quarta-feira, 21 de agosto de 2013

EXCERTO DE UMA CARTA ENVIADA A UM AMIGO EM 2008

Luiz Carlos Facó

...
Que tal agora trocar de assunto e passar a comentar sobre a atuação da mulher através dos séculos. Lembrando da existência de Cleópatra e Messalina, cultivando o vício, Judith e Corday, honrando a pátria, Staël e Sèvigné, dando brilho à literatura, Vitória e Isabel, protestante e católica, engrandecendo seus povos, Teodora e Marozia, fazendo papas, e tantas outras que mudaram o curso da história?
Ou discutir sobre o Acadêmico Humberto de Campos - escritor maranhense - que, da mulher negra e dos judeus, disse em suas Memórias:

Humberto de Campos, no seu Diário Secreto - publicado pela Edições O Cruzeiro –
Segunda-feira, dia sete de maio de 1915:
“Entre os atributos da beleza feminina, um dos que mais encantam é o cabelo. Daí o meu horror à mulher negra. Eu me sentiria, parece, desonrado para o resto da minha vida, e sentiria engulhos até à hora da minha morte, se, arrastado pelo instinto, realizasse um ato amoroso com uma mulher de cor.
O que, nestas, me parece repelente não é, todavia, a pele; é o cabelo. Aqueles fios encaracolados, retorcidos, em espiral, dão-me a impressão de coisa imunda, tirada a um animal abjeto e posta sobre o corpo humano menos como um ornamento do que como castigo.
O homem branco que beijasse a cabeça de uma preta devia, como no caso do mercador que comia alho, e de que fala o conto árabe, lavar a boca sessenta vezes por dia, durante sessenta anos”
Quinta-feira, 18 de julho do mesmo ano, relata o escritor em outra passagem de suas memórias:
Academia (Brasileira de Letras). À minha chegada, avisa-me Fernando Magalhães:
- Hoje virá aqui um visitante que quer ser apresentado a você. Trouxe o seu nome de Portugal, entre os dos brasileiros que deseja conhecer pessoalmente, É o Ricardo Jorge.
Pelo nome e pela obra que conhecia, eu imaginava um rapaz forte, vigoroso, de fartos bigodes portugueses, em que se conjugassem a beleza do nome, do espírito e da figura. É de imaginar, pois, a minha surpresa quando, começada a sessão, vi entrar na sala, entre Austragésilo (de Atayde) e Coelho Neto, um tipo autentico de usurário semita, como não encontraria melhor no Ghetto ou entre as velhas muralhas de Jerusalém.
Estatura mediana, curvado para a frente, ombros largos e magros como um cabide de madeira a sustentar um velho paletó preto, e ter-se-á uma idéia física do hóspede notável. Orçando por uns sessenta e tantos anos, usa a barbicha clássica do judeu ibérico, forquilhada na ponta, e quase inteiramente branca, ou, antes, com um ou outro fio preto. O nariz é o da raça, idêntico ao de Guerra Junqueiro, curvo no centro, como o de certas aves de rapina. Boca aparentemente pequena, pelo feitio estreito da arcada superior, que sustenta uma dentadura postiça de dentes amarelos.
Prognatismo evidente, pronunciadíssimo; queixo fino, de rosto de chinela, avançando, como se o lábio inferior fosse aparar o superior. Cabelo com uma reduzida proporção de fios de prata, despenteados, gordurosos, resistentes à calvície. Terno preto, usadíssimo, gravata desmazelada, em colarinho de cor, mal gomado; o todo, enfim, de um homem que vive mais para o estudo, para as altas cogitações do espírito do que para as preocupações físicas da elegância. O judeu denuncia-se, todavia, em uma particularidade: em três anelões de ouro português, pesados e vistosos, os quais patenteiam o espírito da raça, isto é, o amor ao ouro, não para convertê-lo em conforto mas para guardá-lo em metal...”
Esses não seriam assuntos candentes, capazes de provocarem novas polêmicas como a acontecida? Eu, diante do que li, fiquei barbarizado com tamanhos disparates. Serão tais comentários dignos da apregoada largueza de inteligência que se debita e esse festejado autor? Eu já não o respeito nem um pouco. Nossa rede deve ou não polemizar sobre o tema ou, simplesmente, ser uma caixa de correspondências gentis?
A figura de Humberto, diante de mim, caiu do pedestal! E olhe, eu o considerava um bom escritor, mas diante de tantas heresias tomei a decisão de jamais voltar a abrir qualquer outro livro saído da sua lavra. Na história da literatura universal desconheço autor com tamanho desplante e venenoso rancor discriminatório. Portanto às favas com ele. Joguei-o no inferno sem consultar a São Pedro.
Suas palavras sobre mim produzem o encanto que o canto das sereias produziu sobre a tripulação de Ulisses, na costa da Espanha a caminho do lar. Como ele, desejei por cera nos ouvidos com o fim de não escutá-lo. Dei-me conta, porém que estavam impressas, condição impeditiva de usar a mesma estratégia do guerreiro.  Se tais afirmativas não partissem de alguém tão respeitado intelectualmente, pensaria fossem mofas. No caso, seguirei a opinião de Jaymão: “...deixe ele falar. Por ser gênio, crê que os amigos têm o mesmo destino, quando, na verdade, todos eles são seus admiradores e seguidores”.
Abraços para todos, em especial para sua musa. Ela foi feliz em lhe inspirar grafar tão belos versos.

Paz e Bem!

Nenhum comentário:

Postar um comentário