sábado, 7 de setembro de 2013

QUANDO NÃO SE FAZ O DEVER DE CASA


Artigo de JOACI GÓES

 

 

Tudo indica que a crise econômica mundial ainda durará tempo suficiente para acarretar ao Brasil problemas bem mais graves do que os vividos até agora. Não é difícil imaginar o que nos sucederia se saíssemos da atual taxa de desemprego, de cerca de oito por cento, e chegássemos aos 27% da Grécia e da Espanha de hoje. Sem a tradição e os valores dessas duas nações anciães, teríamos o caos incontrolável em lugar da guerra civil não declarada que faz do Brasil de nossos dias o palco de maior mortandade do mundo, incluindo os países que vivem em estado de guerra.

O nosso grande erro foi o de acreditarmos no popularesco diagnóstico segundo o qual os efeitos tsunâmicos da crise universal, instalada em 2008, nos chegariam como uma marolinha que surfaríamos tomando sorvete. O País estaria, segundo essa versão construída para efeito eleitoral, suficientemente forte, graças ao modo superior como vinha sendo conduzida a gestão pública brasileira. Tanto verdadeira seria essa avaliação quanto continuávamos a crescer com níveis chineses, segundo a propaganda oficial.
Passado o delírio, aqui estamos com crescimento econômico neutralizado pela taxa de expansão populacional, fato que zera o aumento da renda per capita. Para contornar os efeitos populares dessa paralisia, recorreu-se     à expansão da renda acima da produtividade da economia, resultando, como seria de esperar-se, no retorno da inflação, besta contra a qual as populações de mais baixa renda não têm meios de se protegerem.

Ainda de olhos pregados nas eleições, demos início, em todas as partes e em todos os níveis de governos - federal, estaduais e municipais -, a um conjunto de obras, cuja simultaneidade seria uma prova cabal de nossa pujança, meio à crise geral, muitas das quais, depois de consumirem usinas de dinheiro, continuam inconclusas, incapazes de produzir, minimamente, os benefícios em nome dos quais foram projetadas e iniciadas. O Metrô, em Salvador, e a Transposição do São Francisco são os exemplos mais conspícuos. Estima-se em 1% de crescimento os efeitos benéficos de todas essas obras, se concluídas estivessem, o que significaria dobrar o magro crescimento que nos atrofia o passo nos dias correntes.

A inobservância de critérios de prioridade tem sido outro de nossos grandes males, desde quando o Poder Público renunciou a seu dever de planejar suas ações, transferindo-o para as grandes empreiteiras, financiadoras das campanhas da esmagadora maioria dos que se elegem para o Executivo e o Legislativo.

O resultado disso é que passamos a perder competitividade, em consequência de uma infraestrutura precária, nos setores rodoviário, ferroviário, portuário e aeroportuário, sem falar na lentidão do avanço de nosso sistema sanitário que tem repercussão direta nos níveis de saúde e do bem-estar de grande parcela da população brasileira. Enquanto a economia mundial navegava de vento em popa, descuidamos do dever de casa, por supormos que estaríamos sempre protegidos pela Graça Divina ou pelo toque de Midas de nossos iluminados administradores.

Os fatos, porém, são teimosos e surdos aos apelos da demagogia e do populismo. A desvalorização do Real melhorará nossas exportações e dará um breve alento, nunca a ponto de substituir os deveres de casa que deixamos de fazer.
 Não temos mais tempo a perder. É imperativo colocar os interesses da próxima geração acima dos da próxima eleição. Antes que seja excessivamente tarde.


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