Texto extraído do livro “Bahia de Mil Encantos”, de
autoria de Salvador de Ávila, historiador, professor e sociólogo.
A pacata cidade do Salvador, nos fins da primeira
metade do século XIX, foi abalada com um crime que passou à história com o curioso título de
“O crime da bala de ouro” do qual foi vítima a bela Júlia Fetal e o autor, o
talentoso professor João Estanislau da Silva Lisboa.
Júlia Fetal, moça bonita e jovem, era filha de um abastado
negociante português e de uma senhora francesa, também de nome Júlia Fetal, a
qual, tendo enviuvado, , procurou dar aos cinco filhos uma educação aprimorada.
A filha, que tivera o mesmo nome seu, nascera a três de fevereiro de 1827.
Procurando dar à filha uma educação esmerada, veio D. Júlia contratar os
serviços de um jovem professor de nome João Estanislau da Silva Lisboa, cidadão
nascido na Índia, porém filho de pai português e mãe inglesa. Radicando-se aqui
na Bahia, o jovem João Estanislau matriculou-se na primeira turma do Liceu
Provincial, onde veio a bacharelar-se. Contratado para lecionar á bela Júlia
Fetal, aconteceu o imprevisto: entre professor e aluna surge uma mútua
simpatia, transformada em namoro e, consequentemente, em noivado.
Tudo ia as mil maravilhas, quando aparece um terceiro
personagem: o estudante de Direito da Faculdade de Olinda, Luiz Antônio Pereira
Franco, bastante rico e seu vizinho na Praça da Piedade. Entre os dois jovens
nasce uma mútua simpatia, o que vem provocar tremendo ciúme do Prof. Lisboa, o
qual rompe o noivado; e, segundo diz a tradição oral, teria mandado fazer com
as alianças uma bala de ouro, com a qual, na noite de 20 de abril de 1847,
entrando na casa da sua ex-noiva à praça
da Piedade (onde se encontrava até pouco tempo a farmácia Santana)
desfecha em pleno coração da indefesa jovem o tiro que lhe daria a morte. O
crime abalou a opinião pública, tendo sido o corpo da inditosa jovem sepultado
na igreja da Graça, onde ainda hoje se vê na lápide de sua sepultura o belo
soneto da grande poetisa baiana, Adélia de Castro, dedicado a Júlia de Fetal:
Estavas bela Júlia descansada
Na flor da juventude e formosura,
Desfrutando das carícias e ternura
Da mão que por ti era idolatrada,
A dita de por todos ser amada
Gozavas sem prever tua alma pura
Que por mesquinho fado à sepultura
Brevemente serias transportada.
Eis que de fero algoz a destra forte
Dispara sobre ti, Júlia querida.
O fatal tiro que te deu a morte.
Dos olhos foi-te a luz amortecida
Do rosto te apagou a iníqua sorte
A branca e viva cor, com a doce vida.
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