terça-feira, 11 de dezembro de 2012

OSCAR NIEMEYER E SUAS GRANDES MARCAS: CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E HUMANISMO


Fernando Alcoforado*

Oscar Niemeyer é o arquiteto brasileiro que realizou inúmeras obras arquitetônicas no Brasil e no exterior e acumula grande número de prêmios internacionais que o coloca como um dos expoentes da Arquitetura mundial em todos os tempos. A obra de Niemeyer em vários países no campo da Arquitetura é reconhecida mundialmente, sendo a mais notável, sem sombra de dúvidas, a construção de Brasília que ele projetou ao lado do arquiteto Lúcio Costa. Com a construção de Brasília, Niemeyer alcançou prestígio e reconhecimento internacional ao projetar seus principais edifícios públicos e palácios, como o Congresso Nacional, os Palácios da Alvorada, da Justiça, do Planalto e dos Arcos e a Catedral, entre outros, todos eles marcados pelo arrojo estrutural e inovadores da estética arquitetônica. Morre Oscar Niemeyer, mas ele deixou três grandes marcas em sua trajetória de vida: a criatividade, a inovação e o humanismo.
A criatividade envolve pessoas muito especiais e talentos extraordinários. Muitas pessoas associam criatividade com as obras de arte, o progresso da ciência e as grandes invenções. Pensam, geralmente, em grandes expoentes da humanidade como Leonardo da Vinci, Mozart, Einstein, Picasso, Santos Dumont, Henry Ford e Steve Jobs, entre outros. Oscar Niemeyer pode ser incluído também como grande expoente da Arquitetura do século XX com as grandes obras arquitetônicas que legou às gerações futuras em todo o mundo. Os conceitos de criatividade e inovação são indissociáveis. A criatividade surge em um piscar de olhos, instantaneamente, e a inovação perdura e realiza-se ao longo do tempo. Esta é a diferença entre inspiração e transpiração, a concepção e a execução. A concepção de Brasília na prancheta de Niemeyer resultou na execução de Brasília. Normalmente a criatividade é um processo individual, nasce da ideia que surge na cabeça de alguém, enquanto a inovação é um processo coletivo, que deve ser trabalhado em grupo. Os vários projetos de Niemeyer, por exemplo, surgiram de sua inteligência privilegiada, de sua criatividade, e a inovação resultou do trabalho de engenheiros e operários que transformaram seus projetos em realidade.
Não existe inovação sem criatividade, pois a inovação é a aplicação prática da criatividade, ou seja, uma ideia resultante de um processo criativo, só passará a ser considerada uma inovação, caso seja realmente aplicada, caso contrário é considerada apenas uma invenção. Neste sentido, Oscar Niemeyer foi mais do que um inventor, sendo também um inovador. A criatividade está associada à originalidade e à imaginação que foram traços marcantes da personalidade de Niemeyer. A imaginação é colocada na base da criação artística, como mediadora entre o real e o sonho, a fantasia. Ela permite estabelecer relações entre o mundo dos sentidos e a obra de arte como fez Niemeyer durante sua trajetória de vida como arquiteto. A relação entre o real de sua obra monumental e a fantasia é muito bem expressa na frase de Niemeyer quando afirmou que "o que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que no encontro sinuoso dos nossos rios, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curva é feito todo o universo. O universo curvo de Einstein”. A criatividade de Oscar Niemeyer em seus projetos colocava também como exigência a criatividade de engenheiros calculistas e de empresas de engenharia na execução de suas obras arquitetônicas.
É de conhecimento geral de que Niemeyer e o Engenheiro Joaquim Cardozo fizeram uma grande parceria entre o arquiteto e o engenheiro.  Quem olha para os edifícios e monumentos de Brasília lembra-se logo de Oscar Niemeyer, arquiteto que criou os desenhos que deram origem a um dos urbanismos mais arrojados do mundo. Muitos admiradores não pensam, no entanto, que alguns dos prédios mais impressionantes de Brasília não existiriam sem a competência dos engenheiros que aceitaram os desafios propostos pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Os cálculos de Joaquim Cardozo ajudaram a erguer a Catedral Metropolitana, o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, entre outras obras projetadas por Niemeyer. Niemeyer fazia os projetos e seus engenheiros utilizava a ciência na sua concretização. Niemeyer fez inúmeros projetos inovadores que estimularam os engenheiros a realizar cálculos e processos construtivos também inovadores. Foi uma verdadeira escola de engenharia que se formou em torno de Oscar Niemeyer, encontrando no Engenheiro Joaquim Cardozo e em outros profissionais a ajuda para erguer estruturas altamente complexas (Ver o artigo Especialistas relembram colaboração que ajudou a erguer monumentos como o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional disponível no website <http://ultimosegundo.ig.com.br/cultura/2012-12-06/niemeyer-e-joaquim-cardozo-uma-parceria-magica-entre-arquiteto-e-engenheiro.html>).
Apesar da obra genial, extremamente criativa de Oscar Niemayer, ele se destacou também pela postura humanista. É dele a frase de que “o mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar”. Ideologicamente, Niemeyer era comunista, isto é, partidário de uma sociedade sem exploradores e explorados. Ressalte-se que o humanismo é um comportamento ou uma atitude que exalta o gênero humano. Pode-se afirmar que o humanismo busca a transcendência do ser humano como espécie. Trata-se de uma doutrina antropocêntrica em que o homem é a medida de todas as coisas. A organização social, como tal, deve desenvolver-se a partir do bem-estar humano que era primordial para Oscar Niemeyer. Ressalte-se que a corrente humanista opõe-se ao teocentrismo medieval, onde Deus era o centro da vida. Ainda contrariamente às doutrinas religiosas, o humanismo faz do homem um objeto de fé, ao passo que, outrora, a fé era patrimônio de Deus.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) ofereceu no dia 6/12/2012 em Paris um tributo ao arquiteto Oscar Niemeyer, afirmando que se trata de um "artista universal" e "um imenso humanista" (Ver o texto sob o título A Unesco rende tributo a Niemeyer, um 'artista universal' e 'imenso humanista', disponível no website <http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI6359502-EI294,00-Unesco+rende+tributo+a+Niemeyer+um+artista+universal+e+imenso+humanista.html>. Para a Unesco, Niemeyer foi, além de "fundador da arquitetura moderna", um "fervoroso defensor da humanidade", declarou a diretora-geral da Unesco, Irina Bokova, em um comunicado no qual saudou a memória do arquiteto brasileiro, falecido em 5/12/2012 aos 104 anos no Rio de Janeiro. Segundo Bokova, Niemeyer "atravessou o século e merece o título de artista universal", lembrando que uma de suas obras-primas, Brasília, foi inscrita no Patrimônio Mundial da Unesco em 1987.
A Unesco destacou, em particular, o compromisso de Niemeyer, "convencido de que a arquitetura, antes de ser uma das belas artes, deve contribuir concretamente para se viver melhor na cidade", assim como sua vontade de "encarnar valores de inclusão, solidariedade e cooperação". A luta política é uma das questões que sempre marcaram a vida e obra de Oscar Niemeyer. Em 1945, já um arquiteto conhecido, filiou-se ao Partido Comiunista Brasileiro (PCB). Durante alguns anos da ditadura militar do Brasil, autoexilou-se na França. Para Niemeyer, a Arquitetura era seu jeito de expressar seus ideais: ser simples, criar um mundo igualitário para todos, olhar as pessoas com otimismo. Ele dizia que não queria nada além da felicidade geral. Tinha fama de ser desapegado ao dinheiro e pródigo ao ter doado diversos projetos e não ter acumulado fortuna. Que o exemplo da vida de Niemeyer seja sempre lembrado.
*Fernando Alcoforado, 72, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998),  Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.

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