segunda-feira, 23 de setembro de 2013

NOVELA JANA E JOEL (1899)


Texto de Conrado Matos

A novela Jana e Joel (1899), do escritor itaparicano Xavier Marques, teve em 1970 a sua 5ª edição pela Editora GRD, cuja novela foi lançada na Bahia, e traduzida em francês pelos escritores Phileas leberque e P.M. Gahisto.

Nessa novela, o escritor Xavier Marques, adotava como sempre a sua forma de escrever, usando com tanto lusitanismo a língua nacional, o português oficial, onde Xavier, como escritor, cumpre o papel do civismo brasileiro.
Xavier Marques, com sua brilhante arte da escrita dar exemplo de perfeição na época, buscando superar a confusão que envolve a chamada língua brasileira. Sua autonomia estética e literária, na forma de escrever, fazia de Xavier Marques um escritor autêntico, que não fazia questão de examinar o público e nem tão pouco aceitava exigência.
Quando li a novela Jana e Joel (100 páginas), verifiquei o quanto Xavier Marques utilizava seu vocabulário bem clássico e original. O vocabulário português era bem visto em seus escritos. Em determinadas frases, eles, os vocabulários, reaparecem e, no lugar de palavras, como: “coisa” era substituída por “cousa”, “quase”, por “quasi”, “rezar” por “resar” e “batizado” por “batisado”.
Então, como se ver, Xavier Marques foi um defensor da língua portuguesa, embora, já eram nessa época de 1899, os vocábulos da língua portuguesa, um recurso gramatical fora de uso, e com isso, os leitores modernos dessa época que liam as obras de Xavier Marques, se surpreendiam com vocabulários não mais familiares.
Tratando agora, neste artigo, sobre a novela Jana e Joel. Essa obra de ficção apresenta uma forma clássica, com certo tom romântico, como é visto nas fantasias, tanto de Jana, como também de Joel. Sendo assim, Xavier não se perde do seu estilo romântico.
Essa novela relata um romance amoroso que ocorre na Ilha de Itaparica, e toda sua ficção como tema principal, se baseia numa amizade de dois amigos que se criaram juntos em Itaparica, de nomes Jana e Joel. Jana, uma nativa, de olhos verdes, que vivia na beira da praia, ainda pagã, de acordo com os conceitos católicos, mas que depois é batizada numa igreja católica, e é abençoada por Nossa Senhora de Guadalupe, cuja Santa, tem como devota fiel, a sua avó, Dona Teonila, uma senhora muito séria, rigorosa, e de uma disciplina rígida.
Jana, uma garota selvagem que gostava de correr na praia, com suas pernas finas de ave corredeira, mariscando sambá, catando aricori, e sem religião, só sabia um pouco do Padre Nosso, da Ave Maria e da Salve Rainha, recebe uma educação muito rígida da sua avó Téo, e de seu pai Anselmo, um pescador.
Com toda essa disciplina dura, Jana vive momentos de opressão e desejos reprimidos, que provocam angústia, por causa da pouca liberdade que tinha. Bem disse Freud por essa época de 1899, sobre a repressão na infância que, o ser humano sofria a pressão adotada por leis patriarcais autoritárias dos pais, provocando traumas sexuais e inibições neuróticas, podendo, talvez, desencadear sintomas histéricos. Os sintomas neuróticos, não são só provenientes de abusos sexuais, mas, também, de repressão.
Enquanto isso seu companheiro e amado Joel, passa dia e noite na praia, nas pescarias, sonhando com a sua amada Jana, que não pode vir vê-lo, a não ser, às escondidas.
É em Joel, que Jana tem muita confiança, até mais do que seus próprios irmãos. Esses dois companheiros, não tinham pudor, pois, não eram maliciosos. Havia pureza na relação entre os dois.
No final da novela, os dois principais personagens, os companheiros Jana e Joel, se encontram, depois de um tempo afastados, por força do destino e, finalmente, constroem uma relação amorosa e muita sincera. Finalizando com uma angústia que vivera depois de tantos entraves e conflitos, conquistando a liberdade que tanto quiseram, com o mar e as pescarias. O mar está para Jana e Joel, assim como a vida dos dois estaria para o mar.
Se, para o compositor e cantor Dorival Caymmi, o mar era as suas fortes inspirações para suas canções, pelo gingado de extrema beleza de Itapuã. Para Xavier Marques, o mar de Itaparica, além de belo, servia de lugar para as histórias e ficções das suas obras, e era também, um reduto onde viviam famílias que se sustentavam da pesca, assim como, um lugar onde ocorriam conflitos e paixões, que partiam de pessoas bem humildes, mas que lutavam pela liberdade. Esses povos itaparicanos, historicamente, são de raízes revolucionarias.
Xavier Marques nasceu na Ilha de Itaparica em 03 de dezembro de 1861. Foi membro da Academia Brasileira de letras (ocupou a Cadeira de nº 28), escritor, jornalista, Deputado federal, e membro-fundador da Academia de Letras da Bahia, ocupando a cadeira de nº 33, que pertencera ao poeta Castro Alves. No dia 12 de setembro de 2013, quem esteve tomando posse na Academia de Letras da Bahia, foi à escritora Maria Stella de Azevedo Santos, mais conhecida como Mãe Stella de Oxossi, e irá ocupar a cadeira de nº 33, que pertencera anteriormente ao escritor e historiador, Ubiratan Castro, falecido há pouco tempo. Como já falei anteriormente, essa cadeira de nº 33, pertenceu ao nosso poeta baiano Castro Alves, mas em seguida quem veio ocupá-la foi o escritor Xavier Marques.
O escritor Francisco Xavier Ferreira Marques faleceu em 30 de outubro de 1942, em sua residência, na Ladeira da Soledade nº 115 (Atualmente uma casa pintada de azul), em Salvador. Em 1942, ano da sua morte, nascera seu neto, o músico e trompetista Celso Xavier Marques, que atualmente é presidente da Associação Lítero-Musical Amigos do Escritor Xavier Marques. Celso é compositor da Valsa Jana e Joel, além do Hino ao Escritor Xavier Marques, cujo hino foi completamente citado por Mãe Stella, na noite de sua posse na Academia de Letras da Bahia.

Conrado Matos é Psicanalista, Licenciado em Filosofia e Bacharel em Teologia. Diretor Cultural da Associação Lítero-Musical Amigos do Escritor Xavier Marques.
E-mail: psicanaliseconrado@hotmail.com – Tels: (71) 8717-3210/9910-6845 

Um comentário:

  1. Parabéns pelo artigo!Bela história de amor, que nem o tempo deixou se perder. Imagino as angustias sofridas e as marcas deixadas! Famílía, família...Se Xavier Marques ainda vivo estivesse quais os conflitos familiares que ele destacaria?

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