Por Noemi Flores
Foto:
Romildo de Jesus/Tribuna da Bahia
Mãe de santo passa a ocupar cadeira na Academia de
Letras da Bahia que já foi de Castro Alves
A mais nova imortal baiana a escritora Maria Stella
de Azevedo Santos, Mãe Stella de Oxóssi, é a primeira mulher negra e mãe de
santo a ocupar uma cadeira na Academia de Letras da Bahia. Justamente a de
número 33 que teve como patrono o poeta Castro Alves e último ocupante,
falecido em janeiro deste ano, o
professor e historiador Ubiratan Castro,
presidente da Fundação Pedro
Calmon, intelectual, que tem um histórico de combate ao racismo.
Nascida no dia 2 de maio de 1925, em Salvador, com 14 anos
foi iniciada no candomblé no terreiro Ilê Axé Opô Afonjá por Maria Bibiana do
Espírito Santo, Mãe Senhora. Em 19 de março de 1976, foi escolhida para ser a
quinta ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, conforme consta no livro de atas do
conselho religioso do terreiro.
Paralelo à sua iniciação religiosa, Mãe Stella
estudou e formou-se pela Escola de Enfermagem e
Saúde Pública, exercendo a função de visitadora sanitária por mais de 30 anos.
Aliado a isto, começou a escrever, lançando
o seu primeiro livro em 1988, “E daí aconteceu o encanto”, com Cléo Martins;
“Meu tempo é agora “, 1a edição: Editora Oduduwa, São Paulo, 1993.
2a edição: Vol.1. Salvador, BA: Assembleia Legislativa da Bahia, 2010.
“Lineamentos da Religião dos Orixás - Memória de ternura”- Cléo Martins, 2004;
participação especial de Mãe Stella - Alaiandê Xirê- ISBN 8590467813.“Òsósi - O
Caçador de Alegrias”, Mãe Stella de Òsósi, Secretaria da Cultura e Turismo,
Salvador, 2006, “Owé - Provérbios” - Salvador - 2007. “Epé Laiyé- terra viva –
2009. Em 2013, foi eleita por unanimidade para a Academia de Letras da Bahia.
Em
entrevista exclusiva à Tribuna da Bahia, Mãe Stella fala de sua vida e de
como foi ser votada por unanimidade pelos membros da Academia para ocupar a
cadeira de número 33.
Tribuna da Bahia - Como a senhora se sente em ser a
primeira líder de terreiro e a primeira mulher negra a ocupar justamente a
cadeira, na Academia de Letras da Bahia, que tem como patrono o poeta
abolicionista Castro Alves e o último ocupante o historiador Ubiratan Castro,
intelectual que tem um histórico de combate ao racismo?
Mãe Stella - Gratificada e tendo certeza que a discriminação racial está diminuindo, gradativamente, é claro. E isso só pôde acontecer devido à luta de pessoas como Castro Alves e meu amigo Ubiratan Castro. Pessoas que se destacaram, mas muitas outras pessoas trabalham para o bem da humanidade de maneira anônima. São todas elas imortais!
TB - A senhora poderia falar um pouco de sua
infância, juventude e de sua iniciação no terreiro?
M.S. - Minha infância, juventude e iniciação são momentos inseparáveis em minha vida. Como fui iniciada aos catorze anos, minha brincadeira preferida era correr no terreiro fingindo estar caçando. Sou filha de Oxóssi. Sou filha do orixá caçador. Para mim foi tudo muito gostoso. Tenho a religiosidade em meu “DNA”.
M.S. - Minha infância, juventude e iniciação são momentos inseparáveis em minha vida. Como fui iniciada aos catorze anos, minha brincadeira preferida era correr no terreiro fingindo estar caçando. Sou filha de Oxóssi. Sou filha do orixá caçador. Para mim foi tudo muito gostoso. Tenho a religiosidade em meu “DNA”.
TB - Desta época, qual a recordação mais marcante?
M.S. - Estar sempre perto de Mãe Senhora (minha iniciadora). Conversando, conversando, conversando... ou melhor, ouvindo, ouvindo, ouvindo. Eu era muito calada (hoje nem tanto), pois um caçador que fala perde a caça. E no candomblé, como na vida, quem fala menos tende a dizer menos bobagem.
M.S. - Estar sempre perto de Mãe Senhora (minha iniciadora). Conversando, conversando, conversando... ou melhor, ouvindo, ouvindo, ouvindo. Eu era muito calada (hoje nem tanto), pois um caçador que fala perde a caça. E no candomblé, como na vida, quem fala menos tende a dizer menos bobagem.
TB - Quando a senhora escreveu seu primeiro livro,
“E daí aconteceu o encanto”, o que mais a motivou?
M.S. - Homenagear Mãe Aninha, a fundadora do Terreiro de Candomblé onde fui iniciada. Uma mulher especial, vanguardista, que deixou para seus descendentes espirituais um grande compromisso social e, principalmente, religioso.
M.S. - Homenagear Mãe Aninha, a fundadora do Terreiro de Candomblé onde fui iniciada. Uma mulher especial, vanguardista, que deixou para seus descendentes espirituais um grande compromisso social e, principalmente, religioso.
TB - Fale mais sobre
as outras obras. E de todos os livros, com qual é o que a senhora se identifica
mais?
M.S. - Gosto de todos, afinal os
escrevi. Cada um tem seu encanto, um tema e uma preocupação em passar alguma
mensagem. Mas me identifico muito com o livro “Meu Tempo é Agora”, pois tenta
fazer com que os próprios sacerdotes do candomblé, os “filhos de santo”,
valorizem e respeitem sua crença, não fazendo dela e do templo onde ela é
reverenciada um motivo e local de exibição do ego, mas sim de culto ao que é
espiritual.
TB - Em 2001, a senhora ganhou o prêmio
jornalístico Estadão na condição de fomentadora de cultura. E em 2009, ao
completar 70 anos de iniciação no Candomblé, recebeu o título de Doutor Honoris
Causa da Universidade do Estado da Bahia. É detentora da comenda Maria Quitéria
(Prefeitura do Salvador), Ordem do Cavaleiro (Governo da Bahia) e da comenda do
Ministério da Cultura. Com a premiação, o título e o ingresso na academia, a
senhora pode dizer que toda esta cultura rica da tradição africana que a
senhora transmite foi totalmente reconhecida?
M.S. - Um religioso deve procurar fazer as coisas não por reconhecimento, mas sim por ser sua missão, sua obrigação. Quando o reconhecimento acompanha a concretude, a missão é maravilhoso. Continuar trabalhando, mesmo aos 88 anos, é o meu propósito.
TB -
Poderia descrever para os leitores como a senhora é no seu dia a dia?
Música de sua preferência, livros e filme?
M.S. - Sou alegre. Faço todos meus compromissos religiosos realmente com alegria. Às vezes, com bastante sacrifício, devido à idade, mas nunca sem entusiasmo. Música – “O Ouro e a Madeira”, de Ederaldo Gentil; filme – “Luzes da Ribalta”, de Charles Chaplin . Livros - sobre o assunto que eu estiver estudando em cada época.
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