(foi preservada a grafia original)
A BELA ADORMECIDA
A
alma levada longe, e todavia
Presente,
e presa do segredo, anima,
Espira
a rosa de opulento clima,
Flor
viva, aroma novo, aura macia.
Desejo
franze o beijo, e se inebria;
Abraço
iluso preme e tem por cima
Um
corpo alheio – na delícia prima
De
oculta flama que se nega ao Dia.
Entrevencido
e surpreso, adivinha
O
ser profundo a vertigem da vida,
Fruto
suspenso da secreta vinha…
Forma
acesa de amor adormecida!
Para
a primícia de um mistério antigo,
Um
deus solerte quis dormir contigo.
SEXTINA DA VÉSPERA
Um
pensamento parte
Confluente
da tarde
–
Banho de ouro em que a Rosa
Abre
um ventre divino
À
cadência amorosa
Do
tempo e do destino.
Um
só – tempo e destino,
Ambos
em toda a parte:
Noite
inquieta, amorosa
Manhã,
morosa tarde…
Tempo
– sono divino!
Destino
– sonho… Rosa!
Sonho
da tarde – Rosa!
Não
lhe diz o destino
O
que o tempo, divino,
Esquece
em toda a parte;
Só
lhe murmura a tarde
A
delícia amorosa…
Vibra
a luz amorosa,
Anima,
aviva a Rosa
–
Excelência da tarde,
Surpresa
do destino,
Em
que ventura é parte
Sem
o tempo – divino.
Tarde
– rubor divino!
A
luz tomba amorosa,
Toda
se dá, se parte,
Esplendor
cor-de-rosa…
Idéia
do destino
Em
que se perde a tarde!
Urge,
refulge a tarde,
Que
acende o céu divino
Entre
o tempo e o destino…
A
cadência amorosa
Da
luz inflama a Rosa
–
Rosa de toda a parte!
Américo de Queiroz Facó (Beberibe,
21 de outubro de1885 — Rio de Janeiro,3 de janeiro
de 1953) foi um poeta
e jornalista
cearense,
viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Publicou poemas em vários
períodicos de seu tempo, como o Jornal do Ceará e o Álbum Imperial,
de São Paulo.
Era filho de Gustavo Francisco de Queiroz Facó,
primeiro subdelegado de Beberibe, e de Maria Francisca de Queirós Facó. Foi batizado na matriz de Beberibe pelo pároco, o padre Francisco Ribeiro
Bessa, em 1dejaneiro
de 1886.
Considerado pela crítica literária como surrealista,
seus primeiros versos (em torno de 60 poemas) foram publicados no periódico Jornal
do Ceará, de Fortaleza, entre 1907 e 1908. Lá publicou também artigos
políticos de oposição ao governo de Nogueira Acioly ("um dos mais poderosos oligarcas do
Norte", segundo Edigar de Alencar). Por causa desses artigos, em "21
de dezembro de 1908, dois ou três soldados da polícia à paisana deram violenta
surra no poeta nas imediações da Praça Marquês do Herval", segundo afirma
Gustavo Barroso, que diz ainda que "salvou-lhe talvez a vida a intervenção
do Capitão do Exército Castelo Branco, morador na casa da esquina, atraído
pelos seus gritos".
Em 1910, mudou-se para o Rio de Janeiro. Em
1911, já fazia parte dos círculos literários mais importantes do páis. Sua
obra, porém, só seria publicada em livro em 1946, com Sinfonia Negra. Em
1951, publicou Poesia Perdida, renegando tudo o que produzira no Ceará.
Seus poemas revelam o cultivo da forma e das rimas raras, talvez reflexo da
leitura dos clássicos portugueses.
Foi diretor da parte literária da revista Fon-Fon.
Trabalhou no Instituto Nacional do Livro e no Senado Federal.
Foi grande amigo de Carlos Drummond
de Andrade, que dedicou a Américo Facó o
livro Claro Enigma. Em O Observador no Escritório, Drummond escreveu:
"Na casa da rua Rumânia, durante tres noites, confiei-lhe os originais do
meu livro Claro Enigma e ouvi suas opiniões de exímio versificador. Eu
'convalescia' de uma amarga experiência política [...]. Paciente e generoso,
Facó passou um mínimo de nove horas, contando as três noites seguidas, a aturar
minhas dúvidas e indecisões. Se não aceitei integralmente suas observações, a
verdade é que as três vigílias me deram ânimo a prosseguir [...]. E me fizeram
sentir a nobreza do seu espírito de autêntico homem de letras, mais preocupado
com a linguagem e seus recursos estéticos do que com a fácil vida literária das
modas e dos bares."
Segundo Vagner Camilo, no livro Drummond: da
rosa do povo à rosa das trevas, "a interlocução Facó-Drummond merece e
deve ser considerada marcante na composição do livro de 1951" (ou seja, Claro
Enigma).
A convite de Américo Facó, Drummond trabalhou na
frustrada remodelação do Departamento Nacional de Informações, antigo DIP.
A Biblioteca de Américo Facó
Após a morte do amigo, Drummond iniciou uma
campanha para que a biblioteca de Américo Facó fosse doada à Fundação
Biblioteca Nacional. A família, no entanto, optou por vender os livros. Segundo
José Mindlin, eles foram comprados por Libano Calil, proprietário da Livraria Calil Antiquária, o
sebo mais antigo de São Paulo.
A venda dos livros provocou, na época, grande
discussão na imprensa. A Fundação Casa de
Rui Barbosa tem em seus arquivos carta de
Elda Facó Marchese, filha do Gen. Edgar Facó,
em que comenta crônica de Drummond
sobre "a dissolução da biblioteca de Américo Facó, por iniciativa de um
dos 'seus primos generais'. A signatária defende a atitude tomada pela
família".3 Nos arquivos da casa de Rui Barbosa, consta que
há anotações de Carlos Drummond de Andrade no corpo da carta.
Da carta de Elda Facó consta que:
Américo Facó, em seu testamento, constituiu seu
primo Edgard Facó como Inventariante e Testamenteiro.
Não havia no testamento autorização para doar
sua Biblioteca, e Américo deixou todos os seus bens para seus herdeiros. Edgard
Facó tinha o dever, como Inventariante e Testamenteiro, de converter os bens
deixados por Américo em dinheiro e remeter o produto aos herdeiros de Américo.
Os livros da Biblioteca foram vendidos em
Leilão, por Leiloeiro Público. Um destacado Sebo de São Paulo fez um lance pela
Biblioteca inteira, por conta e ordem do mais destacado dos Bibliófilos
paulistanos.
Com esta carta encerrou-se a polêmica sobre o
importante acervo da Biblioteca de Américo Facó.
Américo era irmão da Doutora Aglaêda Facó
Ventura, professora de Teoria Literária na Universidade de Brasília.
FONTE:
WIKIPÉDIA
NR/ Américo
Facó é tio-avô do criador deste Blog.
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