Dra. Adriana
Lins de Oliveira Bezerra
SEJAMOS
DIGNOS E REALISTAS: VAMOS FAZER UMA CAMPANHA PARA COMEÇAR A MORALIZAR E FAZER
PROGREDIR DE FATO E PARA VALER ESSA JOÇA DE PAÍS EM QUE VIVEMOS
JUIZA DE CAJAZEIRAS É CONTRA O ‘BOLSA-FAMÍLIA’ E
DIZ POR QUÊ!
Apenas
a título de esclarecimento, aos que respeitam opiniões contrárias, e apenas a
esses, é que escrevo agora. Fui alvo de críticas e agressões acerca de minha
opinião avessa ao ‘Bolsa-Família, programa criado pelo Governo Federal há 10
anos. Grande parte optou por uma justificativa simplista:
-
“Ah, ela é rica, juíza, elite, fala porque nunca passou necessidades, nunca
passou fome...”. Pronto! Essa justificativa encerra a questão e resolve o
problema. É uma idiotia de quem nada sabe sobre a vida.
Apenas
a título de informação saibam que não sou rica, nunca fui e nunca serei. Meu salário é bom, e com ele, se Deus quiser, nunca passarei fome nem necessidade,
mas lutei por ele; e como lutei! Sofri, estudei, trabalhei e lutei, repita-se.
Mas isso é outra estória que em outro momento, se interessar a alguém, posso
contar.
Contudo,
existem outros motivos que levam as pessoas a formarem suas opiniões que não necessariamente
as suas condições financeiras. Nunca passei fome, graças a Deus, graças ao
trabalho de meus pais, mas, da mesma forma que nunca faltou, também nunca
sobrou.
Trabalho
desde os 18 anos de idade, quando me submeti a concurso público e fui ser
funcionária pública, trabalhar oito horas diárias e ganhar menos do que um salário mínimo, apesar da Constituição Federal já vedar
tal conduta. Mas como já disse, isso é outra estória.
O
final de semana que passou retrata exatamente um dos fatores que me levam a
formar a opinião que tenho. Um simples “boato” de que o ‘Bolsa-Família’ iria
acabar, foi suficiente para causar um caos em várias agências da Caixa
Econômica Federal. Uma pessoa me disse que teve que pedir dinheiro emprestado para sair do seu sítio para receber o ‘bolsa-família’, “antes que
acabasse”...
A pergunta é: de que viveriam essas
pessoas, se o ‘bolsa-família acabasse? A minha resposta: passariam ainda mais
fome do que tinham quando começaram a recebê-lo. E sabem por quê? Porque agora,
com a certeza do “benefício”, do óbolo, elas não se propõem mais a trabalhar,
ou a estudar e se profissionalizar. Enfim. Estão escravizados à merreca que
recebem, como qualquer dependente químico da droga que consomem.
É a isso que me oponho.
É a isso que me oponho.
Quando
esse “programa social” foi implantado a situação das pessoas era caótica,
lastimável. Hoje elas estão sendo tratadas como inúteis, como incapazes. A
partir do momento em que se implanta um ‘programa assistencialista’ como esse,
sem uma política paralela de reestruturação, de capacitação para o
restabelecimento de condições de trabalho, de autossustento, enfim, de busca
por uma atividade que traga um mínimo de independência como contrapartida pela
ajuda oferecida pelo estado, ou esse estado passa a considerar essas pessoas
como não tendo capacidade alguma para tal ou, simplesmente, não se está
querendo ajudar, mas tão somente escravizar, ou seja, obter delas a única coisa
de valor que têm a oferecer: o seu voto – e a preço módico. É no que acredito.
A
ONU, embora, por um lado, elogie o programa, por outro critica o
assistencialismo populista e demagógico com o consequente apelo político que
ele gera. Segundo essa organização internacional, o ‘bolsa-família’ – que antes
era chamado de ‘bolsa-escola’ e exigia a contrapartida das crianças e adultos
analfabetos estarem cursando o ensino fundamental – rendeu muita popularidade e
votos, mas as DESIGUALDADES continuam elevadas e os progressos obtidos são
pífios.
Como
programa de caráter EMERGENCIAL, o ‘Bolsa-Família’ foi importante, mas onde
está a tão decantada “inclusão socioeconômica” sustentável dos seus
beneficiários?
O
saudoso Luiz Gonzaga já dizia em uma de suas canções, de composição com Zé Dantas:
–
“Seu Doutor, uma esmola para o homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou
vicia o cidadão...”.
É nisso que acredito desde muito
antes de me tornar Juíza.
A Coordenadora do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil afirmou que, da forma que o programa funciona, não tem sido útil para ela identificar e retirar as crianças do trabalho e que esse programa não tem impacto nenhum na redução do trabalho infantil.
A Coordenadora do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil afirmou que, da forma que o programa funciona, não tem sido útil para ela identificar e retirar as crianças do trabalho e que esse programa não tem impacto nenhum na redução do trabalho infantil.
Vejam
a entrevista de Frei Beto (que não é juiz, mas apenas um ex-clérigo e
doutrinador comunista), um dos líderes do ‘Fome Zero’ – outro programa
assistencialista caça-votos – e me digam o que acham.
O
programa existe há dez anos e pouquíssimo foi mudado na vida dessas pessoas. O
que foi feito de efetivo para reestruturar essas famílias?
Visitem
as casas dessas pessoas e me digam o quanto mudou! Enquanto apresentam índices
de redução de evasão escolar, em razão do que era o ‘Bolsa-Escola’, os
adolescentes que passam hoje pela Vara que ocupo não sabem a data de seus nascimentos,
não sabem o seu nome completo, não sabem o nome de seus pais e, pasmem, não tem
a menor ideia de seus endereços. Que noção de civilidade esses meninos tem?
Esses mesmos meninos que agora estão querendo jogar na prisão!?!
Quem
ou o QUÊ vai dar essa noção de civilidade, se um programa SÉRIO de educação,
capacitação, dignificação das pessoas não começar a ser ativado imediatamente?
O
‘bolsa-família não dignifica. Escraviza. Vicia no ócio. É o que acho.
As pessoas se tornam escravas da
vontade política e não formadoras dessa vontade. E isso para mim é um
FAZ-de-CONTA, sim.
Não disse que a Presidente é uma faz-de-conta. Disse que o Brasil é um País de faz-de-conta.
Não disse que a Presidente é uma faz-de-conta. Disse que o Brasil é um País de faz-de-conta.
Defender
a redução da maioridade penal é um exemplo disso. Defender a pena de morte
também. Fazem de conta que isso vai resolver a criminalidade, mas não vai.
Da
mesma forma que fazem de conta que cumprem o ECA, que existe há mais de vinte
anos, não o cumprem. Nunca o cumpriram.
Como
eu posso cobrar algo de alguém a quem eu nunca dei a chance que produzisse esse
algo? As pessoas não podem viver de esmolas. Precisam aprender a andar com as
próprias pernas e precisam saber que isso é da responsabilidade delas também.
É
dever dos Governos Federal, Estadual e Municipal prover as condições de
escolaridade que dê aos cidadãos a capacidade mínima de escolher seus meios de
vida e seus dirigentes e representantes sem que isso dependa de uma esmola sine
qua non e que as pessoas possam seguir com suas vidas na dignidade que cada
profissão oferece, porque todas elas a têm.
Vejo
mulheres jovens e saudáveis pedindo dinheiro nas ruas. Cada uma com seus três
ou quatro filhos. Mas nenhuma pede um emprego. Por quê?
Os
senhores tem ideia de quantos cartões desse programa estão nas famosas “bocas
de fumo”?
Vejo
homens jovens e saudáveis nas portas dos bares ou papeando nas esquinas em
pleno dia da semana. Porque não estão trabalhando?
Qual
o trabalho que as políticas públicas oferecem ou a simples, mas fundamental
capacitação para eles?
É
certo que existem alguns programas profissionalizantes. Mas são tímidos,
limitados, e não recebem a milésima parte do investimento que o programa de
“caridade” gasta, com essa barganha evidente to “toma lá e dá cá o seu voto”.
Ao
quê isso vai nos levar, senhores? Ao quê nos levou até agora? Como estão essas
pessoas? Sem fome? Tem certeza que R$ 130,00 (cento e trinta reais) realmente
mata essa fome? Piada de humor negro...
Não
sou contra partido político algum. Sou contra políticas públicas inúteis, mal
intencionadas e danosas ao futuro da nossa gente e nação. Sou e serei sempre.
É a
minha opinião senhores.
Respeitem-na.
Discordem dela, mas a respeitem. E não sejam tão simplistas assim. As coisas
não são simples e não podem ser “explicadas” dessa forma populista e demagógica
como tem sido a prática dos governos na última década, principalmente por quem
não me conhece.
O
homem precisa ser dignificado e não escravizado ou comprado por aparentes
favores de seus governantes. As pessoas continuam sofrendo com a seca...
Absolutamente TODAS AS PESSOAS, TODOS OS ANOS, HÁ DÉCADAS. E o que foi feito da
política de irrigação, da política que permaneça que se perpetue e que de fato
transforme a vida do sertanejo do nordeste, onde – todo mundo sabe, menos o
governo – a água está no subsolo e não na superfície?
É
contra isso que sou. Sou nordestina com muito orgulho e me sinto humilhada com
notícias tais como as divulgadas no Jornal Nacional mostrando pessoas
“famintas” na porta do Banco para receberem suas migalhas governamentais.
Não
precisamos disso. Somos inteligentes e capazes. Temos força e vontade de
trabalhar. Só precisamos de oportunidades e onde elas estão? Onde está a água
das chuvas do ano passado?
Bem.
Não sei se melhorei muito a situação. Mas, se piorei, não foi essa a minha
intenção. Precisava apenas explicar os meus motivos.
Aos que me criticaram com decência,
fico com as críticas para refletir sobre elas na construção de minhas opiniões
futuras.
Aos que apenas me agrediram gratuitamente, fico com a dor que me causaram e com o consolo de que o tempo cura quase tudo. Aos que perderam alguns minutos de suas vidas para lerem essa minha resposta, agradeço a atenção.
Aos que apenas me agrediram gratuitamente, fico com a dor que me causaram e com o consolo de que o tempo cura quase tudo. Aos que perderam alguns minutos de suas vidas para lerem essa minha resposta, agradeço a atenção.
A
todos, reafirmo: esta é a minha opinião. Não a de uma Juíza, mas a de uma
mulher que quer muito mais do que ESMOLAS para o cidadão brasileiro e,
principalmente, para os jovens adolescentes.
Que
Deus esteja conosco!
Cajazeiras
– PB, 26 de maio de 2013.
Adriana
Lins de Oliveira Bezerra
Juíza
de Direito, Eleitora, e Cidadã
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