Texto de Conrado Matos*
A partir da investigação analítica do psicanalista Suíço Carl
Gustav Jung em 1957, na obra “Presente e Futuro”, abordando sobre
autoconhecimento, o mesmo apontou para uma confusão que o individuo faz a
respeito da personalidade consciente do eu.
Todos nós achamos e
acreditamos que, conhecer a si mesmo é através do qual o meio social nos
orienta, considerando os conteúdos da sociedade e desconhecendo respectivamente
os conteúdos do inconsciente.
Jung esclarece que,
o homem mede seu autoconhecimento por meio daquilo que o social sabe
normalmente a seu respeito, e não a partir do fato psíquico real, que na maior
parte das vezes, lhe é desconhecido. Sendo assim, o homem recorre a
descobrimentos científicos, apoiando-se nos mesmos, como se esses conhecimentos
por se só existirem, formando a consciência, que se dizem conscientes,
unicamente seguros. Ao mesmo tempo, desconsiderando o estranho dentro de si, o
que ainda não sabe, e que também existe.
Portanto, Jung disse que o inconsciente é um campo
amplo e vasto, não alcançado pela crítica e pela consciência, acha-se aberto, e
desprotegido para receber todas as influências e infecções psíquicas possíveis.
Com base nesse ponto
de vista de Jung, julga-se que o inconsciente fica vulnerável, a mercê do mundo
externo e pelas contaminações exteriores, e quando, nos deparamos com situações
de conflitos psíquicos, não sabemos como resolver, não sabemos de onde vem o
mal que nos atinge a alma. Não somos capazes de controlar e ter equilíbrio na
hora do desespero emocional, porque, é claro, a teoria do conhecimento
cientifico é limitada para solucionar problemas do interior. Pensa-se assim,
uma teoria que não ajuda a remover a angústia, a dor psíquica, não deve se
considerar como “autoconhecimento”.
O verdadeiro valor
do autoconhecimento, estar dentro de nós e não se separa de nós, ao contrário,
trata do conhecimento das questões individuais.
Entretanto, Jung
tentou nos orientar a partir do seu conceito de individuação, que quanto mais
uma teoria pretende validade universal, menor a sua possibilidade de aplicação
a uma conjuntura de fatos individuais. Para Jung, o que poderia discutir seria:
as possibilidades de uma teoria capaz de construir um fio condutor para o
autoconhecimento.
Dessa forma, a
melhor esperança do homem encontrar a felicidade adequada a sua vida, não seria
pela busca de uma razão pura e absoluta, mas, levando em conta, uma aproximação
equilibrada com aquilo que é exterior, porem, acima de tudo, se aproximar
daquilo que é espiritual e divino. Assim, podemos classificar que essa
felicidade não é absoluta, e sim modesta.
A psicanálise, por exemplo, acredita-se que
não seja capaz de oferecer ao sujeito a perfeição, mas sim, a melhora, a
compreensão de si mesmo, uma varredura do inconsciente, um autoconhecimento.
Jung tratou do assunto, referente à compreensão de si mesmo,
se baseando em um homem que possa abdicar de todo conhecimento científico, para
se tornar possível um questionamento novo e livre de preconceitos, ou seja, um
homem com a tarefa da compreensão com a mente desembaraçada e livre. Um homem
se conhecendo como um todo.
Para a construção do
autoconhecimento, o que prevalece é a busca pelo estranho, o novo. Não
adiantará questionar a repetição compulsiva, em um discurso que não dar lugar a
novas ideias e até então desconhecidas.
Atingir o estranho é
uma atitude interior para se deparar com o sintoma, com o desconhecido, um
suposto–saber. O sintoma como angústia, cura, quando é revivido e removido. O
sintoma é a resposta que tanto o sujeito procura para aliviar a sua dor
psíquica. Contudo, para Jung, o ser humano teria que abandonar todos os
pressupostos teóricos para conquistar a compreensão e o conhecimento de si
mesmo. Caberia então a todo sujeito, excluir qualquer censura social da sua
consciência. Sendo, até mesmo, capaz de passar por cima do conhecimento
científico. Embora, Jung concorda com a presença das duas partes, por um lado,
o conhecimento e, de outro a compreensão. Ambos acompanhados por uma via dupla
de pensamento: fazer uma coisa sem perder a outra de vista. Certo que, com a sua
compreensão e singularidade, o que estar dentro de si é único, e nobre - e não
perde seu valor interior e de individualidade. Enquanto o que é material se
deteriora e perde seu valor.
Sendo assim, para o
ser humano cuidar de si e do outro, ele deve estar com seu eu fortalecido pelo
espírito aproximado ao que é divino. Sem essa meta de autotransformação, não
haverá autoconhecimento.
O autoconhecimento é atitude de pureza e Santa. O que está
fora de si pode lhe cegar, o que está dentro de si como espiritual, lhe dar a
melhor direção – melhor visão.
Seguindo, ao pé da
letra, o conceito de autoconhecimento, já vimos que não dar para tê-lo sem
acreditar no espírito. Se pela psicanálise – diria o inconsciente. Lá estar, no
inconsciente, o espírito, e mergulhamos numa imensa profundidade para buscar
algo tão simples como o espírito, porém grande de sabedoria, criatividade,
autoconfiança, liberdade e amor. Não dar para encontrar a felicidade de outra
maneira, a não ser, modesta. A felicidade em troca de bênçãos para adquirir
ouro, prata e poder, me parece falha e duvidosa. Porque não há troca perfeita
como a do espírito, e sim, homem com homem – coisas de fora. É uma coisa
externa para agradar alguém, e receber em troca, esperando retribuição.
Se por ventura, o individuo for traído, cairá
no fogo, igual como ocorrerá com os dois metais valiosos nas mãos dos ourives,
que são derretidos. Essa felicidade, portanto, nada mais é um jogo de submissão
e de interesse. A felicidade está no ato de doar, de dar, de fazer caridade, de
dar amor, sem exigir retribuição ou qualquer compensação. A felicidade está no
ato de amar e ser livre.
*Conrado Matos é Psicanalista, Licenciado em
Filosofia e Bacharel em Teologia.
E-mail: psicanaliseconrado@hotmail.com – Tels: (71) 9910-6845/8103-9431.
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