Lamartine
Lima*
No ano do centenário do falecimento de Nina
Rodrigues, foi publicado, na “Coleção Ponte da Memória”, através da Assembléia
Legislativa do Estado da Bahia, um importante livro, o derradeiro escolhido
para re-ediçâo pelo falecido membro da Academia de Letras da Bahia, Guido
Guerra. Foi escrito por um outro acadêmico, também falecido, que merece ter
revistos seus traços bio-bibliográficos. O autor, Estácio Luiz Valente de Lima,
nasceu na cidade de Alagoas, depois denominada de Marechal Deodoro, antiga
capital do estado de Alagoas, no dia 11 de junho de 1897, filho do
desembargador Luiz Monteiro de Amorim Lima e
de D. Francisca de Jesus Valente
de Lima, caçula de 14 irmãos, compondo uma daquelas famílias numerosas
nordestinas do passado, que deram grandes médicos, advogados, engenheiros,
militares, sacerdotes e religiosos ao Brasil. Fez o curso primário na sua
cidade natal e o secundário em Maceió e Recife, para onde se transferira seu
pai, quando a família foi residir no arrabalde da Várzea, onde, atualmente, localiza-se
a Universidade Federal de Pernambuco. Rapazinho ainda, prestou concurso,
alcançou o primeiro lugar e foi nomeado telegrafista dos Correios e Telégrafos.
Nessa condição, no ano de 1916, despediu-se dos pais, irmãos e amigos, embarcou
num paquete, veio para Salvador trabalhar naquela repartição pública, prestar
concurso vestibular, em que tirou o primeiro lugar, e fazer o curso da famosa e
primaz Faculdade de Medicina da Bahia. Na capital baiana, morando na república
estudantil “Não Posso Comer Sem Molho”, na Rua da Lama, bairro da Barroquinha,
fez a boêmia da estudantada de seu tempo, todavia destacou-se como dedicado às
ciências e também às letras, ficou conhecido como ótimo orador. Assim,
apreciado pelos seus mestres da Faculdade, recebeu convite para tornar-se
acadêmico-interno do Serviço de Clínica Médica de Augusto do Couto Maia, no
antigo Hospital de Isolamento de Monte Serrate, atual Hospital Couto Maia, na
Península de Itapagipe, em Salvador, onde passou a desempenhar suas funções com
grande proficiência, inclusive acompanhando as autópsias ali realizadas no
Serviço de Patologia. No final do curso, foi eleito pelos colegas como orador
da turma dos doutorandos, para a cerimônia em que solenemente colariam grau no
ano de 1921. Quis o Destino que o seu pai falecesse às vésperas da formatura,
ele declinasse da honra de orador para outro colega, recebesse sem solenidade o
diploma de médico, e colocasse no dedo o anel da eterna lembrança do genitor.
Logo decidiu completar a formação profissional na Europa e, com esforço
econômico, viajou para a Alemanha, onde fez estágio em Berlim, no
Urbankrankenhauss, em que frequentou as clínicas médicas do cardiologista Max
Koch, e do nefrologista Fritz Munck. Estava na capital alemã, quando recebeu
carta de Couto Maia, avisando-o do falecimento, no ano de 1923, de Oscar Freire
de Carvalho, o segundo aluno preferido (o primeiro discípulo fora Júlio Afrânio
Peixoto, nessa época catedrático no Rio de Janeiro) e sucessor, na cadeira de
Medicina Legal da Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus, de Raymundo Nina
Rodrigues, o Mestre da Escola da Bahia, que, no ano de 1906, falecera em Paris,
França. Oscar Freire, além de ter sido, também, fundador do Instituto “Nina
Rodrigues”, sede do Serviço Médico-Legal do Estado, em Salvador, criara a
especialidade na Faculdade de Medicina de São Paulo, e ali construíra o
instituto que hoje tem o seu próprio nome. Imediatamente, Estácio de
Lima voltou-se com afinco para o estudo da Medicina Forense com os sucessores
de Casper, na capital alemã, com Leclerc em Estrasburgo, na Alsácia-Lorena, e
com Balthazard, na capital francesa. Regressou ao Brasil, no ano de 1925, com o
objetivo de fazer o concurso para a celebrizada cátedra que pertencera a Nina e
a Oscar, onde teve como competidor o primeiro aluno deste último, Armando de
Campos Pereira, importante jornalista, dirigente de “A Tarde”, o maior
periódico da capital baiana. Foi um muito disputado certame, em 1926, no qual
Estácio apresentou tese sobre assunto então absolutamente novo – Indagação
da Ascendência –, escreveu dissertação acerca do ponto sorteado – Responsabilidade
Civil – e teve de dar demonstrações de grande domínio das matérias
envolvidas nas questões teóricas e práticas científicas de laboratório e sala
de necropsia, além de superar enormes obstáculos políticos, vindo a vencer
galhardamente. Por sua vez, Armando de Campos deixou Salvador e foi tornar-se
legista de nomeada no Rio de Janeiro. Assumida a cadeira, o Professor Estácio
de Lima tornou-se, ipso-facto, diretor do Instituto “Nina Rodrigues”, e
resolveu retomar os trabalhos do Mestre Nina, na Antropologia Forense, e do
Mestre Oscar, na Perícia Judiciária, procedidos paralelamente ao ensino, e,
para tanto, contou com a assistência do seu conterrâneo recém-formado Arthur
Ramos de Araújo Pereira – depois o extraordinário docente de Psiquiatria Social
no Rio de Janeiro e revisor da obra do Mestre da Escola da Bahia –, mais Álvaro
Dória, Egas Moniz Barreto de Aragão Júnior e outros profissionais escolhidos.
Assim, quando, em 1929, o capitão de cangaço pernambucano Lampeão (que muitos
grafam hodiernamente Lampião) e seu grupo de cangaceiros, perseguidos desde
Pernambuco, atravessaram o rio São Francisco, para a Bahia, alcançaram o Raso
da Catarina, e aquele chefe procurou aumentar o seu bando com sertanejos
recrutados nos municípios do interior baiano e sergipano, surgiu ocasião do
Professor Estácio estudar os criminosos do banditismo rural. Sabedor de que
existiam coiteiros poderosos para os cangaceiros, ele fez contatos com
importantes fazendeiros daquela região porém não logrou obter entrevista com
Lampeão e seu bando. No ano de 1932, todavia, Mestre Estácio foi chamado a
examinar, com seu assistente Arthur Ramos, dois jovens criminosos que haviam
sido capturados no interior do Estado. Eram os cangaceiros Volta Seca –
apontado como tendo sido, em 1929, o sangrador, a punhal, dos soldados da
Polícia Militar, baleados por Lampeão e Corisco, no destacamento de Queimadas,
– e Passarinho, noviço do bando. Seus exames clínico-psiquiátricos e
antropológicos, em que suas histórias foram bem ouvidas, encetaram as anotações
e registros médico-legais, inclusive fotográficos, que fundamentaram as
primeiras observações científicas diretas sobre os bandidos do sertão
brasileiro. Seguiu-se que, em 1936, foram entregues, ao Instituto “Nina
Rodrigues”, as primeiras peças de decapitação de cangaceiros, as cabeças de
Azulão, Maria do Carmo (Maria de Azulão), Zabelê e Canjica, degoladas por uma
Força Policial Volante baiana, comandada pelo civil contratado Eleutério,
conhecido como Cravo Roxo, de Campo Formoso, que os pegou de emboscada numa
fazenda em Baixa Verde, também no interior da Bahia. Tais segmentos cefálicos
foram examinados e mumificados por Estácio de Lima. Trinta e dois anos depois,
em 1968, elas foram inumadas, em nichos vedados, dentro de uma reentrância
entre carneiras do velho Cemitério da Quinta dos Lázaros, por ordem do
governador do Estado da Bahia. Em 2003, exumei-as, fotografei-as e fiz a
respectiva ata, a pedido da administração daquela necrópole, onde elas estão
postas em ossuário. No ano de 1938, o Professor Estácio, mandou buscar em
Maceió, onde estavam com o Professor José Lages Filho, no instituto que hoje
tem o nome de “Estácio de Lima”, e recebeu no “Nina”, as cabeças de Lampeão e
sua mulher, a cangaceira baiana Maria Bonita, mortos e decapitados, com mais
nove bandidos, na Grota de Angicos, próxima do rio São Francisco, no município
de Poço Redondo, estado de Sergipe, pela tropa do Tenente João Bezerra, da
Polícia Militar de Alagoas. As duas peças foram minuciosamente estudadas por
ele, que nelas não encontrou os famosos estigmas anatômicos apontados por
Césare Lombroso. Depois de modeladas suas máscaras mortuárias, foram
mumificadas, pelos cuidados de um de seus assistentes, o suíço-baiano Dr.
Charles René Pittex. Trinta anos depois, em 1968, foram também inumadas,
juntamente com aquelas anteriormente referidas, no Cemitério das Quintas, por
ordem do Governo do Estado. Em 2001, exumei-as, a pedido da família do casal de
cangaceiros, a filha, Expedita, e as netas, Vera e Gleuce, estas quem
presenciaram todo o procedimento, de que fiz a ata, documentaram tudo com
fotografias e filmagem, e conduziram as duas cabeças para sepultamento no
túmulo dos parentes, em Aracaju, Sergipe. Ainda, no ano de 1941, o Professor
mandou desenterrar, em Miguel Calmon, e trazer para o “Nina”, a cabeça e o
braço direito fraturado por bala, do cangaceiro Corisco, que fora abatido
quando fugia, com a esposa cangaceira Dadá; depois de pernoitarem em uma casa
de farinha da Fazenda Juá, na Malhada da Areia, no local Barro Alto, vizinho do
lugar Ventura, fronteira do município de Miguel Calmon, nos contrafortes da
Chapada Diamantina, foram surpreendidos, de manhã, pela tropa do Tenente José
Rufino, da Polícia Militar do Estado da Bahia. As peças estavam saponificadas;
mesmo assim, foram analisadas por Estácio de Lima e conservadas por Charles
Pittex. Trinta e sete anos depois, as peças foram inumadas, igualmente às dos
outros bandidos, por ordem governamental. A cangaceira Dadá, viúva de Corisco,
fora ferida na perna esquerda, amputada, na sede daquele município, e
re-operada do coto, no Hospital Santa Isabel, da Santa Casa da Misericórdia da
Bahia, pelo cirurgião Aristides Novis Filho. Estava “sub judice” quando foi
apresentada ao Professor Estácio, já presidente do Conselho Penitenciário do
Estado, que a entrevistou, tornou-se amigo e, mais tarde, muito ajudou na
formação e no encaminhamento prático das filhas e netos daquela senhora. Em
1977, a bordadeira Dadá, no segundo casamento, fez exumar e dar sepultura em
túmulo condigno, àqueles restos mortais do seu primeiro marido, o cangaceiro
Corisco, perto da capela do Cemitério das Quintas. Finalmente, em 1943, os
últimos bandidos de Lampeão, os cangaceiros Labareda, Saracura, Deus-te-Guie,
Candeeiro e Balão, através de acordo procedido por um fazendeiro de quem eram
amigos, renderam-se ao juiz de Direito de Jeremoabo, Antonio de Oliveira Brito,
foram presos, submetidos a júri, sentenciados, apenados e transferidos para a
capital baiana, onde cumpriram alguns anos de prisão na antiga Penitenciária do
Engenho da Conceição. Do total de oito componentes do bando de Lampeão,
aprisionados e processados pela Justiça na Bahia, sete deles foram condenados.
Na qualidade de catedrático de Medicina Legal, Estácio de Lima os entrevistou,
examinou-os, analisou individualmente suas personalidades, o comportamento
carcerário de cada um deles, observados durante longo período, finalmente
exarou seu Parecer. Considerou os cangaceiros como homens imersos nas
circunstâncias de seu áspero ambiente sertanejo; sujeitos aos costumes de
reviçamento medieval em uma sociedade interiorana camponesa quase esquecida
pelas autoridades constituídas regularmente nas cidades; diferentes daqueles
que ali não se tornaram criminosos, talvez porque estes não sofreram ofensas
maiores; os cabras da peste, umas vezes na situação de vitimados pela injustiça
manipulada pelos coronéis, outras tantas pela truculência da polícia a serviço
dos proprietários rurais, mais outras, deserdados da honra pessoal ou da terra
de sua sobrevivência, pela indignação foram empurrados para o crime, na
condição de rebeldes que pegaram em armas e viveram ou morreram como
bandoleiros rurais. No mesmo passo, reativos, a forte excitação endócrina,
proporcionando o seu vigor pessoal, impelia à liberdade de ação e capacidade de
imposição da vontade pelas armas, que os levou, em seguida, a fazerem daquilo
rendosa profissão, na qual se tornaram conhecidos e seria quase impossível
deixá-la. Seu julgamento popular ouvia-se pela boca dos simples cantadores de
feira, nas comunidades pobres do sertão, do agreste ou da mata, recitando
cordéis sobre suas façanhas e recebendo animados aplausos dos matutos humildes,
que viam naqueles guerrilheiros os seus iguais heroificados. E os moços
caipiras mergulhados naquela atmosfera, gênese de mais cangaceiros. Não negou,
todavia, o Professor Estácio, a possibilidade de algum criminoso não ter maior
razão para ser bandido, que um convite de um chefe de cangaço, e usar um
falacioso escudo ético. Ele ponderou que, fora daquelas circunstâncias, aqueles
homens seriam, como mais tarde demonstrariam ser, capazes de plena recuperação
social, tornando-se cidadãos úteis. Logo conduziu a revisão de seus autos
processuais no Conselho Penitenciário, arrazoou com seus fortes argumentos ao
presidente da República, general Eurico Gaspar Dutra, que lhes indultou as
penas. Estácio conseguiu-lhes emprego digno, eles formaram família e criaram os
filhos corretamente, como pessoas prestantes, nos padrões comuns da sociedade
citadina. Pelo resto de suas vidas, nunca mais delinquiram. Como também
aconteceu com os cangaceiros Zé Sereno, Cila e Criança, que Estácio de Lima
conheceria, bem mais tarde, em São Paulo, os quais, depois da morte dos
principais chefes, conseguiram fugir para o Sul do País, onde começaram nova
vida de trabalho e tiveram prescritos os prazos para serem levados à barra dos
tribunais. Senhor das mais exatas informações e registros dessas fontes primárias,
originais, o Professor Estácio de Lima, que, além de cientista e presidente da
Academia de Medicina, também era literato e presidente da Academia de Letras,
ambas da Bahia, sentiu a necessidade de escrever um livro sobre aquele mundo
estranho dos cangaceiros. E assim o intitulou. Elegeu os mais velhos daqueles
bandoleiros – Labareda e Saracura – como regentes da orquestração dos outros
antigos companheiros de lutas, para reviver na memória, para a qual não
faltaram as relembranças de Dadá, aquele tão esquisito pequeno universo do
cangaço. Determinou que um funcionário de sua cátedra na Universidade Federal
da Bahia, acadêmico-monitor Rogério Henrique de Medeiros Pacheco, seu
conterrâneo alagoano e estudante de Medicina, acompanhasse Labareda pelas históricas
veredas do sertão baiano, anotasse e fotografasse os lugares e pessoas
remanescentes dos tempos dos recontros entre volantes e cangaceiros, e
trouxesse o relatório de como estava aquele torrão depois de três décadas de
exterminado o cangaço. Foi em busca de antigos comandantes de Forças Policiais
Volantes, como os coronéis João Bezerra e José Rufino, famosos perseguidores de
bandidos e matadores de cangaceiros, entrevistou-os, procurou velhos
componentes das tropas, inclusive rastejadores, e colocou-os ao lado dos
antigos cangaceiros para recontarem as suas versões de perseguições,
fugas e combates. Tendo ao seu lado a conterrânea e assistente, quem o
sucederia em todas as cadeiras que ensinou, Professora Maria Theresa de
Medeiros Pacheco, a qual conheceu tão bem os velhos cangaceiros, ele estudou as
anotações, registros de entrevistas e fotografias. Em seu estilo suave de
amante das belas letras, entrecortado de frases pronunciadas pelos sertanejos
rudes, Estácio de Lima construiu seu livro singular, preciosíssimo, O Mundo
Estranho dos Cangaceiros, que foi lançado, em primeira edição, no ano de
1965, na Livraria Civilização Brasileira, pela Editora Itapoan, através do
proprietário das duas, o falecido livreiro Dmeval Chaves. Para citar apenas uma
cena marcante, aquela em que é descrita a eutanásia do cabra Sabino – dos mais
valentes e cruéis homens do cangaço – quando, malferido em combate, e para não
dar oportunidade à polícia que tanto o queria sangrar, tira o lenço vermelho do
pescoço e o coloca sobre o rosto, enquanto roga ao seu compadre, o cabra
Mergulhão, que lhe dê um tiro de parabélum no crânio. Essa obra veio juntar-se
a outras que escreveu desde a sua tese inicial, Introdução ao Estudo da
Agonia, passando pelas acima citadas duas monografias para a cátedra, mais
o trabalho pioneiro no País sobre A Inversão Sexual Feminina, os
avançados Ensaios de Sexologia, a original pesquisa sobre O
Infanticídio e o Estado Puerperal, o especialista demonstrado mais uma vez
em Perícias e Pareceres, o ficcionista revelado em A Aeromoça e
Outras Novelas Regionais, o etnólogo mostrado no O Mundo Místico dos
Negros, livros editados, além de três centenas de ensaios, artigos e
crônicas brilhantes e inspiradas poesias publicados em coletâneas, revistas e
jornais. Lamentavelmente, faltou a reunião de seus discursos admiráveis,
pronunciados de improviso, os quais não anotava, restando alguns gravados, nem
sempre em condições perfeitas. Recebeu Estácio de Lima a láurea de Professor
Emérito, depois de haver sido, ainda, catedrático da Faculdade de Odontologia e
da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, e titular da
Faculdade de Direito da Universidade Católica do Salvador, e mais, fundador da
cadeira e primeiro titular de Medicina Legal na Escola “Bahiana” de Medicina e
Saúde Pública e na Academia de Polícia Militar do Estado da Bahia. Presidiu
inúmeras bancas de concurso para titulares da especialidade, participou de
congressos nacionais e internacionais de Medicina Legal, viajou pela América do
Sul, voltou outras vezes à Europa, e, em duas oportunidades, demorou
pesquisando na África Ocidental. Como desejou, prosseguiu nos trabalhos de Nina
Rodrigues, Mestre da Escola da Bahia, anotou, na qualidade de Ogâ do Terreiro
do Gantois, as observações sobre a religião dos orixás, relacionadas com as
práticas médicas; registrou as reações dos homens do povo, alcoolizados ou
drogados pela maconha; documentou as entrevistas com homossexuais, masculinos e
femininos; analisou os criminosos, particularmente os homicidas; estudou os
costumes dos africanos no Continente Negro e na Bahia; criou uma coleção de
objetos, que deu origem ao Museu Antropológico e Etnográfico “Estácio de Lima”;
e, principalmente, ensinou através da teoria e da prática pericial, no
exercício da função de grande educador, premiado pela Academia Nacional de
Medicina. Em reconhecimento, a Cidade do Salvador e o Estado da Bahia
oficializaram sua cidadania, que já obtivera no dia-a-dia de serviços prestados
aos concidadãos de sua comunidade. O Professor Estácio de Lima, alagoano,
baiano e soteropolitano, um homem admirável, faleceu aos 87 anos de idade, no
dia 28 de maio de 1984, em Salvador, recebeu homenagens oficiais dos governos
estadual e municipal, das universidades, academias e demais instituições a que
pertenceu, e particularmente de seus antigos alunos, na Faculdade de Medicina
da Bahia, em cujo Salão Nobre o féretro foi velado, sob a Guarda de Honra dos
Cadetes da Polícia Militar. Depois de ato religioso celebrado pelo seu
conterrâneo alagoano, confrade da Academia de Letras da Bahia e Cardeal
Arcebispo Primaz do Brasil, D. Avelar Brandão Vilela, foi conduzido, sobre a
elevação da escada de um carro de bombeiros, acompanhado por seus amigos, para
receber sepultamento no Cemitério do Campo Santo. A republicação de seu mais
famoso livro, no ano de 2007, é, sem dúvida, a melhor homenagem que se poderia
prestar, pela passagem do110ºanodeseunascimento.
* Lamartine de
Andrade Lima é
médico e ensaísta, presidente da Academia de Letras e Artes do Salvador e presidente
emérito do Instituto Bahiano de História da Medicina.
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