Texto de Conrado Matos
A novela Jana e Joel (1899), do
escritor itaparicano Xavier Marques, teve em 1970 a sua 5ª edição pela Editora
GRD, cuja novela foi lançada na Bahia, e traduzida em francês pelos escritores
Phileas leberque e P.M. Gahisto.
Nessa novela, o escritor Xavier
Marques, adotava como sempre a sua forma de escrever, usando com tanto
lusitanismo a língua nacional, o português oficial, onde Xavier, como escritor,
cumpre o papel do civismo brasileiro.
Xavier Marques, com sua brilhante arte
da escrita dar exemplo de perfeição na época, buscando superar a confusão que
envolve a chamada língua brasileira. Sua autonomia estética e literária, na
forma de escrever, fazia de Xavier Marques um escritor autêntico, que não fazia
questão de examinar o público e nem tão pouco aceitava exigência.
Quando li a novela Jana e Joel (100
páginas), verifiquei o quanto Xavier Marques utilizava seu vocabulário bem
clássico e original. O vocabulário português era bem visto em seus escritos. Em
determinadas frases, eles, os vocabulários, reaparecem e, no lugar de palavras,
como: “coisa” era substituída por “cousa”, “quase”, por “quasi”, “rezar” por
“resar” e “batizado” por “batisado”.
Então, como se ver, Xavier Marques foi
um defensor da língua portuguesa, embora, já eram nessa época de 1899, os
vocábulos da língua portuguesa, um recurso gramatical fora de uso, e com isso,
os leitores modernos dessa época que liam as obras de Xavier Marques, se
surpreendiam com vocabulários não mais familiares.
Tratando agora, neste artigo, sobre a
novela Jana e Joel. Essa obra de ficção apresenta uma forma clássica, com certo
tom romântico, como é visto nas fantasias, tanto de Jana, como também de Joel.
Sendo assim, Xavier não se perde do seu estilo romântico.
Essa novela relata um romance amoroso
que ocorre na Ilha de Itaparica, e toda sua ficção como tema principal, se
baseia numa amizade de dois amigos que se criaram juntos em Itaparica, de nomes
Jana e Joel. Jana, uma nativa, de olhos verdes, que vivia na beira da praia,
ainda pagã, de acordo com os conceitos católicos, mas que depois é batizada
numa igreja católica, e é abençoada por Nossa Senhora de Guadalupe, cuja Santa,
tem como devota fiel, a sua avó, Dona Teonila, uma senhora muito séria, rigorosa,
e de uma disciplina rígida.
Jana, uma garota selvagem que gostava
de correr na praia, com suas pernas finas de ave corredeira, mariscando sambá,
catando aricori, e sem religião, só sabia um pouco do Padre Nosso, da Ave Maria
e da Salve Rainha, recebe uma educação muito rígida da sua avó Téo, e de seu
pai Anselmo, um pescador.
Com toda essa disciplina dura, Jana
vive momentos de opressão e desejos reprimidos, que provocam angústia, por
causa da pouca liberdade que tinha. Bem disse Freud por essa época de 1899,
sobre a repressão na infância que, o ser humano sofria a pressão adotada por
leis patriarcais autoritárias dos pais, provocando traumas sexuais e inibições
neuróticas, podendo, talvez, desencadear sintomas histéricos. Os sintomas
neuróticos, não são só provenientes de abusos sexuais, mas, também, de
repressão.
Enquanto isso seu companheiro e amado
Joel, passa dia e noite na praia, nas pescarias, sonhando com a sua amada Jana,
que não pode vir vê-lo, a não ser, às escondidas.
É em Joel, que Jana tem muita
confiança, até mais do que seus próprios irmãos. Esses dois companheiros, não
tinham pudor, pois, não eram maliciosos. Havia pureza na relação entre os dois.
No final da novela, os dois principais
personagens, os companheiros Jana e Joel, se encontram, depois de um tempo
afastados, por força do destino e, finalmente, constroem uma relação amorosa e
muita sincera. Finalizando com uma angústia que vivera depois de tantos
entraves e conflitos, conquistando a liberdade que tanto quiseram, com o mar e
as pescarias. O mar está para Jana e Joel, assim como a vida dos dois estaria
para o mar.
Se, para o compositor e cantor Dorival
Caymmi, o mar era as suas fortes inspirações para suas canções, pelo gingado de
extrema beleza de Itapuã. Para Xavier Marques, o mar de Itaparica, além de
belo, servia de lugar para as histórias e ficções das suas obras, e era também,
um reduto onde viviam famílias que se sustentavam da pesca, assim como, um
lugar onde ocorriam conflitos e paixões, que partiam de pessoas bem humildes, mas
que lutavam pela liberdade. Esses povos itaparicanos, historicamente, são de
raízes revolucionarias.
Xavier Marques nasceu na Ilha de
Itaparica em 03 de dezembro de 1861. Foi membro da Academia Brasileira de
letras (ocupou a Cadeira de nº 28), escritor, jornalista, Deputado federal, e
membro-fundador da Academia de Letras da Bahia, ocupando a cadeira de nº 33,
que pertencera ao poeta Castro Alves. No dia 12 de setembro de 2013, quem
esteve tomando posse na Academia de Letras da Bahia, foi à escritora Maria
Stella de Azevedo Santos, mais conhecida como Mãe Stella de Oxossi, e irá
ocupar a cadeira de nº 33, que pertencera anteriormente ao escritor e
historiador, Ubiratan Castro, falecido há pouco tempo. Como já falei
anteriormente, essa cadeira de nº 33, pertenceu ao nosso poeta baiano Castro
Alves, mas em seguida quem veio ocupá-la foi o escritor Xavier Marques.
O escritor Francisco Xavier Ferreira
Marques faleceu em 30 de outubro de 1942, em sua residência, na Ladeira da
Soledade nº 115 (Atualmente uma casa pintada de azul), em Salvador. Em 1942,
ano da sua morte, nascera seu neto, o músico e trompetista Celso Xavier
Marques, que atualmente é presidente da Associação Lítero-Musical Amigos do
Escritor Xavier Marques. Celso é compositor da Valsa Jana e Joel, além do Hino
ao Escritor Xavier Marques, cujo hino foi completamente citado por Mãe Stella,
na noite de sua posse na Academia de Letras da Bahia.
Conrado Matos é Psicanalista, Licenciado em Filosofia e Bacharel
em Teologia. Diretor Cultural da Associação Lítero-Musical Amigos do Escritor
Xavier Marques.
E-mail: psicanaliseconrado@hotmail.com – Tels: (71) 8717-3210/9910-6845
Parabéns pelo artigo!Bela história de amor, que nem o tempo deixou se perder. Imagino as angustias sofridas e as marcas deixadas! Famílía, família...Se Xavier Marques ainda vivo estivesse quais os conflitos familiares que ele destacaria?
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