Fernando
Alcoforado*
Em 17/02/2011, publicamos no Blog
de Falcoforado (http://fernando.alcoforado.zip.net)
o artigo Cenários futuros de
evolução da crise no Egito (2) no qual foram traçados os
cenários de evolução da crise
descritos a seguir:
Cenário 1: Classes
dominantes, Exército e Estados Unidos/ União Europeia unificados
em torno do objetivo de manter o
estado egípcio sob seu controle obtêm sucesso na
superação da crise econômica e
social. Movimentos Sociais unificados na luta pelo
controle do estado egípcio obtêm
concessões importantes com a implantação da
democracia representativa no
Egito e na realização de avanços nos planos econômicos e
sociais. Neste cenário, o
processo político não seria radicalizado.
Cenário 2: Classes
dominantes, Exército e Estados Unidos/ União Europeia unificados
em torno do objetivo de manter o
estado egípcio sob seu controle não obtêm sucesso na
superação da crise econômica e
social. Movimentos Sociais unificados radicalizariam a
luta pelo controle do estado
egípcio visando a implantação da democracia representativa
no Egito e a realização de
mudanças econômicas e sociais importantes. Este cenário
poderia levar também a
retrocessos se um movimento islâmico surgir para tomar o
controle do Estado numa repetição
da Revolução Iraniana de 1979 ou se as Forças
Armadas impedirem uma transição,
ainda que conturbada, para a democracia. Poderiam
acontecer também avanços
políticos como o ocorrido na Turquia moderna em que os
militares atuariam de forma a
conter o radicalismo islâmico dentro de um modelo
constitucional.
Cenário 3: Classes
dominantes, Exército e Estados Unidos/ União Europeia unificados
em torno do objetivo de manter o
estado egípcio sob seu controle obtêm sucesso na
superação da crise econômica e
social. Movimentos Sociais divididos entre si na luta
pelo controle do estado egípcio
obtêm concessões limitadas na implantação da
democracia representativa no
Egito e na realização de avanços nos planos econômicos e
sociais. Neste cenário, o
processo político não seria radicalizado.
Cenário 4: Classes
dominantes, Exército e Estados Unidos/ União Europeia unificados
em torno do objetivo de manter o
estado egípcio sob seu controle não obtêm sucesso na
superação da crise econômica e
social. Movimentos Sociais, divididos inicialmente,
tendem a crescer e a se
unificarem radicalizando a luta pelo controle do estado egípcio
visando a implantação da
democracia representativa no Egito e a realização de
mudanças econômicas e sociais importantes.
Este cenário poderia ser radicalizado e se
transformar no Cenário 2.
De fevereiro de 2011 até o
momento atual, os cenários 1 e 3 não aconteceram porque as
Classes dominantes, Exército e
Estados Unidos/ União Europeia unificados em torno do
objetivo de manter o estado
egípcio sob seu controle não obtiveram sucesso na
superação da crise econômica e
social do Egito. Após a queda do regime de Mubarak,
prevaleceu o Cenário 4 quando
houve avanços na implantação da democracia
representativa no país da qual
resultou a eleição de Mohamed Mursi vinculado à
Irmandade Muçulmana.
Durante o governo do presidente
Mursi, surgido de uma poderosa revolução
democrática, o Egito enfrentava
uma grave crise socioeconômica, com 8% de inflação,
desemprego em torno de 15% (entre
os jovens chega a 40%) e uma economia
semiparalisada, onde o turismo,
uma das principais fontes de divisas, responsável por
10% do PIB decaiu 30%. No dia 30
de junho passado, uma multidão de 17 milhões de
egípcios, equivalente a 35% da
população do país (84 milhões de habitantes), exigiu a
saída do presidente Mursi.
Novamente, no dia 03 de julho,
cerca de 30 milhões saíram às ruas em todo o Egito para
comemorar a queda de Mursi.
Apesar da afirmativa de alguns analistas de que teria
havido um golpe de estado, houve
na realidade outra revolução popular em que o
Exército assumiu o comando
político do Egito devido ao fracasso do governo Mursi.
Mursi e a Irmandade Muçulmana
foram removidos do poder depois de 12 meses
também por acreditar que os 51,7%
dos votos obtidos em segundo turno em 2012 eram
um salvo-conduto para transformar
o Egito em um país islâmico.
Após a queda de Mursi, os
partidos de oposição ao governo, agrupados na Frente de
Salvação Nacional, deram apoio
explícito ao Exército para que este tomasse o poder e
organizasse a “transição” rumo às
eleições democráticas em seis meses. Os quatro
pontos que unificavam toda a
oposição eram: 1) Renúncia imediata de Mursi; 2)
Governo de transição com eleições
em pelo menos seis meses; 3) Medidas econômicas
em favor das massas populares; e,
4) Suspensão da atual Constituição e elaboração de
uma nova.
Constata-se, portanto, que o
Egito evoluiu do Cenário 4 para o Cenário 2. Afirmamos
em fevereiro de 2011 que este
cenário poderia levar também a retrocessos se um
movimento islâmico surgisse como
ocorreu com a Irmandade Muçulmana que tentou
controlar o Estado repetindo a
Revolução Iraniana de 1979 ou se as Forças Armadas
tentassem impedir uma transição,
ainda que conturbada, para a democracia. Para conter
a ascensão da Irmandade Muçulmana
e fazer prevalecer seus interesses, o Exército
interveio. A intervenção militar
no Egito pode levar a avanços políticos como o
ocorrido na Turquia moderna ou a
retrocessos com a instauração de uma ditadura
militar.
*Fernando
Alcoforado,
73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas
de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e
planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora
Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel,
São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo,
2000),
Os condicionantes
do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na
Era Contemporânea (EGBA,
Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and
Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr.
Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica
e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil
e
combate ao
aquecimento global (Viena-
Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes
do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre
outros.
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