terça-feira, 16 de julho de 2013

COMO CONSTRUIR UM MUNDO DE PAZ ENTRE AS NAÇÕES E DE PROGRESSO HUMANO

Fernando Alcoforado*


O Iluminismo é o nome que se dá à ideologia que foi sendo desenvolvida e incorporada
pela burguesia na Europa a partir das lutas revolucionárias do final do século XVIII
cujos temas giravam em torno da Liberdade, do Progresso e do Homem. O Iluminismo
tinha como propósito corrigir as desigualdades da sociedade e garantir os direitos

naturais do indivíduo, como a liberdade e a livre posse de bens. As origens do
Iluminismo, já se encontravam no século XVII, nos trabalhos de René Descartes, que
lançou as bases do racionalismo, como a única fonte de conhecimento.

O Iluminismo forneceu o lema da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e
Fraternidade) e fecundou-a na medida em que seus seguidores opunham-se às injustiças, à intolerância religiosa e aos privilégios do absolutismo. Na economia, o Iluminismo manifesta-se completamente contrário a qualquer intervenção do Estado na vida econômica e na defesa intransigente do trabalho livre como fonte de riqueza e da economia dirigida pelo mercado, isto é, pela lei da oferta e da procura.

Desde a Revolução Francesa até o presente momento, as promessas do Iluminismo
foram abandonadas em todo o mundo com a adoção de práticas imperialistas pelas
burguesias e pelos governos das grandes potências capitalistas a elas associados, o
desencadeamento de 3 guerras mundiais (1ª Guerra Mundial, 2ª Guerra Mundial e a
Guerra Fria), o advento do fascismo e do nazismo, a realização de intervenções
militares e o apoio a golpes de estado em vários países da periferia capitalista. O
objetivo dos pensadores iluministas, como Voltaire, Montesquieu e Rousseau, que era o da busca da felicidade humana, a rejeição das injustiças e dos privilégios foi substituído pela barbárie que caracteriza a evolução do capitalismo do século XVIII à era atual.

O capitalismo fracassou rotundamente na realização das teses iluministas desde a
Revolução Francesa, a Revolução Inglesa e a Revolução Americana. Este fracasso abriu
caminho para o advento da ideologia socialista em todo o mundo que, através das
revoluções socialistas, na Rússia em 1917, na China em 1949, em Cuba em 1959 e em
outros países se propunham a dar um passo à frente em relação ao capitalismo e ao
Iluminismo buscando o fim da exploração do homem pelo homem com o controle dos
meios de produção pelo Estado e a realização do progresso da humanidade. Ressalte-se que o Socialismo é a denominação genérica de teorias socioeconômicas, ideologias e práticas políticas que postulam a redução das desigualdades econômicas entre as classes sociais e, no futuro, sua completa abolição.

As múltiplas variantes de socialismo, como o socialismo utópico, a socialdemocracia e
o socialismo científico (socialismo marxista) e o anarquismo, partilham uma base
comum que é a transformação do sistema econômico capitalista, baseado na propriedade privada dos meios de produção, em uma nova e diferente ordem social.

Para caracterizar uma sociedade socialista, é necessário que estejam presentes a propriedade social dos meios de produção, o monopólio do comércio exterior e a planificação econômica. Uma consequência dessa transformação no longo prazo seria o fim do trabalho assalariado e a substituição do mercado por uma gestão socializada ou planejada da economia, com o objetivo de adequar a produção econômica às necessidades da população, assim chegando ao comunismo.

No entanto, o velho projeto socialista como foi construído na União Soviética e em
outros países se transformou em capitalismo de estado, com o poder político exercido
de forma despótica e corrupta por uma burguesia de tipo novo (burguesia de estado ou Nomenclatura).

O proletariado, em nome do qual foi realizada a revolução socialista
não exerceu o poder e a população não participava das decisões dos governos. A contrarrevolução mundial antissocialista que levou ao fim da União Soviética e do sistema socialista do leste europeu abriu caminho para a expansão do capitalismo para todos os quadrantes do mundo, inclusive na China que aderiu ao capitalismo para não ter o mesmo destino da ex- União Soviética.

O fatos da história demonstram que as teses iluministas que nortearam as revoluções
burguesas no século XVIII e as teses socialistas com base nas quais foram realizadas as
revoluções socialistas no século XX fracassaram porque não cumpriram suas promessas históricas de conquista da felicidade humana. Com o fracasso do capitalismo em levar avante as promessas do Iluminismo e do socialismo real na conquista do progresso humano, a humanidade se defronta na atualidade com o desafio de construir um novo projeto de sociedade para orientar sua caminhada rumo ao futuro.

É chegada a hora da humanidade se dotar o mais urgentemente possível de instrumentos necessários a ter o controle de seu destino. Para ter o controle de seu destino a humanidade precisa construir uma sociedade sustentável em cada país e em escala mundial que é aquela que satisfaz as necessidades da geração atual sem diminuir as possibilidades das gerações futuras de satisfazer as delas, bem como implantar um governo mundial que tenha capacidade de regular a economia mundial e racionalizar o uso dos recursos naturais do planeta em processo de exaustão e, desta forma, contribuir para a construção da paz mundial. Este é o único meio de sobrevivência da espécie humana.

O governo mundial teria por objetivo a defesa dos interesses gerais do planeta. Ele
trabalharia no sentido de cada Estado respeitar os direitos de cada cidadão do mundo
buscando impedir a propagação dos riscos sistêmicos mundiais de natureza econômica e ambiental. Ele evitaria o império de um só país e a anarquia de todos os países. As
crises econômica, financeira, ecológica, social, política e o desenvolvimento de
atividades ilegais e criminosas de hoje mostram a urgência de um governo mundial. É
preciso entender que o mercado mundial não pode funcionar adequadamente sem o
Estado de Direito Internacional que não pode ser aplicado e respeitado sem a presença
de um governo mundial que seja aceito por todos os países. Um governo mundial só
terá legitimidade e será sustentável se for verdadeiramente democrático.

A humanidade tem de entender que tem tudo a ganhar se unindo em torno de um
governo democrático mundial acima dos interesses de cada nação, incluindo o mais
poderoso, controlando o mundo em sua totalidade, no tempo e no espaço. A nova ordem mundial a ser edificada deve organizar não apenas as relações entre os homens na face da Terra, mas também suas relações com a natureza. É preciso, portanto, que seja celebrado um contrato social planetário que possibilite o desenvolvimento econômico e social e o uso racional dos recursos da natureza em benefício de toda a humanidade. A edificação de uma nova ordem mundial baseada nesses princípios é urgente. É urgente pensar nisso, antes que seja tarde demais.


*Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.

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