A PRIMEIRA SANTA BAIANA
Texto de Salvador de Ávila,
extraído do livro “Bahia de Mil Encantos”
Figura das mais curiosas
pela vida edificante que levou, pela sua humildade, e pelo seu grande amor a
Deus, foi Madre Vitória da Encarnação. Filha do Capitão de Infantaria
Bartolomeu Nabo Correia e D. Luísa Bixarxe, Vitória foi um dos cinco filhos do
casal.
Desde a infância, revelou
a maior inclinação pelas coisas de Deus. Nasceu a seis de março de 1661, e
dotada de grande beleza, rejeitou mais de uma vez pedidos de casamento, dizendo
sempre, quando lhe tocavam nesse assunto, que preferiria morrer a deixar de
seguir a sua verdadeira vocação, que era a vida monástica. Juntamente com uma
sua irmã, ingressa para o convento de Santa Clara (Desterro), onde tomou hábito
em 29 de setembro de 1686.
O noviciado foi feito,
dando exemplo de verdadeira humildade e abandono às coisas do mundo. Era comum
sair do refeitório com o seu prato de alimento (intocado) e dar a sua refeição
ao cão de guarda do convento. Certa feita, ao ser ofendida com palavras
grosseiras por parte de outra freira, teria dito com grande humildade: “Vá,
minha irmã, vá adiante, ainda não disse tudo”.
Tão grande era sua vontade
de santificação, que todas as sextas-feiras da Quaresma, corria os Passos da
Paixão, inventando sempre uma nova maneira de mortificação. Em um desses dias,
(per)correu os quadros da Via Sacra, tendo atravessado na boca um osso da perna
de um defunto em estado de putrefação. Outras vezes fazia a Via Sacra
carregando às costas uma pesada cruz. Era muitas vezes alvo das chacotas das
negras escravas do convento, chegando, certa feita, a ser esbofeteada por uma
delas.
A respeito de Madre
Vitória, o grande Arcebispo da Bahia, D. Sebastião Monteiro da Vide escreveu um
livro intitulado “História da vida e da morte de Madre Vitória da Encarnação,
religiosa professa no convento Santa Clara do Desterro da Cidade da Bahia”,
livro publicado em Roma, no ano de 1720. O historiador Pedro Calmon, em seu
livro Figura de Azulejo, assim se refere a Madre Vitória: “Fora bonita,
inteligente, inquieta; pois se fez estúpida, lerda e feia como uma escrava
boçal. Ambicionou todas as dores, numa gula de sacrifício, que a uns edificava,
a outros enchia de horror. Fugia ao ser vista. Fingia-se de sombra. Pedia às
irmãs de hábito a graça de servir como escrava a todas. Não lhe consentiam e
lhe advertiam muitas vezes: Soror Vitória, cuidai de vós... Exagerais, irmã!”
Morreu madre Vitória com
fama de Santidade, aos 19 de julho de 1715, estando os seus restos mortais
sepultados no convento do Desterro. Assim é a Bahia, tem também a sua santa.
NR/ Atribuem-se a madre Vitória inúmeros milagres. Contudo,
sua beatificação jamais ocorreu, quiçá pela fama adquirida entre as próprias
colegas de irmandade que a consideravam exagerada. Talvez por inveja, talvez
por ignorância. Mas, pelo clamor popular foi uma verdadeira santa. Vox populi,
Vox Dei!
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