinda -
eu fiquei cego de paixão. O insulto
sofri por ti e hei de sofrer ainda.
Minha terra, porém já não te quer.
Ó Bahia infeliz que assim desprezas
os carinhos da Deusa tão mulher!...
Ó justiça! Afinal porque, Rainha.
O teu favor com desfavor revezas?...
Amo-te tanto e nunca foste minha!
Desde o ano, 1935, quando entrou na faculdade, até a sua diplomação em 11 de dezembro de 1939, sua passagem pela vetusta escola se constituiu em controvérsia e polêmica. Seu caráter independente, sua inteligência palpitante e petulante, acima das dos seus contemporâneos, mestres e colegas, não o deixavam sossegar, aquietar-se. Era uma chama acesa o tempo todo. Por isso mesmo, por estar sobre a mediocridade e a medianidade, quase terminou expulso da escola, no limiar da formatura.
Deu origem a esse incidente um seu trabalho em que traçava o perfil dos colegas, em quadras, e dos professores, em sonetos. Tais versos, acres e satíricos, próprios a vestir cada um dos perfilados com andrajos tecidos com os fios da crueldade, deu azo para que a vaidade deles se desmoronasse, desabasse como construção malfeita, sem alicerces sólidos e exigisse da congregação o desligamento do tempestuoso aluno. Felizmente o bom senso venceu. Ele se formou.
Nas quadras, aqui, parcimoniosamente apresentadas, assim ele retratou alguns colegas:
Celina copia tudo
quanto na aula se diz
até essa frase de Orlando: (Gomes)
- Emigdio, traga o giz.
***
Ó’Dwyer ama o esporte (Newton)
é mesmo craque na bola.
Por não precisar (ele é forte)
jamais usou a cachola.
***
Foi ao cinema o Coqueijo (Carlos Coqueijo Costa)
e deu-se um fato esquisito:
Poppeye lhe enviou um beijo
julgando-o Olívia Palito.
***
Sólon Nelson Guimarães
- Oh! minha pena, não
é o engenheiro das leis
e o bacharel dos teoremas.
***
Quando me chamam de feio (Ruy Facó)
Blatero, escabujo, grito:
- Sou Ruy Facó, pelo menos
Maria me acha bonito.
Em sonetos, com rima rica e métricas exemplares escarneceu os seus mestres. Eis alguns deles:
Ó! Velha Faculdade, os teus umbrais (Augusto Alexandre Machado)
penetrei, faz um lustro, temeroso.
Vinha plantar meus nobres ideais
à sombra do teu nome glorioso.
Calouro, ainda, estremeci de gozo
prelibando os arroubos magistrais
da eloquência dos mestres...Ansioso,
ouvi Machado falar... Era demais!
“No que tange ao salário, Marx quer...
E, “mutatis mutandis”, Beaulieu...
Bimetelismo “sui-generis”... Chômeur...
Ó! Grande professor perfunctório!
Eu sou grato, gratíssimo a você,
Imortal inventor do bolodório!...
***
Vulto saído de um afresco (Albérico Fraga)
papudo anjinho, “baby” rosicler,
como te invejo, meu risonho amigo
a vida para ti é de colher...
Partidário feliz do “laisser faire”,
não te esforças jamais. Estou contigo.
Tudo vai bem se eu não correr perigo,
como dizia o cínico Voltaire.
Com esse sistema (o mais inteligente)
tu passas bem sobre a terráquea bola.
Estudar?... Para quê?... Estraga a gente.
Pensar é coisa que te dá vertigens;
nunca tiraste nada da cachola,
ó! sultão de onze mil idéias virgens!
***
No meio desse grupo tenebroso (Rogério de Farias)
que a gente chama de Congregação
existe um jovial Mané-Gostoso,
inofensivo, tolo e bonachão.
Vive a cantar chalaças de balcão;
se alguém sorri, fica a babar de gozo...
Talvez se julgue emérito campeão
da ironia sutil, do tom gracioso...
Mas, na verdade, que sujeito insosso!
Às suas piadas duras de roer,
são como frutas que só tem caroço.
Outro dia sonhei que ele morreu;
entrou no céu, e ouvi Jesus dizer:
Pobre de espírito, este Reino é teu.
***
Deixei para o fim este mimoso intruso. (Orlando Gomes)
É uma das cousas que mais me atormentam:
acho um tremendo e vergonhoso abuso
vê-lo sentar onde só mestres sentam.
Ele é dos tais que todo dia enfrentam
mais de uma hora o espelho. Assim deduzo
dos trajes brancos que tão bem lhe assentam
como o perfume bom de que faz uso...
Mas tudo isso eu lhe perdôo sem dor;
não me incomoda nada o seu trajar,
o que me irrita é vê-lo professor.
Eu penso que o Orlandinho-caradura
errou de porta: ele deveria estar
numa Escola de Corte e Alta Costura.
EM TEMPO
Não se zangue comigo isso é pilhéria...
Se ando dizendo desaforo a rodo,
É p’ra esconder esta verdade séria:
Por vós, Orlando, “yo me rompo todo”.
Tais irreverencias e cruezas se estenderam até aos irmãos. Para cada um deles Silvio fez um soneto. Reporto o dedicado a Magno:
Não come carne: é bicho vegetante.
(eu acho que capim é vegetal…)
Parece um verdureiro militante
bronco filho do espesso Portugal.
Ruduzido ao sistema decimal
é quantidade quase inoperante…
Infalível, metódico pontual
recorda um logaritimo ambulante.
Sistema Müller, Gandhi, naturismo,
O cálculo integral e o integralismo
Einstein, e a quadradura humana:
Método “iogui”, Celina tereré,
Larousse, Abbé Moreux, “quanta” banana…
E o Souvenir Drdla é ópera ou não é?
Não menos azedo e impróprio é o dedicado a Luiz:
Arcabouço possante de esqueleto,
carão avermelhado, andar mecânico;
tem o formato essencialmente orgánico
de um churrasco espetado num graveto
Cabeça colosal (é hiper crânio),
Vasto solar abandonado e quieto
onde reside apenas um quarteto:
Marinha, crawl, xadrez e humor británico.
Tem biblioteca mas é pouco vasta,
“Nadando o crawl” e Acerca da Batalha
Naval da Jutlândia: eis quanto basta.
Faz graças: ninguém ri… não se atrapalha:
no silêncio impiedoso outra desfecha
e, descaradamente, apanha a flecha…
Concluída sua fase de formação acadêmica, Sílvio Valente, ingressa na Magistratura. Vale registrar, por concurso. Tendo sido Pretor de Camamu entre 09.12.1941 a 31.03.1943. Quando exonerado, a seu pedido, passa a exercer o magistério, lecionando Português e Francês no Colégio Central (Colégio Estadual da Bahia), em Salvador. Oportunidade em que, “rompe com a tradição milenária do método paripatético-bolonhês da aula discursiva. Desde Aristóteles, até a criação da Universidade de Bolonha, em 1088, o ensino era ambulante. A partir de Bolonha, os alunos passaram a ouvir sentados, com pouca ou nenhuma participação, método ainda vigorante, com a exceção dos inconformistas redentores”. Sílvio tira os seus alunos da condição de meros ouvintes, daquela passividade que o incomodava, e os torna partícipes de suas aulas. Induzindo-os a questioná-lo. A discutir com ele sobre os temas abordados. Leva-os à leitura extraclasse. Obrigando-os a interpretar o texto lido. A conceituar o autor, a traçar o perfil psicológico das suas personagens. Tudo isso, feito com muito humor, irreverência, competência, o que o fez cair nas graças do alunado e elevar o seu conceito entre os seus pares.
A par das suas atividades didáticas Sílvio começou a colaborar em jornais e revistas, produzindo para esses órgãos artigos de crítica literária, sátiras em verso, prosas políticas, sempre rezingando com figuras conhecidas da sociedade baiana e brasileira. Em 1947, já considerado como um dos nomes mais altos do nosso jornalismo, ganha do Dr. Ernesto Simões Filho uma coluna diária no jornal A Tarde, à qual dá o sugestivo nome de “Tabuleiro da Bahiana”, onde vê seu prestígio crescer e aumentar o número de seus leitores, admiradores e inimigos. Escreveu-a, inicialmente adotando o pseudônimo de Bernardo Só, inspirado em Bernard Shaw, autor de Pigmalion. Posteriormente o de Pepino Longo, em contraposição a Pepino Breve, na verdade Pepino moço, que virou breve por erro de tradução. Primeiro rei corolíngeo. Quando matou Bernardo, deu a seguinte explicação: “Temos uma triste notícia para os nossos leitores: Bernardo Só morreu. Era um amigo, um irmão quase, e as palavras não poderiam dizer o que sentimos. Continuando, por um compromisso de honra, assumido em seu leito de morte, a secção que ele criou e honrou neste jornal, queremos oferecer, a quantos o liam a última centelha daquele espírito sempre moço: o epitáfio que compôs nos últimos instantes e desejou gravado no túmulo modesto. E durma em paz o lidador sereno!
Aqui jaz esperando ser pó,
o cadáver de alguém que fui eu.
Foi feliz; foi Bernardo; foi Só;
mas foi ler Isaias: morreu. (Isaias Alves)
A fixação por fazer epitáfio, em vida, irreverentes, chistosos, de pessoas influentes na nossa vida pública, era-lhe irreversível. São deles:
Reitor austero e imponente, (Edgard Santos)
teve um prestígio mirífico.
Desce o caixão, lentamente,
E um verme diz: Magnífico!
Aqui jaz sob a lousa fria, (Otávio Mangabeira)
porque tudo no mundo se acaba.
Vai fazer muita falta à Bahia,
Mas os vermes dirão: - Que mangaba! -
De uma caixa de charuto (Anísio Teixeira)
Fizeram-lhe um bom caixão,
e ao vê-lo tão diminuto,
gritou um verme: - Osso não! -
Não houve nesta terra quem escapasse das suas chacotas. Na sua coluna de 10 de maio de 1947, contou o seguinte fato: “Era um caso desesperado. O examinador, que tanta ignorância irritara, pediu: - Diga-me quatro asneiras e estará passado. E o aluno, com admirável precisão, respondeu - Isaias (Alves), (Pinto) Aleixo, Demétrio (Tourinho), Moacir.
Este era o seu nome: e passou.
Por conta dessas diatribes, contadas, medidas e pesadas, os inimigos vieram-lhe à socapa. Outros atingidos, que diziam não se importar com aquelas farpas, no íntimo, guardaram dele ressentimentos e mágoas. Enquanto isso, o povo o aplaudia, o reverenciava.
Para efetivar-se como professor de Português no colégio estadual, onde ensinava, submeteu-se a concurso público, em 1949. E, perante a banca examinadora, que o avaliava, além de demonstrar seu profundo conhecimento acerca da matéria que o arguiam, foi além. Mostrou incomum domínio das línguas Grega, Latina, Francesa, Espanhola, Italiana, Alemã. Resultado, foi aprovado em primeiro lugar, com louvor.
Desse interesse desmedido de Sílvio pelos idiomas neolatinos, dele recebemos, como herança, preciosidades. Suas traduções para a nossa língua, de um grande número de versos dos maiores autores espanhóis, franceses e italianos. Da sua pena, também, saiu a versão, para o idioma de Rousseau, do poema de Castro Alves, Navio Negreiro. Além dos seus magníficos versos compostos em francês: Chanson Folle, L’Impossible, Choix, Méditation, Noël, dentre muitos.
Sei que me alongo, tornando-me até cansativo. Porém, pergunto: não faria o mesmo um francês se falasse de Racine, Molière, La Fontaine, Chateaubriand, Vitor Hugo, Honoré de Balzac? Um inglês, se se dispusesse a discorrer sobre Shakespeare, Milton? Um espanhol, sobre Cervantes? Um português sobre Camões?
Para que não façam pouco caso de mim, para que não deixem escapar dos seus lábios risotas escarninhas por ombrear Sílvio Valente a Castro Alves e a esses gênios da humanidade que citei, para confirmar o que tudo dele penso, e que por certo assombra a quantos não o conheceram, escolhi, para pôr termo a este texto, duas das suas produções, entre incontáveis, que dizem da sua grandeza, do seu talento, da sua genialidade, as quais corroboram a minha assertiva. Na primeira, Balada das Horas Mortas, ele mostra todo o seu lirismo. Despetala rosas, querendo impregnar o seu canto com o perfume doce da flor. Na Balada de D. Quixote, desnuda-se. Diz de si. Fala dos seus sonhos, das suas ambições, do seu inquebrantável amor à justiça.
Não foi à toa que Machado de Assis, nosso grande mestre, disse: “Não é raro andarem separadas estas duas qualidades da poesia: a forma e o estro. Os verdadeiros poetas são as que têm ambas”. E Silvio Valente as tinha de sobra.
Sem mais delongas, eis os cantos:
BALADA DAS HORAS MORTAS
Oh! doce amada, vai bem alta a noite,
Já todos dormem, mas eu velo ainda,
Fugiu-me o sono e embora o vento açoite
cortante e frio, espero a tua vinda.
Louca esperança - muito louca e linda
de alguém que sonha e que a sonhar se finda.
Julgando ouvir a melodia infinda
- tão bela e pura - dessa voz que é tua!
Julgando ver a tua imagem linda
nas horas mortas, contemplando a lua.
Vibro o meu canto sem que a dor esconda,
pedindo à noite uma consolação.
E, lentamente, vai passando a ronda
num martelar de cascos pelo chão...
A noite é indiferente e fria, não
pode a dor de um coração.
E desfeita em soluços e canção,
há uma mágoa sutil que em mim flutua.
E eu fico imerso na desilusão
nas horas mortas, contemplando a lua.
Dentro da Noite ladra um cão vadio...
Eu fito o céu: um constelado encanto,
Olho as estrelas: lacrimário frio,
gotas de luz de milenário pranto,
zombam de mim, ironizam meu canto...
Somente o luar que é piedoso e santo
tem para mim, doçuras de acalanto.
E, ante a dor que no meu peito estua,
são soluços os versos que eu descanto
nas horas mortas, contemplando a lua.
OBLATA
Princesa esquiva de olhar tão brando
Aceita os versos que a balada é tua:
tu a inspiraste e eu a fiz chorando
nas horas mortas, contemplando a lua!
***
BALADA DE D. QUIXOTE
Em minhas veias corre o sangue quente
da nobre raça que despreza a morte.
Eu dou combate sem cessar ardente
dos homens maus a infernal coorte.
É meu destino, com a lança em riste
fazer justiça onde só mal existe.
Tenho um amigo, apenas Sancho Pança;
e um cavalo fiel, o Rocinante.
eu sou Quixote, o Cavaleiro Errante.
Eu sou aquele que jamais descansa
Percorro o mundo minorando as dores
dos oprimidos que suplicam em vão.
Defendo os servos contra os maus senhores
salvo donzelas da profanação.
Tudo que é nobre, generoso e puro
encontra em mim um defensor seguro.
Entro na luta de viseira erguida.
Pelo meu rei, por minha dama, avante!
Hei de vencer e de perder a vida
eu sou Quixote, o Cavaleiro Errante.
Dizem de mim: - É um louco, tem mania
de converter e reformar o mundo.
Será possível transformar um dia
o lago azul, num lamaçal imundo?...
Sonhador, o teu sonho é milenário
Foi ele que levou Cristo ao Calvário.
Mas, cego e surdo, eu continuo na liça
não me detenho nunca um só instante.
Eu não pertenço à raça submissa
eu sou Quixote, o Cavaleiro Errante.
E a minha fé, a minha força, a idéia
que enfuna as velas ao meu sonho avante
é o claro olhar da loura Dulcinéia
que ama Quixote o Cavaleiro Errante.
LUIZ CARLOS FACÓ admirador do poeta insubmisso.
***
Por confiar numa notícia colhida na rede (internet), atribuí em um livro meu a autoria de um soneto a Júlio Dantas, sendo o belo poema de Sílvio Valente! Começa assim: "Amo o soneto porque é molde antigo / para dizer as coisas sempre novas; (...) Vou corrigir o equívoco na segunda edição do livro: (Maia, Luciano. Odisseia do Soneto. Fortaleza: ACL, 2021
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