Publicação lançada por enfermeira norte-americana,
que lida com doentes terminais, conta que excesso de trabalho e distância de
amigos está entre arrependimentos dos pacientes
Matéria publicada no Estado de Minas
Publicação: 31/01/2012 11:13. Atualização: 01/02/2012 13:36
"Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros. Não tentaria ser tão perfeito,
relaxaria mais. Seria mais tolo ainda, do que já tenho sido; na verdade, bem
poucas coisas levaria a sério. Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria
mais rios. Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos
lentilha, teria mais problemas reais e menos imaginários. Eu fui uma dessas
pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto da sua vida. Claro que
tive momentos de alegria. Mas, seu eu pudesse voltar a viver, trataria de ter
somente bons momentos(... ) Isso se tivesse outra vida pela frente, mas como
sabem tenho 85 anos e estou morrendo".
Este é um trecho do livro de Rubem Alves onde ele parafraseia Jorge Luís Borges. Uma obra que retrata os arrependimentos de quem está à beira da morte, o mesmo assunto abordado em "The top five regrets of the dying" (Os cinco principais arrependimentos de pacientes terminais. A autora, Bronnie Ware, é enfermeira com longa experiência em cuidados com doentes terminais.
Em seu site oficial, a escritora explica que, com base na sabedoria compartilhada por pacientes terminais, ela consegue contar sua história pessoal e explica como teve a vida transformada por meio da tristeza das pessoas que morriam à sua volta. Os principais arrependimentos listados no livro são:
1. Eu gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim;
2. Eu gostaria de não ter trabalhado tanto;
3. Eu gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos;
4. Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos;
5. Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz.
Para a geriatra Ana Cláudia Arantes, médica especialista em cuidados paliativos do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, é comum que os pacientes revejam os caminhos traçados ao longo dos anos quando sabem que a morte é uma realidade próxima. Sobre o primeiro item da lista "Eu gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim" a médica destaca que é um sentimento muito frequente nessa fase. "É como se, agora, pudessem entender que fizeram escolhas pelas outras pessoas e não por si mesmas. Na verdade, é uma atitude comum durante a vida. No geral, acabamos fazendo isso porque queremos ser amados e aceitos. O problema é quando deixamos de fazer as nossas próprias escolhas”, explica a médica.
No segundo item da lista aparece a lamentação "Eu gostaria de não ter trabalhado tanto" . De acordo com a geriatra, essa sensação não acontece somente com os doentes, pois a vida moderna exige muito trabalho de todo mundo. “Mas o mais grave é quando se trabalha em algo que não se gosta. Quando a pessoa ganha dinheiro, mas é infeliz no dia a dia, sacrifica o que não volta mais: o tempo, e este sentimento fica mais grave no fim da vida porque as pessoas sentem que não têm mais esse tempo, por exemplo, pra pedir demissão e recomeçar”, argumenta.
Já o terceiro item da lista vem "Eu gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos". Segundo a especialista, esse sentimento aparece porque quanto mais próximas da morte, mais as pessoas tendem a ficar mais sinceras e assumir o que sentem . “À medida que uma doença vai avançando, não é raro escutar que a pessoa fica mais carinhosa, mais doce. A doença tira a sombra da defesa, da proteção de si mesmo, da vingança. No fim, as pessoas percebem que essas coisas nem sempre foram necessárias e ainda, a maior parte das pessoas não quer ser esquecida, quer ser lembrada por coisas boas. Nesses momentos finais querem dizer que amam, que gostam, querem pedir desculpas e, principalmente, querem sentir-se amadas. Quando se dão conta da falta de tempo, querem dizer coisas boas para as pessoas”, explica a médica.
O quarto item da lista é um arrependimento que poderia ser evitado talvez se não fosse a falta de tempo "Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos". Isso também porque nem todas as pessoas têm boas relações com familiares e os amigos ajudam a ocupar este espaço. Até acontece de existir nessas relações familiares a culpa ou outros problemas. " Por isso, quando se tem pouco tempo de vida, muitas vezes o paciente quer preencher a cabeça e o tempo com coisas significativas e especiais, como os momentos com os amigos e dependendo da doença, existe grande mudança da aparência corporal. Muitos não querem receber visitas e demonstrar fraquezas e fragilidades. Nesse momento, precisam sentir que não vão ser julgados e essa sensação remete aos amigos”, afirma.
E o último item listado no livro é "Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz". Para a médica esse arrependimento é uma conseqüência das outras escolhas. É um resumo dos outros quatro para alguém que abriu mão da própria felicidade em nome do trabalho e da falta de tempo, do orgulho e da vergonha. “Não é uma questão de ser egoísta, mas é importante para as pessoas ter um compromisso com a realização do que elas são e do que elas podem ser. Precisam descobrir do que são capazes, o seu papel no mundo e nas relações. A pessoa realizada se faz feliz e faz as pessoas que estão ao seu lado felizes também”, explica.
“A minha experiência mostra que esse arrependimento é muito mais dolorido entre as pessoas que tiveram chance de mudar alguma coisa. As pessoas que não tiveram tantos recursos disponíveis durante a vida e que precisaram lutar muito para viver, com pouca escolha, por exemplo, muitas vezes se desligam achando-se mais completas, mais em paz por terem realmente feito o melhor que podiam fazer. Para quem teve oportunidade de fazer diferente e não fez, geralmente é bem mais sofrido do ponto de vista existencial”, alerta.
A especialista ainda dá duas dicas
1) “O que fica bastante claro quando vejo histórias como essas é que as pessoas devem refletir sobre suas escolhas enquanto têm vida e tempo para fazê-las”.
2) “Minha dica é a seguinte: se você pensa que, no futuro, pode se arrepender do que está fazendo agora, talvez não deva fazer. Faça o caminho que te entregue paz no fim. Para que no fim da vida, você possa dizer feliz: eu faria tudo de novo, exatamente do mesmo jeito”.
Dona Dalva Guerra, de 81 anos e mãe de 10 filhos é uma das raras pessoas que podem dizer isso. Ela relata que se tivesse a chance de viver novamente a sua vida repetiria todas as suas escolhas outra vez. "Eu faria tudo do mesmo jeito e não mudaria absolutamente nada até aqui."
Ela esteve à beira da morte aos 40 anos quando deu à luz um de seus 10 filhos. O médico disse que ela teria somente mais 15 dias de vida, mas ela não tem "guerra" somente como sobrenome e mesmo sem memória e sofrendo paralisia no lado esquerdo do corpo, ela se mostrou guerreira e, agora, vencedora e muita feliz. "O meu conselho para uma vida feliz e sem arrependimentos é que você seja sempre sincero, nunca humilhe ninguém, tenha amigos, mas seja bom amigo e, por fim, tenha fé em Deus".
Estudos confirmam o desejo de ser amado
Os itens 1, 3 e 5 da lista de arrependimentos poderia ser removida, caso as pessoas aprendessem a controlar a insegurança em relação ao amor. Em geral, o sentimento de que não é amado ou aceito contamina muito rápido uma pessoa, mesmo em se tratando de acontecimentos cotidianos e corriqueiros. Com esta insegurança as decisões são tomados tendo por base a opinião alheia.
Ninguém gosta de se sentir deixado de fora, e um novo estudo mostra que até mesmo ser ignorado por um estranho dói. O estudo, publicado na revista Psychological Science, baseia-se na idéia de que as pessoas precisam se sentir conectados para se sentirem felizes, e estão sempre em busca dessa conexão. Por exemplo, uma pessoa pode ser afetada negativamente mesmo quando um estranho não reconhece a sua presença, disseram os pesquisadores.
Para testar essa idéia, pesquisadores da Purdue University, Ohio University e da Universidad Nacional de Mar del Plata, na Argentina realizaram um estudo fazendo contato visual com o que envolveu transeuntes. E o resultado foi que as pessoas que não eram "olhadas" pelos observadores, depois de questionadas, haviam se sentido inferior e rejeitadas. Isso prova que a tendência é tomar as decisões com vista nos outros, daí o excesso de trabalho, a preocupação com o status, a vergonha o medo, dentre outros.
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