Livros já foram escritos sobre
a vida do Papa Francisco, embora pouco mais de quatro meses tenham decorrido
desde a sua eleição para o trono de São Pedro. Mais alguns serão escritos, com
certeza, para tentar interpretar o fenômeno de popularidade em que ele se
tornou.
A passagem do Papa pelo Rio foi
marcada, como se sabe, por graves problemas de organização. Talvez não haja
cidade que possa enfrentar incólume a chegada repentina de mais de um milhão de
visitantes. Padrões mais altos de eficiência, porém, terão de ser alcançados,
se vamos enfrentar desafios como Copa e Olimpíadas. Mas, das muitas confusões,
emergiu um evento que será lembrado com saudade — inclusive pelo Papa
Francisco.
Suas conotações são quase
infinitas, atingindo todos os assuntos que fazem a vida dos seres humanos.
Havia, por exemplo, o dado religioso, o fato de que um Papa popular e
carismático veio encontrar-se com a maior população de católicos da terra. As
multidões que corriam em todas as direções para chegar mais perto do Papa
certamente incluiriam pessoas simples, que, para além dos debates teológicos,
veem em Francisco, como ensina a Igreja, o sucessor de Pedro.
Mas o fenômeno meio mágico a
que o Brasil e o mundo assistiram vai além do terreno religioso. Ao vivo ou
pela televisão, massas humanas se defrontaram com o espetáculo notável que é
ver alguém chegar aos píncaros da popularidade, do sucesso, e continuar a ser o
que, nessas eminências, acaba sendo muito raro: uma pessoa normal, sem qualquer
pose.
O Papa Francisco teve uma
palavra suave para todos. Confessou-se, ele mesmo, pecador, solidário com os
erros dos outros (no voo de volta a Roma deu declaração não discriminatória
sobre os gays). Pediu que rezassem por ele. Mas, em nenhum momento, mostrou-se
complacente com o comodismo, numa realidade social que pede tantos ajustes.
Ajustes ele se propõe a fazer
também dentro da Igreja, ficou claro na entrevista que concedeu ao
“Fantástico”. Quase que denunciou uma Igreja “clerical” que transforma os meios
nos fins. Criticou os bispos que incorram numa “psicologia de príncipe”. Aos
jovens, deixou um grande mote: “Ide, sem medo, para servir.” Quer que eles
estejam atentos às realidades do mundo, e que não se deixem instrumentalizar
por este ou por aquele caminho demagógico.
Ele falou para todos, e não
para mentalidades sectárias. Tudo bem pesado, talvez a sua mensagem mais forte
seja a da necessidade do Encontro, para que possamos diminuir o tamanho dos
nossos problemas. Num continente como o nosso, repleto de desigualdades, é
muito fácil obter dividendos políticos cultivando inimizades, criando bodes
expiatórios. Toxinas desta natureza estão bem visíveis em países como a
Venezuela e a Argentina. Para esses é que pode fazer bem a palavra do Papa
Francisco — lúcida, serena, humana.
Fonte:
Blog do NOBLAT
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