Texto de JOACI GÓES
No plano da realidade física como da
social, quebra a cara quem investe contra a natureza das coisas. No plano
físico, o fracasso é imediato e facilmente perceptível, como a consequência de
quem salta de grande altura sem paraquedas, enquanto no social a percepção do
fenômeno demanda vagar, capacidade analítica e agudeza do olhar crítico.
O fracasso do comunismo, cujo momentâneo brilho, ao longo do último século, chegou a levar parcela ponderável da humanidade a crer que o mundo marchava para o socialismo, é, sem dúvida, o mais conspícuo exemplo dessa máxima irredutível, que permite a antevisão da queda de políticas inconsistentes praticadas hoje em pobres países, seduzidos pelo canto da sereia, como Bolívia, Equador, Venezuela, Cuba e Coreia do Norte, para ficarmos nos casos tão notórios quanto lamentáveis.
O Ato Médico, ora em discussão, apesar da boa inspiração que o motivou, vai fracassar porque proposto de modo atabalhoado e no momento mais impróprio, quando medidas mais eficazes e mais palatáveis podem ser adotadas, ensejando ao governo o cumprimento do seu dever de implementar medidas destinadas a elevar a qualidade dos serviços médicos prestados à maioria da população brasileira, em nada compatível com a afirmação irresponsável que a considerou de primeiro mundo, em intolerável achincalhe ao sofrimento do povo.
Para aumentar os recursos para áreas críticas e fundamentais como a saúde e a educação, melhor seria que o curso universitário, hoje gratuito, fosse pago pelo formando, em prazo correspondente ao dobro de sua duração, e com carência de dois anos, a partir da data da graduação. Adequadamente equipados para vencer no mundo competitivo em que estamos imersos, os novos profissionais começariam a devolver à sociedade os recursos consumidos na sua preparação, permitindo, desse modo, a extensão dos benefícios a novas levas de estudantes. Em caráter opcional, da livre escolha do graduado, o pagamento do curso poderia ser feito mediante a prestação de serviços. Nada mais racional, justo e de fácil compreensão.
A soma de recursos disponibilizada para melhorar as condições do serviço
médico, inclusive a remuneração dos profissionais da área, seria suficiente, aí
sim, para aproximar dos países mais avançados a qualidade do atendimento
prestado à população. Os critérios de acesso à universidade continuariam os
mesmos, com os pontuais ajustamentos ditados pela sociedade mutante, por
excelência, em que vivemos.
Impõe-se, também, em paralelo, a organização da carreira dos
profissionais da Medicina, dedicados ao serviço público, de um modo que lhes
confira elevados padrões de dignidade, extirpando-se, de vez, o estado de
indigência em que, não raro, esses profissionais exercem suas elevadas
atribuições.
Estreiteza de visão, de mistura com o populismo reinante no Brasil,
dificulta a adoção de medida tão contributiva para o avanço da competitividade
nacional no domínio fundamental do conhecimento universitário, em geral, e do
médico, em particular. Penso que não demorará até que o Brasil se renda à conveniência
de adotar essa política, com o mesmo lamentável atraso com que convocou o setor
privado para substituir o estado mastodôntico, autoritário e perdulário que,
para financiar-se, pratica contra a sociedade pesada escorcha tributária.
Ao propor a importação de médicos e o alongamento de mais dois anos em
sua formação, para prestar serviços obrigatórios, o governo acicatou os ânimos
de uma categoria profissional tão cara aos sentimentos de todas as gentes e deu
um tiro no pé, sofrendo o efeito bumerangue, por investir, açodadamente, contra
a natureza das coisas.
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